Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Zezé da Maria, um amigo que nunca esqueci.

Lembranças da meia noite.
 Zezé da Maria, um amigo que nunca esqueci.



Muitos o chamavam de Seu Manezinho, mas ele me disse que era Zezé. Da Maria porque era sua mulher. A roça é assim. Tonhão? Da Santinha. Adelaide? Do Zózimo vaqueiro. Apelido mesmo quase nenhum. Lá eles não gostam disto claro salvo um ou outro como o Bastião Cocar. O danado não queria trabalhar e só vivia atrás de pássaros e bichos para comer. Um preguiçoso. Muitas vezes o chamei para uma empreitada e ele dizia – “Bigado” Seu Osvardo. Esta semana num dá. Zezé da Maria não era assim. Um trabalhador. De sol a sol. Idade indefinida. Uma parte da cerca da Larguinha caiu com as chuvas. Mais de mil metros. Ele aceitou consertar. - Seu Zezé, melhor chamar mais um. Não vai ser fácil. Ele me olhou de soslaio, cuspiu um naco de fumo no chão me deu as costas e se foi. Sinal que o ofendi. De manhã lá estava trabalhando. Em cinco dias terminou. Paguei com gosto.

Foram cinco anos que eu fiquei como gerente de uma fazenda. Como aprendi. E meus filhos? Para eles nunca ouve nada igual. A gente podia confiar. Dona Maria me contava muitas coisas de Zezé da Maria. Sempre pitando seu cigarrinho de palha. Lembro quando Sarduá um vaqueiro que admiti e por sinal ninguém queria, bebeu tudo que tinha direito. Avisaram-me que ele estava correndo atrás da mulher do Coluna bêbado que nem uma égua. Em quinze minutos a C-10 me levou até lá. Coluna desmaiado sangrava. Sarduá vermelho gritava que queria a mulher do Coluna. Zezé da Maria estava de braços abertos, dizendo – Se entrar na casa do Coluna te quebro no meio! Desci do carro correndo. – Carma seu Osvardo. Sarduá se passar daqui é um homi morto. Zezé da Maria tinha mais de noventa anos. Ele mesmo não sabia sua idade. Seus braços e pernas todos marcados de mordidas de cobras e escorpião. Ele ria quando contava. Pegava Cascavel com a mão, segurava no rabo e girava sobre a cabeça. A cobra era jogada tonta em um tronco de árvore e quase não conseguia rastejar.

Fiquei lá cinco anos. Ele adorava cuidar do jardim e da horta da Celia. Era bamba para matar um capado. Sabia destrinchar e fazia linguiças que até hoje nunca vi igual. Eu levantava as cinco da matina para ir trabalhar com o gado na Curralama e ele já estava de enxada na mão trabalhando. Precisavam ver o jardim da Célia. E a horta? Cada mamão que nem vou contar. Vão achar que estou chutando. Nunca o vi doente. Nunca nem a Dona Maria. Em qualquer hora do dia lá estava ele com uma enxada na mão. Nunca o vi reclamar, dizer qualquer coisa que pudesse ofender. Simples, honesto, trabalhador costumava ficar sentado na varanda da minha casa, e ali contava histórias e histórias e o tempo custava a passar. Muitas vezes eu e Celia levávamos os filhos dormindo para seus quartos. Todos gostavam dele. Sai da fazenda e ele que nunca vi chorar, pela primeira vez deixou uma lágrima correr quando disse adeus. Nunca mais o vi. Um dia um amigo de Pirapora/MG me escreveu contando as novidades. – Seu Zezé da Maria morreu. Dona Maria também. Os dois foram encontrados abraçados em seu quarto. Quarto? Uma tapera de barro cobrindo bambus.

Hoje não sei por que me lembrei dele. Lembrei-me da fazenda. Tempo bom. Um dos melhores da minha vida. Tantas histórias eu vivi. Melhor é ir dormir. Sono, muito sono.


Boa noite meus amigos. Durmam bem! 

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