Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Sonhos de uma noite de luar em uma conversa ao pé do fogo.


Sonhos de uma noite de luar em uma conversa ao pé do fogo.

A relva molhada recebia o orvalho que caia sem pedir para ficar. A grama absorvia a gota d’água pequena que se espalhava ao cair. Uma pequenina ficou dependurada em uma folha até que caiu ao chão. De olhos abertos a gente olhava o céu estrelado e eis que um dos chefes sussurrando resmungou baixinho uma historia tão bonita que sem perceber todos esqueceram o vento frio e a lua que insistia em enfeiar as estrelas, mas sua beleza era tão grande que tudo ficou preso na mente naquele momento sublime. Ele assim narrava: - Quem me contou foi um anjo acompanhado de muitos querubins que o Senhor das Estrelas no seu cantinho em uma galáxia distante, fabrica estrelas de todos os tamanhos. Dizia que o céu é de verdade, que cada um de nós ao nascer ganha uma estrela e em um canto do firmamento ele a coloca para brilhar. A estrela tem seu nome e ficará ali para sempre até o dia que você for fazer dela sua morada final.

Mas anjo eu perguntei e onde foi parar à lua que sempre que a gente olha se assusta com tanta beleza e um súbito espanto acontece na primeira vez? – Ele respondeu – Pense em um mundo como num malmequer.  Porque você não vê. Mas não fique pensando demais porque pensar é não compreender. A lua e as estrelas são como rubis e rosas, neve e ouro. Um verdadeiro tesouro. Não pare nos sonhos, ande e faça acontecer. Tente recapturar a sublime beleza que existe em você. Em tudo que existe ao seu redor e seja feliz. Se ver com alegria a beleza no céu a lua e as estrelas tudo se transformam em maravilhas divinas e isto apaga todos os infortúnio. Sua estrela está lá, é sua. A estrela sabe que sua alma é imortal e vai acompanhar você por toda a vida.  Nunca esqueça que uma pessoa feliz torna os outros felizes, uma pessoa que sonha e faz realizar faz o mesmo com as outras. Quem tem coração e fé nunca morrerá em desgraça!


Boa noite!

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O que você faz para ser feliz?


Conversa ao pé do fogo.
O que você faz para ser feliz?

                    Podemos enfrentar todo tipo de pessoas que se dizem chefes escoteiros e esquecem de ser feliz. Por mais que eles apoquentem nossa maneira de ser tem muita coisa neste movimento que nos transforma e a gente quando pensa diz: Ah! Como sou feliz. Existe uma propaganda na TV que eu gosto muito. O que você faz para ser feliz! Parece que estou lá junto às personagens sorrindo e sendo feliz. Ai lembrei-me de que nós Escoteiros temos muita coisa em comum para sermos felizes. Sei que são em números incalculáveis e impossíveis enumerar todas. Deixo para meus amigos completarem com suas sabedorias e vivência. Divirtam-se e se não concordarem com algumas delas aceito o ponto de vista. Mas quer saber? Eu sou feliz com todas elas:

- Na estrada, em fila indiana, sol de rachar, mochila pesada, o chefe diz: Vamos parar 15 minutos para descanso! Você joga a mochila no chão, faz ela de travesseiro, deita respira, fecha os olhos de mansinho e diz: - Ah... Como sou feliz!

- Muito frio, de rachar, você em volta do fogo apagado, difícil acender, você treme de frio, o fogo começa, enorme, calor gostoso, você sorri e diz: - Ah... Como sou feliz!

- Jogo difícil, complicado, todos correm, disputa enorme. O jogo termina, o chefe diz Patrulha Lobo venceu! Palma escoteira para ela. É sua patrulha, você sorri e diz: - Ah... Como sou feliz!

- No acampamento, fome enorme. Cozinheiro novato. Termina o almoço, duas da tarde, arroz queimado, bife cheio de fumaça, sem sal, você se serve, que fome! Comida gostosa demais e aí você diz: - Ah... Como sou feliz!

- Cerimônia de bandeira, todos ali, perfilados, você é chamado. Cordão Verde Amarelo, você conquistou. Entregam a você. Você sorri e diz: - Hã... Como sou feliz!

- No acampamento, jogo forte à tarde, mais de duas horas, enfim encerrado. Agora todos ao banho. Você pula na água, sente no corpo a água gostosa, fria, mas boa demais. Então você diz: - Hã... Como sou feliz!

