Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

O que seria Escotismo Moderno?


Crônicas de um Velho Escoteiro.
O que seria Escotismo Moderno?

                    Daqui a dois dias iremos entrar em 2015. Muitos esperam que ele entre em uma nova fase e quem sabe em um novo mundo. Torço que isto aconteça no  Movimento Escoteiro. Principalmente agora que só se fala em Escotismo Moderno. Muitos discutem, propagam as vantagens de ser moderno e alardeiam as mudanças que se fizeram acontecer. Agora é esperar os resultados na educação do jovem dentro do método Escoteiro. Afinal, o que é ser moderno? Eu gostaria mesmo que um dirigente fizesse um artigo sobre isto. Que ele dissesse os resultados que estão acontecendo, que estamos crescendo e que em pouco tempo seremos reconhecidos também como um movimento de educação e formação de jovens. Sabemos que isto pouco aconteceu até hoje. Seria este o objetivo? Já somos modernos a ponto de dizer que a peleja começou e os resultados são enriquecedores?

                  Eu me divirto às vezes com o que leio, com as explicações fornecidas e gostaria mesmo de ver os resultados. Augusto Cury me diverte comentando que as sociedades modernas se tornaram grandes hospitais psiquiátricos onde o normal é ser doente. Verdade? Pensemos no Movimento Escoteiro. Lideres de várias estirpes assumiram a liderança e vem ano a ano fazendo mudanças em nome da modernidade. Citam que elas são necessárias para uma melhor compreensão do escotismo e suas finalidades na formação do jovem. Pensei que isto estava claro com o método que BP nos deixou e que poderia até haver adaptações, mas sem fugir ao principal que é a formação do caráter pelas atividades feitas ao ar livre. Muitos destes lideres se ressentem com o passado e eu me pergunto por quê. Quem sabe não tiveram uma infância Escoteira feliz? Não puderam se aventurar pelas estradas, montanhas, vales a procura de aventuras? Não os censuro. Discuto sim que meia dúzia possa decidir sozinho o que é ser moderno e implantar novos programas, distintivos, nomenclaturas, uniformes e outros mais. Ninguém discutiu com os grupos se eles achariam que devíamos mudar. Simplesmente tomaram a iniciativa e pespegaram nos papeis o que seria "dora" em diante. Alardeiam eles que estamos crescendo. Onde? Temos mais de 85.000? Boa esta. Ainda somos o maior país da America do sul e o sexto em efetivo Escoteiro. E olhe que fomos uns dos dez países que começaram o escotismo em 1910.

                Será que somos ultrapassados por fazer acampamentos como se fazia em Giwell? Berço do adestramento mundial Escoteiro? Porque usávamos com orgulho o Caqui e o Chapelão? Somos ultrapassados porque não tínhamos a parafernália eletrônica que os jovens hoje possuem? E os cursos de formação estão dando o resultado esperando na formação de chefes? Não adianta dizer que sim sem uma pesquisa clara nos objetivos propostos. Pesquisa, consultas e transparências são tabus para os nossos lideres. Não comentam a alta rotatividade entre adultos e jovens ano a ano. Alguém conhece alguma pesquisa feita com os que saíram do movimento o motivo real da sua saída? E os jovens? Quantos chefes foram as suas casas saber a real verdade do porque não vão mais as reuniões? Afinal é norma que os pais dêem o aval para a entrada no Grupo Escoteiro e eles também não deveriam dar o aval na saída de seus filhos? Não seria bom saber por que eles não querem mais ser Escoteiros? Palavras sem transparência, sem liberdade, sem consultas as bases não significam nada. É a opinião de meia dúzia que com a anuência de outros poucos alardeiam que as mudanças foram feitas em nome da modernidade e o nosso movimento Escoteiro já velho e ultrapassado (?) precisava disto.

              Não discuto a modernidade que fazem para nos apresentar junto à sociedade brasileira como um movimento educacional, respeitado e visto como uma fonte de excelente colaboração na formação dos jovens. Dizem que antes estávamos mal representados com uniformes desiguais e que muitos jovens chacoalhavam o caqui dizendo que éramos militares. Alardearam que com a nova vestimenta teríamos uma enorme procura dos que ainda não foram Escoteiros. Agora sim, somos modernos. Temos novo programa, temos novos distintivos, nova nomenclatura e a apoteose de uma nova vestimenta que foi apresentada em espetáculo bombástico. Ninguém sabia e ninguém foi consultado. Foi simplesmente postada como a salvação do escotismo moderno. Dezenove tipos a escolher. Dezenove? Nunca vi isto em nenhuma organização. Virou uma verdadeira torre de babel. Cada um escolhe o que quer. Quando em reunião de tropa de distrito ou mesmo um Jamboree os que conhecem o valor do movimento ficam estarrecidos. Qualquer cobertura serve. Cada um veste como gosta. No final só a cor é igual. Até hoje me faço à pergunta: - quem foi consultado para a mudança? Quantos estados deram seu aval? Dizem que em São Paulo foram muitos. Moro aqui e só fiquei sabendo de meia dúzia. Pergunto ainda porque esconderam, porque não discutiram nas Assembleias, porque pelo menos não foi apresentado antes nestes eventos?

             Eu não discuto o escotismo moderno e não sou contra. Sou contra de meia dúzia decidir por muitos. Dizer que estão cobertos pelas normas Escoteiras para mim é supérfluo. São normas que foram feitas por eles. Sabiam que as decisões quanto tomadas e quando as eleições acontecem não passam de 0,5% do nosso efetivo a decidir por todos? Certo? Bem se concordam porque estes 0,5% foram eleitos por nós nada posso dizer. Conhecem-se os estatutos sabem como se chega lá e quem já tentou sabe que não é nada fácil.

                 Amigos meus que dão razão ao que vem acontecendo na nossa alta direção dizem que todos ainda podem armar suas barraquinhas, construir do próprio punho seu conforto no campo, escalar montanhas, pensar em ser como os grandes exploradores do passado. Verdade mesmo? Isto faz parte do Moderno de hoje? Volto à pergunta que não quer calar – Porque então os jovens não ficam em sua maioria mais de um ano nas fileiras Escoteiras? Afinal já somos modernos e não deveríamos agradar? Quem sabe vai agradar aquele que não fala sim senhor e não senhor? Quem diz à família que vai para a balada e não sabe quando vai voltar? Que exige roupas de marca, celular da última geração, no ônibus de olho no celular nem vê um idoso ou uma senhora com criança que poderia ocupar seu lugar? Não vou generalizar. Sei que muitos chefes estão fazendo tudo para mostrar a eles a chave do sucesso – Boas ações, educação, caráter, ética e transparência nos seus atos.


