Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O Cisne Negro da asa partida. Uma história de lobinhos.


Lendas escoteiras.
O Cisne Negro da asa partida.
Uma história de lobinhos.

                   Beth Blue era muito amiga da Celia desde os tempos que ambas foram coordenadoras bandeirantes. Beth Blue me visitava uma ou duas vezes por ano. Eu a conheci em cursos, pois sempre recorria a ela pela sua vasta experiência com lobinhos. Era Akelá em um grupo do outro lado da cidade. Infelizmente pela idade poucos a convidavam. Não dá para entender. Lembro que ha alguns anos atrás ela me contou esta história. Era uma tarde linda. Junto com a Célia ela nos fazia companhia na varanda e o sol ia aos poucos se pondo no horizonte. Beth Blue sabia contar histórias. Narrava com perfeição. Prendia a todos nós com seus gestos, seu timbre de voz que mudava de acordo com o desenrolar da história. Ela me garantiu que era uma história verdadeira. Como duvidar de Beth Blue?

                   Olhe Chefe, no verão passado fomos fazer um acantonamento No sítio Caminho Azul de um pai de um Escoteiro. Local magnífico. Um lago não muito grande, um bosque gramado, um campinho de futebol e um riacho pequeno de águas límpidas. Os lobinhos adoraram. Nossa Alcatéia era composta de dezoito lobos. Dez meninos e oito meninas. Muitos com um ou dois anos de atividade. Pretendíamos ficar lá três dias aproveitando um feriado prolongado. A casa sede tinha dois quartos e mesmo assim levamos quatro barracas. Se o tempo permitisse dormiríamos em casas de lona. Chegamos cedo. Por volta de nove da manhã. Duas mães estavam conosco para ajudar nas atividades e refeições. Eu estava com mais três assistentes. Um Balú, uma Kaá e a Bagheera. A Chill não pode ir.

                   Mas vamos ao que interessa. Após o almoço cuja matilha branca alega que foi ela quem fez (risos) claro sem esquecer as duas mães cozinheiras, nós fomos fazer um jogo calmo. Não tão calmo e sabíamos que ele levaria pelo menos uma hora para ser todo desenvolvido. Eram três bases. Uma um Assistente escondia em cima de uma árvore um relógio que devia ser visto de um só ângulo. Outra um Assistente com duas sacolas e a cada cinco segundos tirava um objeto, o jogava para cima e guardava na segunda sacola. Seriam vinte objetos. A terceira um sisal amarrado entre duas árvores a uma altura de três metros aproximadamente e quatro petecas.

                    O jogo consistia no seguinte: - Uma matilha em cada base. Quinze minutos para cada uma desenvolver sua tarefa individualmente. Na primeira eles deveriam ver no perímetro marcado onde estava o relógio. Avistando não deveriam apontar e nem dizer nada. Iam até o Assistente responsável e em uma prancheta escreviam onde estava e assinava e dizia uma lei do lobinho. Após os quinze minutos um grito longo de Lobo, trocavam-se as bases. Na segunda eles deviam observar por um minuto os objetos que eram jogados ao ar e memorizar. Depois cada um recebia uma caneta e uma folha de papel para escrever o que estava na memória. Em seguida deviam em conjunto cantar alguma canção Escoteira. A terceira base cada um devia usar a peteca, dar uma palmada que devia atravessar por cima do sisal, ante de cair o lobo ia para o lado contrário e dar outra palmada devolvendo. Ai a peteca podia cair ao chão. Se isto acontecesse ele teria feito a prova. Para não demorar a base tinha quatro petecas.

                   Tudo corria tranquilamente, os lobos se divertindo e o tempo foi passado. Pensamos que dez ou vinte minutos por base seria suficiente. Pretendíamos naquela tarde que o banho no riacho fosse feito mais cedo. Foi então que Letícia, uma lobinha de oito anos veio correndo avisar que viu um lindo Cisne Negro. Interessante. Não sabia que ali existiam esses pássaros. Fui até lá com ela. O cisne Negro era um espetáculo. Se abrisse as asas acho que teria bem um metro de envergadura. O cisne tinha os olhos fixos para uma árvore. Não se importava conosco. Nem nos olhava. Logo todos os lobos ficaram em volta. O cisne nem estava aí. Só olhando para a árvore. O Balu tentou descobrir o que tinha na árvore. Conseguimos avistar lá em cima um grande ninho. Só podia ser do Cisne Negro. Observando melhor o Cisne notei que uma das asas estava meio caída. Deduzimos que ele ou ela não podia voar.

                   Deveriam existir filhotes e o Balu subiu na árvore e confirmou. Eram dois e piavam sem parar. Lembrei que eu tinha feito uma pesquisa há tempos sobre Cisnes. Chamei a Alcatéia e aproveitar para falar sobre eles. Enquanto isto o Balu foi até o lago a procura de plantas e pequenos bichinhos para alimentar os filhotes. Os lobos em volta do cisne que não olhava para ninguém. Só para a árvore. – Sabem lobinhos, comecei – O cisne gostas de lagos, brejos e outras áreas de água doce ou salgada. Vivem em bandos. Alimentam-se de plantas aquáticas e parei de falar. Vi que Norminha uma lobinha se aproximou do cisne. Passou a mão em sua cabeça. Ouvimos um cantar diferente. Não identifiquei. Parecia que o Cisne chorava. Toda a Alcatéia começou a chorar.

                   Levei os lobos para a Casa Grande, tentamos mudar o rumo do programa, mas o Cisne não parava de cantar. A noite ele calou. No dia seguinte ainda estava lá em pé olhando para a árvore. O Balu alimentava os filhotes duas vezes ao dia. No dia do retorno, os lobos levantaram cedo. Correram até devia estar o cisne. Não estava mais lá. Como? E a asa partida? E os filhotes? O Balu subiu na árvore e encontrou o ninho vazio. O cisne e os filhotes haviam partido. A lobada começou a chorar. Tentamos mostrar que foi bom, que a mãe e os filhotes agora podiam voar e foram para onde deveriam ir. Eu sabia que quando se aproximava o inverno eles em bandos descolocavam para regiões de clima mais ameno. Mas não adiantou. Os lobos com olhos vermelhos chorando por não verem mais o Cisne Negro da Asa partida.

                 Às quatro da tarde, já com a tralha pronta, fomos para o cerimonia de bandeira. Os lobinhos formados em círculo e em posição para o Grande Uivo. Quando eu ia fazer o sinal ouvimos um barulho de asas. Olhamos para cima, centenas de cisnes voando em direção ao infinito. Três deles desceram até nós, um grande e dois pequenos. Eram eles! Voaram sobre nossas cabeças por alguns segundos e partiram. Todos calados. Um grito explodiu na alcatéia. Uma alegria imensa. Todos gritaram alto – Bravô! Os lobos sabiam que era o Cisne Negro e seus filhotes que vieram se despedir. Ninguém nunca mais esqueceu. Contavam a todos na sede, seus amigos da escola e a história durou muitos e muitos anos.


                  Beth Blue se calou. Olhei para ela, Célia também. E? - Fim Chefe. Nada mais. A noite chegou. Um cafezinho e Beth Blue partiu. Fiquei ainda por longo tempo na varanda. Uma ótima história. Seria verdade? Sei não. E como se diz por aí das histórias escoteiras contadas: - Feijão não é vaca, boi não é arroz. E quem quiser que conte dois! 

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