Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

sábado, 26 de julho de 2014

Manias de Velho Escoteiro.


Hora de dormir, sonhar quem sabe...
Manias de Velho Escoteiro.

            Dizem que todo Velho é maniento. Alguns completam que além de maniento é chato, pirracento e nem deve ser levado em consideração. Eu me enquadro nisto. Se tenho direitos ou não faço de conta que não importa. A vida segue seu rumo e são como a memória do passado que fez rastros e nunca irão ser esquecidos. Hoje eu olho no tempo e lembro-me de um poeta - O sorriso que eu levo hoje apaga todos os outros rastros. Eu aprendi, aos trancos, que ser feliz não dói. Sei que como eu milhares também são felizes. O escotismo tem o dom de em qualquer época fazer a felicidade de todos que dele usufruem. Sou hoje um Escoteiro diferente. A mochila que carregava por estradas sem fim está guardada. Fico atrás da montanha a observar os passos que os jovens e adultos de hoje dão em busca da sua felicidade no escotismo.

             Tem muitos que encontram uma estrada perfeita. A eles eu desejo que os ventos de outono não apaguem seus rastros e os leve como as folhas secas ao próximo inverno. Uns ficam o pé na trilha e nunca mais a deixam. Outros nem sabem onde a trilha os levará. Quem sabe quando estiverem no futuro e olharem o passado não serão como eu? Dirão: - Ter manias é uma arte. Um poeta me contou uma vez que envelhecer traz todos os tipos de coisas impressionantes: - Responsabilidade, o direito legal para beber (?), rugas, discordar, dormir e comer quando quiser aposentadoria forçada, o “cheiro de Velho”, o aumento de desejo de comprar mesmo não tendo um tostão furado, tremer com gritos de crianças da vizinhança, cabelos brancos, perda de dentes, flacidez ufa! Será que tenho tudo isto?

              Adquiri manias que tento superar e não consigo. Fico nervoso com o Lenço Escoteiro sem o uniforme esbanjando sorrisos da escoteirada de hoje. Dos que acreditam que colocar no politico o torna Escoteiro em minutos. Tremo dos pés a cabeça com a tal nova vestimenta. Tento imaginar meninos nas montanhas, bandeiras ao vento, cantando o Rataplã com esta vestimenta. Sem o chapéu? Com colocado de qualquer jeito? Sem o meião? Com camisas soltas e outras presas? Meias curtas brancas? Não dá para imaginar eles correndo por estradas em suas bikes, fazendo jornadas com esta vestimenta. Quanto tempo vai demorar para eles serem conhecidos por este Brasil gigante? Olha! Diz o matuto do sertão, quem são eles? Esconder o chapelão conhecido, a calça curta caqui, o lenço bem postado e pensar que ainda é um aventureiro? A memória do passado fez rastros que nunca irão ser esquecidos. Rastros que a mente não consegue apagar. Ah! Manias, quantas manias. Manias de tudo que viveu e sabe que nem em sonhos vais ver o que um dia se foram. Dormir, sonhar, contar estrelas no céu e quem sabe apagar os rastros de sonhos que não foram realizados.

              Peço perdão a todos por minhas manias que alguns sabem que tenho e outros desconheciam. Acreditem mesmo fechando meus olhos opacos de um Velho Escoteiro eu aceito. Aceito em parte, pois duvido das boas intenções de alguns dirigentes do escotismo brasileiro. Acho que andam como caranguejos, dois passos à frente três atrás. Ainda tento nas minhas manias contar histórias fantásticas de meninos heróis. Ainda os vejo com um belo sorriso nos lábios a perscrutarem o horizonte vendo o nascer do sol. Sentindo a natureza na pele, Ouvindo a passarada cantar no alvorecer de um novo dia. Poetas que me fazem lembrar e um Velho cheio de manias como eu nem sei se deviam existir. Quanto tempo... Há pessoas que passam... Apenas passam! Há pessoas que passam e deixam rastros permanentes! Há pessoas que passam e se vão! Mas... Há pessoas que se vão e não passam!

              Olhar um Primeira Classe, sua pose, seu sorriso de vencedor. Ele sabia que chegar ali o caminho foi longo a percorrer. Que lembranças um Velho maniento ainda pode ter? Onde anda o Mor Segunda Estrela, que carregava o totem da Alcateia? E o Monitor Guia que o Chefe confiava à tropa? Desapareceram no tempo. Velho maniento eu sei que muitos pensam assim, estes jovens guerreiros que agora dirigem o mundo os seus passos são firmes, acreditam ser vencedores, nem ligam se Baden-Powell um dia disse que a experiência dos mais velhos deviam ser levadas em consideração. Isto não, a juventude tem força, tem garra e vai transformar o mundo. Sempre foi assim. Eu um Velho cheio de manias ainda penso que abandonar o longo caminho andado, sentir apenas pequenos ventos pequenos rastros no chão. Eles nunca o levarão. Só germinará o que fora plantado por eles?