                  Sei que o destino não vai mudar a mentalidade dos dirigentes. Eles impõe a todos o que querem, nunca consultam. Aproveitam dos novos que entram para mostrar o seu novo escotismo moderno, não fazem pesquisas nos grupos escoteiros, não há transparências, a oposição é tratada como indisciplina e nunca querem discutir temas que muitos gostariam de colocar quando das Assembleias indabas e fóruns. Pensemos em 2015. Quem sabe no relatório de 2014 já estamos próximos do cem mil Escoteiros no Brasil. Quem viver verá!

sábado, 27 de dezembro de 2014

A origem das Contas de Madeira.


Conversa ao pé do fogo.
A origem das Contas de Madeira.

A origem das pequenas contas de madeira está envolta num misto de história e lenda, romantizada por estórias passadas de década para década. Embora haja dúvidas quanto à veracidade de alguns acontecimentos frequentemente relatados, o certo é que estas contas não são umas contas quaisquer.

 Isiqu, a “medalha” dos Zulus
Os relatos mais antigos remontam ao tempo de Shaka kaSenzangakhona (1787-1828), o famoso rei que transformou várias tribos dispersas da África do Sul na imponente nação Zulu. As suas tácticas militares inovadoras e a alteração que fez no armamento dos seus guerreiros, permitiram-lhe criar um exército impressionante, organizado, disciplinado e eficiente.

Os mais bravos, tendo protagonizado feitos em batalha merecedores de destaque, eram “condecorados” pelo rei Shaka, em cerimónias públicas, com colares feitos de contas de madeira - os “isiqu”. A madeira destas contas, amarelada, provinha de um salgueiro selvagem (Salix mucronata), a que os indígenas chamavam “um-Nyezane”, considerada “real” e para uso exclusivo do rei Zulu. Após a morte de Shaka, a tradição ter-se-á mantido.

Alguns historiadores sugerem que as contas seriam confeccionadas pelos próprios guerreiros distinguidos, originando colares “isiqu” de aspecto diferente, mas com um traço comum: encaixadas umas nas outras, perpendicularmente. Os colares de contas são muito utilizados na cultura Zulu, ainda hoje, sendo usados materiais naturais tais como madeira, sementes, marfim ou osso.

Em 1999, foi construído um monumento em bronze, em Isandlwana, na África do Sul, em memória dos Zulus que tombaram naquela sangrenta batalha de 1879 contra o exército britânico. A estátua representa, precisamente, um “isiqu”.

Dinizulu.
Dinizulu kaCetshwayo (1868-1913) era sobrinho-neto de Shaka e filho de Cetshwayo (o último rei Zulu reconhecido pelos britânicos). Depois da Guerra Anglo-Zulu de 1878-79, os britânicos acabaram com o reino Zulu e dividiram a Zululândia em 13 distritos, cabendo um destes a Dinizulu, herdeiro do trono, que não tardou começar a “conquistar” pela força das armas outros distritos, pretendendo assumir-se como rei dos Zulus. Desavenças com mercenários Bóeres que ele próprio contratou e com os britânicos a quem, entretanto, pediu ajuda, levaram a que fosse procurado por tropas britânicas enviadas pelo Governador da Província do Natal, em 1888. Baden-Powell foi escolhido para oficial do estado-maior das tropas comandadas pelo Major McKean, que perseguiriam Dinizulu.

A lenda do colar de Dinizulu
Diz a “lenda”, entre os escoteiros, que foi o próprio Dinizulu quem ofereceu o colar a BP. Esta versão foi passada pela associação escotista inglesa, a partir da década de 50, devido ao embaraço causado pela versão anterior, segundo a qual B-P ter-se-ia apoderado do colar, abandonado por Dinizulu numa cabana especialmente preparada para ele.

Quando B-P chegou a uma zona de penhascos, bastante arborizada e com cavernas, chamada “Ceza Bush”, identificada como baluarte de Dinizulu e dos seus homens, já estes tinham escapado para a República do Transvaal. Os britânicos só encontraram cavernas abandonadas e cabanas queimadas, numa das quais B-P terá - segundo contou ele próprio em 1925 - encontrado o colar “isiqu” de onde provieram as primeiras contas da Insígnia de Madeira. Dinizulu entregou-se 3 meses mais tarde ao Governador do Natal, em casa da família Colenso, que apoiava a causa Zulu.

No seu livro “Lessons from the Varsity of Life” (1933, capítulo V - Zululândia), BP. relata o incidente em “Ceza Bush”, mas não faz qualquer referência ao colar “isiqu”. Curiosamente, nesse mesmo texto, conta como se apoderou de um colar de contas de uma moça Zulu que foi atingida por uma bala perdida e faleceu durante a noite, mesmo ao lado de B-P. Nos diários onde Baden-Powell descrevia detalhadamente todos os pormenores da sua vida, também não foi feita nenhuma referência ao colar.

Certo é que B-P nunca conheceu Dinizulu. Se o colar “isiqu” que B-P levou para Inglaterra era m Formato das contas;

As contas que hoje ostentamos nos nossos colares da Insígnia de Madeira, são um pouco diferentes das primeiras. Estas tinham um formado mais delgado na zona onde passa o fio de couro, para o encaixe entre elas.


A “falha” nas extremidades é natural. Ao fazer os cortes em “V” nas extremidades, que seriam queimados, o interior do cerne da madeira de salgueiro desfazia-se, dando origem às pequenas “falhas”, características, também em “V”. Algumas das contas que são produzidas hoje em dia, não trazem estas pequenas “falhas”, sendo os cortes apenas pintados, e não queimados, exceto na zona da “falha”, que fica da cor da madeira.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Dizem que você é um perfeito Escoteiro se...


Conversa ao pé do fogo.
Dizem que você é um perfeito Escoteiro se...

