Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

sábado, 31 de agosto de 2013

Você sabe fazer previsão de tempo no acampamento?

Lembranças da meia noite.
Você sabe fazer previsão de tempo no acampamento?



Eu conheci algumas. Do livro do Chefe Floriano de Paula “Para ser Escoteiro”. Depois a UEB não vendeu mais. Apareceram outros. Descobri estas, e acho que ajuda muito para ver a previsão de tempo no acampamento. Afinal escoteiro que é Escoteiro não se aperta.

Vermelho nascente que pronto descora, tempo de chuva que está prá demora.
Vermelha alvorada vem mal-encarada.
Vento contra a corrente levanta mar imediatamente
Vento sudoeste mansinho e panga é de tremer dele, quando se zanga.
Volta direita, vem satisfeita, volta de cão traz furacão.
Sol nascente desfigurado, no Inverno, frio, no Verão, molhado.
Sol que nasce em nuvens sentado, não vás ao mar fica deitado.
Sol posto ledo, com claro ao norte, andar sem medo que estás com sorte.
Se grandes, correm desmanteladas, mau tempo, velas rizadas.
Se à tarde vem, é prá teu bem.
Se um trovão seco no céu reboa, temporal violento nos apregoa.
Se ao vale a névoa baixar, vai para o mar, mas se pelos montes se atrasa, fica em casa.
Se entra por terra a gaivota, é que o temporal a enxota.
Se vem chuva e depois vento, põe-te em guarda e toma tento.
Se tens vento e depois água, deixa andar que não faz mágoa.
Sem nuvens o céu e estrelas sem brilho, verás que a tormenta te põe num sarilho.
Se um dia Deus quiser, até com norte pode chover.
Céu pedrento, chuva ou vento, não tem assento.
Chuva miudinha como farinha dá vento do norte, mas não muito forte.
Com céu azul carregado, teremos o barco em vento afogado.
Céu pedrento, chuva ou vento, não tem assento.
Castelos de nuvens sem nuvens por cima são chuvadas certas mesmo sem rimas.
Céu limpo e lua no horizonte, de lá te virá o vento.
Chuva miudinha como farinha dá vento do norte, mas não muito forte.
Está a chover e fazer sol e a raposa a encher o fole.
Depois de chuva, nevoeiro, tens bom tempo marinheiro.
Lua nova trovejada 30 dias é molhada.
Lua à tardinha com seu anel, dá chuva à noite ou vento a granel.
Lua com halo de grande aparato é molha certa prá gente de quarto.
Lua com circo,  água traz no bico.
Lua nova trovejada, trinta dias é molhada.
Lua nova trovejada, oito dias é molhada. Se ainda continua, é molhada toda a lua.
Lua empinada, maré repontada.
Lua deitada marinheiro em pé.
Limpo horizonte que relampeja dia sereno, calma sobeja.
Lua nova de Agosto carregou, lua nova de Outubro trovejou.
Lua Nova, Lua Cheia preia Mar às duas e meia.
Lua fora, lua posta  quarto de maré na costa.
Nuvens aos pares, paradas, cor de cobre, é temporal que se descobre.
Nuvem comprida que se desfia sinal de grande ventania.
Nuvens finas, sem ligação, bom tempo, brisas de feição.
Nuvens espessas e acumuladas, ventanias certas e continuadas.
Nuvens pequenas, altas e escuras são chuvas certas e seguras.
Nordeste molhado, não te dê cuidado.


Boa noite meus amigos, durmam bem. Que os anjos cantem canções lindas nos seus sonhos.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Um tributo aos amigos que partiram.

Lembranças da meia noite.
Um tributo aos amigos que partiram.



Tem dias que fico pensando, pensando e quem não fica? Risos. Mas só pensando em um assunto? Claro que não. São vários. Sempre penso em escotismo, em escoteiros, em lobinhos, em seniores, guias, pioneiros, em boy Scout, em Sempre Alerta. Portanto são muitos assuntos não? Risos. Mas porque penso tanto? Acho que o tempo passa, as horas passam e costumamos esquecer fatos importantes em nossa vida Escoteira. Quem já viveu tanto no escotismo ainda acredita que viverá muito ainda pela frente. As horas passam, os dias passam, vêm os meses os anos, e quando assustamos os cabelos ficam brancos muitos amigos novos chegando e outros partindo. Agora os passos não são os mesmos, ficaram trôpegos, a respiração já não é a mesma e porque não desistimos? Porque não procurar outro motivo para sentir o pulsar da vida?

Não sei. Acho que sei que não quero pensar em outra coisa. Claro minha família, meus filhos e finalmente porque não quero reconhecer que o escotismo foi tudo para mim? Assim como para milhares que como eu passaram e estão passando nas fileiras deliciosas de uma vida ao ar livre, dormindo sob as estrelas, molhando os pés na água gelada, escalando montanhas incríveis e fazendo deliciosos acampamentos? Mas chega uma hora que não podemos fazer mais isto. O corpo não ajuda. Não importa a mente, pois ela a cada dia mais amadurece. Ainda bem. Tem dias que a gente fica olhando a parede como se ela fosse uma tela gigante, a nos mostrar num ritmo de marcha escoteira o filme de nossa vida. As alegrias que tivemos em pertencer a este formidável movimento.

Ali naquela tela aparece à primeira promessa, o primeiro grande uivo, vestir o uniforme tão desejado, sentir cada peça colocada, colocar o chapéu ainda novo dando um toque aventureiro e sorrir. Ver a cores do meu lenço naquela tela, os acampamentos, cada um mais formidável que os outros. Ver os amigos que fomos colhendo pelo caminho, e o tempo vai passando, o filme é longo, tem histórias alegres, tristes e a gente até pensa e acredita que não é um filme real, um sonho gostoso que nunca existiu. Mas a realidade está ali viva. A força de um movimento está encravada em um coração que sonhou com ele e sabe que nunca vai esquecer.