               Manias de Velho Escoteiro. De chorar o que já se foi e o que está sendo. Não devia ter belas lembranças? Meu amigo difícil, quando hoje um novato lhe diz SAPS como se fosse comum, sem levantar a cabeça, como se fosse uma bela saudação Escoteira você passa a não acreditar no passado. – Muitos na porta da sede escoteira, esperando os amigos da patrulha, do Chefe, dos lobos e dos seniores, procurando ser mais atencioso mais alerta, mais atento e dar um passo a frente, com aquele sorriso maravilhoso, com o pipocar dos calcanhares e dizer gritante sem ofender: - SEMPRE ALERTA! Ou quem sabe: MELHOR POSSIVEL!
                                                                                                 

              Boa noite meus amigos e amigas, que Deus esteja com vocês sempre. Um excelente domingo de um Velho Escoteiro cheio de manias. Adoro isto!

terça-feira, 22 de julho de 2014

Muito além do por do sol. Uma linda história de amor.


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Muito além do por do sol. Uma linda história de amor.

       Charles tinha sonhos, sonhava em brincar em sorrir e cantar. Não gostava da escola. Mas sua mãe insistia. Ela dizia que iria partir um dia e ele ficaria só. Ele não deveria ser dependente de ninguém. Não entendeu bem, mas passou a prestar mais atenção às professoras. Charles ficava na porta de seu barraco esperando sua mãe chegar. Ela saia cedo, fazia o café deixava no forno seu almoço e quando chegava fazia o jantar. Ele chegava cedo da escola almoçava e ficava na porta do barraco sonhando acordado. Sonhava em ter um vídeo game para brincar. Uma televisão para ver, pois a sua queimou e não tinham dinheiro para consertar. Isto ele até achava bom, pois depois da janta, sua mãe já de banho tomado eles sentavam nas velhas poltronas da saleta e ela tricotando contava para ele belas histórias. Ele amava as histórias de sua mãe.

       Foi por elas que ficou sabendo do seu pai. Uma noite chuvosa ela contou com lágrimas nos olhos o seu passado. Ele não entendeu bem, mas ela o abraçou no final da história e o beijou varias vezes no rosto. Tentava no outro dia lembrar-se do que ela contou. – Eles moravam em uma fazenda, em uma cabana de sapê, seu pai fazia empreitadas para o dono da fazenda. Consertava cercas, capinava, limpava os currais e quando podia dava uma mão na vaquejada que se realizava anualmente. Um dia ele fazia uma cerca ao lado do Rio Verde e uma enorme tempestade se formou. Um raio caiu sobre ele que morreu na hora. O Senhor da fazenda um mês depois foi até lá dizendo que precisava da casa. Casa? Uma cabana simples de pau a pique – Eu preciso de alguém para ajudar na lide da fazenda - disse. Seu marido se foi já tenho outro arrumado e preciso que a senhora desocupe.

        Fazer o que? Ela partiu para a cidade grande. Dormiram ao relento por vários meses. Ele tinha três anos. Ela lutou para conseguir seu barraco na favela do Engenho. Não conseguiu uma creche para ele e muitas vezes o levava a tiracolo escondido. Era faxineira. Trabalhava em cinco residências por semana. Sua mãe contava estas histórias e outras que ele ria sem parar. Nunca esqueceu a do Neguinho do Pastoreio. Um dia na escola Norberto um menino rico apareceu de uniforme. – Que é isto perguntou. – Sou Escoteiro não sabia? Charles gostou do uniforme. Perguntou a sua mãe se ele podia entrar. Ela riu e disse que não era para eles, lá só tinham ricos e brancos. Charles e sua mãe eram negros. Charles nunca se preocupou com sua cor. Nunca na sua ingenuidade de menino de onze anos sentiu que não tinha seu lugar na sociedade.

      Charles foi aceito no dia da visita ao Grupo Escoteiro. Os chefes foram simpáticos e ele gostou da sua Patrulha Lobo. Em pouco tempo se enturmou. Agora tinha duas alegrias o Escoteiro e as histórias de sua mãe que ela nunca se esquecia de contar para ele. A televisão ainda estava quebrada. Consertar como? Um dia na patrulha ficou sabendo que ele era “adotado”. Não entendeu. Sua mãe tentou explicar que o Grupo Escoteiro pagava suas despesas. – Mãe, mas porque não pagaram para o acampamento nacional? Eu não fui, pois não pude pagar a taxa, a senhora mesmo disse que seria impossível. Ela sorriu e disse para ele não se preocupar. Um dia ele mesmo iria sem depender de ninguém. Bem Charles não se preocupou com isto. Sabia que mesmo sendo negro era bem amado por todos na sua tropa. Ia acampar excursionar, brincava, cantava e fazia coisas impossíveis com bambus e alguns metros de sisal.

          Charles cresceu. Passou para os seniores. Já não era tão dependente. Passou a estudar a noite e trabalhava durante o dia na loja do seu Odorico. Ele quase não o aceitou, mas depois de muita insistência em trabalhar outros dias ele foi aceito. Ele não queria ser impedido de aos sábados participar do seu querido Grupo Escoteiro. Ganhava metade de um salario mínimo, mas ajudava muito sua mãe. Ele amava os seniores, e ali se sentia realizado. Martinho o Chefe abriu a tropa para as meninas. Vieram três agora a tropa tinha duas patrulhas completas com seis cada uma. Não se enturmou com nenhuma delas. Ele arredio em sem assuntos pouco ria ou falava com uma a não ser o sempre alerta rotineiro. Um sábado Nathalya foi apresentada a tropa. Cabelos vermelhos cortados no ombro, um rosto lindo um corpo sonhador. Ela no final da reunião conversou com Charles. Ele vermelho não sabia onde colocar as mãos, os pés nada. Conversaram banalidades.

