Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

sexta-feira, 14 de março de 2014

Lembranças de um menino Escoteiro. A Canção da Despedida.


As ultimas badaladas da meia noite estão chegando.
Lembranças de um menino Escoteiro.
A Canção da Despedida.

                        Meu primeiro acampamento, quanto tempo, início da década de cinquenta, novo na patrulha, onze anos, lobinho de coração. Estranho no ninho. Medo, receio. Uma nova etapa. Sem minha Akelá e o Balu para me proteger. Lágrimas brotaram quando fiz a passagem. Aos poucos fui acostumando. Ângelo o Monitor, grande companheiro. Até quando casei lá estava ele ao meu lado como meu padrinho. Algumas excursões, mas nada como este acampamento. Seis dias. Mata fechada. Selva para mim inóspita, Pânico no primeiro dia. Depois, barracas montadas, cozinha coberta, fogão suspenso, sala de refeições, fossas, Até WC fizemos!

                           Quando a noite chegava, estava em pandarecos. Mas orgulhoso. Era mais um deles. Ajudei, colaborei. Dormia o sono dos justos. Só acordava com alguém me chamando ou puxando meu pé. E de novo, vivendo com meus amigos, fazendo, construindo, aprendendo, brincando, aventuras maravilhosas. Escaladas (tremia) balsas, pistas de animais, grandes pioneiras, subir em árvores, comida gostosa, banhos deliciosos, predadores, escorpiões, cobras (que medo!), chupar cana, colher goiabas, mangas, abacate, nas mais altas árvores.

                            Quinto dia. Orgulho daquela patrulha, irmão das demais. Amigos, fraternos, uma chefia maravilhosa. Então a surpresa. Um Fogo de Conselho só da tropa. Senhor! Olhe, fico arrepiado ao lembrar. Ficou marcado para sempre. Ria, cantava, batias palmas, pulava, corria, e então... E então... Todos deram as mãos em volta do fogo e começaram a cantar. Eu a principio não conhecia a letra, aos poucos fui entendo. Meu Deus! Que musica maravilhosa! Tocou-me fundo no coração. Impossível aguentar a emoção. A primeira emoção. “Não é mais que um até logo”! Onze anos e chorando. Lágrimas descendo no meu rosto. Mãos entrelaçadas, apertando uma as outras. 

                             Parou a canção. Final, fogueira crepitando, estrelas no céu. Vento frio, brisa no rosto, cheiro da terra, do capim meloso, grilo saltitando, vagalumes aqui e ali querendo mostrar seu brilho. Silêncio na mata. Lagrimas caindo, uns olhando para os outros tentando disfarçar. Trombeta tocando. Reunir! Boa noite, Corte de Honra, oração. Fui para a barraca com um sorriso enorme! Deitei, coloquei as mãos debaixo da cabeça, olhava para o teto da barraca, ele desaparecia. Agora via estrelas brilhantes no céu. Chorei. De alegria de saber que tinha encontrado amigos, irmãos e que agora pertencia a uma grande Fraternidade Escoteira. Agora eu era um deles, um escoteiro, um privilégio de poucos!

                              Foi a primeira grande emoção. A Canção da despedida marca. Vocês que me leem sabem disto. Chorei depois muitas vezes. Era marcante. Não dava para esconder, que já participou sabe o que estou dizendo. Não sei explicar quando cantamos, se ela dói se machuca se uma saudade gritante fala para nós, não perdermos as esperanças de que um dia voltaremos a nos ver. É uma situação inusitada. Se nós contarmos para um amigo ou amiga, eles vão rir. Acha que somos bobos, tolos. Não compreendem. Não entendem. Não sabem o que é isto. Nunca vão saber... Só nós, os privilegiados deste incrível movimento escoteiro.

                             Centenas, muitas centenas de vezes participei com orgulho. Dizia a mim mesmo que não mais iria chorar. Engano. Bebê chorão! Sempre ali, lagrimas e lágrimas escorrendo no rosto, caindo e molhando a terra, nosso chão abençoado. É, escotismo, você marca. Como você não existe outro. Por isto te amo, te adoro, vivo para ajudar a todos, mas que orgulho em ser escoteiro. Aprendi ali, vivendo intensamente tudo aquilo que você tem. Sorrindo, cantando, Chorando! Sim mas sem nunca se esquecer das horas e horas maravilhosas que contigo passei.

                 A vida não para os anos passam e nos levam a lugares nunca dantes imaginado. Lá estava eu na cidade de Hermosillo, capital do estado de Sonora, México. 50 anos de fundação do Grupo Escoteiro. Vários outros grupos irmãos. Achei que dava para enrolar no idioma. Nada. Um paspalho era eu para entender o que diziam. Mas quem disse que em acampamentos escoteiros precisamos disto? Parece que falamos um só idioma. Claro, somos iguais em todas as nações. Nossa! Marcou mesmo. Incrível a amizade dos escoteiros mexicanos. Simples, leal, honesta, sem altivez, soberba. Que amigos! Tocaram meu coração. Mas quando chegou à hora da despedida! Ah! Não, não queria sair dali. Chorei copiosamente. Um marmanjo. Trinta e quatro anos! Abrindo a boca, lágrimas e lágrimas descendo pelo rosto. E o pior, quando terminou a Canção da Despedida, todos vieram me abraçar, chorando também, dizendo, - “No te vayas, te queremos, quédade nosotros”... Quem aguenta? Diga-me meu amigo e irmão escoteiro, quem?

                             E o pior, no dia seguinte, a tomar o trem para a cidade do México, lá estavam eles na estação, barulhentos, amigos abraçando, cantando canções típicas, e quando o trem foi se afastando, cantaram de novo a Canção da Despedida. Rapaz foi incrível suportar! Impossível! E repetiam, repetiam – “No te vayas, te queremos, quédade nosotros”! Marcou meu amigo. Marcou. Passageiros ao meu lado não entendiam. Um deles se aproximou. Be Prepared! Americano, boy Scouts. Incrível! Que movimento é este? Deus do céu!


Boa noite meus amigos, não posso ficar lembrando. Me emociono demais, tempos que se foram e não voltam mais. Lágrimas caem devagar. Hora de dormir. Durmam com Deus! 

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