Nesta seara que colhemos, os amigos vem e se vão. Faz parte da vida. Faz parte do nosso crescimento. Nada é imutável. Foram milhares de amigos, mas só uns poucos tivemos noção do que eram, do que fizeram do que sentimos por eles e os instantes de convivência quando os perdemos. Tive alguns em que a coexistência foi mais próxima. Uma viagem juntos, almoços, acampamentos longínquos, noitadas, convivência familiar, enfim são fatos que marcam e quando passa o tempo e ficamos sabendo de sua partida dá um nó na garganta, vontade de voltar atrás e dizer, não podíamos ter nos separado. Devíamos estar juntos até hoje, mas quem pode prever o seu destino?

A gente sabe que a vida passa e nos passamos pela vida como quem colhe rosas e espinhos. Na maioria das vezes o jardim das flores cujas fragrâncias nos inebriaram uma época agora são espinhos que nos machucam de leve como a dizer: O adeus da partida nem sempre tem o aceno do lenço, a lágrima que cai de mansinho, o livro aberto contando coisas gostosas sobre nós não existe mais, pois o vento forte fechou as páginas da vida. Não adianta dizer que fazemos parte de uma multidão que vai e vem e que o crescimento individual faz parte do viver, morrer  e nascer de novo. Sabemos disto, mas uma saudade angustiante vem de mansinho a machucar nosso interior que reluta em aceitar os fatos que são reais e imutáveis.

Sempre Alerta amigos de outrora que se foram. Sempre Alerta. Que os ventos que estão soprando do norte, do sul, do leste e oeste, levem a chama deste fogo que está firme em nossos corações, pois a canção é clara, não é mais que um até logo, não é mais que um breve adeus! Ao nosso lado sempre vai haver um Escotista novo ou não a dizer que quem foi Escoteiro nunca vai deixar de ser. Este movimento nos joga na corrente da vida e sabemos que mesmo nadando seremos levados pela correnteza. Pois ele é um movimento que não nos dá oportunidade de esquecê-lo. Não dizem que o escotismo é uma filosofia de vida? Viver, morrer e ser Escoteiro para sempre.


Boa noite meus amigos e minhas amigas. Boa sexta feira. Durmam bem. 

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O lindo alvorecer na morada da Terra do Sol.

Lembranças da meia noite.
O lindo alvorecer na morada da Terra do Sol.



               Tinha voltado da minha incrível caminhada de quinhentos metros, cansado, respiração ofegante e estava fazendo o meu breakfast quando bateram palmas na porta de casa. Domingo é sempre assim. Religiosos nos chamando para dizer se queremos ouvir a palavra do Senhor. Porque não? Gosto de vê-los lendo os mandamentos de Deus. Quando acontece descanso em uma cadeira, pois ficar em pé é difícil e ouço com amor, e olhem, nunca digo que sou espiritualista. Eles não gostam. Afinal ouvir é bom e não prejudica ninguém. Mas naquele dia não eram eles. Cheguei à porta da sala e vi no portão uma figura imponente que até me assustei. Cabelos brancos compridos até o ombro, barba branca bem penteada e uns olhos azuis que chamuscavam que olhava diretamente para ele. Vestia um paletó branco, comprido que ia até o joelho. Uma camisa azul brilhante com um pequeno lenço verde amarrado no pescoço. Usava uma calça de gabardine verde e calçava uma sandália de couro sem meias. Trazia nas mãos uma forquilha. Senhor! Que forquilha! Linda, marrom e cinza, e onde o V fazia uma curva acentuada parecia estar cravejadas de pedras preciosas em delicioso arranjo.

               Quem seria? Nesta cidade grande todo cuidado é pouco. Loucos, assaltantes, pedintes, vem às centenas bater em nossa porta. Mas o sorriso do "Velho" era cativante. Cheguei mais perto. Um perfume de flores do campo veio até a mim. O "Velho" sorriu e sem eu esperar me disse – Posso lhe dar um abraço? Fiquei estarrecido! Nunca ninguém bateu em minha porta oferecendo um abraço! Peguei as chaves, abri o portão e ele entrou como se estivesse entrando em um castelo de Reis. Encostou a forquilha encantada na parede e me deu um abraço! Gente! Que abraço. Eu com meus 72 anos me sentia como se fosse um menino sendo abraçado pelo pai. Fiquei sem jeito. – Aceita um café? – Obrigado. Mas não podemos perder tempo. Vou levar você para ver o alvorecer na Morada do Sol.

              Assustei-me. Tenho que tomar cuidado, pensei. Pode ser alguém com acesso de loucura – Ele como se estivesse lendo meus pensamentos sorriu e disse – Você precisa vir comigo. Sei que Dona Célia está fazendo a feira e volta logo. Mas estaremos de volta antes. – Pegou-me pela mão e sem fechar o portão saímos voando, ele me segurando, eu assustado! Ele soltou minha mão. Gente! Eu “volitava” sozinho no ar como se já tivesse feito isto há muito tempo. Em segundos estávamos em uma montanha, onde as árvores eram lindas, as folhas de um verde que nunca tinha visto e lá no alto um pico envolto em nuvens que para dizer a verdade, fez meu coração disparar. Lindo! Uma montanha das mais lindas que tinha visto – Como chama? Perguntei. – Você conhece você já esteve aqui. Serra do Sol Nascente. A morada do sol – Me lembrei. Mas não era assim! Eu disse. Ele me olhou e carinhosamente disse - Porque você só viu o que queria ver!

