Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

domingo, 2 de março de 2014

Sonhos de um Velho Escoteiro.


Lembranças da meia noite.
Sonhos de um Velho Escoteiro.

Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância. O que interessa mesmo não é à noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.
 (Sonho de uma Noite de Verão) William Shakespeare.

Serve para mim. Sempre fui exigente. Se gostar de uma coisa tenho de levar a sério a minha participação. Escotismo está no meu sangue e não gosto que não levem a sério o que tem de ser. Mas nunca humilhei ninguém e nunca desfiz de ninguém. Procurei ao meu modo ser leal na causa que abracei e acredito. Uniforme? Ou você está ou não está. Cinto sujo, meiões caídos, camisas soltas e chapéus esquisitos não dá. Sou daqueles de chegar perto de um e dizer – Você poderia melhorar. Seu uniforme deixa a desejar. Se ele for do Grupo que colaboro então não tem jeito. Peço a ele para tirar. Nunca onde participei alguém colocou peças que não eram do uniforme. Desleixo são próprios de pessoas que denigrem o escotismo e não venham me dizer que ele ama tudo isto. Quando jovem aprendi a lavar a roupa o uniforme e até tinha uma maneira especial para passar esticando as pontas nos acampamentos. Os chefes não aceitavam desculpas. Sempre tudo limpo. Camiseta sim, lenço só com o uniforme. Não me venha dizer que colocar o lenço agora é Escoteiro. Não é. Sempre foi Escoteiro mesmo sem ele, mas se quer mostrar mesmo que é um e se orgulha, que vista o uniforme completo. Fazer o que fazem pode ser para você e outros para mim não.

Fazia questão da democracia. Não sei quantas vezes em conversa ao pé do fogo deixei a escoteirada discutir até a exaustão a nossa disciplina e apresentação. – Chefe porque não tenho o Liz de Ouro? – Melhor discutir com sua patrulha e ver o que falta. – Chefe na patrulha fulano atrapalha. – Você é o Monitor, se não resolver agora um dia ele vai tomar conta de você. Uma vez colaborei em um Grupo Escoteiro. Fiquei dois anos. De dois chefes saí de lá com 25. Dei cursos para todos eles e muitos conseguiram sua IM. Mas eles sempre tiveram livre arbítrio. Nos cursos que dirigi fazia questão da limpeza, apresentação, garbo e boa ordem. Claro que sempre fazíamos em qualquer palestra grupos de trabalho para discutir o tema. Uma vez vieram me dizer que a Lei Escoteira era muito exigente. – Porque não discutimos? Ficamos conversando e brincando até duas da manhã sob um céu cheio de estrelas. Poderia dizer que façam assim e assado, mas por quê? Devemos abrir mão do obvio? Se sou Escoteiro sou diferente sim e isto não resta dúvida. Tenho de demonstrar isto por fatos e atos. Não dizem que não basta a mulher de Cesar ser honesta? Ela tem de parecer honesta.

Há muitos anos em um grupo em que colaborei foi inscrito um jovem de 12 anos. Sumidade. Lia um livro por semana. Superdotado talvez. Eu não entendia muito na época afinal só hoje os chefes sabem tudo. Dois meses e um acampamento de tropa. Sugeri quer ele não fosse, era ainda muito novo e pata tenra. – Mas Chefe, ele é uma sumidade. Os pais vieram, insistiram disseram para mim que ele iria ensinar em vez de aprender. Calei tudo bem, vamos. Nunca fui a favor de pais visitarem os acampamentos. Tenho meus motivos. O jovem está ali para se virar, para aprender a fazer fazendo e não tem mamãe e papai para resolver, tem sim a companhia dos amigos da patrulha e a colaboração do Monitor. Dito e feito. Mamãe e papai chegou e ele pegou um “berreiro” quero ir embora! Gritava. Os pais me olharam. Podem levar, mas ele não deve mais aparecer no Grupo. Para os demais ele sempre será considerado um bebê chorão. Nunca terá o respeito dos demais. Ele ficou. Chorou a noite toda. No dia seguinte não quis acordar. Mandei o Monitor jogar nele uma lata de água gelada. No final do acampamento ria a mais não poder. Se transformou. Virou um autentico Escoteiro. É aquele Velho adágio, quer conhecer o jovem? Vá acampar com ele e saberás quem ele é.

          Vejo muitos chefes falando isto e aquilo. Eu faço e aconteço. Eu não faço e não aconteço. Escotismo para mim é padrão. Não fujo dele hora nenhuma. Tudo tem seu tempo sua hora e a maneira correta de fazer ou interpretar. Chefe não é escoteiro. Quem tem de viver as aventuras, a descoberta e crescer intimamente é o jovem. O Chefe acompanha, ajuda sem interferir muito. Tinha dezessete anos quando recebi um convite para fazer um CAB escoteiro. Pagaram minha passagem. Outro curso, nada como os de hoje. Seis dias acampado em bosques fechados. Hotel cinco estrelas passava longe. Cheguei pomposo, nariz empinado com tudo que tinha direito. Meus distintivos de especialidade. Minha primeira classe, minha correia de mateiro, minhas 12 estrelas de atividade, todos me olharam. Ninguém disse nada. JF um dirigente mostrou que ter educação não é para qualquer um. Me chamou e arrancou a força todos os distintivos. Meus olhos encheram de lágrimas. Uma humilhação sem igual na presença de 32 chefes. No final do curso o procurei em particular. Falei poucas e boas. Mineiro não leva desaforo para casa. Ele riu. Mas aprendi, apesar de dezessete anos eu fazia curso de homem. E tinha de agir como homem. Isto não explica o que ele fez uma descortesia tremenda. Mas serviu para eu entender que quem deve ser o herói é o jovem. Chefe não é herói, não é o chamativo numero um.

Falei demais? Me desculpem. Hoje me perguntei sobre os jovens lideres. Em uma lista alguém me orientou e explicou. Descobri que eles tem acima de 18 e vão até os 26. Jovens? Para mim são homens feitos. Pela lei brasileira respondem pelos seus atos. Porque não aceitam os Escoteiros e os seniores? Eles sim deveriam participar, pois estão vivenciando no dia a dia os problemas e as dificuldades que encontram. Várias explicações. Citaram outros países. Eu estou no Brasil e aqui vejo as nossas deficiências e nossas dificuldades. Para mim não valeu. Não sei o que fazem, mas eu nunca faria isto. Eles que vão para a assembleia como membros adultos, discutir e votar a vontade. Ao mesmo tempo em que estão fazendo por nós, sem consulta, sem que possamos dar opiniões, onde somente 0,5% dos associados tem voz e voto, eu me pergunto – Este é o caminho? Não sei. Eu percorri um caminho. Se ele foi certo ou errado na eternidade prestarei contas. Meu sonho é um escotismo sério e bem feito, cheio de amor e fraternidade. Um escotismo onde o futuro seja promissor e não falsas promessas que há mais de quarenta anos estão sendo feitas pelos dirigentes. Cada geração uma promessa. E todos vão acreditando, pois este é o sonho Escoteiro. Sonhar que tudo no futuro dará os resultados que almejamos. Até quando?


Boa noite meus amigos e minhas amigas, uma excelente semana para todos. Durmam com Deus.      

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