- Falsa baiana sobre riacho, todos passam, corda bamba, você gordinha, com medo, todos olham, estão rindo, você não desiste. Insiste e eis que chega ao outro lado. Olha para todos, sorri, você venceu e diz: - Ah... Como sou feliz!

- Reunião de patrulha, votos, escolha novo monitor. Contam-se os votos, você ganhou, é o novo monitor, você sorri era seu sonho e então você diz: - Ah... Como sou feliz!

- Dia de prova na escola, matéria difícil, você termina, excelente notas, já mostrou aos seus pais e agora vai mostrar ao seu chefe, ele sorri lhe dá parabéns. Bom demais e você diz: - Ah... Como sou feliz!

- Amiga escoteira sumida você sente falta, ela aparece, sorri para você, voltei para ficar. Você sorri pensa e diz: - Ah... Como sou feliz!

- Mãos doendo, alguns cortes, machadinha pesada, facão enorme, mas você olha e vê a mesa pronta no campo.  Dá alguns passos para trás orgulhoso, olha com carinho dá um belo sorriso e diz: - Ah... Como sou feliz!

- Convidaram você, aceitou. Um Grupo Escoteiro. Agora noviço um mês, dois meses, etapas concluidas. Disseram – sábado sua promessa. Semana longa, não passa! Chega o dia. Saudação! Prometo pela minha honra... Incrível, seu corpo vibra, nunca sentiu isso na sua vida olha para todos e diz: - Ah... Como sou feliz!

Duas horas, três, quatro, cinco e chegam ao cume da montanha. Respiração ofegante, mochila pesada. Mas valeu! Uma pedra linda, voce senta e olha o horizonte, incrível! Vista maravilhosa! Fecha os olhos e diz: - Ah... Como sou feliz!

Jornada a pé. Difícil, cinco quilômetros, sol bravo! Queimando! Uma árvore, linda, frondosa! A patrulha para, deita em volta, uma brisa no seu rosto. Você pensa e diz: - Ah... Como sou feliz!

Dia de reunião. Você chega à sede, amigos, abraços, apertos de mão, o chefe aparece, olha você, mão esquerda, ele diz baixinho – Os valentes entre os valentes se saudam com a mão esquerda! Você sorri e diz: – Ah... Como sou feliz! 

Badeira! Ferradura! Todos perfilados. Saudação! Olhos firmes vendo a bandeira farfalhando no ar, subindo orgulhosa, sua pátria! Você sorri, está orgulhoso e diz: Ah... Como sou feliz!

Alguém se lembra de uma linda canção escoteira, é noite, final de fogo, deitados na relva, céu estrelado, cometas cintilantes, todos cantam, olhando o céu. O corpo vibra gostoso, amo o escotismo e você diz: - Ah... Como sou feliz!

Fim de curso. Vários dias. Muitos amigos. Novos irmãos escoteiros. Um círculo, mãos entrelaçadas, canção da despedida, lágrimas nos olhos, saudades chegando. Abraçam-se, e dizem – Nunca mais vou te esquecer me escreva me visite! Você fecha os olhos e diz: Ah... Como sou feliz!

 Grito da tropa, ou do grupo. Todos abraçados. Você ali é mais um. Um grito que faz sua garganta arranhar de tanta força que faz... Olha ao redor, os olhinhos de cada um, sorrisos e vê a felicidade verdadeira, uma coisa inexplicável. E então você diz: - Ah Como sou feliz!

São coisas assim que marcam que nos transformam que nos faz ser quem somos. Uns chamam de coração Escoteiro, outros de filosofia escoteira. Como diziam os poetas, “Há pessoas que transformam o sol numa simples mancha amarela, mas há também aquelas que fazem de uma simples mancha amarela o próprio sol.” São tantas coisas lindas que encontramos na nossa vida escoteira, que sempre lembro que as pessoas mais felizes não são aquelas que têm as melhores coisas. Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.


Escotismo? - Ah... COMO SOU FELIZ! 

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Ah! Se eu pudesse voltar no tempo!


Hora de dormir, esperar o sol raiar...
Ah! Se eu pudesse voltar no tempo!