            David o Monitor sempre ficava ao lado dela. Charles olhava o par e olhava para o chão. Sabia que nunca ela poderia ser sua namorada. Em uma excursão no Vale Florido eles deram uma parada próxima a uma linda cachoeira. Sentaram nas pedras e extasiados admiravam a maravilhosa obra da natureza e de Deus. Ela o convidou para sentarem em uma sombra onde uma linda Copaíba se destacava. Sentaram ali e ela alegre e gentil contou muitas coisas sobre a sua vida. Charles ficou sem jeito de falar sobre ele. Era negro ela branca ruiva de cabelos vermelhos. Ela insistiu e ele se abriu com ela. Ela nada disse. Ele sabia que agora a tinha perdido para sempre. Sua vida pobre e sem futuro não iria interessar a ela. O apito do Chefe tocou três vezes. Reunir. A hora maravilhosa daqueles momentos mágicos havia acabado. Eles levantaram e para surpresa de Charles Nathalya o abraçou e o beijou. Ele não sabia o que fazer. Não foi um beijo dos que seus amigos se gabavam. Foi um beijo lindo, um roçar de lábios e poder olhar nos olhos, sentir o perfume que ela exalava e sem querer acariciou seu rosto, seus cabelos e de novo o apito do Chefe.

          Foi um êxtase de momento. Uma quimera de segundos, mas que Charles nunca mais esqueceu. Na semana seguinte Nathalya não veio. Na outra também não. Charles torcia as mãos, olhava para o portão e quando a reunião terminou tentou achar a casa dela. Ninguém sabia o Chefe disse que ela não voltaria mais. Era escoteira em outra cidade e veio passar uns dias com sua tia. Não lembrava onde era a cidade e nem conhecia sua tia. Ela tinha pedido para participar das reuniões enquanto estivesse aqui. Charles tomou um choque. Uma dor incrível cravou em seu coração. Sua mãe o abraçou e ambos ficaram assim por um bom tempo com os olhos molhados de um choro que não saia. Charles nunca encontrou outra moça para namorar. Não se interessava. Nunca iria tirar o momento mágico do afago e do beijo entre ele e Nathalya.

       O tempo passou. Charles cresceu. Formou-se como Técnico Mecânico. Sua mãe velhinha não trabalha mais. Charles comprou uma linda casinha para ela. Mobilou e perguntou se queria uma televisão. Ela disse: Minhas histórias ou a televisão? Ele sabia o que iria escolher. Charles continuou Escoteiro, mas preferiu ficar colaborando sem ser um chefe. Durante toda sua vida uma vez por mês Charles devagar sem correr vestia seu uniforme, embarcava em um ônibus e descia próximo ao Vale Florido. Sentava na sombra da Copaíba e sua mente ia ao passado distante que nunca esqueceu. Lembrava tudo que Nathalya naquele dia mágico lhe contou. Sorria quando se lembrava. Depois de horas ficava de pé, fechava os olhos e via Nathalia a sua frente o beijando. Meu Deus! Incrível esta visão virtual. Visão de um grande amor que nunca morreu. Estava vivo na sua mente para sempre.


      Hoje aos setenta anos Charles ainda vai no mesmo ônibus e lá está ele com seus passos trôpegos a procurar seu Vale Florido. No mesmo local na mesma árvore, naquela Copaíba que assistiu o desenrolar de um grande amor ele agora com dificuldade sentava naquela sombra e sonhava. Disse para si mesmo que ninguém mais iria beijá-lo, ninguém faria esquecer o beijo que um dia elevou seu espírito aos céus. Um dia Charles se foi. A Copaíba sentiu sua falta. O perfume que ela deixou em sua sombra nunca mais se esvaiu. Nas suas exéquias Charles sentiu uma luz azul brilhante a lhe convidar para pegar sua mochila, seu chapéu de abas largas, sua bandeira e subir para a cidade dos sonhos para uma grande excursão. Todos os Escoteiros estavam lá, seus amigos de outrora que ainda estavam vivos e ela, ela mesmo, Nathalya com seus cabelos brancos foi prantear um amor do passado que nunca esqueceu!

sexta-feira, 18 de julho de 2014

A paz que temos dentro de nós.


Hora de dormir, um Velho Escoteiro da boa noite a todos.
A paz que temos dentro de nós.

Hoje estou sentindo uma paz no meu coração. Uma paz linda tranquila como se o mundo não existisse e eu e a Celia estivesses sós em nossa varanda, vendo as pessoas passarem sorrindo, uma tarde linda, um sol que se escondeu das nuvens quase todo o dia. Há um toque de amor no vento que sopra, a brisa que ainda vai chegar junto com a madrugada, ela virá mais fresca que a de ontem. Aqui na minha varanda mágica hoje não tenho sonhos. Meus pensamentos me trazem lembranças boas, momentos de felicidade. Feliz no amor e feliz com a vida que tive. Sem arrependimentos sem tristezas fortes que poderiam trazer lembranças que poderíamos querer esquecer. Muitas pessoas acham tão difíceis de serem felizes e imagino que é porque estão sempre a julgar o passado melhor do realmente foi, o presente pior do que é e o futuro melhor que será.

