Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

quinta-feira, 6 de junho de 2013

E o doce não era salgado.

Lembranças da meia noite.
 E o doce não era salgado.


 Voltava de minha jornada de muitos quilômetros. Foram oito dias no lombo de uma bicicleta. Pela primeira vez estava cansado. Muito. Aconteceram tantas coisas que deixei para anotar outro dia. Passamos pela sede para deixar as tralhas e alguns materiais de sapa devidamente limpos e oleados. Éramos seis. Todos da Patrulha Raposa. Cada um montou na sua bicicleta, disse um sempre alerta calmo e partiram para suas casas. Da sede em minha casa não gastaria mais do que quinze minutos. Ao passar pela padaria Bom Pastor vi que o pneu da frente estava furado. Paciência. Isto para nós aventureiros ciclísticos era rotina. Manezinho e sua bicicletaria ficava menos de dois quarteirões.

- Osvaldo sua conta aqui está alta. Mais de oitenta reais (em dinheiro de hoje). Vai me desculpar, mas enquanto não me pagar não faço mais nenhum serviço para você. - Eu sabia disto. Nunca aconteceu. Ganhava uns trocados com minha caixa de engraxate. Não tinha mesada. Quem dera. Não discuti com Manezinho. Ele tinha razão. Triste fui empurrando minha bicicleta a pé. Reclamei da sorte. Todos meus amigos da patrulha tinham pais que davam alguns trocados. O meu não podia. Era seleiro. Ganhava pouco. Gastei quase vinte e cinco minutos até próximo a minha casa. Agora era deixar a bicicleta guardada e tentar ver o que podia fazer para pagar o Manezinho. Nossa oficina portátil da patrulha não tinha nada para me ajudar.

Um quarteirão da minha casa. Ouvi o Rataplã. Que foi? Nosso hino cantado na rua? Quem? No portão de madeira da minha casa, minha mãe, meu pai e minhas duas irmãs rindo e batendo palpas. O Rataplã terminou e a Arvore da Montanha surgiu esplendidamente. Minha família me abraçou - Meu pai me deu as boas novas – Sua tia da capital mandou um presente. Um LP escoteiro do disco do Trio Irakitan. Todo ele só músicas escoteiras. Chorei de alegria. Nunca soube do disco. Na bicicleta de meu pai voei até as casas dos patrulheiros dando as boas novas. À noite ainda criança, ouvíamos as canções lindas cantadas na vitrola da família. Sentados no quintal mais de trinta escoteiros e seniores. Lá pelas duas da manhã meu pai mandou todos embora. Hora de dormir disse e completou que o disco podia furar! Risos.

Considerei-me um “sortudo”. A tristeza acabou. Sabia que iria pagar o Manezinho em breve. Até lá ia rezar e agradecer minha tia por aquele presente que nunca ninguém do Grupo Escoteiro tinha ganhado. A vida é assim, atrás das tempestades vem a bonanza. Aprendi muito e hoje lembro que as dificuldades não passaram de momentos bons e ruins e que ficaram no tempo. Seguir o meu destino foi o que sempre fiz.


Boa noite meus amigos e minhas amigas.

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