Conversa ao
pé do fogo.
Podem dizer:
- Sou um Velho Escoteiro chato e...
Infelizmente tem muita coisa que
admiro no escotismo e tem outras que não. Mas e daí? Quem se importa? Eu não
vou modificar o escotismo e nem o escotismo vai me modificar. Eu gosto muito de
fazer amigos e não importa se são daqueles tipos sisudos, que não gostam de
sorrir. Eu gosto disto. Gosto de dizer: Chefe! O sorriso é de graça. Você não
paga. Mas quer saber? Eu não gosto de ver fotos de meninos sujos, cheio de barro,
uniformizados e todos dizendo que isto é escotismo gostoso. É mesmo? Caramba e
onde anda o décimo artigo que diz que o Escoteiro é limpo de corpo e alma? Mas
eu admiro muito de sentir um bom aperto de mão, não aquele mole como faziam os
matutos mineiros – Tarde cumpade! – Quer saber? Não gosto de Escoteiros, chefes
e dirigentes que ficam posudos como se soubessem tudo e a gente não sabe nada.
Dou risadas com eles. Acho que é por isto que muitos não gostam de mim. Olham-me
como se eu fosse um “pobre coitado”, mas acreditem eles é que deviam olhar
dentro de si. Ninguém é melhor que ninguém. Somos todos iguais e quando formos
para as estrelas aqui na terra o lugar de cada um é o mesmo dos outros.
Kkkkkkk.
Se tem uma coisa que gosto é de
acampar. Caramba! Acho que estou pagando por um passado terrível. Não posso
mais fazer o que gosto. Saúde danada. Um dia pego ela e jogo no lago dos
enforcados. Não sabe onde è? Melhor não saber. Mas acampar é lindo, é gostoso
demais. Sentir o cheiro da floresta, a sombra de um jequitibá, o cantar de um
sabiá, o barulho de uma bica de água cristalina. Putz! Bom demais. Agora eu te pergunto
você já levantou as quatro da matina só para ver o sol nascer? Não? Por favor,
no próximo acampamento faça isto. E se puder, vá até uma cascata, sente ali em
uma pedra, feche os olhos e sinta o ribombar da queda d’água. É lindo demais. E
as noites? Contar estrelas, já contou? Não? São trilhões. E bota trilhões
nisto. Eu consegui contar duas mil e duzentas. Kkkkk. Mas tem uma coisa que eu
não gosto, de ver chefes querendo ser os tais, ficando nos campos de patrulha e
se achando os bons ensinado e fazendo. Ele não sabe nada do sistema de
patrulhas e a arte de aprender fazendo, não acham?
Mas se tem uma coisa que gosto é
de cantar. Cantar com alegria, principalmente com uma lobada ou escoteirada com
seus sorrisos maravilhosos e dentro do tom esperado para a canção. E a canção
da despedida, é chorosa, dól., mas não tem canção mais bonita. E o cheiro da
fumaça da lenha? E o perfume da terra após a chuva? Deus meu, é maravilhoso. E
os cozinheiros coitados esfregando os olhinhos da fumaça, soprando o fogo
querendo ser um avião ao levantar voou? Eu lhe pergunto você um dia ficou
olhando os olhares da meninada no Fogo de Conselho? Tem coisa mais bela? Demais
mesmo. Arrepio só de lembrar! E da partida e chegada a um acampamento? Os
sorrisos, a vontade de ser um desbravador, e olhe sempre tem aqueles que adoram
pegar um facão e dizer: - Monitor! Vou cortar lenha! Adoro estes pata-tenras! E
voltam cheios de gravetos. Kkkkkk. E se quer saber eu adoro a pose dos
Escoteiros na ferradura para a cerimonia de bandeira. São geniais suas poses.
Mas se tem mesmo algum que eu não gosto, é do tal SAPS! Não gosto mesmo e já
expliquei porque, e olhe detesto chefes falando, falando, a tropa não
aguentando ficar de pé e o danado não para. Putz! Se toca Chefe!
Agora, meus amigos, é coisa
de dar em doido o tal Grande Uivo. Lindo de morrer. O olhar deles esperando a
Akelá decidir que dirá “Melhor, melhor, melhor e melhor” é demais. Agora
aqueles jogos complicados eu não gosto. Muitas normas atrapalham. Jogo tem de
ser simples, calmos onde a participação de todos é ponto de honra. E olhe eu
gosto de fazer jogos que aconteçam sorrisos em profusão, não aquele que termina
com um só vencedor. Detesto! Mas meus amigos sabe o que é bom demais? À noite,
deitar na relva, em um local sem sinais de civilização, olhar o céu, procurar
constelações, ver os milhares de satélites passeando, surgir um cometa tão
rápido que mal a vista alcança, sentir o cantar dos grilos, da coruja, ouvir o
som da floresta, do vento... Hã do vento! É demais. E sentir o orvalho caindo
molhando o rosto você já sentiu? E ver a madrugada chegar, mansinha, calma
esperando a bruma se ir e o sol chegar... Tremo só de pensar! Mas eu não gosto,
e não gosto mesmo do fogareiro a gás. Detesto. Para mim ante Escoteiro. E som
de radio? De telefone? Caramba, é como se eu recebesse uma bala no coração.
Dramático? Não importa, não gosto mesmo.
Mas eu adoro o grito de patrulha,
a força e o orgulho dos patrulheiros segurando o bastão. E a bandeira? Existe
maior emoção que ver os escolhidos içar e arriar? Não ia falar. Se que muitos
amigos meus aqui não vão gostar. Mas detesto o lenço sem uniforme ou
vestimenta. Lenço não faz parte da apresentação e não é o todo sem ela.
Desculpem, mas não gosto mesmo. E os que se vestem desleixadamente? São tantos,
tantos que precisamos nos preocupar com isto. Se querem que o escotismo atenda
o que pretende e que a sociedade o respeite, vista seu uniforme ou vestimenta
com respeito. Não se apresente como um desleixado. Você não é, você é um
Escoteiro! Mas em contrapartida eu amo meus amigos aqui, do coração mesmo. Um
dia alguém dia que eu não era verdadeiro mas acho que ele se enganou. Quando
conheço um pessoalmente é demais. Sempre dou um belo sorriso. Sei que irei para
as estrelas sem poder apertar a mão de todos, mas lá, em um planeta muito
distante um dia nos encontraremos... Se Deus quiser!
Melhor é ir terminando, sei que
poucos se interessam do que gosto ou não gosto. Afinal mesmo que alguns dizem
que sou tradicionalista e quero mudar o mundo eu compreendo. Afinal não conheci
Baden-Powell mas li tanto sobre ele, amo tanto o movimento que parece que
vivemos juntos num passado que já se foi. Do escotismo eu fiz uma lição de
vida, dizem que sou saudosista mas quem não é? Podem me chamar de Velho
Escoteiro. Sei que sou. Meu tempo já passou mas o que eu passei com ele foi motivo
de orgulho. Hoje vivo feliz. Não estou distribuindo sorrisos, nada disto, mas
aceito as adversidades que aconteceram e acontecem em minha vida. Ela não é um
mar de rosas mas é um oceano de felicidade. Sempre acreditei que devemos
aceitar o que nos foi reservado. Fomos nós mesmos que fabricamos nosso destino.
O que temos hoje foi produto da vida ou de um passado que já se foi!
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