             De novo me pegou pela mão. Em segundos estávamos em uma cachoeira de uma beleza sem par. Linda mesmo. Uma névoa branca como se fosse orvalho caindo se formava em sua queda, o barulho da queda era como se fosse uma orquestra de cordas tocando maravilhosamente “The Lord of The Rings” e eu ali pensava – Devia ser um sonho. Pássaros dançavam balé fazendo acrobacias. – Onde estamos? Perguntei! – Na Cachoeira da Chuva, você já esteve aqui! – Como? Não vi nada disto que vejo agora. - Porque você só viu o que queria ver! De novo lá fomos nós a voar pelo espaço e em segundos chegamos a um vale, todo florido, flores silvestres de todas as cores que nunca tinha visto com um perfume inebriante, e a brisa leve tocando as pétalas e elas dançando ao sabor do vento. – Onde estamos? Perguntei! – No Vale Encantado da Felicidade. Você já esteve aqui. Muitas vezes acampando. – Não lembro, não lembro que fosse assim! – Porque você só viu o que queria ver!

              E lá fomos de novo voando nas nuvens brancas do céu. Descemos e ficamos a sombra de um lindo castanheiro. Era madrugada. O orvalho caia calmamente. Uma brisa fresca tocou-me o rosto. Foi então que assisti o cantar da passarada quando a manhã chega lépida e insistente. Havia beija flores, Tico-Tico, Sabiás, canários amarelos, pardais graciosos, uma multidão de pássaros pulando de galho em galho e com suas gralhas graciosas a cantar para todo o universo naquela bela manhã. Onde estamos? Perguntei – Não reconhece? O castanheiro do quintal da sua casa no passado. – Mas não era assim, eu disse. Ele gentilmente respondeu – Porque você só viu o que queria ver.

             E assim ele me levou a longínquos lugares perdidos neste mundo de Deus e sempre a me dizer – Você já esteve aqui. Por último, fomos até uma nuvem, enorme, milhares e milhares de escoteiros sentados, cantando canções sublimes. – Que lindas canções são estas? – As mesmas que você cantou sempre. Mas muitas vezes gritadas, sem nexo e você não procurou ver a beleza da melodia que elas possuíam, pois você só ouviu o que queria ouvir!

          Voltamos e como se eu fosse um pássaro alado no seu pouso encantador, avistei o meu portão e ele sorridente me disse – Procure ver as coisas como são, procure sentir a beleza das cores, do arco íris, dos lindos sonhos que acontecem com você. Procure ser sincero e diga a si mesmo que a beleza da vida e a felicidade sempre estão ao nosso lado. As cores são belas quando sabemos olhar com amor. Os cantos são belos quando sabemos diferir a letra e a música tocada. Os pássaros são sempre os mesmos, mas saber ver neles a beleza e a singela simpatia que eles têm é uma arte fácil de ser observada. Seus cantares e seus gorjeios sabem que transmitem amor e felicidade. – Ele me olhou e disse – Posso lhe dar outro abraço? E me apertou em seu corpo e de novo senti que era meu pai me abraçando. Saiu calmamente pela rua, escorando na sua linda forquilha cravejada de brilhantes e ao chegar à esquina, virou-se e deu-me um último adeus. Uma pequena nuvem apareceu e o levou ao céu que agora era de um azul profundo, tão azul que pensei que nunca tinha visto aquela cor como agora.

           Sentei na cadeira de sempre na minha varanda emocionado. A Célia chegou. Sorriu para mim e disse – O que foi? Porque esta sorrindo assim? Sabe mulher, porque sempre vi o que queria ver e agora procuro ver as coisas como devem ser vista. Nunca tinha observado como você é bela, a mais linda mulher que conheci! Fiquei em pé me aproximei e disse – Posso lhe dar um abraço?  


Boa noite meus amigos e amigas. Durmam bem.        

terça-feira, 27 de agosto de 2013

O mundo enlouqueceu!

            Lembranças da meia noite.
O mundo enlouqueceu!



                    Não sabia o que dizer. Era incrível a notícia. De novo não. Não podia ficar tendo pesadelos assim. Pelo amor de Deus! Já estou "Velho" demais para isto. A continuar deste jeito, terei que buscar meu velho bastão escoteiro no fundo do baú ir para minha varanda e ficar fazendo continência para os transeuntes. Assim ficaria sem dormir por muitas noites. Melhor ficar de sentinela na minha varanda velando os borrachudos infernais que ter estes pesadelos absurdos! – Mas estava lá, em letras garrafais nos principais jornais do país. As televisões não sessavam de propagar aos quatros ventos: - José Maria Marin, presidente da CBF demite Luiz Felipe Scolari e toda a Comissão Técnica. Não sobrou ninguém. Ele quer tudo novo então convidou a cúpula da UEB para assumir! Pode! Meu Deus! Onde estamos?

                    Perguntado Marin respondeu – Temos que mudar. Se for para melhor não sei. Mas os diretores e presidentes da UEB tem muita experiência. Já mudaram tudo lá na organização deles. Agora precisamos de um choque de gestão aqui. Quem me aconselhou foi o Pelé. Até o Ronaldo também foi a favor. O Newmar foi contra. Pediu para ser vendido para o Cazaquistão. Claro, sei que haverá uma grita geral. O Juca Kifouri e o Tostão estão batendo palmas! Na coluna do José Simão ele escreveu – Buemba! Buemba! Macaco Simão urgente! O esculhambador-geral da Republica! Direto do planeta da piada pronta: Escoteiros vão ganhar a taça do marreco! Vem aí um novo técnico da seleção Brasileira. Vão escolher entre os diretores e dirigentes das regiões escoteiras!

                    A repercussão era enorme. Eliane Cantanhede da Folha de São Paulo escreveu dizendo que era o fim do mundo. Clovis Rossi disse – Danou-se! E Josias de Souza colocou uma tarja preta na sua coluna diária. O Estado de São Paulo e o Globo montaram barraca em frente à sede da UEB em Curitiba. O DEN e o CAN se reuniam em portas fechadas. Em todas as regiões os Diretores Regionais queriam participar. Perder esta boquinha? E-mails eram enviados a cada cinco minutos. Em Belo Horizonte um time de várzea botou todos seus jogadores de uniforme de escoteiros e desfilaram em carro aberto dos bombeiros pela Avenida Afonso Pena. Em Porto Alegre o Grêmio e o Internacional se revoltaram. No Rio de Janeiro só o Flamengo concordou. Eles tinham histórias escoteiras para contar.

