Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Um luar do sertão.

Lembranças da meia noite.
 Um luar do sertão.



Era uma casinha pequena. Pintada de branco é claro, cheia de flores em volta. Dois quartos. Eu e Célia em um e os quatro meninos em outro. Uma salinha de nadinha com uma poltrona e mais nada. Uma cozinha estreita. Eu mesmo com a ajuda do Mané Vaqueiro construí um puxadinho atrás. Um fogão de barro, um forno de barro e piso de terra batida. Na frente uma diminuta varanda. Uma cadeira de balanço e um banco de madeira. Muitos jarros de plantas. Célia gostava. Ao lado, uns quarenta passos a SSE ela fez uma horta. Tomates, couve, cebolinha, batata doce, alface, pés de mamão, goiaba, taioba (adoro) e muito mais. Nos fundos a ESS um chiqueirinho. Sempre com dois ou três capados no ponto. Mais a frente o galinheiro. Como tinha galinhas nossa senhora! Celia colhia tranquilamente cinco dúzias de ovos por dia.

Como a gente era feliz. Sem preocupações das grandes cidades. Durante o dia o passear dos avestruzes, das galinhas d’angola, um ou outro veadinho que passava correndo, passarinhada que escureciam o céu. Na época certa as cigarras faziam a festa. À noite então! Coisa linda! Quando se aninhava em frente a minha casa os vagalumes aos milhares eu apagava a luz. Não precisava, pois eles davam conta. Um espetáculo digno de ser ver. Uma subida de barco no rio das velhas até o grotão onde uma pequena cachoeira embeleza o rio cheio de esplendor. Descendo se chegava à foz do São Francisco. Gente, minha mente mexe comigo ao lembrar. – Célia, quer comer um peixe? – Marido traga um pequeno, não tem mais lugar na geladeira. Geladeira movida a gás. Sempre cheia, carne de porco de vaca, ate de tatu e capivara tinha. Meu cavalo sempre arriado. Sem pestanejar eu ia pescar um pintado ou um dourado. Coisa de dez minutos.

Vovó Lavínia era uma grande amiga. Tinha o apelido de Vovó, mas era da minha idade. Uma Akelá de um grupo Escoteiro da Capital. Nunca se esqueceu da gente. Foi fazer uma visita de uma semana. Ficou lá duas. Risos. Não sabia que ela conversava com a natureza. Uma tarde ela estava cariciando o pelo de um pequeno veado. Eu a vi conversando com dois avestruzes. Olha que eram arisco. Deixar alguém tocá-los? Nem pensar e nunca tinha visto. Mas Vovó Lavínia conseguia. Levei o maior susto quando vi uma cobra enorme que não identifiquei atrás dela. Gritei para ela correr, ela parou olhou para a cobra que se enrolou toda. Vai dar o bote pensei. Impossível, Vovó Lavínia ficou agachada e parece que falou com a cobra por instantes e ela foi embora. Desculpem é verdade. Uma noite sentados na varanda, filharada dormindo ela pôs os dedos na boca como a pedir silêncio. – Escutem falou baixinho. As estrelas estão cantando no céu. Gente, na fazenda havia o mais belo céu que tinha visto. Bilhões e bilhões de estrelas. Uma via láctea que marcava qualquer um. Fizemos silencio. Olhávamos para o céu. Um som calmo e refrescante. Se for o cantar das estrelas não sei, mas que era lindo era.

Quando ela foi embora sentimos uma tristeza enorme. Um vazio grande. Tentei várias vezes ouvir as estrelas cantarem. Nunca mais. É eu era mesmo feliz e não sabia. Daria tudo para voltar no tempo. Mas o tempo não para.


Boa noite meus amigos e minhas amigas. Durmam bem.   

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