- Tens buracos nos bolsos das calças por andares sempre com o canivete lá dentro.
- Quando a professora na escola te chama, levanta e grita “Sempre Alerta”!
- Quando encontra uma pessoa conhecida só sabe dar a mão esquerda.
- Tens sempre um balde de água ao lado do fogão quando estás a cozinhar em casa.
- Começas espontaneamente a cantar umas canções esquisitas em público.
- És capaz de ficar uma hora a olhar para uma teia de aranha, e não ver o tempo passar.
- Estás sempre a contar seus passos para onde vai para saber quantos quilômetros andou.
- Não perde uma festividade da cidade ou da escola sem colocar seu lenço Escoteiro.
- Levas sempre contigo um rolo de papel higiénico para onde quer que vás.
- Amarras o teu irmão mais novo com uns nós esquisitos, e ele não se consegue libertar.
- Á noite, na cama, apaga a luz e acende a lanterna para ler.
- Não dá sossego a sua mãe na cozinha, sempre quer aprender a cozinhar.
- Todos ficam boquiabertos porque você mantem seus “apetrechos” Escoteiros muito bem guardados e limpos.
- Aos sábados ou nos dias de reuniões não tira o olho do relógio para não chegar atrasado.
- Andando pela rua sempre está a recitar a lei Escoteira de trás para diante.
- Se alguém te faz alguma pergunta você logo responde e finaliza – Palavra de Escoteiro!
- És muito emotivo, chora quando se lembra da Canção da Despedida.
- Vive a dizer para seus amigos como é lindo ver o nascer e o por do sol.
- Não és capaz de passar por um papel no chão sem o apanhar e colocar em uma lixeira.
- Andas sempre com um copo de metal ou outro preso ao cinto.
- Abres as cartas do correio com um canivete.
Os vizinhos fingem não estar em casa quando te topam a percorrer a rua com um monte de calendários.
- Seus amigos na escola não aguentam mais quando você começa a contar como foi seu ultimo Fogo de Conselho.
- Anda sempre com a moeda da boa ação no bolso esquerdo e quando a vê no bolso direito volta novamente para o esquerdo. Quer sempre fazer o maior numero de boas ações no dia.
- Gostas de sentar a sombra de uma árvore e lembrar-se das coisas gostosas que faz no escotismo.
- Alguém pede um voluntário e descobres que já tens a mão no ar.
- Em qualquer discussão de amigos, você está sempre a contar como foi seu acampamento.
- Quando em um edifício vê uma bandeira, para e faz a saudação.


Risos será verdade que você faz assim? Se for meus parabéns, você tem o espirito Escoteiro no coração! 

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

No meu último verão, eu dormi sob as estrelas!


Conversa ao pé do fogo.
No meu último verão, eu dormi sob as estrelas!

                    Foi no último verão que dormi sob as estrelas. Sei que alguns gostam mais da primavera e poucos do inverno. Eu gosto do inverno. Gosto da chuva fina, do capote sobre os ombros, da manta protegendo minhas pernas, do pequeno fogo aceso e meus olhos fixos na chama vermelha que teimosamente vai subindo aos céus. Fecho os olhos e me lembro de tudo. Dos sorrisos, das gargalhadas, da espera do grito: - Ascende-te fogo! É belo, mais belo ainda é ver um menino, com toda sua força fazer a “Invocação dos Ventos”. Ele não se preocupava com a chuva e mesmo ela fininha caindo quem se incomodava? E a tropa? De olhos arregalados esperando o momento mágico de o fogo subir aos céus! São lembranças gostosas e aqui na varanda da minha casa, vendo a chuva molhar o asfalto, ouvindo uma música suave na minha vitrola espero o entardecer. Gosto disto, de sonhar, de lembrar, de pensar nas frases que nunca escrevi, mas que contém lindas mensagens - Venha! Venha depressa! Veja o céu multicolor, envolvendo as nuvens, desenhando o entardecer!

                Ah! Saudades dos tempos idos. Saudades? Sim, dizem que quem não tem saudades não viveu. Não tem histórias para contar. Dormir sob as estrelas! Você já dormiu? E os seus jovens? Já dormiram? Não existe nada tão maravilhoso. É fantástico e quando a gente lembra surgem muitas vezes uma pequena lágrima que escorre pelo rosto, e a gente se sente feliz, ou infeliz, e deixa que ela role até o chão. Não existe nada mais lindo que sentir as estrelas se aproximando de você. Ver uma estrela cadente passar deixando um rastro no céu. Ouvir alguém gritar: - Faça um pedido! Você fecha os olhos e pensa qual pedido vai fazer. E o ir e vir dos satélites brilhantes? Você olha e se sente uma formiguinha perdida neste espaço sideral. Você sabe que a imensidão do universo é tão grande que se sente pequeno, tenta entender e sabe que é impossível. Quantas vidas ainda teremos nestas viagens a terra ou em outro lugar do infinito para conhecer um pouco? Qual seria a amplitude, a largueza, a vastidão do universo? Teria fim? Como seria? Como seria ter a felicidade em pegar uma carona em um cometa, viajar no espaço, ver de perto as Três Marias, a beleza de Andrômeda, ver bem pequenininha a Cassiopéia, o Cruzeiro do Sul, o Centauro, ah! Como é belo o nosso céu. E como ver a noite passar sem nada ter passado. Sentir lá no fundo do coração a beleza de viver.

                  Dizem que quem teve a felicidade de passar uma noite contando estrelas já teve tudo na vida. A vida de Escoteiro tem disto. Ele pode imitar um macaco-aranha, Um besouro cinzento acasalando, a cigarra cantando, uma onça pintada procurando uma caça, ou mesmo um grito da coruja no limiar da noite. Pode sim descobrir a árvore eco, dar uma batida ouvir o som como se fosse um código de espiões do mar. Quem esteve em uma floresta fechada, imaginando ser mais um de uma Bandeira, querendo encontrar as pedras verdes de Fernão Dias Paes e poder sonhar quando estiver em uma clareira, ao lado um riacho de águas frias cristalinas. E quando a noite chegar ouvir o piar de um pássaro noturno, brincando de esconde, esconde. Quem um dia não levou um vidro branco, prendeu os coitadinhos dos vagalumes pensando em ter uma lanterna mágica? Dormir sob as estrelas! Frase mágica. Abençoados aqueles que um dia dormiram. E fecharam os olhos com tanta beleza e foram pegos pela alvorada com uma passarada cantante, o vento soprando no rosto, a brisa refrescante, uma nesga do sol dizendo que agora ele sim seria o rei.

                   Dormir sob as estrelas! Uma dádiva e uma prova que Deus existe. Esta imensidão do universo não pode ter sido feita do nada. Impossível! Tem explicação? Seria O Big Bang ou a Grande Explosão a teoria cosmológica dominante do desenvolvimento inicial do universo? Pode ser, mas alguém provocou esta explosão. A criação do universo não veio do nada. Fechar os olhos novamente. Aqui na minha varanda ainda vejo a chuvinha fina caindo, ainda com minha manta sob minhas pernas, vou imaginando a vida que tive e que Escoteiros do mundo têm. Uma vez me contaram uma história de um Chefe que se apaixonou por uma estrela. Dizem que foi morar com ela em uma galáxia tão distante que irão ainda passar milhões de anos para que ela seja descoberta. E a lenda completa que serão felizes para sempre. Ah! Sonhos de uma noite de verão, sonhos que valem a pena viver. Uma, duas, três eu amo muito contar estrelas no céu!

              “Um cantor muito famoso disse que uma das coisas mais belas da vida é olhar para o céu, contemplar uma estrela e imaginar que muito distante existe alguém olhando para o mesmo céu, contemplando a mesma estrela e murmurando baixinho: “Que Saudade”“.


Boa noite queridos amigos e amigas. Que Deus todo poderoso, criador do céu e da terra protejam vocês por toda a vida!

sábado, 13 de dezembro de 2014

O semeador de felicidade.


