Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

terça-feira, 11 de março de 2014

As tardes são para os velhos escoteiros.



O relógio se aproxima da meia noite, é hora de dormir!
As tardes são para os velhos escoteiros.
                    
Eu gosto de ver as tardes chegando. São belas. Algumas têm um lindo por do sol, outras uma garoa gostosa e tem aqueles de frio e chuva torrencial. Não importa. Elas sempre me encontrarão sentado na minha varanda, para mim um local delicioso e para outros uma varanda comum. Sei que ali me sinto bem e sinto que a pequena varanda faz parte do meu lar. Eu chamo de Morada da Felicidade. Na maioria das vezes a Celia está do meu lado. Ela tricotando e eu pensando. Ficamos horas em silencio. Talvez nossos pensamentos se cruzam lá onde um dia iremos viver para sempre.

Minha morada é simples. Nada de palacete, nada de casarão. Uma casa pequena, em uma rua comum, em um bairro de periferia, mas que não troco por nenhuma outra. É uma morada humilde. Eu a tenho em alta conta. Não preciso de mais. Muitos fizeram de suas casas o sonho que tiveram em suas vidas. Eu nunca tive este sonho. Sei que quando me for só levarei o que fiz de bom e ruim. Serão somente as obras que irão prevalecer do outro lado da vida. 

                     Hoje estive pensando na chuva, na garoa fina que se espalhou por toda à tarde. Lembrei-me das garoas, das chuvas que um dia me maravilhou em muitos acampamentos nas terras longínquas do meu país. Lembrei-me um dia de chuva fria e gelada no Pico da Bandeira, de uma densa neblina no Itatiaia, das chuvas torrenciais quando acampava no Rio do Peixe. Lembrei-me quando resolvemos explorar onde se deu o desastre que vitimou os escoteiros e Caio Martins na Serra da Mantiqueira. Lembrei-me também quando ficamos perdidos em uma gruta próxima a Maquiné. Lá fora choveu há cântaros por quatro dias, lá dentro da caverna onde fizemos nossa barraca era gostoso, ouvia a chuva lá fora, o cheiro da terra entrava pela fresta que ainda conseguíamos ver.  Quantas lembranças quantas histórias para contar.

 A chuvas eram incessantes, mas deliciosas. Lembrei-me de trovões que marcaram uma época. Da árvore que caiu em cima de nossa barraca suspensa provocada por um raio espetacular. Risos. Quantos raios incandescentes caíram próximos ao campo de patrulha? A mão de Deus estava ali a nos proteger. Quantas e quantas descidas perigosas da Serra Da Piedade, onde sempre chovia dias e dias sem parar. De quantas e quantas noites choveu na Serra do Cipó. Na travessia do Rio Doce em uma jangada de piteiras, com a cheia do rio, dormindo noites e noites em suas margens debaixo de chuva, molhados, sorrindo e cantando o Rataplã. A cheia de que transformou o Rio São Francisco em um mar de águas e a patrulha descendo sem medo por muitos quilômetros em uma pequena canoa e a chuva não parava. Da chuva intermitente quando acampamos próximo ao Rio das Velhas e sem poder atravessar ficamos ali por seis dias.  Foram centenas de lembranças. Para cada uma delas um sorriso de um tempo que não volta mais.

                    Olhei para a Celia. Ela parecia dormitar ali na varanda com seus apetrechos de agulhas, linhas e afins. A noite chegava calma e gostosa. A chuva sessou. Uma brisa fresca no ar. O céu carregado de nuvens brancas e cinzas. Lá ao longe a cidade de pedra piscava radiantes suas luzes aos nossos olhos. Hora de dormir. De descansar. De orar e pedir a Deus por aqueles que precisam. De agradecer a ele a vida que nos deu. Sem ostentação sem riqueza, mas cheia de felicidade.


Durmam bem meus amigos. Durmam bem. Que a chuva que um dia vai cair traga um doce perfume da primavera e que as esperanças nunca deixem de existir para cada um de vocês! Boa noite! 

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