Lendas
Escoteiras.
A solidão de
Maria Thereza.
- A solidão de uma criança
é diferente das nossas Chefe. Nany uma chefe Escoteira é quem me dizia. Fiquei
pensando se era verdade. Mas solidão na mente de cada um de nós não difere de
outra a não ser o motivo dela acontecer. Os poetas e os entendidos dizem que a
solidão é um sentimento no qual uma pessoa sente
uma profunda sensação de vazio e isolamento. A solidão é mais do que o
sentimento de querer uma companhia ou querer realizar alguma atividade com
outra pessoa não por que simplesmente se isola, mas por que os seus sentimentos
precisam de algo novo. Até que concordo com esta explicação. Mas voltando a
Nany Escoteira ela me contava a pequena epopéia de Maria Thereza. Epopéia? Nem
sei se podia chamar de saga, aventura ou desventura. Como sofreu aquela menina.
Ainda bem que um dia ela entrou para as Escoteiras. Não vou dizer que sua vida
mudou, mas ajudou a suportar o que a vida lhe reservava.
- Posso lhe garantir Chefe
que Maria Thereza amava a sua mãe. Seus olhos brilhavam quando estava junto a
ela. Infelizmente e não sei por que Dona Carlota nunca ligou para sua filha.
Não a proibia de nada e quando disse que ia ser Escoteira virou de lado lendo
um livro e nem tocou mais no assunto. Eu não esqueço o dia que ela chegou ao
Grupo Escoteiro. Triste, taciturna, nenhum sorriso e mesmo sendo apresentada a
patrulha não disse nada. Se interessou ou não ninguém pode dizer até hoje. Eu
mesmo Chefe fui algumas vezes a sua casa e conversei com Dona Carlota. Quer
saber? – Ela nem nos meus olhos olhava. Para a patrulha Maria Thereza não era
um estorvo, mas a continuar com aquela seriedade, com a falta de ambição em
fazer as provas e mesmo nem perguntar quando poderia vestir o uniforme fazia
dela a única que nunca se entrosou com nada.
- Pois é Chefe, teve um dia
que a mãe dela apareceu por lá. A reunião estava calma, ninguém conversando
alto e ela chamou de longe sua filha. Maria Thereza sorriu. Que sorriso. A patrulha
e a tropa nunca a viu sorrir assim. Sua mãe ali? Deve ter pensado. Mas ela
ficou pouco tempo. Só avisou que ia viajar e iria ficar uma semana fora da
cidade. Saiu sem mesmo abraçar sua filha. Eu pensei Chefe que depois daquele
dia ela não ia mais voltar no grupo. Só disse para ela que se quisesse ficar lá
em casa enquanto sua mãe estivesse fora, seria um prazer para mim. Maria
Thereza não disse nada. Vi que seus olhos estavam vermelhos. – Sabe Chefe, eu
pensava que não poderia haver uma mãe assim. Quando a reunião terminou e fui
para casa notei que Maria Thereza estava
atrás de mim. Parei e dei a mão para ela. A princípio ela assustou, mas depois
apertou minha mão com força. Minha mãe a abraçou quando chegamos. Meu irmão que
já era um sênior deu a ela as boas vindas.
- Chefe ela se modificou
por completo naquela semana que ficou em minha casa. Acredito Chefe que ela
queria ter atenção, amor, abraços e sorrisos o que não tinha em sua casa. Minha
mãe, Marcus e eu fazíamos tudo para ela ser feliz. Sua mãe ficou três semanas
fora. Maria Thereza neste período nem se lembrava dela e se preparou para as
provas como nunca. Logo me disse pronta para fazer a promessa. Pediu-me para ir
a casa dela e na volta me deu duzentos reais. – Para o uniforme Chefe! De sua
mãe ou seu? Eu perguntei. Minha Chefe, minha mãe me deu para gastar quando
quisesse. Era muito para o uniforme e devolvi depois o que sobrou. No dia de
sua promessa sua mãe chegou. Foi a sede para buscá-la. Expliquei o que ia
acontecer e a alegria de sua filha que tinha mudado. – Bem ela disse, avise a
ela que cheguei e estou em casa. Achei aquilo um absurdo. Ela ia saindo e a
segurei pelo ombro. Falei tudo que tinha de falar. Dona Carlota se assustou.
Parou e me olhou com os olhos húmidos.
- Sabe Chefe Nany, desde
que Maria Thereza nasceu que fiz tudo para não ser uma mãe amorosa, para que
ela não se apegasse a mim, pois eu tenho um câncer, isto já faz doze anos.
Posso morrer a qualquer momento. O que seria de
Maria Thereza quando eu morresse? – Pensei bastante e olhe Chefe, eu não
sou psicóloga e nem sei nada sobre isto. Só disse para ela: - Dona Carlota,
hoje é um dia que Maria Thereza se preparou como nunca. Se a senhora morrer
pelo menos dê a ela uma alegria de estar presente. Eu não entendo nada disto,
mas se a senhora amanhã se for, que ela tenha uma lembrança de uma mãe que a
ame e não que a despreza! - Dona Carlota
começou a chorar. Nesta hora Maria Thereza viu sua mãe e veio correndo.
Abraçou-a, a beijou a acariciou. Falou coisas lindas com sua mãe.
- Chefe meu amigo, parece
que uma luz do céu desceu ali no pátio e os anjos fizeram coro em uma canção de
amor. Não sou espiritualista, mas vi um clarão azulado protegendo mãe e filha. Eu
mesmo nunca vi um abraço como o de Maria Thereza e Dona Carlota. Se o mundo
mudou para mãe e filha eu posso garantir que sim. Nunca mais vi Maria Thereza
sozinha, taciturna e triste. Transformou-se por completo. Hoje ela é monitora
na Tropa Sênior. Dizem que é a guia que mais distribui sorrisos. Eu Chefe fico
pensando. O que um amor filial pode fazer? Ela não sabia que amava a filha e a
filha nunca duvidou de seu amor por ela. O futuro agora seria feliz para sempre
no coração das duas. E quer saber o melhor Chefe? Fiquei em Espera Feliz por
muitos anos e enquanto morei lá. Dona Carlota estava viva, agora trabalhando
muito, pois era uma ótima costureira e sempre tinha ao seu lado Maria Thereza a
filha que sempre a amou e dizem que até hoje depois de sua partida, sorri
quando vai a sua morada e reza.
“Um
filho faz o amor mais forte, os dias mais curtos, as noites mais longas, a
conta bancária menor, a casa mais feliz, as roupas mais largas (ou mais
apertadas), o passado esquecido e o futuro digno de ser vivido.” Amor de
mãe vence preconceitos, supera os limites, enfrenta todos os desafios e te
ajuda a vencer. Amor de mãe, só Deus para entender. Simplesmente amor!
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