Conversa ao pé do fogo.
O semeador de felicidade.

                       Um dia publiquei aqui estas palavras dirigidas aos meus amigos Escoteiros, estivessem eles onde estiverem. Meu desejo era levar a paz no coração de cada um. Sei que paz no mundo começa dentro de mim! Quando eu me aceito, de corpo e alma. E em vez de me fragmentar em mil pedaços eu me coloco inteiro no que penso, sinto e faço. Sem nada para levar que possa me prender! Seria tão bom se eu fosse um mágico. Um mágico que conseguia semear a felicidade por onde passasse. Onde minhas mãos tocassem tudo se transformaria. Poderia tocar em você e fazer seu sonho transformar em realidade. Não seriam ilusões de riquezas e poder. Seriam ilusões onde a vida se transforma na natureza levando um frescor da primavera as mentes mais saudosas do desejo de mudar. Flutuar sobre as ondas do mar até onde a vista possa alcançar só para sentir o barulho das ondas sem embarcação no meio do oceano. Eu gostaria mesmo de semear a felicidade por onde eu passasse. Fizesse sorrir aqueles olhos tristes ao lembrar-se de alguém que se foi e o trouxesse de volta. Semear um novo sorriso a quem acha que o mundo não merece um doce sorriso ao amanhecer e ao entardecer.

                            Ah! Se eu pudesse mesmo de ser um mágico. Com uma varinha de condão trazer o colorido do arco íris a criança que sonha em ir até ele, o presentear com o pote de ouro que ele acreditou existir entre o verde, o vermelho, o azul e o amarelo na ponta do arco íris. Levar um lago azul com montanhas brancas e geladas aos sonhadores do mundo. Mostrar que cada um de nós podemos conseguir se quisermos conduzir um rumo a esta felicidade não alcançada se tivermos fé. Fé que remove montanhas. Ah! Como eu gostaria de poder ser um semeador de felicidades. Semear a brisa de outono sem esperar a primavera só para trazer de volta o perfume das flores que se esqueceram de florir. Semear em uma estrada belas canções que pudesse levar a todos que a alegria de cantar nesta jornada da vida e sentir amores imensos. Fazer uma criança sorrir, um adulto ao seu lado feliz seria minha meta de semeador de ilusões reais.

                     Eu gostaria mesmo de ser um mágico. Para dizer que valores são preciosos quando conquistamos com um sorriso. Quando um aperto de mão esquerda tem valores que poucos podem medir. Eu queria com minha varinha mágica criar uma bela montanha verdejante no topo do mundo. Sorrir ao lado da Tropa que lá está e arvorou sua bandeira. Com um simples gesto deixar que eles pudessem ver o que poucos viram. Que eles pudessem alcançar um mundo colorido ao dormir em suas barracas e sentir os sonhos que todos nós Escoteiros sonhamos. Que a noite as estrelas no céu piscassem seus brilhos em cores faiscantes para iluminar o caminho de cada um no seu amanhã que virá.


                   Que bom seria se fosse um semeador de ilusões reais com um simples toque de mão. Tentar mudar as dores do mundo para os que acreditam que elas podem acabar. Com minhas mãos criar um banco dourado para que os sofredores pudessem sentar em frente a um lago azul esperando um belo nascer do sol... E fazer  tudo mudar. Tentar entender um bando de andorinhas a voar pelo sol vermelho do horizonte semeando canções de amor. Mãos mágicas que eu não tenho. Semear felicidade eu gostaria, mas não posso. Nem sempre palavras atingem aqueles que mais precisam. Mas eu não desisto. Nunca desisti. Contra ou a favor procuro sempre ser um semeador de felicidade. Que bom seria se em todas as dificuldades qualquer um fosse um mágico e dissesse – Abre-te Sésamo! E as tristezas seriam guardadas para sempre na caverna da vida e assim viveríamos felizes para sempre!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Podem dizer: - Sou um Velho Escoteiro chato e...


Conversa ao pé do fogo.
Podem dizer: - Sou um Velho Escoteiro chato e...

               Infelizmente tem muita coisa que admiro no escotismo e tem outras que não. Mas e daí? Quem se importa? Eu não vou modificar o escotismo e nem o escotismo vai me modificar. Eu gosto muito de fazer amigos e não importa se são daqueles tipos sisudos, que não gostam de sorrir. Eu gosto disto. Gosto de dizer: Chefe! O sorriso é de graça. Você não paga. Mas quer saber? Eu não gosto de ver fotos de meninos sujos, cheio de barro, uniformizados e todos dizendo que isto é escotismo gostoso. É mesmo? Caramba e onde anda o décimo artigo que diz que o Escoteiro é limpo de corpo e alma? Mas eu admiro muito de sentir um bom aperto de mão, não aquele mole como faziam os matutos mineiros – Tarde cumpade! – Quer saber? Não gosto de Escoteiros, chefes e dirigentes que ficam posudos como se soubessem tudo e a gente não sabe nada. Dou risadas com eles. Acho que é por isto que muitos não gostam de mim. Olham-me como se eu fosse um “pobre coitado”, mas acreditem eles é que deviam olhar dentro de si. Ninguém é melhor que ninguém. Somos todos iguais e quando formos para as estrelas aqui na terra o lugar de cada um é o mesmo dos outros. Kkkkkkk.

               Se tem uma coisa que gosto é de acampar. Caramba! Acho que estou pagando por um passado terrível. Não posso mais fazer o que gosto. Saúde danada. Um dia pego ela e jogo no lago dos enforcados. Não sabe onde è? Melhor não saber. Mas acampar é lindo, é gostoso demais. Sentir o cheiro da floresta, a sombra de um jequitibá, o cantar de um sabiá, o barulho de uma bica de água cristalina. Putz! Bom demais. Agora eu te pergunto você já levantou as quatro da matina só para ver o sol nascer? Não? Por favor, no próximo acampamento faça isto. E se puder, vá até uma cascata, sente ali em uma pedra, feche os olhos e sinta o ribombar da queda d’água. É lindo demais. E as noites? Contar estrelas, já contou? Não? São trilhões. E bota trilhões nisto. Eu consegui contar duas mil e duzentas. Kkkkk. Mas tem uma coisa que eu não gosto, de ver chefes querendo ser os tais, ficando nos campos de patrulha e se achando os bons ensinado e fazendo. Ele não sabe nada do sistema de patrulhas e a arte de aprender fazendo, não acham?