                  Alguém da UEB saiu à porta – Primeiro ato ele disse – Vamos mudar o uniforme da CBF. Já temos um novo uniforme e para isto foi feito urgente pesquisas virtuais com muitos brasileiros. Segundo ato, continuou – Não queremos mais nenhuma taça do passado. Passado para nós não vale agora só o presente. E assim foi anunciando as mudanças. De norte a sul os chefes se dividiam. Em são Paulo a escoteirada foi às ruas gritando Curintians! Um pandemônio. Os Grupos Escoteiros fizeram reuniões as pressas. Queriam saber quem era bom de bola entre seus associados. Meu Deus!

                   Acordei gritando! Celia chegou correndo e me trouxe um copo d’água. Melhor veneno mulher. Melhor veneno. Não posso ficar sonhando assim! Não dormi mais. Peguei meu velho bastão de guerra e fiquei no portão da minha casa em posição de sentido e dando Sempre Alerta a todos que passavam!

Boa noite meus amigos e amigas. Que Deus vele o sono de todos.           

domingo, 25 de agosto de 2013

Lembranças da meia noite. A rede.

Lembranças da meia noite.
A rede.



          Até aquele verão de 1953 eu não tinha possuído uma rede. Nunca tinha pensado em ter. Afinal dormia bem no chão, seja forrado com capim ou sem ele. Dormia mesmo. Sono dos justos. Qualquer toco de madeira servia de travesseiro. Dormia muito bem obrigado. Dormi até em uma barraca suspensa, em cima do estrado de bambus sem nada. Dormia sentado ou encostado em uma árvore e um dia dormi em pé caindo como uma abobora no chão quando o sono bateu forte. Quase nunca usava lençol ou fronha de casa. Só uma Capa Negra que ganhei do meu avô. Dormi em cima de pedras pontiagudas em várias montanhas. Sem cobertor dormi até em locais frios, mas... Um dia acampamos com alguns escoteiros do nordeste. Gente boa, boníssima. Alegres um sotaque delicioso.

         Apareceram em nossa cidade como se fossem transportados por uma nave interplanetária. Turma de primeira. Disseram-nos que estavam fazendo uma jornada e a pé ou de carona pretendiam ir até o Rio de Janeiro. A Rio Bahia estava no auge, boa parte asfaltada. Quando os vi na Av. Prudente de Morais dei um belo de um sorriso. Aproximei-me e em alto e bom som gritei! Sempre Alerta! Na melhor pose que conhecia. Eles me olharam espantados. Eram cinco. Não lembro os nomes. Estavam vindos de Jequié na Bahia. Logo apareceram outros escoteiros do nosso grupo. Lá fomos nós com eles até a sede. Causos e causos.

        Levei um para minha casa e os outros ficaram sem jeito pela insistência de mais de trinta escoteiros brigando para levarem eles para suas casas. Era assim na época. Ver alguém de outro grupo era uma apoteose. O que foi para minha casa não quis dormir em meu quarto. Aproveitou o pé de manga e o pé de abacate e ali amarrou sua rede. – Você vai dormir aí? – Porque não? É minha cama preferida! Calei-me. No meu quarto fiquei pensando em dormir em uma rede também. Fácil de colocar na mochila seria uma mão na roda. Ficaram quatro dias e partiram em uma manhã ensolarada. Ficamos muito amigos e quando partiram senti saudades.

        Coloquei na minha mente que devia ter uma rede. Nas lojas em minha cidade custava uma nota. Não importava. Chegava da escola, pegava minha caixa de engraxate e partia para o centro da cidade. Demorou quatro meses, mas consegui a quantia necessária e comprei a rede. Levei para casa. Amarrei-a no pé de abacate e o de manga. Fiquei ali um tempo enorme admirando minha nova amiga. Sentei e deitei. Gostoso. Meia hora depois me virei e fiquei virando e virando. Danada de rede. Não seria fácil acostumar. Na semana seguinte fomos acampar na Serra da Gamboa. Ia matar todo mundo de inveja. Levei a rede. Lá chegando todos assustaram. Uma linda rede. – Vais dormir aí? – Claro, melhor que no chão duro! Um frio danado. A manta não cobria tudo. Gelava por baixo. Fiz um fogo próximo. Nada. Fiz outro do lado contrário. Nada.

         Lá pelas três da manhã não aguentava mais. Não tinha dormido e sempre fazendo foguinho aqui e ali. Não queria dar o braço a torcer com meus amigos e voltar para a barraca. Seria um vexame. Eles riram quando disse que ia dormir ali e tinha de dormir. Quatro da manhã e o frio piorou. Um clarão iluminou a mata. Um trovão abateu em cima de mim. A chuva caiu torrencialmente. Fiquei ali na rede. Tinha dito que ia dormir nela e tinha de dormir. Meus amigos dormiam sono solto na barraca e o idiota lá na rede molhado e na chuva.

         Nunca mais. Nunca mais mesmo iria dormir em uma rede. Não era para mim. A levava sempre, mas para forrar a barraca. Uma rede. É boa para sentar deitar e tirar uma soneca. Mas vá lá dormir em um acampamento de quatro ou cinco noites com o frio a gelar o esqueleto? Deixo para meus amigos escoteiros nortistas. Eles são bons nisto. Até hoje fico pensando porque não acostumei. Mas eu dormia gostoso no chão duro, nas pedras, em cima de pontes, em trilhas, em capim meloso, braquiária, colonião, no meio das samambaias, ou seja, lá o que for. Que chovesse canivete. Mas na rede? Nunca mais!


Boa noite meus amigos e minhas amigas. Que lindas estrelas no céu iluminem seus corações para sempre.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

As coisas belas da vida. Quebra Coco. O último desafio!

Lembranças da meia noite.
 As coisas belas da vida.
Quebra Coco. O último desafio!



