Lembranças
da meia noite.
A casinha
pequenina branca como a lua.
Quando crescemos costumamos rir de nós mesmos dos tempos
de criança. Quantas coisas nos fizemos, traquinagens mil e a cada ano vamos
olhando o mundo de outra forma. Algumas marcam para sempre outras se perdem na
memória do tempo. Hoje quando vemos a meninada fazendo das suas sempre
preocupamos sem pensar que um dia fizemos assim também. E os sonhos juvenis?
Eram lindos. O primeiro amor? Dizíamos ser único. Hoje me veio à lembrança de
quando a vi pela primeira vez. Eu entrando nos meus dezesseis anos ela nos
treze anos. Foi um namoro de mais de um ano sem um toque, sem uma fala sem
sentir a respiração do outro. Incrível não? Outra época.
Morava em um barracão em forma de L. Na parte mais curta era meu
quarto. Minhas duas irmãs e meus pais moravam na outra parte do barraco. Não
tínhamos água encanada. Uma cisterna com uma bomba manual. Todos deveriam antes
de tomar banho e quando sair de casa, dar duzentas “bombadas”. A caixa não
enchia, mas se mantinha pela metade. Era um bairro afastado da cidade. Novo
ainda. Em frente ao nosso barracão uma pequena construção. Acompanhei parte por
parte como se fosse minha construção. Minha morada. Em meus sonhos nós tínhamos
casado. Sonhava em ter minha casinha, pintada de branco, cercas de madeira também
caiada de branco, um portãozinho simples que deveria ranger quando eu chegasse
a casa. Era um aviso. Pensava em vê-la abrir a porta, dar aquele sorriso e
dissesse – Oi meu amor correu tudo bem com você? Filhos? Muitos!
Tudo sonho. Meu trabalho era ajudar meu pai. Mas meu sonho me
mostrava como um grande técnico em consertos de radio. Fazia um curso. Um sonho
que durou por muito tempo. Quando um dia falei com ela quando senti seus lábios
próximos aos meus, quando senti a maciez da sua mão mais e mais sonhava com a casinha
caiada de branco com rosas vermelhas na janela. Quatro anos depois nos casamos.
A casinha onde fomos morar não era caiada de branco. Era verde, dois cômodos,
um quarto e uma cozinha que servia de sala. Banheiros no fundo do quintal. Ela
com seus dezesseis anos e eu com meus vinte e dois. Acredito termos vividos os
momentos mais felizes de nossas vidas. Nunca moramos em uma casinha com cercas
e portão caiados de branco. Algumas tínhamos rosas, violetas e bromélias, mas
nunca brancas.
O tempo passou. Moramos em muitas moradas. Em todas elas fomos
felizes. Nunca pintei nenhuma delas de branco. O sonho de passado ficou só na
lembrança. Quando parti da minha cidade, a que estava sendo construída e nos
meus sonhos era minha, não foi terminada. Soube que os noivos terminaram. Um
casamento que não deu certo. Se ela está lá hoje não sei. Mas ainda nos meus
sonhos a vejo pintada de branco, com um belo jardim florido e os meus quatro
queridos filhos brincando com seus velocípedes, com suas bolinhas de gude e eu
e ela na varandinha, a olhar com amor a felicidade que permanece até hoje.
Interessante, nestes sonhos ainda não crescemos. Ainda somos os saudosos
adolescentes de outrora. Sonhos que aconteceram. De outra forma. Ainda bem que
ela nunca me abandonou e se existir a frase – Foram felizes para sempre – Este
sou eu e ela. Graças ao bom Deus!
Boa noite meus amigos e minhas amigas.
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