                 Gente, hoje me deu uma saudade danada da minha infância. Vocês já tiveram este surto de saudade e querer voltar no tempo? Dizem que é bom outros dizem que não. Preferem olhar o futuro e esquecer o passado. Quem sabe foi à saudade que bateu forte e isto sempre acontece quando mais um ano passa na minha vida. Agora no alto dos meus 75 anos na corda bamba eu vou fingindo que estou voltando no tempo. Embalado em doces melodias eu vou contando e vendo o tempo a cada retorno ao passado. Uma matemática difícil de decifrar. Afinal os anos passam, as alegrias continuam e as tristezas quando aparecem eu a levo para outro lugar. Eu tenho muitas escondidas atrás da porta do porão para que o tempo não atrapalhe a jornada que estou a realizar. Uma vez ou outra eu vou até lá, para sentir, quem sabe chorar um tiquitito e voltar para que a alegria possa tomar o seu lugar.  

                Cada ano que atravesso a curva do destino eu vou contando quantos anos ainda vou conseguir chegar. Interessante à contagem. Mamãe e papai contavam um dois três quatro e nos cinco era eu quem passava a contar. Um a um até os o limiar dos quarenta. Ai os quebrados não mais existem. São quarenta, cinquenta, sessenta e setenta. E os oitenta? Este nem pensar. É um sonho distante. Nos setenta contei um, dois, três e quatro. Agora os cinco. Setenta e cinco. Olho para trás, não tenho o que reclamar. Danada de vida gostosa para lembrar. Mas ainda penso se pudesse voltar no tempo se seria bom demais e eu ia vibrar. Pivetinho a rodar pião, a brincar de roda. Roda? Mas não é coisa de menina? Não é não. Quem não brincou? Capelinha de melão, é de São João é de cravo é de rosa, é de manjericão. Escravo de Jó? Poxa! Até marmanjão cantei.  Fui ao Itororó, a Canoa Virou. Mas era gostoso mesmo rodar o pião, o finquinho na terra, as bolinhas de gude. Quanta ingenuidade para cultivar dores e amores. Rir das quedas e abraços recebidos.

                  Ah! Sonhos vividos numa bela fraternidade. Lobada correndo, gritante fazer o melhor. Crescer mais, escoteirar no universo da mente, onde um quati era um elefante. Nadar no riacho, uma bola de pano para chutar. Belo demais meus tempos de infância e como é bom recordar. Não recordo os maus momentos. Se tem o que me orgulho e voltar no tempo e apagar as tristezas que um dia tentaram fazer de mim um homem triste que nem sonhar sabia. Deixo que minha memória percorra o caminho da felicidade e assim vou aceitando todas as dificuldades como se fossem molambos a jogar no lago da vida que não houve. Mas ainda penso e quem não pensa? Se eu pudesse voltar no tempo, consertar meus erros. Será que os tive? Ou foram corriqueiros o suficiente para aceitar meu livre arbítrio de cometê-los? Muitos querem aproveitar cada minuto da vida, sabem que o tempo não volta e a vontade de voltar no tempo é mera quimera do impossível. O tempo é uma ilusão? Ou uma verdade uma lembrança, quem sabe é saudade e uma vontade enorme de voltar e ficar por lá escondidinho no colo da mamãe.

                  Corrigir o passado? Fazer dele outra realidade? Afinal não fui feliz? Dizem que desculpa não cura as recordações que não foram de felicidade. Ela não apaga e nem faz o tempo voltar. Melhor mesmo é uma desculpa sincera, olho no olho, com argumentos reais sem colocar a culpa em ninguém. Francamente eu queria mesmo voltar no tempo, voltar a ouvir o som da mata, da passarada a chilrear entre nuvens passageiras ou mesmo um riacho ao lado a cantar. Sentir o cheiro da “boia” na hora do jantar. O cozinheiro gritando: Gente o arroz queimou, o bife fritou e o mato invadiu o feijão que não corou. Bom demais voltar e rever as amizades, os patrulheiros de outrora e quem sabe ter uma varinha de condão para entender o passado, viver o presente e quem sabe mudar o futuro para melhor.  