Fecho meus olhos para o mundo. Meus pensamentos vão passeando como se eu tivesse a visão fantástica de alcançar o passado, o presente e o futuro. Eu sei que não é preciso estar no pico da montanha para sentir o ar puro da manhã. Ele está presente na ponta da janela que se abre para um novo dia toda vez que o coração transpira pela ansiedade na sinfonia infinita da vida. Não é o mesmo que eu quero. Quero apenas sentir que a uma razão para viver quando se acorda a cada manhã. Sempre digo a mim mesmo que devo amar a vida, pois na vida a alguém que ama você. A noite vai chegando, a Celia está com os olhos cemi-cerrados. Acredito que ambos estão com o mesmo pensamento. Ela e eu sabemos que não viemos a este mundo competir com ninguém. Quem quer competir conosco perde seu tempo. Ambos sabemos que neste mundo viemos para competir somente entre nos. Queremos ultrapassar nossos limites. Vencer nossos medos, lutar contra nossos defeitos. Superar dificuldades e correr em busca dos nossos objetivos, que já nos ocupam há muito tempo desde encarnações do passado distante!

Como é lindo, Senhor, poder enxergar com estes olhos que me destes, poder sentir a natureza entrando pelos meus poros, me envolvendo e dizer: “Deus existe, olhai e vede a lua cheia ou minguante, o sol forte ou fraco, às árvores, com suas folhas embaladas pelo vento, vento esse que nos refresca e embeleza ainda mais as coisas que movimenta”. E as águas? Ah! as águas, tão frescas, tão poderosas e tão necessárias à vida. Vida, resumo da natureza! Olhai e bendizei a natureza, pois ela, irmãos, é muito mais importante do que tudo que estais acostumados a admirar e comprar...

Boa noite meus amigos e amigas. Vou dormir deixando para vocês uma frase para meditar se realmente acreditamos que somos todos irmãos:

“Fácil é dizer que somos irmãos escoteiros, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir. Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E com confiança no que diz”.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

O grande amor da Escoteira Nataly.


Lendas escoteiras.
O grande amor da Escoteira Nataly.

                       Nataly não estava acreditando. Nunca pensou em passar por aquela situação. Namorar alguém na tropa? Nunca! O grupo escoteiro Tesouro do Mar já teve experiências que não deram certo. Os chefes se reuniram e fizeram uma norma. Pequena, sem muitos artigos. Aconselhava a não ter namorados entre escoteiros e guias. Na sede e na saída era proibido. Se os pais concordassem desde que dessem testemunho pessoal ao Chefe, o namoro em casa ou em locais devidamente autorizados poderiam acontecer, no grupo não. Ela riu quando viu estas normas. Era Escoteira. Dedicava de corpo e alma a sua Patrulha, suas atividades e em tempo algum pensou em namorar alguém. Quando a norma foi entregue a todos ela mesmo comentou com Norberto da sua Patrulha – Estamos aqui para fazer escotismo e não namorar. Era firme nas suas palavras.

                      Nataly naquele setembro fez sua passagem para a Tropa Sênior. Eram dezesseis. Seis rapazes e dez moças. Escolheu a Patrulha Pico da Neblina e ali encontrou grandes amigos. Não esquecia sua Patrulha Quati. Sempre que podia fazia uma visita e as amigas que lá ficaram.  O disse me disse de quem gosta de quem havia entre os seniores e guias. Ela nunca deu ouvido para isto. Não era o que queria. Sonhava em ser Escoteira da Pátria e este era seu objetivo maior. Gostava da tropa. Animada, com mais liberdade de ação e de ideias. No Conselho de Tropa Sênior podia-se opinar e sugerir. Junto com eles fora em vários acampamentos regionais e até em um Jamboree. Mas sua preferencia mesmo era os acampamentos da tropa. Se possível longe da cidade, terreno desconhecido e sem casas perto. Nada que pudesse trazer a lembrança de civilização.

                        Tudo aconteceu no Acampamento em Agua Doce. Lindo local bem arborizado, um riacho gostoso para banho, muitos bambus para pioneirias. Seriam quatro dias e poderia ter sido o melhor acampamento de sua vida. Poderia mas não foi. No segundo dia à tarde o Chefe Landinho comentava sobre orientação, percurso de Giwell, leitura de mapa tema já discutido com o Monitor Robson da Patrulha e ele nos dava conhecimento da jornada do outro dia. Sem querer ela olhou para Paulo Roberto. Era um “bonitão” da tropa. Viu que ele olhava para ela e não tirava os olhos de sua direção. Ficou sem ação. Já o conhecia, não tinham muitas amizades fora do grupo e até na ultima “balada” na casa da Guia Marly pouco dançou com ele.

                        A noite ele se aproximou dela durante o jogo dos Feiticeiros da Morte. Perguntou se precisava de ajuda. Obrigada disse. Foi dormir impressionada. Sonhou com ele. Pela manhã acordou pensando nele. O amor chegava. A paixão adolescente florescia. Nataly estava ficando apaixonada. Tentou tirar ele da sua mente e não conseguia. Todo o acampamento para ela deixou de existir. O amor das atividades passou a ser o amor por ele. No terceiro dia só suspirava. Seu coração batia descompassadamente. Sua respiração quando olhava para ele acelerava. Sintomas de uma paixão? Ou de um grande amor chegando? Nunca em sua vida pensou que isto pudesse acontecer com ela. Afinal foram três dias de campo e tudo isso aconteceu tão rápido assim?