                 Acho que o tempo apagou estas lembranças incríveis. Quase não vejo ninguém comentando. Claro, são os novos tempos. Novas músicas. Novas canções e quem se anima a cantar as antigas? Elas devem ter ficado lá ao longe em um passado distante. Nem todos irão lembrar-se como foi e acho que poucos participaram do Quebra Coco na sua simplicidade de um bom desafio. E meu Deus! Como era gostoso cantar e ver os desafiantes, com suas cabeças pensantes, a meditar o que iam dizer. Eu mesmo posso dizer que tentei quando cresci manter a chama do Quebra Coco como o conheci. Acho que não fui feliz. Os jovens não se interessavam mais. Tudo foi mudando, novas ideias novos Fogos de Conselho. Quem diria que naquela época teríamos um animador de fogo? Nunca! Animador? Nem pensar.

               Para dizer a verdade acho que foi quando fiz um ano de lobo foi que ouvi pela primeira vez o Quebra Coco. Estávamos acampados na Vertente do Vale Feliz. Lobos acampando? Risos. Claro, era comum. E porque não? Era mais divertido. Lembro-me do Miúdo (era nosso Baloo, nunca fiquei sabendo seu nome real) e do Munir Boca Grande (nossa Bagheera) a fazer os almoços e jantas e que manjar! Eles eram bons e todos nós em volta ajudando, buscando água, lenha, cantando e contando “pataquadas”. Bons tempos. Já tinha participado de dois Fogos de Conselho. Não sabia como era o Quebra Coco. Foi o Akelá Laudelino Pé de Chumbo quem explicou. Tratava-se de um desafio entre escoteiros. A tropa antes de encerrar o Fogo de Conselho faziam o desafio. No começo todos participavam, mas depois de algum tempo ficavam dois ou três. Os demais não eram bons repentistas.  

              Na tropa era minha diversão favorita nos Fogos de Conselho. Desenvolvi uma facilidade grande em criar versos. Nada dos conhecidos. Isto era para Patas Tenras. Poucos tinham a “audácia” de me desafiar. Já começava cantando assim – “Meus amigos, escutem bem, hoje estou um pouco rouco, mas é bom ficar sabendo, sou o campeão do Quebra Coco” e daí em diante não parava mais. Mas tudo mudou, pois quebraram meu orgulho de cantador. Fomos acampar em Serra Vermelha com uma Tropa da cidade de Rio Grande e foi um desastre. Todos da tropa perguntavam se nós tínhamos bons “cantadores” do Quebra Coco. Apontavam-me e eu ficava todo orgulhoso. Não falaram nada do Mandinho. Um Escoteiro magrelo, desengonçado e achei até que ele era gago. Quando chegou a hora e ele em pé aceitou meu desafio, sorri de leve. “Este estava no papo”.

               Deus do céu! Onze horas, meia noite e o danado lá aceitando todos meus versos e devolvendo em dobro! O Chefe disse que quem quisesse podia ir para as barracas, mas ninguém arredou o pé. Minha cabeça fervilhava, a busca de versos era medonha. Mais de quatro horas e o danado do Mandinho ali com um sorriso simples, sem afetação me colocando no chinelo! – Entreguei os pontos. Fui lá do outro lado à fogueira cumprimentá-lo. Parabéns Mandinho. Perdi mas estou orgulhoso de você! Quase desisti para sempre do Quebra Coco. Mas uma coisa sempre tive em mente, ganhar é bom, mas saber perder é uma arte. Isto sempre nosso Chefe Jessé dizia.

               Os tempos foram mudando. Participei de muitos Fogos de Conselho. O Quebra Coco se tornou saudades de um tempo que já se foi. Outras canções trazidas pelos novos chefes, e ele, o meu amado Quebra Coco ficou na história de um livro que não foi escrito. “Quebra Coco, Quebra Coco, na ladeira do Piá, Escoteiro Quebra Coco e depois vai trabalhar”! Até hoje eu canto com boas lembranças. Se que a origem é nordestina. Deve ter começado com os repentistas esses maravilhosos cantadores que encantam até hoje os que apreciam a música nordestina.

             As lembranças não saem da memória. Na minha varandinha querida comecei a cantar baixinho. Lá é o meu recanto. Onde penso e faço minhas histórias. Sentei na minha cadeira rústica e olhei pela fresta do portão e vi a meninada jogando bola. Uma rua íngreme. Poucos carros. Cada um se diverte como gosta. Cantava baixinho o Quebra Coco. Saudades vem e vão e eu um dos últimos representantes de uma época, vou lembrando como posso dos meus tempos de criança. Quebra Coco, O meu Chapéu tem Três Bicos, A Árvore da Montanha e tantas outras. Onde está meu violão? Acho que as cordas arrebentaram. Preciso comprar novas e ficar na minha varandinha a cantar. Fazer a melodia brotar de novo pelo som do meu violão. Quebra Coco, Quebra Coco, na ladeira do Piá...


Boa noite meus amigos e minhas amigas. Durmam com Deus.  

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Chefe eu não posso ir? Eu gostaria tanto!

Lembranças da meia noite.
 Chefe eu não posso ir? Eu gostaria tanto!



É difícil ouvir isto e não sentir uma dor enorme bem lá no fundo do coração. Uma dor cruel que invade a alma e machuca tudo aquilo que você acreditava quando dizia amar aos seus meninos. Dizem que todos nós chefes somos uns “Maria Moles” quando estamos diante dos nossos jovens. A gente se revolta quando dizem que Escotismo é para ricos. A gente levanta a voz para dizer que não. Que na sua sessão têm pobres eles os muito pobres têm os mesmos direitos que os ricos. Será que você acredita nisto? – “Chefe eu não posso ir”? Existe tristeza maior que ouvir esta frase? Olhe nos olhos do menino, vejam bem lá no fundo se não dá vontade de dizer – Claro que pode. Mas como? Os pais não estão nem aí. Você pediu uma autorização de atividade e eles não assinaram. E agora José? Fazer o que?

