Crônicas de
um Velho Escoteiro.
O que seria
Escotismo Moderno?
Daqui a dois dias iremos entrar em
2015. Muitos esperam que ele entre em uma nova fase e quem sabe em um novo
mundo. Torço que isto aconteça no Movimento Escoteiro. Principalmente agora que
só se fala em Escotismo Moderno. Muitos discutem, propagam as vantagens de ser
moderno e alardeiam as mudanças que se fizeram acontecer. Agora é esperar os
resultados na educação do jovem dentro do método Escoteiro. Afinal, o que é ser moderno? Eu gostaria mesmo que um
dirigente fizesse um artigo sobre isto. Que ele dissesse os resultados que
estão acontecendo, que estamos crescendo e que em pouco tempo seremos
reconhecidos também como um movimento de educação e formação de jovens. Sabemos
que isto pouco aconteceu até hoje. Seria este o objetivo? Já somos modernos a
ponto de dizer que a peleja começou e os resultados são enriquecedores?
Eu me divirto às vezes com o
que leio, com as explicações fornecidas e gostaria mesmo de ver os resultados.
Augusto Cury me diverte comentando que as sociedades modernas se tornaram
grandes hospitais psiquiátricos onde o normal é ser doente. Verdade? Pensemos
no Movimento Escoteiro. Lideres de várias estirpes assumiram a liderança e vem ano
a ano fazendo mudanças em nome da modernidade. Citam que elas são necessárias
para uma melhor compreensão do escotismo e suas finalidades na formação do
jovem. Pensei que isto estava claro com o método que BP nos deixou e que
poderia até haver adaptações, mas sem fugir ao principal que é a formação do
caráter pelas atividades feitas ao ar livre. Muitos destes lideres se ressentem
com o passado e eu me pergunto por quê. Quem sabe não tiveram uma infância
Escoteira feliz? Não puderam se aventurar pelas estradas, montanhas, vales a
procura de aventuras? Não os censuro. Discuto sim que meia dúzia possa decidir
sozinho o que é ser moderno e implantar novos programas, distintivos,
nomenclaturas, uniformes e outros mais. Ninguém discutiu com os grupos se eles
achariam que devíamos mudar. Simplesmente tomaram a iniciativa e pespegaram nos
papeis o que seria "dora" em diante. Alardeiam eles que estamos
crescendo. Onde? Temos mais de 85.000? Boa esta. Ainda somos o maior país da
America do sul e o sexto em efetivo Escoteiro. E olhe que fomos uns dos dez
países que começaram o escotismo em 1910.
Será que somos ultrapassados
por fazer acampamentos como se fazia em Giwell? Berço do adestramento mundial
Escoteiro? Porque usávamos com orgulho o Caqui e o Chapelão? Somos
ultrapassados porque não tínhamos a parafernália eletrônica que os jovens hoje
possuem? E os cursos de formação estão dando o resultado esperando na formação
de chefes? Não adianta dizer que sim sem uma pesquisa clara nos objetivos
propostos. Pesquisa, consultas e transparências são tabus para os nossos
lideres. Não comentam a alta rotatividade entre adultos e jovens ano a ano. Alguém
conhece alguma pesquisa feita com os que saíram do movimento o motivo real da
sua saída? E os jovens? Quantos chefes foram as suas casas saber a real verdade
do porque não vão mais as reuniões? Afinal é norma que os pais dêem o aval para
a entrada no Grupo Escoteiro e eles também não deveriam dar o aval na saída de
seus filhos? Não seria bom saber por que eles não querem mais ser Escoteiros? Palavras
sem transparência, sem liberdade, sem consultas as bases não significam nada. É
a opinião de meia dúzia que com a anuência de outros poucos alardeiam que as
mudanças foram feitas em nome da modernidade e o nosso movimento Escoteiro já velho
e ultrapassado (?) precisava disto.
Não discuto a modernidade que
fazem para nos apresentar junto à sociedade brasileira como um movimento
educacional, respeitado e visto como uma fonte de excelente colaboração na formação
dos jovens. Dizem que antes estávamos mal representados com uniformes desiguais
e que muitos jovens chacoalhavam o caqui dizendo que éramos militares.
Alardearam que com a nova vestimenta teríamos uma enorme procura dos que ainda
não foram Escoteiros. Agora sim, somos modernos. Temos novo programa, temos
novos distintivos, nova nomenclatura e a apoteose de uma nova vestimenta que
foi apresentada em espetáculo bombástico. Ninguém sabia e ninguém foi
consultado. Foi simplesmente postada como a salvação do escotismo moderno. Dezenove
tipos a escolher. Dezenove? Nunca vi isto em nenhuma organização. Virou uma
verdadeira torre de babel. Cada um escolhe o que quer. Quando em reunião de
tropa de distrito ou mesmo um Jamboree os que conhecem o valor do movimento
ficam estarrecidos. Qualquer cobertura serve. Cada um veste como gosta. No
final só a cor é igual. Até hoje me faço à pergunta: - quem foi consultado para
a mudança? Quantos estados deram seu aval? Dizem que em São Paulo foram muitos.
Moro aqui e só fiquei sabendo de meia dúzia. Pergunto ainda porque esconderam,
porque não discutiram nas Assembleias, porque pelo menos não foi apresentado
antes nestes eventos?
Eu não discuto o escotismo moderno e não sou
contra. Sou contra de meia dúzia decidir por muitos. Dizer que estão cobertos
pelas normas Escoteiras para mim é supérfluo. São normas que foram feitas por
eles. Sabiam que as decisões quanto tomadas e quando as eleições acontecem não
passam de 0,5% do nosso efetivo a decidir por todos? Certo? Bem se concordam
porque estes 0,5% foram eleitos por nós nada posso dizer. Conhecem-se os
estatutos sabem como se chega lá e quem já tentou sabe que não é nada fácil.
Amigos meus que dão razão ao
que vem acontecendo na nossa alta direção dizem que todos ainda podem armar
suas barraquinhas, construir do próprio punho seu conforto no campo, escalar
montanhas, pensar em ser como os grandes exploradores do passado. Verdade
mesmo? Isto faz parte do Moderno de hoje? Volto à pergunta que não quer calar –
Porque então os jovens não ficam em sua maioria mais de um ano nas fileiras
Escoteiras? Afinal já somos modernos e não deveríamos agradar? Quem sabe vai
agradar aquele que não fala sim senhor e não senhor? Quem diz à família que vai
para a balada e não sabe quando vai voltar? Que exige roupas de marca, celular
da última geração, no ônibus de olho no celular nem vê um idoso ou uma senhora
com criança que poderia ocupar seu lugar? Não vou generalizar. Sei que muitos
chefes estão fazendo tudo para mostrar a eles a chave do sucesso – Boas ações,
educação, caráter, ética e transparência nos seus atos.
Sei que o destino não vai
mudar a mentalidade dos dirigentes. Eles impõe a todos o que querem, nunca
consultam. Aproveitam dos novos que entram para mostrar o seu novo escotismo
moderno, não fazem pesquisas nos grupos escoteiros, não há transparências, a oposição
é tratada como indisciplina e nunca querem discutir temas que muitos gostariam
de colocar quando das Assembleias indabas e fóruns. Pensemos em 2015. Quem sabe
no relatório de 2014 já estamos próximos do cem mil Escoteiros no Brasil. Quem
viver verá!
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