                        Setenta e cinco? Quem diria! Vai ter setenta e seis? Setenta e sete? Chegarei aos oitenta? Centenas de amigos nas três páginas usaram e abusaram das palavras de incentivos. Muitos queridos amigos para me animar e dizer que sim, mas eu cético por natureza sei que isto só Ele resolve. Só Ele determina a hora e a vez para correr pelas estrelas do universo. Voltar no tempo não é uma necessidade. Quem sabe uma lembrança àquela sensação se voltasse apagaria minhas alegrias minhas recordações ao ver que nem tudo foi como criei agora no presente. As palavras do poeta batem fundo – Construí amigos, enfrentei vitórias e derrotas, venci obstáculos, bati na porta da vida e disse-lhe: – Não tenho medo amiga de viver! E sabe o melhor de tudo? É aquele outro que sorrindo disse também: - Não é que tenha medo de morrer. Nada disto. Só não quero estar lá na hora que isso acontecer!

Obrigado amigas e amigas que gentilmente me desejaram tantas coisas boas que prometi a mim mesmo voltar nos setenta e seis no ano que vem! Quem duvidar me aguarde, pois no fundo da alma eu sou Escoteiro e imortal!

Sempre Alerta e boa noite!

sábado, 9 de janeiro de 2016

Crônica de um Velho Chefe Escoteiro. O poste.


Crônica de um Velho Chefe Escoteiro.
O poste.

                            Ele não sabia há quanto tempo estava ali naquela sessão escoteira. Podia chover fazer sol e lá estava ele firme sem reclamar. Afinal aprendeu a ser um mero cumpridor de ordens. Bem não vamos ser tão críticos, mas o poste nunca recebeu um tapinha nas costas em seu aniversário. Esqueça o parabéns afinal era um poste e sua utilidade era uma só. Segurar os fios do telefone e força elétrica desculpe esperar as ordens do seu superior hierárquico no Grupo Escoteiro. Mais nada. Mais nada? Ele sabia que ninguém invejava a vida de um poste. Mas cá prá nós, ele se sentia satisfeito, o sorriso da moçada, da lobada e isto o fazia sorrir também. Acreditava piamente que fazia sua parte na formação da juventude no país. Um dia ele se achou mais importante do que era, mas alguém achou que não. Notou que em todos os Grupos Escoteiros que visitava sempre tinha um ou mais postes. Sabia sim que neles muitos foram trocados por se revoltarem com sua condição de poste. Uns por velhice outros por atraírem beijos da meninada e logo o acusavam de tudo. Ele se comparou ao poste da esquina. Os veículos eram atraídos como mel nas flores e soube que o anterior um raio o partiu ao meio. Bem ele sabia que nenhum deles fez falta. Quem sabe pensou se um dia se revoltasse poderia dizer que eles os postes eram de uma casta muito importante?

                     Ele sabia que os demais chefes riam a beça dos postes. Não tinham o mínimo de respeito por eles. - Aqui é o fim da fila? - Uma Escoteirinha perguntou só de gosação. Ele riu e respondeu: - Não, não, é o começo, só que estou de costa. Pois é, ela brincou, tome cuidado com os cães! Adoravam fazer de vocês postes banheiro publico. E olhe que algum “bebum” pode passar e acha que você é um vaso sanitário. Ele ficou pensativo. -  E daí? Ele pensou. Quem poderia se incomodar com ele? Sabia e não tinha dúvida nenhuma que era um poste. Sabia que lhe mandavam varrer a sede, fazer limpeza nos banheiros e quando dos acampamentos lhe davam serviços de segunda categoria. Se o “bebum” escorava nele, se entortava todo e em dado momento caia esborrachado no chão não era seu problema. Ele pensava e ria. O que diria? - Nossa, caiu? - Não, senti atração pela Terra e decidi abraçá-la. Ele ria afinal chorar para que? Ele era apenas um poste. Ele gostava da escoteirada, da lobada e isto o fazia feliz. Fingia não ver os erros que os chefões faziam, e mesmo ele tentando ajudar sabia que sua ajuda não teria valor.