              Mas se tem uma coisa que gosto é de cantar. Cantar com alegria, principalmente com uma lobada ou escoteirada com seus sorrisos maravilhosos e dentro do tom esperado para a canção. E a canção da despedida, é chorosa, dól., mas não tem canção mais bonita. E o cheiro da fumaça da lenha? E o perfume da terra após a chuva? Deus meu, é maravilhoso. E os cozinheiros coitados esfregando os olhinhos da fumaça, soprando o fogo querendo ser um avião ao levantar voou? Eu lhe pergunto você um dia ficou olhando os olhares da meninada no Fogo de Conselho? Tem coisa mais bela? Demais mesmo. Arrepio só de lembrar! E da partida e chegada a um acampamento? Os sorrisos, a vontade de ser um desbravador, e olhe sempre tem aqueles que adoram pegar um facão e dizer: - Monitor! Vou cortar lenha! Adoro estes pata-tenras! E voltam cheios de gravetos. Kkkkkk. E se quer saber eu adoro a pose dos Escoteiros na ferradura para a cerimonia de bandeira. São geniais suas poses. Mas se tem mesmo algum que eu não gosto, é do tal SAPS! Não gosto mesmo e já expliquei porque, e olhe detesto chefes falando, falando, a tropa não aguentando ficar de pé e o danado não para. Putz! Se toca Chefe!

                   Agora, meus amigos, é coisa de dar em doido o tal Grande Uivo. Lindo de morrer. O olhar deles esperando a Akelá decidir que dirá “Melhor, melhor, melhor e melhor” é demais. Agora aqueles jogos complicados eu não gosto. Muitas normas atrapalham. Jogo tem de ser simples, calmos onde a participação de todos é ponto de honra. E olhe eu gosto de fazer jogos que aconteçam sorrisos em profusão, não aquele que termina com um só vencedor. Detesto! Mas meus amigos sabe o que é bom demais? À noite, deitar na relva, em um local sem sinais de civilização, olhar o céu, procurar constelações, ver os milhares de satélites passeando, surgir um cometa tão rápido que mal a vista alcança, sentir o cantar dos grilos, da coruja, ouvir o som da floresta, do vento... Hã do vento! É demais. E sentir o orvalho caindo molhando o rosto você já sentiu? E ver a madrugada chegar, mansinha, calma esperando a bruma se ir e o sol chegar... Tremo só de pensar! Mas eu não gosto, e não gosto mesmo do fogareiro a gás. Detesto. Para mim ante Escoteiro. E som de radio? De telefone? Caramba, é como se eu recebesse uma bala no coração. Dramático? Não importa, não gosto mesmo.

              Mas eu adoro o grito de patrulha, a força e o orgulho dos patrulheiros segurando o bastão. E a bandeira? Existe maior emoção que ver os escolhidos içar e arriar? Não ia falar. Se que muitos amigos meus aqui não vão gostar. Mas detesto o lenço sem uniforme ou vestimenta. Lenço não faz parte da apresentação e não é o todo sem ela. Desculpem, mas não gosto mesmo. E os que se vestem desleixadamente? São tantos, tantos que precisamos nos preocupar com isto. Se querem que o escotismo atenda o que pretende e que a sociedade o respeite, vista seu uniforme ou vestimenta com respeito. Não se apresente como um desleixado. Você não é, você é um Escoteiro! Mas em contrapartida eu amo meus amigos aqui, do coração mesmo. Um dia alguém dia que eu não era verdadeiro mas acho que ele se enganou. Quando conheço um pessoalmente é demais. Sempre dou um belo sorriso. Sei que irei para as estrelas sem poder apertar a mão de todos, mas lá, em um planeta muito distante um dia nos encontraremos... Se Deus quiser!


              Melhor é ir terminando, sei que poucos se interessam do que gosto ou não gosto. Afinal mesmo que alguns dizem que sou tradicionalista e quero mudar o mundo eu compreendo. Afinal não conheci Baden-Powell mas li tanto sobre ele, amo tanto o movimento que parece que vivemos juntos num passado que já se foi. Do escotismo eu fiz uma lição de vida, dizem que sou saudosista mas quem não é? Podem me chamar de Velho Escoteiro. Sei que sou. Meu tempo já passou mas o que eu passei com ele foi motivo de orgulho. Hoje vivo feliz. Não estou distribuindo sorrisos, nada disto, mas aceito as adversidades que aconteceram e acontecem em minha vida. Ela não é um mar de rosas mas é um oceano de felicidade. Sempre acreditei que devemos aceitar o que nos foi reservado. Fomos nós mesmos que fabricamos nosso destino. O que temos hoje foi produto da vida ou de um passado que já se foi!

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Impisa – “O lobo que nunca dorme!”.


Lendas escoteiras.
Impisa – “O lobo que nunca dorme!”.

                 Claro que Gegê não era um intrépido. Nem tão pouco valente. Mas tinha lido tantas histórias de Baden Powell (BP) que ele pensou que poderia ser um assim. Bem era outra época, não havia uma tribo dos Ashantís para lutar, e Mafeking hoje era uma cidade pacificada. Pena que ele não pudesse voltar no tempo na guerra do Transwall. Se pudesse! Mas quem sabe ele conseguiria algumas aventuras na sua cidade? Gegê tinha treze anos. Um menino cheio de ideais. Um Escoteiro sonhador. Em sua Patrulha todos achavam graça dele. Seu Monitor sabia que sua mente fervilhava. Ele não sonhava como Dibs, o menino em busca de sí mesmo ou como nas Aventuras de Tom Sawyer “O que um menino faz num sonho não faz também quando acordado?”. Dizem que todo menino normal (parodiando Mark Twain) tem hora que surge um desejo furioso de ir a algum lugar e descobrir um tesouro enterrado. Gegê era assim. Um sonhador!

            Gegê não saia à noite. Sempre ia para a varanda de sua casa e ali devorava os livros de Baden Powell (BP). Fechava os olhos e pensava que podia ser um dos dezoitos escolhido por ele para o primeiro acampamento em Brownsea. Sentado na cadeira de balanço de sua Vó, Gegê lia e aos poucos seus olhos se fechavam. Algum estranho aconteceu. Gegê se viu transportado para Brownsea, olhou no relógio e viu que era vinte e nove de julho a data do inicio do acampamento. Ele não estava acreditando. A ilha era comum, parecia muito com a ilha da Carlinga de sua cidade. Viu os meninos chegando. Contou um por um, não eram mais que dezoito. Ele contou vinte! O tempo estava afirme. Alguém recebia os meninos e pelas fotos ele reconheceu Sir Percy Everett um amigo de BP.  Ele sabia que a ilha era pequena, menos de três quilômetros por um e meio. [Claro tinha muitos bosques, dois lagos e que BP dizia ser um bom terreno Escoteiro.].