Estou lendo uma dirigente regional de lobos falar maravilhas da próxima atividade. Um programa de tirar o queixo, a lobada presente vai se “esbaldar”. Mas lá no final estava escrito – Para participar tem de estar com o registro em dia e pagar a taxa de tantos reais. Pronto. Danou-se! Muitos lobinhos não foram registrados. Taxa? Quem dera os pais nunca irão pagar. “Mali e Mali” recebem para passar o mês. Claro se fosse só isto eu sei que seu coração dava um jeito. Você não ganha tanto, mas sempre tirou do seu rico dinheirinho para eles. E a chefona dos lobinhos estaria certa em exigir tudo isto? Legalmente sim é claro. Mas e o coração dela? Não bate forte para aqueles que ficam sempre na berlinda?

E são tantos os casos que os meninos e meninas não entendem. Os pais deles muito menos. Nada se faz sem o “bendito registro”. Eita burocracia infernal. Condição “sine qua non” para ser do movimento Escoteiro. Errado? Não é, mas que é duro falar para o seu lobo, a sua escoteira, ou guia e maldizer o grupo por não ter feito o “bendito registro”. Chefão! Você não registrou meus meninos? É comadre. Não deu. Tirei metade do meu salário para completar e mesmo assim faltou muito! – Você olha para o chefão e maldiz a você mesmo por ter dito aquilo. Você sabe como é. Sabe que tem registro para os que não podem pagar e quem sabe por desconhecer toda documentação não o fez. E assim vão sumindo na curva do caminho da tristeza, o Jamboree, o Camporee, a Aventura Sênior a Grande Atividade na Floresta de Mowgly e tantas outras.

Errado tudo isto? Claro que não. Lembro-me da quadrinha para ver a previsão do tempo do meu saudoso Chefe Floriano de Paula – Se tens vento e depois água, deixe estar que não faz mágoa, mas olhe se tens água e depois vento, põe-te em guarda e toma tento! É mesmo. Tem-se dinheirinho no bolso deixe andar que não faz mágoa, mas se não tem põe-te em guarda e toma tento. Você é pobre? Danou-se meu amigo. – E ai Chefe, eu não posso ir? Chefe, eu queria tanto ir!  Você vai dizer o que? Ser Chefe é duro mesmo. Você vai para casa se maldizendo por não saber responder aquele menino ou menina que ele não pode ir por causa do rico dinheirinho, por causa da burocracia e da papelada. Você deita e pensa em chorar, mas sabe que não é a solução. A noite inteira aquela pequena frase, aqueles olhinhos molhados, aquela expressão de duvida e não acreditar e ouvir centenas de vezes ele dizer – Chefe eu não posso ir?

Burocracia dos infernos. Desculpe meus amigos. Isto devia ser proibido. Todo menino ou menina deviam ter direitos acima dos deveres burocráticos. Depois falam mal dos antigos que sempre cantam aleluia aos quatro ventos que no passado não era assim. Não era. Registro? Para que? Mas se fosse feito era uma ninharia. Todos podiam pagar e não precisavam engolir que eram pobres. Viagem longa e distante? Cai fora meu amigo. Quase não tinha distrital Diretores e Presidentes para se engrandecer e fazer estas grandiosas atividades de hoje. Que tempo bom. Uma mochila, uma manta, uma muda de roupa íntima, um chapéu, uma pequena ração dividida por todos e lá íamos nós. Rostos brilhantes, canções mil, Bandeiras desfraldadas, uma estrada, um sol a sota-vento, empurrando a carretinha, um vento sul a tiracolo, um riacho de águas geladas, uma canção e a vida sonhada era um presente para cada um. Escotismo Badeniano. Meninos metido a homens dirigidos por homens metido a meninos. Assim se vivia no passado. Não importava se eram Lobinhos ou Escoteiros. Lobo não acampa? Putz! Só hoje. Quantas noites tive de acampamento na Jângal dos meus sonhos? Não tinha “meu pé me dói” de hoje. Ainda bem que nunca vi um menino meu dizer – Chefe, eu não posso ir? E sabe por quê? Ele ia em todos. Ai se ia!


Boa noite meus amigos e minhas amigas. Um bom sono junto aos anjos que estarão ao lado de todos vocês. 

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Eu adoro a calça curta!

Lembranças da meia noite.
 Eu adoro a calça curta!



              Ei! Nada contra de quem gosta da comprida caqui, amarela, cinza, azul, branca, roxa, verde e agora marrom e azul. Nada contra. Mas eu? Eu adoro mesmo a calça curta caqui. Quando visto meu uniforme caqui me sinto bem. Não sei por que. Sinto-me mais Escoteiro. Antigamente, lá pelos idos de 50, 60, 70 e 80 havia uma norma no POR que dizia – Junto aos jovens e em atividades com eles se usa a o caqui tradicional (estava mesmo escrito tradicional). O cinza deve ser usado em cerimonias especiais, atividades sociais etc. Assim aquela norma vale para mim até hoje. Sei que a jogaram pela janela e ela se foi com o vento sul que sopra forte para nunca mais voltar. Novos tempos. Vento moderno.

               Sei que muitos hoje e até naquela época tinham vergonha da curta. Aqui e ali alguns com a comprida caqui. Bem não era o meu caso. Nunca tive vergonha. Claro hoje vejo fotos de Baden Powell (BP) sempre de calças curtas nunca vi nenhuma foto com ele usando a comprida (estilo inglês podem me dizer) e me orgulho de ter feito o mesmo. Mas já me condenaram aqui por me arraigar nesta fútil ideia de manter uma tradição que não tem valor para eles. Claro. Respeito. Tradições? Bah! Fora tradições. Mas insisto, eu adoro e sempre adorei minha calça curta. Quantas peripécias passei com ela. Mas as alegrias superaram. Chegar a uma cidade, com o grupo, com a tropa ou com a Patrulha o andar ereto em frente, sorrindo e vendo todos nas portas, janelas a admiraram aqueles esbeltos escoteiros (risos eu não era assim tão esbelto) a desfilarem, (Puts! Agora proibiram) bandeiras ao vento! As meninas nos vendo apaixonadas. De onde São? Olhe aquele ali, lindo! Era eu! Risos.