                     Um dia ouviu de o Diretor Técnico chamar os outros chefes e dizer: - Não é melhor o mandar sumir? Afinal é um poste e como tal é um verdadeiro perigo! Nenhum poste poderia ser pretendente a um Chefe Escoteiro. Porque não? Perguntou a Akela mandona. - Porque se vier alguém em alta velocidade impreterivelmente vai bater nele. Era verdade. Ele não sabia por que as batidas eram sempre em cima dele. Quando ouvia um cantar de um pneu fechava os olhos esperando a batida. Tentou tudo para deixar de ser um poste e não conseguia. Por quê? Será que era o seu destino? Interessante que se ele soubesse se existiam estatísticas do SIGUE todos os dias eram centenas de postes que apareciam para ficar em uma esquina da vida esperando uma batida. Afinal e pensando bem, eles os postes não eram imprescindíveis? Será que os Grupos Escoteiros poderiam viver sem um poste? Ele um vez ficou anos pensando nisto. Como fazer para desviar dos chefes e suas ordenanças estapafúrdias. Reclamar? Ele sabia que não podia, afinal era um poste pombas! Ele sabia que desde os primórdios do escotismo existiam os postes. E olhe que sempre tinha um para lhe recordar que o poste Escoteiro é obediente e disciplinado.

                        Mesmo de família importante ele não deixava de ser um poste e pensou até em fazer uma Indaba com todos os postes do Brasil. Vamos nos revoltar? Vamos mudar de esquina e ir ser poste em outro lugar? Ele não gostava das eleições. Todos se julgavam no direito de colar cartazes, santinhos e ele ficava uma sujeira só. E depois diziam que eles eram civilizados e ele um poste.  E as piadas? Detestava. Tá lavando a calçada? – Não, tô regando prá ver se nasce aqui um pé de poste. Era assim nos fogos de conselho. A escoteirada e lobada ria a mais não poder. Alguns sentiam pena, mas eram motivados pelos durões chefes Escoteiros. Sonhou um dia que um policial deu um tapa num marginal e o prendeu no poste. Era ele. Não pode fazer isto aqui, ele queria dizer ao policial. Mas ele nem aí. Deixaram o marginal lá por dois dias e depois soltaram. Ele teve de ficar ouvindo o matraquear do marginal que prometeu matar ele, seu pai, sua mãe e todos que tinham seu sangue.

                        É, dizem que é isto mesmo. Poste é poste e não adianta discutir. Está ali para ser mandado, sabe que sua estirpe, sua árvore genealógica sempre foram postes. Quem sabe um dia iriam reconhecer seu trabalho? Afinal poste é poste e ser humano é ser humano. Não diziam que o espelho das sombras é um poste iluminado? Afinal será que você quer passar o resto da vida vendendo ilusões ou quer ter uma chance de mudar o mundo? Isto dê o primeiro passo, deixe de ser poste, educadamente mostre que você pode fazer tão bem como eles fazem e se não acharem assim, o melhor meu amigo é por seu boné e procurar outra esquina e continuar sendo um poste! Cadê o poste? O poste sumiu! E o au, au que queria fazer xixi? Cadê o poste!  O poste já era. O poste foi ser Chefe Escoteiro que era seu destino. Agora ele sabe a diferença de um poste e aquele que é amigo de todos e irmãos dos demais Escoteiros.


- “Dizem que em muitos Grupos Escoteiros tem um ou mais postes. Aqueles que deixam o tempo passar sem preocupações. São aqueles bem mandados, que aceitam tudo, que não discutem e sempre com um sorriso nos lábios a dizer: sou feliz, pois amo esta meninada e faço tudo por eles. O que outros fazem não me preocupo. Seria ele um poste”?

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Uma janela no meu trem para lembrar.


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Uma janela no meu trem para lembrar.

                         A tarde chegou mansamente. Eu a via em minha janela ainda sem aquele sol que brilha nas tardes enluaradas. Eu repousava quieto de olhos abertos em minha cama tentando recuperar as forças que havia perdido nestes dias festivos. São coisas de velhos principalmente os escoteiros que ainda acreditam estar subindo em uma montanha como se fosse aquele jovem menino de outrora. A mente rodava procurando um ponto qualquer no passado para se firmar e ver algum importante para relembrar. Fechei os olhos devagar, uma música suave veio ao meu encontro. Que música era aquela? Lembrei-me de Cary Grant no seu papel de playboy mulherengo e Deborah Kerr uma ex-cantora que viajando em um cruzeiro para a Europa, se conhecem. Apaixonam-se. Mas precisam dar novo rumo as suas vidas e combinam encontrar seis meses após no alto do Edifício Empire State. Se ambos aparecerem o amor é verdadeiro e se casarão. Tarde demais para esquecer!