Gegê estava sonhando. Ou não? Ninguém o via. Mesmo chegando perto era por eles ignorado. Sabia que cada menino participante levou todo o material pedido e que sabiam de cor e salteado os nós direito, escota e volta do fiel. Gegê se lembrava do que tinha lido, pois o convite que ele enviou foi aceito com entusiasmo. Os pais se orgulhavam dos filhos participarem com um herói de Mafeking como era conhecido na Inglaterra. Lá estava também seu amigo de armas, o Major Keneth McLaren que ficou como seu assistente. Nossa! Que vontade de ser visto por eles, de participar de uma das patrulhas. Não importava qual. Poderia ser os Corvos, os Lobos, os Maçaricos ou os touros. Viu que os monitores já tinham sido escolhidos e eram responsáveis por tudo que faziam no campo. Sabiam que BP solicitou que a eficiência e a coragem fosse ponto de honra. Ele sabia que os meninos não usavam uniformes. Viu que cada um recebeu as fitas de Patrulhas com suas cores que ficaram para sempre como símbolo daquelas patrulhas.

            Gegê estava embasbacado. Era tudo real. Viu o treinamento de Técnicas de Acampamento, observação, artes mateiras e como ele era desenvolvido. Assistiu BP contar para eles como era um bom rastreador. No Fogo de Conselho ele mostrou como seguir pistas a noite. No dia seguinte (cada Patrulha tinha uma barraca) BP adestrou os monitores e assim o acampamento seguia seu rumo. Gegê lembrava que ele mais tarde comentou que dar responsabilidade ao Monitor, foi o segredo do sucesso da atividade. Gegê olhava e aprendia. Construção de abrigos, fazer colchões, acender fogo, cozinha mateira e se divertiu com os jogos que eles fizeram. Eu queria tanto estar com eles dizia.  O que ele mais gostou foi do jogo "Caça ao Urso" - Um dos rapazes maiores é o urso e tem três bases nas quais ele pode se refugiar e estar a salvo. Ele leva um pequeno balão de borracha cheio de ar nas costas. Os outros rapazes estão armados com bastões de palha amarrados por um cabo (ou jornal enrolado) e com os bastões procuram fazer estourar o balão, enquanto o urso está fora da base. O urso tem um bastão semelhante com o qual procura tirar os chapéus dos caçadores. Se isto acontecer o caçador está morto, mas o balão do urso tem de ser arrebentado para que ele seja considerado morto.

                   Gegê estava vibrando com tudo aquilo. O bivaque feito só pela Patrulha foi sensacional. Mas as Atividades Práticas da Natureza eram fora de série. Relatórios de observação da natureza - “Envie suas Patrulhas para descobrirem por observação e relatarem depois, coisas como estas: Como o coelho silvestre cava sua toca? Quando um grupo de coelhos é assustado, um coelho corre apenas porque os outros correm ou olha ao redor para ver qual é o perigo, antes de também correr? Um pica-pau tira a casca para apanhar os insetos no tronco da árvore, ou apanha-os pelo buraco, ou como é que os acompanha? etc.”. Gegê viu que Baden Powell era um esplêndido contador de estórias. Tinha um espantoso estoque de anedotas sobre os heróis de todos os tempos. Para seu próprio uso, ele havia criado um código de ética, baseado nos códigos dos Cavaleiros do Rei Arthur e nas suas próprias reflexões. Agora ele pode procurar instilar nos rapazes os mesmos ideais, contando-lhes as façanhas dos heróis admirados pelos jovens e imprimindo em suas mentes a ideia de “Boa Ação Diária”.

 Gegê procurou um lugar junto a todos e assistiu o melhor debate que BP teve nesta ocasião com os rapazes. Foi ali que viu cristalizar o seu pensamento e a formular um código aceitável para os rapazes: A Lei e a Promessa Escoteira. Ele experimentou jogos que lhe parecia capaz de por em relevo e dar expressão prática aos traços de caráter que ele desejava que os rapazes possuíssem. Ele pôs à prova a lealdade e a esportividade deles em jogos de equipe com regras estritas. Pôs à prova a coragem deles com alguns golpes e chaves simples de jiu-jitsu, e a disciplina e obediência num jogo em botes - a caça à baleia. Gegê queria intervir queria participar, mas não podia. Alguém o balançava e ele assustado e tremendo acordou com sua mãe o chamando para dormir. Gegê queria chorar. Perdera a melhor oportunidade de sua vida, pois queria muito ver os olhares de todos quando o acampamento terminasse. Mas Gegê sabia que agora era esperar outro sonho. Poucos muito poucos poderiam dizer que viram boa parte do primeiro acampamento dos escoteiros no mundo. Mesmo em sonhos.


 Gegê viu. Contar para quem? O sonho de Gegê morreria com ele, Ninguém acreditaria. Mas isto importava? Para Gegê não. O que os outros pensassem dele não tinha nenhuma importância. Sabia que muitos gostariam de estar em seu lugar, e só ele teve esta oportunidade. Nunca deixaria de ser o Escoteiro sonhador. Sonhar é viver novamente e acreditar que o mundo pode se modificar. Os sonhos de Gegê pelo menos na sua inocência poderiam mudar o mundo! Sonhe Gegê, Sonhe!   

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

“Zé Amâncio” Um violeiro Escoteiro que deixou saudades.


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
“Zé Amâncio” Um violeiro Escoteiro que deixou saudades.

               De vez em quando rebusco no passado fatos interessantes para relembrar. São muitos. Cada um com sua peculiaridade, seu estilo e sua história. Durante o período que fui Comissário Regional em Minas Gerais de 1967 a 1975 por sinal tempo demais, convivi com pessoas maravilhosas e não só na capital, mas nas cidades que visitei. Tive a honra de conviver com pessoas magnificas isto em uma época que o escotismo ainda não tinha florescido nas montanhosas terras mineiras. Conheci figuras representativas, figuras que posteriormente se tornaram célebres em seu ofício e em seu meio profissional. Percorri milhares de quilômetros, em automóveis simples de amigos, pois ainda não tinha um veículo meu usava muito ônibus de carreira viajando por estradas de terra, buscando aproximar o escotismo da Região Escoteira de Minas Gerais as cidades mineiras. Difícil passar um fim de semana com a família. Quando não viajava os cursos me tomavam o tempo. Eram sonhos ainda de um jovem que acreditava no escotismo e sempre achou que sua colaboração tinha valor.

               Foram muitas cidades. Dezenas talvez. Ali uma conversa com um Professor, um profissional qualificado, um juiz de direito, um prefeito, palestras em Rotary e Lions, atendendo um jovem que escreveu para mim sem idade suficiente para se tornar responsável na organização de um Grupo Escoteiro. Norte, sul leste e oeste do estado lá estavam eu atendendo a todos os chamados. Enfim cheguei a Pouso Alegre. Uma linda cidade cuja prosperidade estava no seu inicio e convidado lá fui eu tentar ajudar na organização do Grupo Escoteiro. Desculpem, não lembro os nomes, os que eu conheci ainda tenho a lembrança deles na mente, mas nomes não. Claro que não esqueci o Urias, uma figura interessante, com uma barbicha que lhe dava um ar de pedagogo. Com o tempo o nomeei Comissário Distrital. Lutamos para desenvolver o sul de minas escoteiramente. Campanha, Passos, São Lourenço, Itajubá, Varginha e outras tantas cidades. Em algumas o escotismo floresceu em outras não. Hoje sei que em Poços de Caldas um escotismo forte e belo existe ali.