              Claro, sempre provando a mim mesmo que enfrentaria multidões ou o que seja com ela. Um dia fui para a sede. A pé. Tinha a minha bicicleta. Era fácil ir pedalar. Mas como eram somente seis quarteirões porque não desfilar a pé? Fazia isto sempre (hoje se escondem em um automóvel e alguns nem o lenço colocam só na sede. Mas eles podem agora. É moderno). Ao passar em frente à Padaria do Osmar alguém gritou! Que belas pernas! Dez pratas para quem passar a mão! Engrossou! E agora? Dezessete anos, metido a valente, faca de um lado, machadinha pequena de outro. Um verdadeiro pistoleiro do oeste. Mão na cintura gritei! Qual o FDP que se habilita? Quem vai ser o primeiro? Risos. Ninguém. Nunca mais falaram nada.

              A calça curta para nós era sagrada. Nossos chefes sempre usaram. Sempre eles são nossos exemplos. Hoje até dirigentes nacionais se vestem com o tal traje e participam de tudo. Um lenço no pescoço e uma camiseta qualquer. Exemplos? Claro. Quem os vê assim aprenderam e vão ensinar a todos a nova moda. Risos. E ainda me dizem que é barato simples e fácil de fazer. Mas e daí? Aumentou o número de escoteiros por isto? E interessante, só vejo a maioria jovens e escotistas classe media usando. Principalmente em Jamborees, acampamentos nacionais e internacionais onde se paga uma pequena fábula para ir. Os humildes, os sem nada que nunca vão a estas atividades sonham em vestir um uniforme completo. Mas estou falando da calça curta. Desculpem. Saí do rumo. Perdi minha bússola prismática da minha lide “caqueana”. Vamos voltar ao percurso de Gilwell aqui comentado.

             Uma vez acampamos em Baixo Guandu. Um grupo começando. Mais de trintas jovens escoteiros. Esperavam-nos na estação. O trem chegou, olhamos espantados para eles, eles olharam espantados para nós. Eles de calça comprida. Todos. Nós de calça curta. Todos. E aí? Um Monitor me procurou. Por quê? Você curto e eu comprido? Não sei meu amigo não sei. Aprendi assim, nosso grupo é antigo. Sempre manteve as tradições. Fomos para o campo. A noite todos eles estavam de calças curtas. Risos. Arrumaram uma tesoura e picotaram a pobre da calça. Deus me livre!   

            Minha calça curta dos velhos tempos! Adoro você! Estranho até hoje quando vejo alguém de comprido caqui. Cinza até que vá lá. Mas como dizem os filósofos, tudo não passa de um hábito de comportamento e gosto não se discute. Aprendeu assim fará assim. Em breve estaremos todos de marrom e azul. Todos não. Eu nem morto. Eles quem sabe estarão de chinelos ou sem meias, com lenço ou sem lenço, o calçado hoje pouco importa. Cobertura? Será a critério de cada um. Pode ser um chapéu de cowboy vermelho vivo! Seria lindo, tudo colorido como se fosse um belo arco íris e com uma linda pena amarela de papagaio. Cacilda. Lá estou eu de novo a criticar e centenas a defender. Não tenho este direito, sou um "Velho" Escoteiro chato, gagá e aposentado. Mas acreditem, não importa. Quando eu me for São Pedro que me aguente, chegarei lá de calça curta e chapelão. Risos. Se não me deixar entrar mando chamar Baden Powell. Ou melhor, poderei dizer – “Sabe com quem está falando”? Mas eu juro a vocês, se eu vivesse mais cem, duzentos ou trezentos anos eu estaria envergando a minha linda, a minha gostosa, a minha deliciosa, a minha espetacular, a minha grandiosa, a minha imponente, a minha majestosa, a minha divina a minha linda muito linda calça curta!


Boa noite meus amigos e minhas amigas. Uma excelente noite. Durmam bem.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Engana-me que eu gosto.

Lembranças da meia noite.
 Engana-me que eu gosto.



Consegui neutralizar os fazedores de sonhos impossíveis. Sempre lá na minha página e no meu e-mail a me oferecer carros, motos, dinheiro, ilusões lindas, tudo de graça. De graça não. Eu deposito ou compro um bilhete por uma ninharia e ganho tudo! O pior é que no meio dos fazedores de sonhos impossíveis, tem gente de uniforme. Eles acreditam nisto? Virgem Maria. E são escoteiros. Bem assim eles se apresentam. Sem ofensas a ninguém é claro, mas um bom Escoteiro joga limpo. Sabe que não existe almoço grátis. Se ganha tem de jogar, se joga tem de pagar, se paga pode perder também. Chamamos isto no escotismo de ética escoteira. Gritamos aos quatro ventos que o país precisa de ética. E nós? Não precisamos também? Já bastam algumas atitudes de nossos dirigentes que acreditam piamente que estamos de acordo com tudo que fazem. Escreveram aos quatro ventos que o tal traje novo (são dezoito ou dezenove, um número para ninguém botar defeito) continuando, disseram que tudo foi feito abertamente, que milhares foram consultados, que nada foi escondido. Engana-me que eu gosto!

