Conversa ao
pé do fogo.
A origem das
Contas de Madeira.
A
origem das pequenas contas de madeira está envolta num misto de história e
lenda, romantizada por estórias passadas de década para década. Embora haja
dúvidas quanto à veracidade de alguns acontecimentos frequentemente relatados,
o certo é que estas contas não são umas contas quaisquer.
Isiqu, a “medalha” dos
Zulus
Os relatos mais antigos remontam
ao tempo de Shaka kaSenzangakhona (1787-1828), o famoso rei que transformou
várias tribos dispersas da África do Sul na imponente nação Zulu. As suas
tácticas militares inovadoras e a alteração que fez no armamento dos seus
guerreiros, permitiram-lhe criar um exército impressionante, organizado,
disciplinado e eficiente.
Os mais bravos, tendo
protagonizado feitos em batalha merecedores de destaque, eram “condecorados”
pelo rei Shaka, em cerimónias públicas, com colares feitos de contas de madeira
- os “isiqu”. A madeira destas contas, amarelada, provinha de um salgueiro
selvagem (Salix mucronata), a que os indígenas chamavam “um-Nyezane”,
considerada “real” e para uso exclusivo do rei Zulu. Após a morte de Shaka, a
tradição ter-se-á mantido.
Alguns historiadores sugerem que
as contas seriam confeccionadas pelos próprios guerreiros distinguidos,
originando colares “isiqu” de aspecto diferente, mas com um traço comum:
encaixadas umas nas outras, perpendicularmente. Os colares de contas são muito
utilizados na cultura Zulu, ainda hoje, sendo usados materiais naturais tais
como madeira, sementes, marfim ou osso.
Em 1999, foi construído um
monumento em bronze, em Isandlwana, na África do Sul, em memória dos Zulus que
tombaram naquela sangrenta batalha de 1879 contra o exército britânico. A
estátua representa, precisamente, um “isiqu”.
Dinizulu.
Dinizulu kaCetshwayo (1868-1913)
era sobrinho-neto de Shaka e filho de Cetshwayo (o último rei Zulu reconhecido
pelos britânicos). Depois da Guerra Anglo-Zulu de 1878-79, os britânicos
acabaram com o reino Zulu e dividiram a Zululândia em 13 distritos, cabendo um
destes a Dinizulu, herdeiro do trono, que não tardou começar a “conquistar”
pela força das armas outros distritos, pretendendo assumir-se como rei dos
Zulus. Desavenças com mercenários Bóeres que ele próprio contratou e com os
britânicos a quem, entretanto, pediu ajuda, levaram a que fosse procurado por
tropas britânicas enviadas pelo Governador da Província do Natal, em 1888.
Baden-Powell foi escolhido para oficial do estado-maior das tropas comandadas
pelo Major McKean, que perseguiriam Dinizulu.
A lenda
do colar de Dinizulu
Diz a “lenda”, entre os escoteiros,
que foi o próprio Dinizulu quem ofereceu o colar a BP. Esta versão foi passada
pela associação escotista inglesa, a partir da década de 50, devido ao embaraço
causado pela versão anterior, segundo a qual B-P ter-se-ia apoderado do colar,
abandonado por Dinizulu numa cabana especialmente preparada para ele.
Quando B-P chegou a uma zona de
penhascos, bastante arborizada e com cavernas, chamada “Ceza Bush”,
identificada como baluarte de Dinizulu e dos seus homens, já estes tinham
escapado para a República do Transvaal. Os britânicos só encontraram cavernas
abandonadas e cabanas queimadas, numa das quais B-P terá - segundo contou ele
próprio em 1925 - encontrado o colar “isiqu” de onde provieram as primeiras
contas da Insígnia de Madeira. Dinizulu entregou-se 3 meses mais tarde ao
Governador do Natal, em casa da família Colenso, que apoiava a causa Zulu.
No seu livro “Lessons from the
Varsity of Life” (1933, capítulo V - Zululândia), BP. relata o incidente em
“Ceza Bush”, mas não faz qualquer referência ao colar “isiqu”. Curiosamente,
nesse mesmo texto, conta como se apoderou de um colar de contas de uma moça
Zulu que foi atingida por uma bala perdida e faleceu durante a noite, mesmo ao
lado de B-P. Nos diários onde Baden-Powell descrevia detalhadamente todos os
pormenores da sua vida, também não foi feita nenhuma referência ao colar.
Certo é que B-P nunca conheceu
Dinizulu. Se o colar “isiqu” que B-P levou para Inglaterra era m Formato das contas;
As contas que hoje ostentamos nos
nossos colares da Insígnia de Madeira, são um pouco diferentes das primeiras.
Estas tinham um formado mais delgado na zona onde passa o fio de couro, para o
encaixe entre elas.
A “falha” nas extremidades é
natural. Ao fazer os cortes em “V” nas extremidades, que seriam queimados, o
interior do cerne da madeira de salgueiro desfazia-se, dando origem às pequenas
“falhas”, características, também em “V”. Algumas das contas que são produzidas
hoje em dia, não trazem estas pequenas “falhas”, sendo os cortes apenas
pintados, e não queimados, exceto na zona da “falha”, que fica da cor da
madeira.
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