                       Não resisto às lembranças. Não tive um amor tão grande que não aconteceu em minha vida. O que tive até hoje fomos felizes. Ela está ao meu lado até hoje. “Na Affair To Remember” me marcou muito. A música foi entrando em meu ser. Dominando-me, me senti tonto, inebriado. O piano deslizava em minha fronte tal qual um por do sol na Montanha da Lua onde tantas vezes acampei. Viajei no tempo. Na fila do Cinema Palácios, de braços dados com a Célia. Íamos assistir finalmente Tarde demais para esquecer. Não sabia o que íamos ver, não fazia ideia. Sou emotivo demais. Quando no final ele não a encontrou no Empire State chorei. Ainda não fazia ideia porque ela não foi. Um trágico acidente a impede de ir ao encontro. Ela toma um rumo emocionante e incerto. Saí do cinema perdido em conjecturas e nenhuma me agradava. Não seria eu o Leo McCarey o diretor para mudar tudo no final. Eu era apenas um Escoteiro, emotivo, noivo, amante de sua linda e futura esposa e que vivia a sorrir e cantar na natureza.

                         Vejo-me sentando em uma poltrona viajando no meu trem do passado. A janela aberta, a fumaça do trem volta e meia entra no vagão de primeira classe. Não reclamo. Adoro amo esta fumaça que até hoje me faz uma falta enorme. Ajeito o travesseiro para aceitar melhor. Minha cabeça fica zonza, pensando e pensando. Meus olhos se firmam na paisagem que o trem vai me mostrando em cada curva que faz. Um pontilhão me assusta. Sorrio. Pego de surpresa. Quantos pontilhões passei na minha infância? Correndo com medo de o trem chegar... Ah! A janela não para de me mostrar um passado, mas a música o piano gostoso, a melodia do filme que me marcou entra em meus poros. No final da passagem do túnel do Corcel perto de Derribadinha vejo-me ali, em pé, segurando meu cavalo de aço junto aos meus outros cinco companheiros. Esperando o trem passar para adentrar no túnel do desconhecido.

                         O piano cessa. A melodia fica a parafusar minha mente. Preciso ouvi-la novamente. You tube? Sim! Vou lá. Ela volta, agora sim me refastelo na cama, minha cabeça repousa no travesseiro e minha mente de novo viaja naquele trem que me leva ao passado. Lembrei-me de Gilwell. Por quê?  Afinal “Na Affair To Remember” não tem nada do escotismo que amo. Quem sabe será porque me sinto Velho e fraco e preciso voltar. Voltar onde? Em Gilwell, no tempo? Assistir novamente o filme da minha vida? Minha mente embaralha. Já nem sei mais o que pensar. Volto novamente ao meu trem. Minha janela. A fumaça branca entrando. Meu paletó branco era macio como leite em calda. O trem vai diminuindo sua marcha. Entra na estação e vejo em algum canto da estrada a garotada correndo sem parar jogando uma pelada com bola de pano. Alguém grita: - Amendoim torradinho, doce de leite e cocadas! Comprem é barato!

                         O trem já vai partir. – Alguém diz com voz chorosa: - Não quer ir comigo? Ela responde chorando... Desculpe sou feliz aqui! Um grande amor interrompido. Minha mente volta ao Empire State. E ela? Mesmo em uma cadeira de rodas ainda pensa em casar com ele? Não sei. Não quero contar. Filmes são assim, trilhas sonoras inolvidáveis. Um piano tocante quem sabe na Floresta do Tenente, lá muito longe onde acampei. Alguém toca baixinho para mim “Na Affair To Remember”. Sento-me na porta da barraca. Uma noite linda, o céu salpicado de estrelas brilhantes, cai uma brisa vinda do ar da Lagoa dos Peixes dourados. Tudo é encantamento. Noite romântica, mágica repleta de felicidade. Fecho os olhos, minha viagem vai chegando ao fim. Levanto-me meio tonto da minha cama. Olho pela janela, daqui a pouco vai escurecer. No meu trem ouço alguém dizer na estação final: - Muito obrigado meu jovem cavalheiro e escoteiro, muito obrigado por esta bela viagem. Desço do trem. Vejo-me fardado, na mão o meu chapéu de abas largas. É noite, lágrimas em meus olhos mostram que ainda penso no grande amor de Deborah Kerr e Cary Grant.


                            Os poetas cada um define a passagem de um grande amor em cada vida. Dizem eles que há sempre alguma loucura no amor. Mas a sempre um pouco de razão na loucura! Tenham uma excelente tarde!