               Até hoje dou gargalhadas com a turma do distrito de Pouso Alegre. Acho que eram uns oito ou dez chefes. Um CAB (curso de Adestramento Básico) proximo a Belo Horizonte. Lá estava eu dirigindo, o Padre João de Juiz de Fora, o Blair e o Chefe João de Belo Horizonte que mais tarde se tornaria padre e hoje falecido – “grande Escoteiro ele”. O curso se não me engano tinha 22 participantes. Três patrulhas. Em julho um frio de rachar. A região na época pobre (não sei hoje) as barracas simples, na primeira noite a temperatura desceu a cinco graus. Os alunos do curso reclamaram. Ensinamos a eles como fazer um fogo espelho. Ele é a melhor solução para o frio à noite na barraca. No segundo dia, na chamada das patrulhas vimos que faltavam oito. Fomos saber o que houve – A turma do distrito de Pouso Alegre tinha debandado sem falar nada conosco. Um motim Escoteiro? Disseram que foi o Urias o responsável. Chamou todos pela madrugada e partiu sem avisar. Risos. Um mês depois peguei o ônibus e fui lá. Colocamos tudo em pratos limpos. Refizemos o curso em Campanha.

               No meio da década de oitenta, eu era um Chefe de um Grupo Escoteiro na capital de São Paulo, fazíamos anualmente um acampamento em uma cidade onde houvesse um Grupo Escoteiro. Não sei como me lembrei de Pouso Alegre e me surgiu a figura do “Zé Amâncio”. Cartas, telefones oito meses de preparação, uma ida antes para formalizar o acampamento e dois ônibus nos levaram até lá. Um lindo local, bambus a rodo, um riacho de águas claras e límpidas, uma área arborizada e gramada (grama comum). Perfeito. Fomos com duas alcateias, uma Tropa Escoteira masculina e uma feminina, uma tropa sênior e uma de guia. Quinze chefes acompanhavam. Os lobinhos ficaram em uma escola a dois quilômetros dos Escoteiros. “Zé Amâncio” chegou com sua tropa e Alcateia. Foi então que reconheci o amigo que até hoje guardo boas lembranças.

                Já o conhecia dos anos que fui por várias vezes a Pouso Alegre. Uma figuraça, bonachão, amigo, sincero e quer saber? Um violeiro de mão cheia. Compunha canções Escoteiras de tirar o folego. Nos quatro dias que ficamos lá como cantamos. “Zé Amâncio” era bamba no violão. Dizem que cantar trás paz alegria e felicidade e acho que foi por isto que ele fez amizade com todo mundo. Uma de suas canções foi cantada pelo nosso grupo por muitos anos. O fogo do conselho foi supimpa. Ele com sua simplicidade tocava e cantava encantando a todos. Uma visita à sede do seu grupo uma surpresa. Ele colocou meu nome em uma das salas principais da sede Escoteira, por sinal grande com dois andares. Mais de 140 membros do Grupo Águia Branca se encantou com a sede do Grupo de Pouso Alegre. “Zé Amâncio” perfeito anfitrião.

               Na partida abraços, olhos molhados, uma cadeia da fraternidade de deixar saudades. Partimos e apenas uma carta de agradecimento marcou o final da atividade. Nunca esqueci o José Amâncio, o Zé que marcou o coração de muitos. Soube dele por um amigo de Poços de Caldas o Chefe Fafi. Bateu-me a lembrança de um Chefe que sempre morou em meu coração. Quem o vir e se ele um dia ler esta mensagem acredite – O considero um dos maiores compositores Escoteiros que conheci em minha vida. Pena que a UEB não deu o valor devido as suas músicas. Nem sei se a Região de Minas Gerais valorizou. Se assim o fez ele mereceu.


Meu abraço meu amigo, que seja feliz e continue assim, um amigão, um cantor, um violeiro e um Escoteiro de coração.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A Escola da Vida!


Conversa ao pé do fogo.
A Escola da Vida!

"Deus nos concede, a cada dia, uma página de vida nova no livro do tempo. Aquilo que colocarmos nela, corre por nossa conta."

                       Não sei se existe idade para que nós possamos aprender nesta formidável escola do mundo em que vivemos. Uma grande poetiza já dizia que todos nós estamos matriculados na escola da vida. Desde que nascemos. Nesta escola o mestre é o tempo. A cada dia vamos aprendendo. Não importa a idade, pois o aprendizado não para. Dia e noite. É bom aprender com o silêncio, com os falantes, com os intolerantes e os gentís. Eu posso dizer que sou grato a todos pelo que aprendi e ainda aprendo. Não levo em consideração se são rudes, se são estranhos. A eles sou eternamente grato. De vez em penso nas palavras de Baden Powell quando disse que é uma pena que um homem tenha que viver sessenta anos para adquirir alguma experiência de vida e a leve para o túmulo, cabendo aos que o seguem começar tudo de novo, cometendo os mesmos erros e enfrentando os mesmos problemas.

                     Leonardo da Vinci comentou que a experiência é uma escola onde são caras as lições, mas em nenhuma outra os tolos podem aprender. Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende. São duas coisas distintas – O saber dado pelos mestres nas escolas e a vida como ela é, sendo olhada, guardada em nossa mente e nos fazendo crescer no dia a dia. Outro pensador comentou que, no dia em que guiarmos nossas ações, juízos, estudos e decisões por valores que visam ao sublime em vez da mesquinhez, quando agirmos inspirados mais nos critérios de justiça, da generosidade, da prudência, da temperança do que do interesse do egoísmo, no dia em que agirmos meditando sempre na beleza da doçura, na importância da humildade, no valor da coragem e no lugar da compaixão, nesse dia nosso planeta atingirá aquele estágio supremo que toda evolução técnica teve por meta.

                O escotismo nos deu escolhas. Não importa se entramos nele como jovens ou adultos. Ele o escotismo nos dá escolhas simples, honestas baseadas em uma lei e uma promessa. Aprendemos tanto a cada dia, a cada hora, a cada minuto. Aos poucos vamos fazendo um arquivo em nossa memória impossível de descrever ou escrever. É este arquivo é quem nos ensina como compreender, ser calmo, ponderado, e assim aceitarmos mais alegremente a vida como ela é, sem reclamar e aceitando o que nos foi dado como meta. Fico pensando que muitos jovens ou mesmos outros que ainda não estiveram em todas as salas da escola da vida não querem ainda escolher com aqueles que já passaram por todas elas, carregam experiência e não se perdem no caminho desta escola. Eles os jovens se sentem seguros, Andam com firmeza e acreditam que o que fazem é o certo. Mas isto não é bom? Lá bem distante um dia eles verão que o caminho poderia ter sido outro. Mas e o livre arbítrio?