                       Na noite de sábado após o Fogo de Conselho as amigas se reuniram com os seniores para um “sarau” (cantigas de roça, desafios, poesias) e sob a supervisão de Chefe Vera eles ficaram até meia noite se divertindo. Paulo Roberto sentou ao seu lado. Ele a atraia. Irresistível. Seu coração como sempre deu pulos e pulos e sentiu sua mão suada quando ele a pegou. Era uma emoção forte demais. Ficaram rindo, brincando e se divertindo quando foi dada a ordem de recolher. Nataly achou que naquela noite não tinha dormido bem. Esqueceu por completo o acampamento. Esqueceu que ia tirar a especialidade de pioneiria. Esqueceu-se de tudo. Só pensava nele e já em plena madrugada dormiu. Sentiu um calor enorme no corpo e acordou assustada. Rezou. Pedia a Deus para que não se entregasse tanto aqueles devaneios.

                       No último dia após a inspeção e bandeira ele lhe fez um sinal. Ela não entendeu e ele repetiu. Subir o morro e encontrar com ele. E agora? Não sabia o que fazer e seu coração pediu que ela fosse. Atrás do bambuzal lá estava ele. Olhar lindo. Ele era o homem mais lindo que ela conhecera. Ele a tomou nos braços, a beijou e ela quase desmaiou. Ouviu vários jovens rindo e batendo palmas. – Ganhou a aposta Paulo Roberto. Disse que a beijaria e beijou. Nataly ficou vermelha. Aposta? Maldito! E ela acreditou? Saiu correndo e chorou. E como chorou. Sua monitora ficou preocupada. O acontecido logo, logo tomou conta da tropa. Nataly queria morrer. Ali mesmo a Chefe Vera fez um Conselho de Tropa. Pediu a cada um sua opinião do que tinha acontecido. Foi correto? Foi Escoteiro? Leal? Votou-se pela suspensão de Paulo Roberto por dois meses.


                          Ele não voltou mais a tropa. Dizem que sua família mudou para um bairro distante. Nataly aprendeu a lição. Por vários meses detestou todos os homens. Mas depois sentiu que na tropa o apoio moral foi grande. Os que apostaram e fizeram chacota pediram perdão. Eu não gosto de julgar. Sempre não fui a favor de tropas mistas. Mas aceito que tem muitas dando bons resultados. Se esta história serviu de lição para mim não sei. Para Nataly tenho certeza. Ela só foi namorar firme com dezoito anos. Casou aos vinte e dois. Tem dois lindos filhinhos gêmeos. A males que vem para o bem. As coisas ruins que acontecem hoje conosco, podem nos ajudar e muito no futuro. Nada como ter exemplos e experiências para achar a trilha certa. A trilha que conduz ao Caminho para o Sucesso! 

sexta-feira, 11 de julho de 2014

“Boas ações dignificam o caráter!”


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
“Boas ações dignificam o caráter!”

               Paulo Coelho acertou em cheio ao definir a ajuda ao próximo como ajudar a si mesmo. Diz ele – “Cuidado com as palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com as suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com os seus atos: eles moldam seu caráter. Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino”. Acredito que tudo começa pela boa ação. Um poeta dizia que as causas não determinam o caráter da pessoa, mas apenas a manifestação desse caráter, ou seja, as ações. È isso mesmo. Tudo na vida se diz que é um hábito de comportamento. Ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião nos mostra que devemos ajudar e ser bons para os outros. Baden Powell foi firme ao dizer que o dever de um Escoteiro é ser útil e ajudar o próximo. Simples assim. Acredito que ele se baseou na figura de São Jorge e dos Cavaleiros Medievais. Eles diziam que era preferível morrer honesto a viver envergonhado e que o cavalheirismo requer que o jovem seja treinado para que possa realizar serviços complexos ou simples com alegria e bondade, e para ao bem do próximo. (vide café mateiro – blog).

                Desde os primórdios que o escotismo foi implantado no Brasil que a boa ação é sinal de que os escoteiros estão em atividades. Especificar o que as escrituras dizem sobre isto é alongar muito. Mas até hoje a ajuda ao próximo é considerada como condição importante para qualquer cidadão honesto. O Escoteiro aprende desde o primeiro dia que a sua boa ação diária irá fazer parte por toda a sua vida. Afinal um dos artigos da nossa Lei diz que o Escoteiro está sempre alerta para ajudar o próximo e pratica todos os dias uma boa ação. A boa ação é ainda um marketing que nos marca na comunidade. A história da velhinha atravessando a rua ajudada por escoteiros tem e terá suas versões ampliadas ainda por muito tempo. Eu não duvido e tenho certeza que os escoteiros de todo o mundo inclusive em nosso país fazem da boa ação uma obrigação se não diária quem sabe semanal. Acredito também que a maioria das tropas devem ter bons programas para incentivar este habito tão salutar.

                  Lembro quando Escoteiro que nossa MOEDA DA BOA AÇÂO era sagrada. Bolso esquerdo sem fazer. Bolso direito feita. E o NÓ NO LENÇO? Pontinha com nó sem fazer, pontinha sem nó feita. Mas não era só isto. Tínhamos uma bandeirola que ficava abaixo do totem. Chamava-se “BOA AÇÃO“. Quando a Patrulha ainda não tinha feito sua boa ação coletiva, a bandeirola era amarrada ao bastão de cabeça para baixo. Para cima sinal que tínhamos feito. Nas inspeções diárias no inicio da reunião era escolhido um Escoteiro aleatoriamente para contar sua boa ação do dia. Aplausos silenciosos para as boas ações “mixurucas”. No nosso programa anual da tropa constava sempre uma boa ação dela. Discutíamos em Patrulha o que fazer. A Corte de Honra definia o que. Ir a uma casa de menores abandonados, limpar a área de interesse público, brincar com as crianças fazendo jogos que conhecíamos (separávamos também em Patrulha os meninos) e tinha outra coisas que adorávamos. Ver nosso parque da cidade em perfeito estado. Sim, tínhamos adotado um parque. Alí tinha nossa placa. Parque Tropa Escoteira Cruzeiro do Sul.  Foi uma época que nunca esqueci. Lembro-me do “Troféu Boa ação!”. Uma bandeirola de couro verde escrito a fogo – Primeiro Lugar em boas ações. Que orgulho colocá-la no bastão da patrulha.

                 Sei que eram outros tempos e agora nesta época vertiginosa da modernidade, onde a juventude talvez nem pense nestas coisas, quem sabe poderá surgir alguma boa ação virtual. Não sei. Não sou bom nisto. Não sei como fazer boa ação teclando aqui. Mas deve ter chefes ou dirigentes que podem sem sombra de dúvida colocar nas etapas escoteiras a BOA AÇÃO VIRTUAL. Eles não inventam tantas coisas? Vivendo e aprendendo. Claro que acredito e sem sombra de duvida na formação e no aprendizado Escoteiro que é feito lá na tropa, e também acredito que deve ser uma obrigação nossa fazer com que os escoteiros, escoteiras, seniores e guias sejam iniciados neste arte tão salutar. Só assim isto poderá vir a ser um hábito de comportamento, tão útil para formar homens e mulheres no que esperamos deles. Honra, caráter, ética e trabalho ao próximo. Afinal ajudar os outros faz parte da lei, faz parte da nossa formação escoteira e isto é insubstituível. Já diziam os poetas que “Aquilo que você faz, fala mais alto do que aquilo que você diz”. O que você plantar hoje certamente colherá amanhã. Já disse um sábio: “Plante uma ação e você colherá um hábito. Cultive o hábito e você desenvolverá um caráter!”. E não esqueça, qualquer mudança nos seus escoteiros depende de você. Se der o exemplo então você vai fazer a diferença. Ficar naquela máxima de façam o que eu digo e não façam o que eu faço não é próprio e digno de um Chefe Escoteiro.


                     Boas ações. Sim, não duvidem. Sem elas não existe escotismo. Afinal não são elas que todos dizem que dignificam o caráter? 

domingo, 6 de julho de 2014

O Lobinho Naldinho e a terrível Casa do Espanto.


Lendas escoteiras
O Lobinho Naldinho e a terrível Casa do Espanto.

                Naldinho estava na janela olhando de soslaio para que ninguém o visse da casa em frente a sua. Já havia seis dias que ele fazia isto. Sua mãe e seu pai achavam que ele estava dormindo. Dormia cedo. As nove ele já ia para o seu quarto. Mas desde o dia que foi fechar a janela por causa de um vento súbito ele viu três pessoas em forma de fumaça descer pela chaminé da casa vizinha. Naldinho tinha nove anos. Era lobinho da matilha verde. Tinha dois anos de lobinho. Todos gostavam dele. Há um ano era o primo da matilha. Conseguira a Primeira Estrela e pensava que até o fim do ano receberia a segunda estrela. Sabia que pelas onze ou onze e meia às assombrações iriam aparecer. Todos os dias era assim.

              Naldinho lembrava quando ao chegar da escola não viu a placa na casa que fora de Dona Matilde. Seu Geraldo morrera e ela resolveu ir embora morar com a filha. Colocou a casa a venda. Naldinho ao beijar a mãe perguntou quem era os novos vizinhos. Sua mãe disse que não viu ninguém. Não houve mudança. Durante muitos dias a casa ficou fechada até que na noite fatídica Naldinho viu as aparições entrarem pela chaminé. Logo notou que havia barulho e janelas fechavam e batiam. Luzes da cor violeta e roxa toda hora piscavam na casa. Isto acontecia até altas madrugas. Naldinho não sabia quando terminavam. O sono chegava e ele ia dormir. No primeiro dia comentou com sua mãe. Ela como sempre disse que ele estava vendo muito filme de terror. Engano. Naldinho nunca viu nenhum.

             Na reunião de sábado comentou com Princesa, a sua segunda (o nome dela era Paty) sobre o acontecido. Ela acreditou. Sapinho o terceiro da matilha também (Norberto). Eram os três que ficavam mais juntos, pois alem de serem da mesma matilha estavam na mesma classe na escola. Naldinho queria levá-los a ver a descida dos fantasmas noturnos, mas era impossível naquela hora. Nenhuma mãe deixaria eles ir lá. Uma semana tentou ver se as mães deixavam os dois dormir lá de uma sexta para um sábado. Deram uma desculpa de um trabalho para a matilha. Uma das mães perguntou a Mirtes, a Akelá e ela não se lembrava de nenhum trabalho. Deu em nada.

             No sábado após a reunião, Naldinho propôs aos dois irem até a casa e tentar entrar. Sapinho tremeu e disse que tinha medo. Princesa apesar de ter duvida topou na hora. Nem bem a reunião terminou saíram correndo, pois se atrasassem na chegada em casa ia ser um Deus nos acuda! Procuram alguma janela aberta e com surpresa viram que todas estavam abertas e as portas também. Entraram. Sala vazia. Sem móveis. Cozinha nada. Subiram ao andar superior. Um cheiro de queimado. Um quarto. Nada, vazio. Segundo quarto uma surpresa. Cordas, velas, uma machadinha, um facão, potes cheios de uma coisa vermelha (seria sangue?) e muitos gravetos num canto. Assustaram-se.

             No segundo quarto outra surpresa. Uma cama sem estrado. Um emaranhado de arame farpado fazia às vezes de colchão. O que era aquilo? O que significava? Sapinho começou a tremer e chorar baixinho. Pedia insistentemente para ir embora. Naldinho resolveu descer e ao chegar embaixo um barulhão. As janelas se fecharam automaticamente. As portas estavam trancadas. Tentaram abrir e nada. Meu Deus! E agora? Sentaram em um cantinho debaixo da escada e ficaram ali tremendo de medo. Viram as sombras aparecerem pela saída da chaminé. Sapinho chorava baixinho. Princesa de olhos arregalados. Naldinho achou que era o Chefe. Levantou-se e disse – Eu não tenho medo! Sou lobinho! O lobinho é forte! – As sombras riram. Pegaram os três e os levaram ao andar de cima onde em um quarto foram amarrados. Umas das sombras tomou vida. Um enorme tigre dentuço. – Você é o Shere Khan?

            Não tinha jeito. As sombras iam fritá-los na fogueira. Pedir socorro não adiantava. Gritar também não. Mas Naldinho não desistiu. Fechou os olhos e pediu a Deus, a Jângal, aos seus irmãos lobos que não os deixassem morrer. Um clarão enorme aconteceu! Quase cegou os olhos dos três lobos. Quando abriram viram um enorme Urso, uma enorme Pantera a gritar para Shere Khan: - Você não desiste mesmo não é seu Tigre Manco! Vamos lhe dar uma lição. Shere Khan deu enormes gargalhadas e sumiu na fumaça. Bagheera a Pantera Negra os soltou. Baloo o urso grandalhão e amigo os aconselhou – Nunca façam o que sabem ser errado. Voces conhecem a Lei do Lobinho – “O Lobinho ouve sempre os velhos lobos”. E os dois também desapareceram.


           Voltaram para suas casas. Ainda tremendo deram o “Melhor Possível” um para o outro e se foram. Naldinho aprendeu a lição. Nunca mais tomou iniciativa sem antes aconselhar com seus pais, sua professora, e seus chefes. Uma semana depois nova placa anunciava a venda da Casa do Espanto. Desta vez Naldinho não quis nem saber quem iria comprar, quem iria morar e dormia cedo. Muito cedo. As máximas da Jângal nunca mais seria esquecida. Naldinho agora andava de olhos e ouvidos bem abertos, nunca deixou de pensar primeiro nos outros, andar sempre limpo, dizer sempre a verdade, e claro, dar boas risadas de tudo, pois o lobinho é como Akelá levando sua Alcatéia com alegria e sempre procurando o caminho para o sucesso de todos!               

quarta-feira, 2 de julho de 2014

O solitário Eddy. O leão Branco da Montanha dos Sete Cavalos.


Lendas escoteiras
O solitário Eddy. O leão Branco da Montanha dos Sete Cavalos.

                    “Azanka, Malenka, Lelenka - Lita, kalita Zazá – Rá, rá, rá, Raposa”! Ninguém esquece. O grito de patrulha de quem já foi um patrulheiro fica marcado para sempre. Eu era um deles, da Raposa. Um ano e meio na tropa. Era meu mundo naquela época. Não havia outro. O escotismo para mim estava no meu sangue, na minha alma e no meu coração. Naquela quinta do mês de julho, lá pelos idos de 1952 combinamos com o Seu Leôncio de pegar uma carona em seu Carro de Boi até o seu sítio, nas proximidades da Colina dos Sete Cavalos. O Chefe Jessé amigo dele aprovou um acampamento nosso em suas terras de seis dias. Prometeu passar por lá pelo menos duas vezes e Seu Leôncio disse que tomaria conta de nós.

                   Quem um dia teve a felicidade de viajar num carro de boi, Jamais esqueceu. Aquele zumbido infernal com o tempo é como se fosse uma suave melodia de uma recordação sem igual. Foram duas horas e meia de sorrisos, e a gente ficava cantando, gritando, dando vivas e olhando a Canga, o Canzil, os Arreios, o Cabeçalho, e tentando descobrir o cantar das rodas no Cocão, na Cheda, no Recavem e tantas coisas lindas que compõe o carro de boi. Seu Leôncio era bom carreiro. Usava com maestria a vara do ferrão com dois guizos sem machucar os bois. Chegamos à subida das Colinas dos Sete Cavalos lá pelas onze da manhã. Trabalho duro. Armar campo. Mesa, toldos, fogão suspenso, lenheiro, aguadeiro e o Jairinho era muito bom na construção de um pórtico.

