As ultimas badaladas da meia noite estão chegando.
Lembranças de um menino Escoteiro.
A Canção da Despedida.
Meu primeiro acampamento, quanto tempo, início
da década de cinquenta, novo na patrulha, onze anos, lobinho de coração.
Estranho no ninho. Medo, receio. Uma nova etapa. Sem minha Akelá e o Balu para
me proteger. Lágrimas brotaram quando fiz a passagem. Aos poucos fui
acostumando. Ângelo o Monitor, grande companheiro. Até quando casei lá estava
ele ao meu lado como meu padrinho. Algumas excursões, mas nada como este
acampamento. Seis dias. Mata fechada. Selva para mim inóspita, Pânico no
primeiro dia. Depois, barracas montadas, cozinha coberta, fogão suspenso, sala
de refeições, fossas, Até WC fizemos!
Quando a noite chegava, estava em pandarecos. Mas orgulhoso. Era mais um
deles. Ajudei, colaborei. Dormia o sono dos justos. Só acordava com alguém me
chamando ou puxando meu pé. E de novo, vivendo com meus amigos, fazendo,
construindo, aprendendo, brincando, aventuras maravilhosas. Escaladas (tremia)
balsas, pistas de animais, grandes pioneiras, subir em árvores, comida gostosa,
banhos deliciosos, predadores, escorpiões, cobras (que medo!), chupar cana,
colher goiabas, mangas, abacate, nas mais altas árvores.
Quinto dia. Orgulho daquela
patrulha, irmão das demais. Amigos, fraternos, uma chefia maravilhosa. Então a
surpresa. Um Fogo de Conselho só da tropa. Senhor! Olhe, fico arrepiado ao
lembrar. Ficou marcado para sempre. Ria, cantava, batias palmas, pulava,
corria, e então... E então... Todos deram as mãos em volta do fogo e começaram
a cantar. Eu a principio não conhecia a letra, aos poucos fui entendo. Meu
Deus! Que musica maravilhosa! Tocou-me fundo no coração. Impossível aguentar a
emoção. A primeira emoção. “Não é mais que um até logo”! Onze anos e chorando.
Lágrimas descendo no meu rosto. Mãos entrelaçadas, apertando uma as
outras.
Parou a canção. Final, fogueira crepitando, estrelas no céu. Vento frio,
brisa no rosto, cheiro da terra, do capim meloso, grilo saltitando, vagalumes
aqui e ali querendo mostrar seu brilho. Silêncio na mata. Lagrimas caindo, uns
olhando para os outros tentando disfarçar. Trombeta tocando. Reunir! Boa noite,
Corte de Honra, oração. Fui para a barraca com um sorriso enorme! Deitei,
coloquei as mãos debaixo da cabeça, olhava para o teto da barraca, ele
desaparecia. Agora via estrelas brilhantes no céu. Chorei. De alegria de saber
que tinha encontrado amigos, irmãos e que agora pertencia a uma grande
Fraternidade Escoteira. Agora eu era um deles, um escoteiro, um privilégio de
poucos!
Foi a primeira grande emoção. A Canção da despedida marca. Vocês que me leem
sabem disto. Chorei depois muitas vezes. Era marcante. Não dava para esconder,
que já participou sabe o que estou dizendo. Não sei explicar quando cantamos, se
ela dói se machuca se uma saudade gritante fala para nós, não perdermos as
esperanças de que um dia voltaremos a nos ver. É uma situação inusitada. Se nós
contarmos para um amigo ou amiga, eles vão rir. Acha que somos bobos, tolos.
Não compreendem. Não entendem. Não sabem o que é isto. Nunca vão saber... Só
nós, os privilegiados deste incrível movimento escoteiro.
Centenas, muitas centenas de vezes participei com orgulho. Dizia a mim
mesmo que não mais iria chorar. Engano. Bebê chorão! Sempre ali, lagrimas e
lágrimas escorrendo no rosto, caindo e molhando a terra, nosso chão abençoado.
É, escotismo, você marca. Como você não existe outro. Por isto te amo, te
adoro, vivo para ajudar a todos, mas que orgulho em ser escoteiro. Aprendi ali,
vivendo intensamente tudo aquilo que você tem. Sorrindo, cantando, Chorando!
Sim mas sem nunca se esquecer das horas e horas maravilhosas que contigo
passei.
A vida não para os anos passam
e nos levam a lugares nunca dantes imaginado. Lá estava eu na cidade de
Hermosillo, capital do estado de Sonora, México. 50 anos de fundação do Grupo
Escoteiro. Vários outros grupos irmãos. Achei que dava para enrolar no idioma.
Nada. Um paspalho era eu para entender o que diziam. Mas quem disse que em
acampamentos escoteiros precisamos disto? Parece que falamos um só idioma.
Claro, somos iguais em todas as nações. Nossa! Marcou mesmo. Incrível a amizade
dos escoteiros mexicanos. Simples, leal, honesta, sem altivez, soberba. Que
amigos! Tocaram meu coração. Mas quando chegou à hora da despedida! Ah! Não,
não queria sair dali. Chorei copiosamente. Um marmanjo. Trinta e quatro anos!
Abrindo a boca, lágrimas e lágrimas descendo pelo rosto. E o pior, quando
terminou a Canção da Despedida, todos vieram me abraçar, chorando também,
dizendo, - “No te vayas, te queremos, quédade nosotros”... Quem aguenta?
Diga-me meu amigo e irmão escoteiro, quem?
E o pior, no dia
seguinte, a tomar o trem para a cidade do México, lá estavam eles na estação,
barulhentos, amigos abraçando, cantando canções típicas, e quando o trem foi se
afastando, cantaram de novo a Canção da Despedida. Rapaz foi incrível suportar!
Impossível! E repetiam, repetiam – “No te vayas, te queremos, quédade
nosotros”! Marcou meu amigo. Marcou. Passageiros ao meu lado não entendiam. Um
deles se aproximou. Be Prepared! Americano, boy Scouts. Incrível! Que movimento
é este? Deus do céu!
Boa
noite meus amigos, não posso ficar lembrando. Me emociono demais, tempos que se
foram e não voltam mais. Lágrimas caem devagar. Hora de dormir. Durmam com Deus!
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