Lembranças da
meia noite.
Sonhos de um Velho
Escoteiro.
Há quem
diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem
todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância. O que
interessa mesmo não é à noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha
sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.
(Sonho de uma Noite de Verão) William Shakespeare.
(Sonho de uma Noite de Verão) William Shakespeare.
Serve para mim. Sempre fui
exigente. Se gostar de uma coisa tenho de levar a sério a minha participação.
Escotismo está no meu sangue e não gosto que não levem a sério o que tem de
ser. Mas nunca humilhei ninguém e nunca desfiz de ninguém. Procurei ao meu modo
ser leal na causa que abracei e acredito. Uniforme? Ou você está ou não está. Cinto
sujo, meiões caídos, camisas soltas e chapéus esquisitos não dá. Sou daqueles
de chegar perto de um e dizer – Você poderia melhorar. Seu uniforme deixa a
desejar. Se ele for do Grupo que colaboro então não tem jeito. Peço a ele para
tirar. Nunca onde participei alguém colocou peças que não eram do uniforme.
Desleixo são próprios de pessoas que denigrem o escotismo e não venham me dizer
que ele ama tudo isto. Quando jovem aprendi a lavar a roupa o uniforme e até
tinha uma maneira especial para passar esticando as pontas nos acampamentos. Os
chefes não aceitavam desculpas. Sempre tudo limpo. Camiseta sim, lenço só com o
uniforme. Não me venha dizer que colocar o lenço agora é Escoteiro. Não é.
Sempre foi Escoteiro mesmo sem ele, mas se quer mostrar mesmo que é um e se
orgulha, que vista o uniforme completo. Fazer o que fazem pode ser para você e
outros para mim não.
Fazia questão da
democracia. Não sei quantas vezes em conversa ao pé do fogo deixei a
escoteirada discutir até a exaustão a nossa disciplina e apresentação. – Chefe porque
não tenho o Liz de Ouro? – Melhor discutir com sua patrulha e ver o que falta. –
Chefe na patrulha fulano atrapalha. – Você é o Monitor, se não resolver agora
um dia ele vai tomar conta de você. Uma vez colaborei em um Grupo Escoteiro.
Fiquei dois anos. De dois chefes saí de lá com 25. Dei cursos para todos eles e
muitos conseguiram sua IM. Mas eles sempre tiveram livre arbítrio. Nos cursos
que dirigi fazia questão da limpeza, apresentação, garbo e boa ordem. Claro que
sempre fazíamos em qualquer palestra grupos de trabalho para discutir o tema.
Uma vez vieram me dizer que a Lei Escoteira era muito exigente. – Porque não
discutimos? Ficamos conversando e brincando até duas da manhã sob um céu cheio
de estrelas. Poderia dizer que façam assim e assado, mas por quê? Devemos abrir
mão do obvio? Se sou Escoteiro sou diferente sim e isto não resta dúvida. Tenho
de demonstrar isto por fatos e atos. Não dizem que não basta a mulher de Cesar
ser honesta? Ela tem de parecer honesta.
Há muitos anos em um
grupo em que colaborei foi inscrito um jovem de 12 anos. Sumidade. Lia um livro
por semana. Superdotado talvez. Eu não entendia muito na época afinal só hoje
os chefes sabem tudo. Dois meses e um acampamento de tropa. Sugeri quer ele não
fosse, era ainda muito novo e pata tenra. – Mas Chefe, ele é uma sumidade. Os
pais vieram, insistiram disseram para mim que ele iria ensinar em vez de
aprender. Calei tudo bem, vamos. Nunca fui a favor de pais visitarem os
acampamentos. Tenho meus motivos. O jovem está ali para se virar, para aprender
a fazer fazendo e não tem mamãe e papai para resolver, tem sim a companhia dos
amigos da patrulha e a colaboração do Monitor. Dito e feito. Mamãe e papai
chegou e ele pegou um “berreiro” quero ir embora! Gritava. Os pais me olharam.
Podem levar, mas ele não deve mais aparecer no Grupo. Para os demais ele sempre
será considerado um bebê chorão. Nunca terá o respeito dos demais. Ele ficou.
Chorou a noite toda. No dia seguinte não quis acordar. Mandei o Monitor jogar
nele uma lata de água gelada. No final do acampamento ria a mais não poder. Se
transformou. Virou um autentico Escoteiro. É aquele Velho adágio, quer conhecer
o jovem? Vá acampar com ele e saberás quem ele é.
Vejo muitos chefes falando isto e
aquilo. Eu faço e aconteço. Eu não faço e não aconteço. Escotismo para mim é
padrão. Não fujo dele hora nenhuma. Tudo tem seu tempo sua hora e a maneira
correta de fazer ou interpretar. Chefe não é escoteiro. Quem tem de viver as aventuras,
a descoberta e crescer intimamente é o jovem. O Chefe acompanha, ajuda sem
interferir muito. Tinha dezessete anos quando recebi um convite para fazer um
CAB escoteiro. Pagaram minha passagem. Outro curso, nada como os de hoje. Seis
dias acampado em bosques fechados. Hotel cinco estrelas passava longe. Cheguei
pomposo, nariz empinado com tudo que tinha direito. Meus distintivos de
especialidade. Minha primeira classe, minha correia de mateiro, minhas 12
estrelas de atividade, todos me olharam. Ninguém disse nada. JF um dirigente
mostrou que ter educação não é para qualquer um. Me chamou e arrancou a força
todos os distintivos. Meus olhos encheram de lágrimas. Uma humilhação sem igual
na presença de 32 chefes. No final do curso o procurei em particular. Falei
poucas e boas. Mineiro não leva desaforo para casa. Ele riu. Mas aprendi,
apesar de dezessete anos eu fazia curso de homem. E tinha de agir como homem.
Isto não explica o que ele fez uma descortesia tremenda. Mas serviu para eu
entender que quem deve ser o herói é o jovem. Chefe não é herói, não é o
chamativo numero um.
Falei demais? Me desculpem.
Hoje me perguntei sobre os jovens lideres. Em uma lista alguém me orientou e
explicou. Descobri que eles tem acima de 18 e vão até os 26. Jovens? Para mim
são homens feitos. Pela lei brasileira respondem pelos seus atos. Porque não
aceitam os Escoteiros e os seniores? Eles sim deveriam participar, pois estão
vivenciando no dia a dia os problemas e as dificuldades que encontram. Várias
explicações. Citaram outros países. Eu estou no Brasil e aqui vejo as nossas deficiências
e nossas dificuldades. Para mim não valeu. Não sei o que fazem, mas eu nunca
faria isto. Eles que vão para a assembleia como membros adultos, discutir e votar
a vontade. Ao mesmo tempo em que estão fazendo por nós, sem consulta, sem que
possamos dar opiniões, onde somente 0,5% dos associados tem voz e voto, eu me
pergunto – Este é o caminho? Não sei. Eu percorri um caminho. Se ele foi certo
ou errado na eternidade prestarei contas. Meu sonho é um escotismo sério e bem
feito, cheio de amor e fraternidade. Um escotismo onde o futuro seja promissor
e não falsas promessas que há mais de quarenta anos estão sendo feitas pelos
dirigentes. Cada geração uma promessa. E todos vão acreditando, pois este é o
sonho Escoteiro. Sonhar que tudo no futuro dará os resultados que almejamos. Até
quando?
Boa noite meus amigos e
minhas amigas, uma excelente semana para todos. Durmam com Deus.
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