                   Eu gostava daquela Patrulha. Éramos amigos de verdade. Depois do jantar ainda à tardinha, sentados no chão e tomando um cafezinho próximo à mesa (faltavam os bancos) nós levamos o maior susto. Susto tal que nem correr deu ânimo. Minhas pernas tremiam como se fossem vara verde. Bem no centro do pórtico um enorme Leão Branco! Isso mesmo! Um Leão Branco. Parado a nos olhar. Eu comecei a molhar as calças e acho que os demais também. Lembramos quando o Chefe Jessé nos instruir quando víssemos uma onça. – Não correr Jamais. Todos olham nos olhos dela. Um de nós passo a passo para trás tenta dar a volta. Sobe em uma árvore e lá grita, Faz barulho para chamar a atenção do animal. Quando conseguisse todos corriam e subiam na primeira árvore que encontrassem. Eu era o que estava mais atrás. Não fiz nada disto. Um medo terrível. Meu corpo parecia um tronco fincado no chão. Diabos! Não sei o que deu em Marino. Como se estivesse hipnotizado foi devagarinho até o leão. Ele afagou sua juba. O Leão Lambeu os pés de Marino. Ninguém acreditava no que via.

                     Assim começou a fantástica amizade de sete escoteiros e um Leão Branco. Marino o chamou de Eddy. O dia inteiro ele brincava conosco em nosso campo de Patrulha. Chegou até a nadar junto a nós no córrego da Canoa Quebrada. A noite ele sumia para bem de manhãzinha voltar. Muitas vezes ainda dormindo ele abria as portas das barracas e nos lambia fazendo cocegas. Amei aquele Leão. Ninguém pensou o que ele estaria fazendo ali. Ninguém lembrou como ele se alimentava. No sábado Seu Leôncio viu. Assustou. Pegamos na mão dele e o levamos até o Eddy. Ele não acreditava. Manso como um potrinho recém-nascido. Conversou com nosso Monitor. Natanael nos contou depois. Eddy estava matando para comer bezerros e pequenas ovelhas dos fazendeiros da redondeza. Queriam matá-lo. Eles sabiam que ele havia fugido do circo Garcia há cinco meses. Tentaram capturá-lo e até alguns homens armados percorreram os montes, vales, campinas e tantos outros lugares tentando encontrá-lo e matá-lo e não conseguiram.

                   Eu não podia acreditar. Matar o Eddy? Nunca. Preferia morrer com ele. No domingo pela manhã chegaram mais de vinte homens armados junto com Seu Leôncio. Eddy estava conosco brincando. Gritaram para sairmos de perto. Eu não saí. Agarrei o pescoço de Eddy. Ele me deu um puxão e foi correndo em cima dos homens armados. Um verdadeiro tiroteio. Nós gritávamos para não matá-lo. Eddy gemeu forte, virou para nós e como se fosse um último adeus abanou seu rabo e mexeu com sua enorme juba. Caiu morto no chão crivado de balas. Tinha sangue em todo seu corpo. Eu corri e fiquei abraçado com Eddy. Eu gritava e chorava. Chamava os homens de assassinos. – Mataram meu amigo! Malditos! Vão para o inferno! Não sabia o que pensar, coisas de meninos coisa de escoteiros que amam os animais.

               Durante vários meses nossa Patrulha não sabia o que falar. Nas reuniões ficávamos por muito tempo em nosso canto de patrulha, calados sem nada dizer a não ser ter os olhos vermelhos e cheio de lágrimas. De vez em quando um olhava para o outro e soluçava forte. Papai e Mamãe tentaram me consolar. Tentaram explicar que um leão tem um alto custo para alimentar. Come mais de oito quilos de carne por dia. Ele estava matando os animais dos fazendeiros. Nada. Isto para mim nada adiantava. Eu amei o Eddy enquanto vivo e o amava agora também.

           “Azanka, Malenka, Lelenka - Lita, kalita Zazá – Rá rá rá, Raposa”! O tempo passou. Mas sempre me lembrava do Eddy. Um dia encontramos toda a Patrulha no Bar do Elias. Já adultos. Eu com mais de vinte e cinco anos. Tomamos varias cervejas e comemos linguicinhas picadinha com cebolas fritas, famosas na cidade.  E quem se lembra do Eddy? Perguntou Afonsinho. Pronto. Marmanjos chorando. Quem nos visse naquela mesa iria ver sete marmanjos chorando. Ficamos no bar por mais de cinco horas, sempre a lembrar dos belos dias que passamos com o Eddy. E triste ter belas histórias para contar como esta sem um final feliz. Um Leão Branco que vivia na Montanha dos Sete Cavalos. Nunca mais voltamos lá. Para que? Para chorar? Para lembrar-nos de um Leão que amamos e que nos tiraram assim? Hoje sei que foi a melhor decisão. Mas lá no fundo do meu coração eu não aceito isto. Como conviver com o Eddy para sempre eu não tinha explicação. Mas sua morte foi dura demais para enfrentar.


          “Azanka, Malenka, Lelenka - Lita, kalita Zazá – Rá, rá, rá, Raposa”! Minha Patrulha. Patrulha que amei por muitos anos. Patrulha com belas histórias que nos marcaram para sempre. Marquito, Marino, Natanael, Jovelino, Afonsinho, Jairinho e eu. Onde andam vocês? Saudades de todos. Imensas Saudades também do Eddy. O Leão Branco da Montanha dos Sete Cavalos que amei e ficou para sempre no meu coração.