Histórias
escoteiras.
O assombroso
Fantasma da sede do Grupo Escoteiro Tapajós.
(baseado em fatos
reais)
Esta historia aconteceu há muito
tempo. Lá pelos idos de 1961. Recém-admitido como funcionário da Usiminas conheci
mais dois amigos que eram escoteiros em sua cidade de Origem. Carlos e Odair. O
primeiro foi Escoteiro da Pátria em Juiz de Fora do Grupo Escoteiro Aimorés do
meu grande amigo e falecido Chefe Darcy Malta. O segundo Escoteiro em Muriaé.
Tornamo-nos amigos inseparáveis. O escotismo fazia falta. Porque não organizar
um grupo? – Surgiu de surpresa. Um amigo de nome Raimundo morava em Senador Melo
Viana, na época um distrito de Coronel Fabriciano e acho que ainda é até hoje
nos convidou para almoçar em sua casa. Para surpresa o Pároco da Matriz também
estava presente. Durante o almoço surgiu à ideia de montar um grupo ali. O
Pároco se dispôs a ver as necessidades e providenciar.
Seis meses depois o Grupo
Escoteiro ia de vento em popa. Infelizmente um contratempo aconteceu. O Chefe
Odair veio a óbito. Morávamos todos em uma casinha espécie de república. Uma
epopeia levar o falecido em sua cidade. Mas esta é outra historia. Perdemos
alem de um grande amigo um excelente corneteiro. Ainda bem que o Grupo
Escoteiro cresceu. Tínhamos mais de doze escotistas atuantes e a maiorias já
DCBs. Nossa sede era atrás do cemitério
do distrito. Eram três barracões enormes, cujas janelas de fundo davam para
toda a área do cemitério. Os três barrocões eram divididos entre as sessões. Um
para os lobinhos, um para a tropa e outro para a diretoria e almoxarifado.
Uma semana após o passamento do
Odair o Zé Pontes da diretoria me procurou para avisar que reclamaram com ele
da algazarra tremenda que faziam a noite e sempre após a meia noite na sede
escoteira. Tocam corneta, bumbos, tambores e taróis Pensei comigo. Só quatro de
nós tinham as chaves. Quem seria? – Melhor ir lá para ver. Ir sozinho? Sei que
era um homem, durão, Chefe Escoteiro, mas nunca me dei bem com fantasmas. Ir lá
à meia noite, atravessar uma lateral do cemitério, abrir a porta e entrar e
esperar até meia noite para ver a banda tocar estava fora de cogitação. –
Carlos vamos nós dois, falei. – Nem pensar, Chame o Zé Pontes, o Nonô ou então
o Pároco. Ninguém quis ir. Cada um deu uma desculpa.
A banda uma ou duas vezes por
semana continuava tocando. Escoteiros e lobinhos evitando entrar na sede mesmo
durante o dia. A “coisa” estava tomando proporções que poderia prejudicar mesmo
a frequência dos meninos. Tinha que ir lá e desmascarar o tal fantasma. Quinta
feira, armado de uma boa lanterna esperei dar onze e meia e lá fui. Confesso
que tremia um pouco. Ao passar pelo cemitério criei na minha imaginação
centenas de fantasmas a me observarem. Onze e cinquenta lá estava eu na porta
do almoxarifado. Um silêncio de morte. Juntei todas as minhas formas e entrei.
Um “besta” que sou, pois entrei e fechei a porta comigo dentro. Porque fiz
isto? Não sei. Sentei em uma cadeira em volta de uma escrivania. O silencio era
total. Já estava respirando melhor. Acho que não tinha nada. O povo inventa!
Levantei, acendi a lanterna e
passeei com o facho de luz por toda a sala. Maldita sala! Uma corneta estava
suspensa no ar. Outra tocou a toda no meu ouvido. Um berro da corneta e um meu.
Larguei a lanterna e corri para a porta. Um custo para abrir. Bombo, tambor e
corneta tocavam no meu ouvido. Gritava e berrava como um louco. A porta abriu.
Sai correndo em desabalada carreira. As calças toda molhada. Senti algum mais
que não vou dizer aqui. Fui direto ao Pároco. Ele dormia. O acordei. – O Senhor
vai comigo – Chefe Osvaldo é impressão sua. – Vamos lá, não é o homem de Deus?
– Lá fomos eu e ele. Vi que ele sorria, queria mostrar uma força que não tinha.
Entramos, silencio. Ele me olhou – Tá vendo? Não tem nada. Uma corneta berrou
alto no seu ouvido. – Ele gritou – Louvado meu Senhor Jesus Cristo. Me
socorre. Nem me olhou sumiu na porta na
minha frente.
No dia seguinte ele e mais
diversos coroinhas e todas as Filhas de Maria, sem contar os Vicentinos lá
estavam na sede para exorcizar ou sei lá o que ele fazia. Rezaram, cantaram e
foram embora. Acho que deu certo. Os barulhos sumiram. Joguei a calça que usei
naquele dia fora. Não dava nem para lavar. Até hoje não sei se foi o espírito
do Odair. Ele nunca me disse nada. Uma semana depois fui pegar um guarda chuva
em cima do guarda roupa na república que morávamos. Chovia a cântaros. Trovejava.
Relâmpagos no céu. Carlos trabalhando de zero hora. (turnos alternados). Estava
sozinho em casa. Subi em uma cadeira. Meu Deus! A dentadura do Odair aberta
como se estivesse rindo para mim! (ele tinha dentadura). Cai da cadeira
estatelado no chão. De novo correndo até o bar do Zaqueu. Melhor ficar ali até
as madrugadas tomando umas e outra. Voltar para a casa? Vai ser difícil.
Final: - Um ano depois
a convite montamos uma Tropa Escoteira na Paróquia de Coronel Fabriciano a
convite do padre local. Hoje Bispo. Don Lara. Grade Chefe! – Sai da Usiminas,
passei anos sem voltar lá. Hoje o Tapajós existe em Coronel Fabriciano. Um
grande grupo. Orgulho da cidade.
Afinal são histórias.
Acreditem se quiserem. Ainda guardo lembranças do Carlos do Odair e de tantos
outros. Valeu uma época. Valeu uma vida!
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