Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

quinta-feira, 28 de março de 2013

Lembranças da meia noite. Um amor de criança.


Lembranças da meia noite.

Um amor de criança.


Foi um amor incrível. Meu primeiro. Quando a vi, meu corpo tremeu. Naquele dia ela nem me olhou. Estava com seus pais. Fui para casa só pensando nela. Jantei com dificuldade. Dormi sonhando com ela. Não sabia seu nome. Uma louca paixão desabrochava em mim. Acordei pensando como me aproximar. No Ginásio não prestei atenção na aula. Não dava. Lembro que o Padre Pedro me chamou a atenção. Não prestava atenção aos seus ensinamentos. Professor de geografia. Minha mente tinha passado por uma lavagem cerebral. Esperei ansioso a aula acabar. Na porta nem liguei para os amigos. Na minha bicicleta fui correndo até sua casa na Rua Peçanha. Meio dia e eu encostado-se ao muro em frente à casa dela.

A janela fechada. Precisava vê-la. O sol do meio dia fustigava. Mas eu não iria sair dali enquanto não a visse. Sabia que minha mãe e minhas irmãs me esperavam para o almoço. Ninguém podia faltar a mesa, somente meu pai que estava trabalhando. Eu era o responsável em levar sua marmita. Ela não aparecia. Meu coração batia forte. Não dava mais para ficar. Corri até minha casa. Almocei rápido e levei a marmita do meu pai. Voltei correndo para a Rua Peçanha. Naquele dia seria impossível dormir sem vê-la de novo. Tive sorte. A janela estava aberta. Ela chegou e me olhou. Um sorriso leve. Jogou seus cabelos louros de um lado para outro. Nossa! Ela me amava! Era recíproco. Seriamos felizes para sempre! Falei baixinho qual seu nome – Cilene respondeu sorrindo. Pensei em nossa casinha pintada de branco no Bairro onde morava. Janelas azuis, cerca de madeira pintada de branco. Canteiros de flores. Begônias, rosas, violetas centenas delas. Quem sabe girassóis em volta da cerca.

Ela ficou menos de cinco minutos na janela. Cinco minutos que me fizeram o homem mais feliz do mundo. Chiquinho chegou correndo com sua bicicleta Phillips inglesa pneu faixa branca. A minha era uma Hisqvarna sueca pneu balão. A Patrulha estava em reunião na sede. Planejando o acampamento da semana santa em Rio Pomba. Seriam quatro dias. Já tínhamos planejado fazer um acampamento suspenso. Tudo no alto inclusive cozinha. Iríamos estudar levar a água até La. Não desta vez na próxima. Fui correndo com ele. Cilene minha amada? Esqueci. Agora era o escotismo e mais nada. Saudades dos meus treze anos, da minha Patrulha Raposa. Para dizer a verdade só fui lembrar-me de Cilene quando retornamos. Mas o amor? Não era tão louco assim. O escotismo sim, foi e é até hoje um grande amor na minha vida!

Boa noite meus amigos e minhas amigas. Um bom sono para todos. Hora de dormir. Que os anjos de Deus fiquem com vocês.  

Lembranças da meia noite. Frei Marcolino.


Lembranças da meia noite.

Frei Marcolino.

Nunca esqueci frei Marcolino. Agora com a eleição de um jesuíta para Papa, Frei Marcolino um jesuíta me marcou muito também. Lembro que ele nos defendeu contra o seu prior que não achava válido um Grupo Escoteiro ali no convento. Seu trabalho como Diretor de Escotismo (na época grupos patrocinados não tinham Comissão Executiva, atual diretoria) foi extraordinário. Lembro que logo após a revolução de 64 o DOPS (policia política) deu uma batida no convento. Eles escondiam lá aqueles que não simpatizavam com os militares, os chamados subversivos. Levaram cinco e o frei Marcolino foi também. Prenderam-no quando estávamos no cerimonial de bandeira. Um mês depois foi solto. Não disse nada. Notei que quatro dedos dele estavam com ataduras. Mais tarde vimos que as unhas foram tiradas a alicate. Ele nunca reclamou.

Quatro meses depois soube que mais oito estavam escondidos em seus porões. Novamente o DOPS prendeu todos e mais cinco jesuítas inclusive o prior. Não levaram o Frei, mas deram um ultimato para que o grupo Escoteiro mudasse dali ou fechasse. Claro, fiquei receoso. Sabia o que eles faziam. Frei Marcolino disse que devíamos acreditar em Deus e no serviço que estávamos prestando aos jovens. Ficamos lá e enfrentamos. Não deu em nada. Ainda bem. Naquela época o Frei já estava em idade avançada. Mais de setenta anos. Fomos amigos de 65 até 75. Dez anos. Fui embora e nunca mais vi o frei.

Como são as coisas da vida. Tem gente que nós conhecemos e ficam marcadas para sempre em nosso coração. Outros passam e desaparecem como a bruma da madrugada ao ver o sol nascer. São tantas pessoas que passaram em nossas vidas e cada uma deixou um pouco de saudade, de amor, de sonhos feitos e desfeitos, de aprendizado, de ver a vida como eles viam e que em muitos casos nos serviram de exemplo. Enfim, o tempo se foi, outros virão e nós acompanhamos a evolução sempre a lembrar de grandes amigos que um dia passaram em nossas vidas!

Boa noite meus amigos. Um bom sono para todos. Amanhã desejo que a felicidade faça parte de mais um dia de suas vidas. Não só este, mas todos que ainda virão. Nossa jornada não tem fim e sempre é bom lembrar que tudo que fizemos valeu à pena. Afinal estamos sempre crescendo e isto não cessa nunca!
Durmam bem e que Deus esteja com vocês!