Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Quando termina a motivação Escoteira.


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Quando termina a motivação Escoteira.

                     O escotismo como qualquer associação onde voluntários se interagem, é comum haver falta de sintonia levando muitas vezes o voluntário pedir demissão e na maioria dos casos nunca mais voltar. Aqui mesmo e nos meus e-mails recebo relatos de chefes que passam por isto. É difícil aconselhar. Cada caso é um caso. Quem não passou por esta fase? Tem hora que você desanima. Dá vontade de largar tudo e sair por ai. Outros ainda insistem, mas sabem que o caminho que estão seguindo não leva ao sucesso. Se procurarmos um serviço de autoajuda teremos vários. As belas frases de efeito pululam por todos os lados. Nem sempre palavras somente ajudam. Aquela motivação quando entramos agora não é mais a mesma. O escotismo é interessante. No início tudo são flores, sorrisos, promessas, alguns até deixam as amizades que tinham em troca de novas que conquistaram. Nos primeiros meses, e até nos primeiros anos aqueles mais chegados se espantam com tanto carisma, com tanta demonstração de alegria que ele acredita ter alcançado um novo patamar de uma nova vida. Eles dizem que agora tem uma nova filosofia de vida. Seria assim mesmo?

                  Muitos grupos tem estrutura arcaica e na sua maioria dirigida por um líder que ficam anos e anos no poder. Se ele este líder não sabe liderar e se for daqueles que pensa se insubstituível ou mesmo acreditando ser melhor, então é difícil extirpar o mal, se é que existe algum mal. Na maioria dos grupos bem estruturados existe uma democracia consistente onde um Conselho de Chefes realizado mensalmente, aparam arestas e isto traz a paz e a continuidade. Mas quando o líder se acha dono da verdade então é muito difícil. Dizem os poetas que o que mais sofremos no mundo não é a dificuldade, é o desânimo em superá-la. Não é a provação, é o desespero diante do sofrimento. Não seria o fracasso e sim a teimosia de não reconhecer os próprios erros.  Eu já passei por isto. Inúmeras vezes. Os problemas são diversos e não é fácil superar. Não temos só o escotismo como meio de vida, temos nossa família, nossa atividade  profissional e até amigos fora do escotismo. Então aparece a falta de ética, de amor, de sinceridade, transparência e lealdade dos que se dizem irmãos de todos. Nesta hora sentimos que a falta de entendimento nos dá vontade e que vontade meu Deus de encontrar um buraco e se enfiar nele. Claro tem os mais fortes. Eles não transmitem para ninguém seus desânimos. São fortes. Enfrentam aqueles que se julgam donos da verdade. Mas até quando?

                 Se notarmos bem a matemática Escoteira é simples. Trinta e poucas reuniões por ano. Somando as reuniões de sede, acampamentos e excursões quem sabe podemos chegar ao máximo há quinhentas horas anual. Pensemos que na maioria das vezes temos nove meses de atividade, pois muitos têm férias em julho, dezembro e janeiro. Se eu estiver certo dedicamos cerca de vinte dias por ano ao escotismo. Claro que tem aqueles mais abnegados com o dobro de horas doadas ao Movimento Escoteiro. Para uns uma eternidade para outros muito pouco. Mas porque então o desanimo? Penso que existem vários motivos, mas para mim o principal deles é a decepção com o ser humano. Quando começamos pensamos que o escotismo é um mar de rosas, que a Lei e a Promessa são levadas a sério por todos que participam dele. Muitos se dizem líder, mas isto nem sempre acontece. Liderar é saber ser liderado e isto não é tão fácil. O pior são aqueles déspotas, que com o tempo a gente se sente ameaçado por uma força opressora e que pensávamos ser amigo e irmãos dos demais.