                Ainda bem que tive a alegria de participar ativamente deste movimento que só me deu alegrias. Os percalços que encontrei foram também aprendizado. Hoje não fico preocupado em não poder estar na ativa e junto ao lado dos jovens. A Escola da Vida e Deus me deram o que preciso para continuar a jornada. Mente clara, pensante, ativa procurando nos seus recônditos uma maneira de ajudar e colaborar. Sim aprendi muito e nunca esqueço as belas palavras de Baden Powell. Ele nos mostrou o valor da natureza em nosso crescimento. Dizia ele que quando um filhote de lobo ouve as palavras “estudo da natureza”, seu primeiro pensamento é sobre coleções da escola de folha secas, mas estudo da natureza real significa muito mais do que isso, o que significa saber sobre tudo o que não é feito pelo homem, mas criado por Deus.  È ela a natureza uma das grandes matérias da Escola da Vida.

                 Todo homem toda a mulher passa pela escola da vida. Eles são os que sustentam a nação e o mundo com o que aprenderam. São livros não escritos, são matérias do dia a dia. São as alegrias, as dificuldades, os sacrifícios que nos dão a certeza de um dia receber o diploma tão esperado. Mas este diploma é apenas uma etapa. A Escola da Vida não para. Há muito que aprender. Ela nos dá a única riqueza que vamos levar conosco na viagem que um dia iremos realizar. E a cada estação, a cada apito do trem descendo ou subindo iremos encontrar mais e mais escolas. São milhares. Nunca irão parar. Seria bom que todos trocassem ideias como os que passaram por esta escola antes da maturidade. Mas acredito que tem de ser assim. E como dizia Saramago, mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo!

O homem que é cego para as belezas da Natureza perdeu metade do prazer da vida!

Lord Baden Powell.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

O meu amado e astuto lenço verde e amarelo


Conversa ao pé do fogo.
O meu amado e astuto lenço verde e amarelo

             Todos do movimento Escoteiro têm um. Sempre o recebem quando da promessa e o usam por toda a vida. Cada grupo cada escoteiro tem orgulho do seu lenço, alguns fazem bordados lindos e outros escolhem cores bombásticas. Quando você encontra vários irmãos em grandes atividades um belo colorido se faz presente onde cada um diz – Sou do grupo tal. E o dizem com orgulho. E ele, sempre ele é o responsável pela identificação. Eu também tenho o meu. Desde criança quando o recebi fazendo a promessa de lobo. Coitado, hoje está "Velho", desbotado e quando olha para mim finge que vai chorar de tristeza. É um pândego este meu lenço. Já o conheço de longa data.

              Claro que ele fala comigo. Risos. Não acreditam? O Escoteiro não tem uma só palavra? Mas é verdade! A mais pura verdade. Conversei muito com um chapéu bem velhinho de três bicos, fui amigo de um bastão da Patrulha Pantera, conversava muito com o meu Lampião Vermelho encantado. Mas o meu lenço verde e amarelo é quem me dava mais trabalho. Sempre choroso. Sempre reclamando. – Calma, me dobre devagar, assim ficarei velho e não posso representar o grupo! – Ei, saia da chuva! Assim eu vou desbotar mais rápido! – Cuidado com espinhos na árvore, eles podem me rasgar! E por aí ele seguia com suas lamúrias.

             Quando passei para Escoteiro é que ele sofreu mais. No meu pescoço chorava lágrimas e lágrimas de crocodilo. Um dia quando estava perdido no Espinhaço da Canastra, ele não parava de dizer – Me tire do pescoço. Não faça de mim um bode expiatório da sua “lerdeza” em não prestar atenção ao caminho! Claro, nos safamos fácil. Um bom SOS com um sinal de fumaça e logo o Chefe chegou. Cheguei em casa e o chamei (o lenço). – Olhe, ou você muda ou vai para o fundo do baú! Já estou cheio de suas choradeiras. Vou comprar outro no grupo e você vai ficar sozinho pelo resto da sua vida. Olhou-me com aqueles olhos suplicantes e pela primeira vez me pediu desculpas.

              Mas no fundo eu gostava dele muito. Afinal foi minha mãe quem fez e olhe com duas bandas para ficar mais cheio, mais gordo e dar um ar especial quando o colocava no uniforme. As marcas de guerra ficaram gravadas nele para sempre. Muitas vezes teve que ser cerzido. Enfrentou comigo borrascas, vendavais leves, chuvas intermitentes, sol de rachar, travessias em rios, florestas e ele sempre soube que não teria boa vida. Ficou no meu pescoço por muitos anos. Até quando tive de mudar de cidade e no grupo que entrei era outro lenço. Então uma briga. O Vermelho e Branco que passei a usar era um gozador irreverente. Sempre pegando no pé do meu Verde e Amarelo que ficou protegido por um plástico colocado em uma parede do meu quarto.

            Hoje lá estão os cinco que um dia tive a honra de usar. Todos na parece do meu quarto e agora no quartinho dos guardados em meu lar. O Verde e Amarelo ficou amigo do Vermelho e Branco, do Vermelho e Preto, do Azul e grená e do Branco e cinza. Grupos por onde passei e que me deixaram saudades. Quando lá estou só com eles, um gostoso bate papo entre mim e eles se desenrolam como se fosse uma conversa ao pé do fogo, onde relembramos com saudades dos tempos aventureiros em que passamos juntos. Cada um sempre tinha uma história que julgava mais importante que os demais. Mas eu gostava de ouvi-los. Era divertido. O Verde e Amarelo pela sua idade falava grosso, querendo ser o pai de todos. Mas no fundo eram grandes amigos. Devem conversar o dia todo mesmo quando não estou presente.

             Saudades dos Grupos Escoteiros que passei. Bons amigos eu lá deixei. Ainda bem que os lenços hoje estão comigo para me fazer reviver as histórias e as epopeias que lá aconteceram. Valeu. Mas não sei por que, tenho uma preferencia pelo meu Verde e Amarelo. Ele sabe disto. Sorri para mim como a dizer – Eu sou o melhor! – Metido ele não? Mas para dizer a verdade eu amo todos. Fazem parte de mim, fazem parte da minha vida Escoteira.


              E você? Trata bem o seu lenço? Joga-o em qualquer lugar quando chega de atividades escoteiras? Não o deixa já pronto em um cabide para ele se manter no formato? Claro que sim. Escoteiro que é escoteiro cuida sempre do seu lenço, do seu chapéu ou boné, do seu bastão e do seu uniforme. Afinal faz parte da sua educação escoteira e ela nunca será esquecida!