Uma crônica
só para passar o tempo.
O poste.
Ele não sabia há quanto tempo estava ali
naquela esquina. Podia chover fazer sol e lá estava ele firme sem se mexer.
Nunca fez aniversário, pois ninguém nunca lhe deu os parabéns, afinal ele era
um poste e sua utilidade era uma só. Segurar os fios do telefone e força
elétrica. Mais nada. Mais nada? Ele sabia que ninguém invejava a vida de um
poste. Um dia pensou se seria importante, mas achou que não. Notou que do outro
lado da rua muitos postes passaram por lá e foram trocados. Uns por velhice
outros por atraírem beijos de veículos e teve um deles que um raio o partiu ao
meio. Nenhum deles fizeram falta. Quem sabe pensou se um dia muitos como ele se
revoltassem poderiam dizer que eles eram uma casta muito importante. Sabia que
a molecada e até gente de respeito desfaziam dele. - - Aqui é
o fim da fila? Uma jovenzinha perguntou. Ele riu e respondeu: - Não, não, é o
começo, só que estou de costa. Pois é, brincavam muito com ele e os cães?
Adoravam fazer dele banheiro publico. E olhe que algum “bebum” também achavam
que ele era um vaso sanitário.
E daí? Quem poderia se
incomodar com ele? Anda bem que era um poste gozador. – O bebum escorava nele,
se entortava todo e em dado momento caia esborrachado no chão. O poste com pena
pergunta: - Nossa, caiu? - Não, senti atração pela Terra e decidi abraçá-la.
Ele ria afinal chorar para que? Ele era apenas um poste. Ele gostava dos casais
de namorados. Eles se esfregavam nele, faziam cosquinhas, tentavam se esconder
dos outros para seus beijos e caricias e mesmo ele tentando ajudar um deles
falava: - Vamos embora, este poste só serve para chamar os carros que vem em
alta velocidade e é duro feito cimento. Era verdade. Ele não sabia por que as
batidas eram sempre em cima dele. Quando ouvia um cantar de um pneu fechava os
olhos esperando a batida. Ele não entendia por que para cada 80 metros livre os
carros preferiam bater no poste. Por quê? Será que era o destino ou eles tinham
uma rixa de outros tempos?
Interessante que
pelas estatísticas todos os dias muitos veículos batiam em postes em todas as
cidades do Brasil. Afinal o que os veículos tinham contra os postes? E o pior é
que quem passava dizia – Veja como ficou o carro! Coitado! Será que morreu
alguém? E ninguém dizia – Coitado do poste, levou a pior se quebrando ao meio.
Ele um vez ficou anos pensando como fazer para desviar dos carros, mas não
tinha jeito, afinal ele era um poste e um poste não anda não se meche. Ele é um
poste pombas! Ele sabia que tinha milhões de anos que fora descoberto. Dizem
que na Grécia antiga já havia postes para iluminar com lampiões a óleo. Então
ele era de família importante e muito mais famoso que os postes dos longínquos rincões do Brasil. Ele não gostava
das eleições. Todos se julgavam no direito de colar cartazes, santinhos e era
uma sujeira só. E depois diziam que eles eram civilizados e ele um poste.
E as piadas?
Detestava. Tá lavando a calçada? – Não, tô regando prá ver se nasce aqui um pé
de poste. Ele gostava da rua onde estava. Pouco movimento. Um dia um policial
deu um tapa num marginal e o prendeu no poste. Era ele. Não pode fazer isto
aqui, ele queria dizer ao policial. Mas ele nem aí. Deixaram o marginal lá por
dois dias e depois soltaram. Ele teve de ficar ouvindo o matraquear do marginal
que prometeu matar ele, seu pai, sua mãe e todos que tinham seu sangue. Soube
que sua estirpe, sua árvore genealógica seria extinta. Não haveria mais postes.
Um decreto do governador, agora todos os fios serão subterrâneos. Ele riu. Bem
feito. Que os mijões encontrassem outro lugar, que os coladores de cartazes
fossem colar no raio que o parta. Quem ia sofrer eram as casas de comércio, os
bares e restaurantes. Do freguês comprando e o carro entrando casa adentro.
Cadê o poste? O poste sumiu! E o au au? Quero mijar cadê o poste! O poste já era. Kkkkk.
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