Lendas
escoteiras.
As
aventuras de Ticha. Uma Lagartixa dengosa.
(histórias
para lobinhos).
Eu
tenho um especial carinho pelos lobinhos. Quando atuava na linha de frente
adorava ficar olhando para eles, me fixava em um ou dois prestava atenção aos
seus olhos, à boca, a expressão de felicidade e isto me fazia feliz. Quando um
lobinho ou lobinha fica quieto ou quer sentar para descansar está doente. Eles
não param. Vivazes, alegres e correndo sem parar. Infelizmente fiquei pouco
tempo como Chefe deles. Menos de três anos. Tive muitos amigos e amigas chefes
de lobinhos. Estes chefes tinham sua maneira, seu porte, seu sorriso diferente
do chefes escoteiros. Ontem me dirigia ao Super Mercado a pedido da esposa para
umas comprinhas e passei em frente ao Grupo Escoteiro Rui Barbosa. Não deu
outra. Tive de parar. Eu tinha bons amigos ali e gostaria de revê-los e dar um
abraço Escoteiro. A tropa Escoteira não estava e os sêniores também não. Mas lá
estava a Kelánina com seus traquinas a correr pelo pátio. Desculpem o seu
apelido, mas de tantos os lobos chamarem-na de Kelá o apelido pegou. Até eu só
a chamava assim. Seu nome era Nina Matusalém Santos.
Ela
me viu e deixou a Alcatéia com sua Assistente. Nina teria no máximo trinta e
oito anos. Casada e dois filhos na tropa. Entrou por causa deles e ficou. O tal
mosquitinho Escoteiro mordeu. Ficamos grandes amigos quando dirigi um Curso
Avançado de Lobos. Ela aluna sempre me procurava para perguntar e perguntar.
Grande perguntadora! Risos. – Chefe! Que prazer em ter o Senhor aqui! – Alegria
minha Kelánina, afinal estava com saudades. – Sabe Chefe, voltamos de um
acantonamento semana passada e olhe, até hoje não acredito em tudo que
aconteceu. – Lá vinhas histórias. Adoro. Deixo tudo para ouvir uma boa
história. – Conte disse eu! Esqueci completamente minha ida ao supermercado. –
Pois não – Observe aquela lobinha morena de cabelos curtos bem baixinha. Ela se
chama Katinha. Claro apelido. Um dia me procurou se podia trazer com ela a
Ticha. Ticha? Disse eu. Kelá é minha amiguinha, uma lagartixa. – Olhe Katinha
não dá. Ela vai prender sua atenção e você pouco vai absorver o que estaremos
fazendo, isto sem contar que os outros também não iram participar como devem.
- Água mole em pedra dura que um sábado a
deixei trazer. Porque não? Afinal dizem
que os melhores vendedores do mundo são as crianças. Garantiu-me que ela
ficaria em uma pequena caixa de papelão. Para dizer a verdade não entendia nada
de lagartixa, sabia sim que muitos jovens estavam mudando seus animais de
estimação. Já conheci alguns com cobras, papagaios, canários, e outros bichos.
Mas lagartixa não. Tudo correu bem nos quatro primeiros sábados. Um
acantonamento estava marcado para o final de junho, feriado de Corpus Christi.
Katinha chorou para levar sua Ticha. Tanto chorou que deixei. Antes de ir fiz
uma pesquisa na internet sobre elas. Lá dizia que Lagartixas são animais surpreendentes.
Embora muitas pessoas tenham a imediata intenção de matar uma lagartixa ou
gritar de medo e/ou nojo, esses animais são importantes controladores de
pragas, como insetos. E, além disso, são criados por gente do mundo todo como
animais de estimação.
- Era um mundo a parte
Chefe. Eu nunca poderia entender bem tudo sobre elas. E assim começou nosso
acantonamento, ou melhor, nossa aventura lagartixeira. No primeiro dia Katinha
só ficava de olho na sua Ticha que ela deixou em cima da mesa da varanda. À
tarde Katinha me chamou – Kelánina foi a Ticha quem me contou. Está vindo aí e
vai passar por aqui agora a tarde um exame de abelhas africanas. Ela disse que
são milhares e milhares. Disse também para não deixar ninguém ficar do lado de
fora da casa e trancar portas e janelas. – Pelo sim e pelo não, pois já pensou
milhares de abelhas africanas picando os lobinhos? – Prendi todo mundo contra a
vontade e vários fazendo lá dentro maior
zoeira. Não deu outra. Eram quatro da tarde e o céu ficou preto de abelhas.
Meia hora depois elas haviam sumido com o vento sul. Fiquei cismada, lagartixa
falando? Bem na minha pesquisa vi que elas e algumas espécies conseguem se
comunicar vocalmente através de ruídos, coisa incomum para répteis. Além do
mais é um dos únicos animais do planeta que conseguem aderir em quase qualquer
superfície e até escalar o vidro. Mas falar?
No segundo dia de novo
estava lá Katinha. – Kelánina, Ticha gostou muito da senhora e gostaria de
apresentar O prefeito da cidade de City Lagarty. Ele pediu para conhecê-la. –
Chefe, brincadeiras a parte, mas não sei onde estava com a cabeça. Aceitei o
convite e fui com Ticha e Katinha até onde ela disse ser a cidade. Nossa!
Fiquei abismada. Próximo a um lago em um barranco centenas de buracos tipo
cavernas e de lá começaram a sair milhares de lagartixas. Um barulho diferente,
mas educado sem correrias elas tomaram conta da areia que beirava o lago. Uma
lagartixa gorda, enorme e quase achei que seria um lagarto se aproximou. Ficou
nas duas patas trazeiras e fazendo trejeitos com a cabeça parecia sorrir para
mim – Kelánina! Apresento o prefeito da
cidade, o Senhor Mestre Baba! Meu Deus! Não via ninguém falar, mas Katinha
jurava que sim. Não sabia se estava assustada, se isto me deu uma enorme
surpresa ou se eu estava sonhando. Voltamos caladas com Ticha nas costas de
Katinha.
- O pior Chefe foi no último
dia. Depois do cerimonial de bandeira de despedida, Katinha me procurou ainda
no circulo antes do Grande Uivo e me disse que Mestre Baba tinha solicitado
educadamente que parte dos habitantes de City Lagarti pudessem participar
também de uma cerimonia de bandeira. Eles gostaram muito da que a senhora fez
conosco! E agora Chefe? Já viu um pedido assim? Fazer o que? Após o arriar da
bandeira, dei para Katinha uma bandeira do grupo. Ela mesmo colocou no cabo
(era arvorado) e fez um sinal de reunir. – Imagine Chefe centenas de lagartixas
correndo e tomando posição em frente à bandeira. Para dizer a verdade ficaram
uma ao lado da outra e se a gente pudesse ver por cima seria uma perfeita
ferradura. Os lobinhos e as lobinhas estavam adorando tudo. Katinha fez um
sinal elas levantaram a cabeça e ela hasteou e arriou a bandeira ao mesmo
tempo. – Precisa ver Chefe. As lagartixas fizeram um ruído tremendo. Pulavam,
subiam em cima da lobada, em cima de mim e no principio fiquei com medo. Depois
entrei na farra lagartixeira!
O Ônibus saiu devagar para não
passar em cima das milhares de lagartixas que cismaram em ficar até nossa
partida. Katinha sorria de orelha a orelha. – Sério olhei para Kelánina, mas
ela parecia estar sendo sincera. Pelo sim e pelo não dei boa tarde um bom
aperto de mão e fui me despedir do Chefe Brito que era o Diretor Técnico.
Cheguei tarde em casa. Célia me olhou e rindo falou – Escoteirando? Sorri e
repliquei – Não – Lagartixando! São histórias que me contam e eu repasso.
Acreditem quem quiser. Mas eu sou um eterno sonhador, acredito em tudo. E não é
que sonhei com Kelánina, Katinha, Ticha e Mestre Baba? Risos.
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