Tem hora que eu quase desisto. Uma invasão de almas boas chegou ao nosso movimento. Aqui encontraram um manancial para alavancar suas vendas. Querem vender de tudo. Anunciam sua boa fé, seus preços baixos, seus produtos estupendos. E os fabricantes de camisetas com dizeres escoteiros? Fico preocupado. Preocupado mesmo se não tem Grupos Escoteiros onde algum Chefe não está lá fazendo do escotismo o seu negócio. O seu ganha pão. Errado isto? Sei que para alguns sim para outros não. Eu não concordo. Escotismo para mim nunca foi uma forma de ganhar dinheiro. Em qualquer atividade que me metia que havia pagamentos fazia questão de sacramentar na semana seguinte um relatório pormenorizado com um balancete e anexo todas as notas fiscais.

Mas como dizem que tudo está mudando quem sabe montar um Grupo Escoteiro seja um bom negócio para alguns. Que seja. Que ganhem escoteiramente seu rico dinheirinho. Afinal de contas a UEB está aí com seu novo uniforme faturando alto. Ops. Dizem que não. Dizem que ela está na base de toma lá dá cá. Não tem lucro. Pode ser. Coitada da turma do Azul Mescla. Pagaram o pato nas mudanças. Tem tempo para incinerar tudo e gastar na compra do novo. Olha ninguém pode mandar fazer, assim me disseram. Tem de ser com os “homes” da UEB. Se fosse eu combinava com todos do grupo para mudar para o caqui e um belo dia fazer um belo fogo de conselho com o desprezado e mandava uma cópia da foto para a UEB! E as favas com um traje ou uniforme que não diz nada. Só o orgulho dos inventores que depois de mil alegações e um espetáculo teatral na apresentação estão rindo a toa. Pudera afinal o Escoteiro não é obediente e disciplinado? Sei não. Dizem por aí que enquanto houver um pônei São Jorge não anda a pé!


Boa noite meus amigos e minhas amigas. Amanhã sábado uma esplêndida atividade escoteira. E alô! Não se esqueça do abraço e dizer a cada um – Meu amigo, eu gosto de você, sabe, você é muito importante para nós. Durmam bem! 

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

O estranho funeral do Chefe Gafanhoto ou a Saga de uma Saudade?

Lembranças da meia noite.
 O estranho funeral do Chefe Gafanhoto ou a Saga de uma Saudade?


Um frio de oito graus. Sentado na excelente e charmosa sala de espera do Posto de Saúde cujo ar refrigerado estava excelente (poucas pessoas um milagre) e esperando a chamada da enfermeira linda e simpática, minha mente fervilhava. Eu gosto dela. Da minha mente. Ela pensa e isto me anima. René Descarte um grande filosofo já dizia que se penso, logo existo. Portanto enquanto chamavam um e outro educadamente eu pensava. Meu amigo, eu dizia para mim, não está na hora de escrever o seu terceiro livro? Pensei e pensei. E porque não? Lembrei que andava sem ideias. Lembrei que meu último terceiro livro estava com setenta folhas e inacabado. Como era o nome dele? Lembrei. A Saga de uma Saudade. Quando comecei as ideias fervilhavam. Seis irmãos apaixonados pela mesma mulher através dos tempos. Durante anos se matavam, eram presos, alguns enforcados e nunca ninguém conseguiu ficar com ela.  Havia um ódio profundo um do outro. Agora irmãos e Escoteiros a mulher amada apareceu como uma guia escoteira e colocada na patrulha deles. Todos sonhando com ela. A briga começou. A mãe deles desesperada. A menina com medo começa a lembrar de suas encarnações anteriores. Foge e sem perceber é seguida por um deles. Pluf! Parei de escrever, as ideias sumiram. Seis meses sem escrever.

Mas hoje, congelado em uma cadeira de um posto de saúde outra ideia surgiu. Comecei a pensar a martelar. Esqueci porque estava ali. Não ouvia nada nem o zum, zum dizendo que a Dilma era uma grande presidenta.  Supimpa! O nome da história do meu novo livro surgiu como um passe de magica. O miolo da história apareceu. Seria meu livro um novo Best seller? Não sabia, mas precisava começar. Lá estava o titulo – “O estranho funeral do Chefe Gafanhoto”. Uma cidade pequena, ele um líder desde pequeno, tinha um brilho especial nos olhos. Andava como um rei. Todos o admiravam e tinham medo dele. Mas era um Chefe Escoteiro. Dos melhores. Todas as moças correndo atrás e ele escolheu uma empregadinha de fazenda. A cidade riu e esnobou as moçoilas. A escoteirada batia palmas. Trinta anos de fatos, aventuras, e por fim Pedra Azul chegou a se orgulhar por ter seus filhos queridos quase todos passados pelas fileiras escoteiras. O prefeito foi. O Juiz foi. O delegado foi. Tudo graças ao Chefe Gafanhoto. Como todos um dia morrem ele morreu também. Seu funeral aconteceu fatos fantásticos. Ninguém acreditava no que via. Alguns riam, outros choravam. Pedra Verde conheceu o maior funeral de todos os tempos!

– Cheguei em casa animado e cantarolando. Liguei o micro correndo. Pluf, plaf, pluf, plaf. Os dedos escorregavam. Uma página, duas, cinco, oito, quinze e parei. Parei para almoçar. Voltei à tarde, mais... Meia página. Meia? Isto mesmo. E as ideias que estavam à flor da pele? Ah! Gafanhoto me ajude, por favor, esta noite. Não posso parar. Meu terceiro livro tem de sair. Tem de ser melhor que a Patrulha da Esperança. Será? Agora estou murcho de ideias. Sumiram? Não sei. Vamos ver amanhã. Peço a Deus que não seja o terceiro que não houve. A Saga de uma Saudade ficou na história que ainda vai ser contada. Quem sabe um dia vai. E a história do Chefe Gafanhoto? Se conseguir escrever mais oito páginas amanhã o livro poderá surgir. Vamos ver. Quem viver verá! Risos. Sabem do meu medo? É mudar para o primeiro. Afinal se tenho dois iniciados devo decidir por um deles. Decisões? A minha mente é quem manda!

Boa noite meus amigos e amigas. Uma linda noite, uma sexta feliz e um fim de semana espetacular. Durmam bem.