                Faz-nos muita falta um aperto de mão carinhoso e sincero. De um abraço fraterno, de um sorriso gostoso de uma palavra de carinho principalmente daqueles que convivemos em ambiente que achamos ser a nossa segunda família no grupo Escoteiro. Tem aqueles que nos olham como se fossemos parte do todo, indispensáveis em todos os sentidos, mas nem sempre é assim com a maioria. Uns poucos nos veem como indesejáveis, subservientes, dispensáveis, e se pudesse diriam: - Vocês estão aqui para servir e mais nada! E então vem aquele desanimo aquela vontade de sumir de mandar todo mundo às favas. Nem sempre fazemos isto. O nó na garganta demora a desaparecer. A promessa que fizemos nos atou nos sonhos escoteiros. Insistimos e alguns dão a volta por cima, mas outros não conseguem. Um dia ele vai embora. Afinal ele pensou que o escotismo seria uma fraternidade e não foi. Quem sabe está aí um dos motivos da grande perda que temos de adultos que estão nos ajudando como voluntários, mas foram desconhecidos como tal.

                  Dizem que nosso movimento é obediente e disciplinado. As diretrizes nos são impostas pela associação de maneira quase sempre ditatorial. Nunca somos consultados e sempre exigidos. A liderança se acha dona da verdade seja ela nos mais altos escalões ou até mesmo na unidade Escoteira. Muitas vezes somos ameaçados, somos exigidos e nada vem em troca. A associação peca por não valorizar o voluntário. Ela sabe que é um trabalho enorme participar e acredita que está lidando com funcionários pagos, esquecendo mesmo a boa cidadania e as boas relações humanas que deviam existir entre um e outro. Somos voluntários para tudo. Para organizar uma sessão, um grupo, correr atrás para suprir necessidades e no final das contas gastamos do próprio bolso para nos mantermos na ativa. Isto tem reconhecimento? Que eu saiba não. Dizem que a culpa é nossa por não sabemos agir, não aprendemos a verdadeira técnica de direção. Os cursos nem sempre dão o que se espera. Claro alguns deles são bons outros não. Taxa elevada e para o voluntário com família a sustentar é difícil. Dizer que o grupo paga é uma utopia sem tamanho para um grande número de grupos escoteiros.

                       Seria tão bom se fossemos realmente o que preconiza o escotismo. Uma fraternidade sem igual onde o sorriso encanta a todos. Onde se acredita em um aperto de mão sincero, onde o abraço é um amigo acolhedor, onde alguém diz que somos importantes para o grupo e agradece nosso trabalho. Quem sabe o conforto sem burocracia de um agradecimento maior sem necessariamente ser uma condecoração? Quem sabe receber da região ou da UEB uma cartinha no dia do nosso aniversário? Uma vez por ano os nossos lideres nos desejarem feliz natal e prospero ano novo? Quem sabe no final dizer que somos importantes e que conta conosco? Será que não nos falta cursos de relações humanas? Afinal temos ou não uma estrutura fraterna onde o respeito e o amor acontecem?


                     Eu costumo dizer que devemos lutar pelo que acreditamos. Mas nem todos tem a mesma maneira de pensar. A estrada Escoteira é cheio de pedras e espinhos o que não deveria ser. Sem alguém para nos dar apoio é difícil prosseguir. Acreditar que vivemos entre irmãos Escoteiros. Muitas vezes estamos nos enganando. Seria bom pensar que a amizade e fraternidade existem que vivemos em uma associação onde os superiores são irmãos de ideal. Que o sorriso fizesse parte sem um desdém que muitos preferem. Sei que não há solução mágica. Mas sem o primeiro passo da Direção Nacional valorizando os voluntários, nunca iremos chegar lá. Este nó górdio que nos atrapalha, que nos faz desistir tem de ser desmanchado. Sei que a maioria não precisa disto. Estão em bons grupos e ali se sentem realizados. Isto é bom, mas existe um grande numero que não é assim. Quem sabe um dia vamos mudar que tudo será um lindo Arco Iris colorido. Enquanto isto não acontece, vamos vivendo e deixando viver. Queira ou não o escotismo ainda é um amor que nunca morrerá em nosso coração.

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