Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

sábado, 6 de setembro de 2014

O poste.


Uma crônica só para passar o tempo.
O poste.

                            Ele não sabia há quanto tempo estava ali naquela esquina. Podia chover fazer sol e lá estava ele firme sem se mexer. Nunca fez aniversário, pois ninguém nunca lhe deu os parabéns, afinal ele era um poste e sua utilidade era uma só. Segurar os fios do telefone e força elétrica. Mais nada. Mais nada? Ele sabia que ninguém invejava a vida de um poste. Um dia pensou se seria importante, mas achou que não. Notou que do outro lado da rua muitos postes passaram por lá e foram trocados. Uns por velhice outros por atraírem beijos de veículos e teve um deles que um raio o partiu ao meio. Nenhum deles fizeram falta. Quem sabe pensou se um dia muitos como ele se revoltassem poderiam dizer que eles eram uma casta muito importante. Sabia que a molecada e até gente de respeito desfaziam dele. - - Aqui é o fim da fila? Uma jovenzinha perguntou. Ele riu e respondeu: - Não, não, é o começo, só que estou de costa. Pois é, brincavam muito com ele e os cães? Adoravam fazer dele banheiro publico. E olhe que algum “bebum” também achavam que ele era um vaso sanitário.

            E daí? Quem poderia se incomodar com ele? Anda bem que era um poste gozador. – O bebum escorava nele, se entortava todo e em dado momento caia esborrachado no chão. O poste com pena pergunta: - Nossa, caiu? - Não, senti atração pela Terra e decidi abraçá-la. Ele ria afinal chorar para que? Ele era apenas um poste. Ele gostava dos casais de namorados. Eles se esfregavam nele, faziam cosquinhas, tentavam se esconder dos outros para seus beijos e caricias e mesmo ele tentando ajudar um deles falava: - Vamos embora, este poste só serve para chamar os carros que vem em alta velocidade e é duro feito cimento. Era verdade. Ele não sabia por que as batidas eram sempre em cima dele. Quando ouvia um cantar de um pneu fechava os olhos esperando a batida. Ele não entendia por que para cada 80 metros livre os carros preferiam bater no poste. Por quê? Será que era o destino ou eles tinham uma rixa de outros tempos?

              Interessante que pelas estatísticas todos os dias muitos veículos batiam em postes em todas as cidades do Brasil. Afinal o que os veículos tinham contra os postes? E o pior é que quem passava dizia – Veja como ficou o carro! Coitado! Será que morreu alguém? E ninguém dizia – Coitado do poste, levou a pior se quebrando ao meio. Ele um vez ficou anos pensando como fazer para desviar dos carros, mas não tinha jeito, afinal ele era um poste e um poste não anda não se meche. Ele é um poste pombas! Ele sabia que tinha milhões de anos que fora descoberto. Dizem que na Grécia antiga já havia postes para iluminar com lampiões a óleo. Então ele era de família importante e muito mais famoso que os postes dos  longínquos rincões do Brasil. Ele não gostava das eleições. Todos se julgavam no direito de colar cartazes, santinhos e era uma sujeira só. E depois diziam que eles eram civilizados e ele um poste.


                 E as piadas? Detestava. Tá lavando a calçada? – Não, tô regando prá ver se nasce aqui um pé de poste. Ele gostava da rua onde estava. Pouco movimento. Um dia um policial deu um tapa num marginal e o prendeu no poste. Era ele. Não pode fazer isto aqui, ele queria dizer ao policial. Mas ele nem aí. Deixaram o marginal lá por dois dias e depois soltaram. Ele teve de ficar ouvindo o matraquear do marginal que prometeu matar ele, seu pai, sua mãe e todos que tinham seu sangue. Soube que sua estirpe, sua árvore genealógica seria extinta. Não haveria mais postes. Um decreto do governador, agora todos os fios serão subterrâneos. Ele riu. Bem feito. Que os mijões encontrassem outro lugar, que os coladores de cartazes fossem colar no raio que o parta. Quem ia sofrer eram as casas de comércio, os bares e restaurantes. Do freguês comprando e o carro entrando casa adentro. Cadê o poste? O poste sumiu! E o au au? Quero mijar cadê o poste!  O poste já era. Kkkkk.    

Nenhum comentário: