Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

O meu amado e astuto lenço verde e amarelo


Conversa ao pé do fogo.
O meu amado e astuto lenço verde e amarelo

             Todos do movimento Escoteiro têm um. Sempre o recebem quando da promessa e o usam por toda a vida. Cada grupo cada escoteiro tem orgulho do seu lenço, alguns fazem bordados lindos e outros escolhem cores bombásticas. Quando você encontra vários irmãos em grandes atividades um belo colorido se faz presente onde cada um diz – Sou do grupo tal. E o dizem com orgulho. E ele, sempre ele é o responsável pela identificação. Eu também tenho o meu. Desde criança quando o recebi fazendo a promessa de lobo. Coitado, hoje está "Velho", desbotado e quando olha para mim finge que vai chorar de tristeza. É um pândego este meu lenço. Já o conheço de longa data.

              Claro que ele fala comigo. Risos. Não acreditam? O Escoteiro não tem uma só palavra? Mas é verdade! A mais pura verdade. Conversei muito com um chapéu bem velhinho de três bicos, fui amigo de um bastão da Patrulha Pantera, conversava muito com o meu Lampião Vermelho encantado. Mas o meu lenço verde e amarelo é quem me dava mais trabalho. Sempre choroso. Sempre reclamando. – Calma, me dobre devagar, assim ficarei velho e não posso representar o grupo! – Ei, saia da chuva! Assim eu vou desbotar mais rápido! – Cuidado com espinhos na árvore, eles podem me rasgar! E por aí ele seguia com suas lamúrias.

             Quando passei para Escoteiro é que ele sofreu mais. No meu pescoço chorava lágrimas e lágrimas de crocodilo. Um dia quando estava perdido no Espinhaço da Canastra, ele não parava de dizer – Me tire do pescoço. Não faça de mim um bode expiatório da sua “lerdeza” em não prestar atenção ao caminho! Claro, nos safamos fácil. Um bom SOS com um sinal de fumaça e logo o Chefe chegou. Cheguei em casa e o chamei (o lenço). – Olhe, ou você muda ou vai para o fundo do baú! Já estou cheio de suas choradeiras. Vou comprar outro no grupo e você vai ficar sozinho pelo resto da sua vida. Olhou-me com aqueles olhos suplicantes e pela primeira vez me pediu desculpas.

              Mas no fundo eu gostava dele muito. Afinal foi minha mãe quem fez e olhe com duas bandas para ficar mais cheio, mais gordo e dar um ar especial quando o colocava no uniforme. As marcas de guerra ficaram gravadas nele para sempre. