Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

As aventuras de Ticha. Uma Lagartixa dengosa.


Lendas escoteiras.
As aventuras de Ticha. Uma Lagartixa dengosa.
(histórias para lobinhos).

               Eu tenho um especial carinho pelos lobinhos. Quando atuava na linha de frente adorava ficar olhando para eles, me fixava em um ou dois prestava atenção aos seus olhos, à boca, a expressão de felicidade e isto me fazia feliz. Quando um lobinho ou lobinha fica quieto ou quer sentar para descansar está doente. Eles não param. Vivazes, alegres e correndo sem parar. Infelizmente fiquei pouco tempo como Chefe deles. Menos de três anos. Tive muitos amigos e amigas chefes de lobinhos. Estes chefes tinham sua maneira, seu porte, seu sorriso diferente do chefes escoteiros. Ontem me dirigia ao Super Mercado a pedido da esposa para umas comprinhas e passei em frente ao Grupo Escoteiro Rui Barbosa. Não deu outra. Tive de parar. Eu tinha bons amigos ali e gostaria de revê-los e dar um abraço Escoteiro. A tropa Escoteira não estava e os sêniores também não. Mas lá estava a Kelánina com seus traquinas a correr pelo pátio. Desculpem o seu apelido, mas de tantos os lobos chamarem-na de Kelá o apelido pegou. Até eu só a chamava assim. Seu nome era Nina Matusalém Santos.

              Ela me viu e deixou a Alcatéia com sua Assistente. Nina teria no máximo trinta e oito anos. Casada e dois filhos na tropa. Entrou por causa deles e ficou. O tal mosquitinho Escoteiro mordeu. Ficamos grandes amigos quando dirigi um Curso Avançado de Lobos. Ela aluna sempre me procurava para perguntar e perguntar. Grande perguntadora! Risos. – Chefe! Que prazer em ter o Senhor aqui! – Alegria minha Kelánina, afinal estava com saudades. – Sabe Chefe, voltamos de um acantonamento semana passada e olhe, até hoje não acredito em tudo que aconteceu. – Lá vinhas histórias. Adoro. Deixo tudo para ouvir uma boa história. – Conte disse eu! Esqueci completamente minha ida ao supermercado. – Pois não – Observe aquela lobinha morena de cabelos curtos bem baixinha. Ela se chama Katinha. Claro apelido. Um dia me procurou se podia trazer com ela a Ticha. Ticha? Disse eu. Kelá é minha amiguinha, uma lagartixa. – Olhe Katinha não dá. Ela vai prender sua atenção e você pouco vai absorver o que estaremos fazendo, isto sem contar que os outros também não iram participar como devem.

             -  Água mole em pedra dura que um sábado a deixei trazer. Porque não?  Afinal dizem que os melhores vendedores do mundo são as crianças. Garantiu-me que ela ficaria em uma pequena caixa de papelão. Para dizer a verdade não entendia nada de lagartixa, sabia sim que muitos jovens estavam mudando seus animais de estimação. Já conheci alguns com cobras, papagaios, canários, e outros bichos. Mas lagartixa não. Tudo correu bem nos quatro primeiros sábados. Um acantonamento estava marcado para o final de junho, feriado de Corpus Christi. Katinha chorou para levar sua Ticha. Tanto chorou que deixei. Antes de ir fiz uma pesquisa na internet sobre elas. Lá dizia que Lagartixas são animais surpreendentes. Embora muitas pessoas tenham a imediata intenção de matar uma lagartixa ou gritar de medo e/ou nojo, esses animais são importantes controladores de pragas, como insetos. E, além disso, são criados por gente do mundo todo como animais de estimação.

                        - Era um mundo a parte Chefe. Eu nunca poderia entender bem tudo sobre elas. E assim começou nosso acantonamento, ou melhor, nossa aventura lagartixeira. No primeiro dia Katinha só ficava de olho na sua Ticha que ela deixou em cima da mesa da varanda. À tarde Katinha me chamou – Kelánina foi a Ticha quem me contou. Está vindo aí e vai passar por aqui agora a tarde um exame de abelhas africanas. Ela disse que são milhares e milhares. Disse também para não deixar ninguém ficar do lado de fora da casa e trancar portas e janelas. – Pelo sim e pelo não, pois já pensou milhares de abelhas africanas picando os lobinhos? – Prendi todo mundo contra a vontade e vários fazendo lá dentro  maior zoeira. Não deu outra. Eram quatro da tarde e o céu ficou preto de abelhas. Meia hora depois elas haviam sumido com o vento sul. Fiquei cismada, lagartixa falando? Bem na minha pesquisa vi que elas e algumas espécies conseguem se comunicar vocalmente através de ruídos, coisa incomum para répteis. Além do mais é um dos únicos animais do planeta que conseguem aderir em quase qualquer superfície e até escalar o vidro. Mas falar?

                      No segundo dia de novo estava lá Katinha. – Kelánina, Ticha gostou muito da senhora e gostaria de apresentar O prefeito da cidade de City Lagarty. Ele pediu para conhecê-la. – Chefe, brincadeiras a parte, mas não sei onde estava com a cabeça. Aceitei o convite e fui com Ticha e Katinha até onde ela disse ser a cidade. Nossa! Fiquei abismada. Próximo a um lago em um barranco centenas de buracos tipo cavernas e de lá começaram a sair milhares de lagartixas. Um barulho diferente, mas educado sem correrias elas tomaram conta da areia que beirava o lago. Uma lagartixa gorda, enorme e quase achei que seria um lagarto se aproximou. Ficou nas duas patas trazeiras e fazendo trejeitos com a cabeça parecia sorrir para mim – Kelánina!  Apresento o prefeito da cidade, o Senhor Mestre Baba! Meu Deus! Não via ninguém falar, mas Katinha jurava que sim. Não sabia se estava assustada, se isto me deu uma enorme surpresa ou se eu estava sonhando. Voltamos caladas com Ticha nas costas de Katinha.

                - O pior Chefe foi no último dia. Depois do cerimonial de bandeira de despedida, Katinha me procurou ainda no circulo antes do Grande Uivo e me disse que Mestre Baba tinha solicitado educadamente que parte dos habitantes de City Lagarti pudessem participar também de uma cerimonia de bandeira. Eles gostaram muito da que a senhora fez conosco! E agora Chefe? Já viu um pedido assim? Fazer o que? Após o arriar da bandeira, dei para Katinha uma bandeira do grupo. Ela mesmo colocou no cabo (era arvorado) e fez um sinal de reunir. – Imagine Chefe centenas de lagartixas correndo e tomando posição em frente à bandeira. Para dizer a verdade ficaram uma ao lado da outra e se a gente pudesse ver por cima seria uma perfeita ferradura. Os lobinhos e as lobinhas estavam adorando tudo. Katinha fez um sinal elas levantaram a cabeça e ela hasteou e arriou a bandeira ao mesmo tempo. – Precisa ver Chefe. As lagartixas fizeram um ruído tremendo. Pulavam, subiam em cima da lobada, em cima de mim e no principio fiquei com medo. Depois entrei na farra lagartixeira!


                O Ônibus saiu devagar para não passar em cima das milhares de lagartixas que cismaram em ficar até nossa partida. Katinha sorria de orelha a orelha. – Sério olhei para Kelánina, mas ela parecia estar sendo sincera. Pelo sim e pelo não dei boa tarde um bom aperto de mão e fui me despedir do Chefe Brito que era o Diretor Técnico. Cheguei tarde em casa. Célia me olhou e rindo falou – Escoteirando? Sorri e repliquei – Não – Lagartixando! São histórias que me contam e eu repasso. Acreditem quem quiser. Mas eu sou um eterno sonhador, acredito em tudo. E não é que sonhei com Kelánina, Katinha, Ticha e Mestre Baba? Risos.        

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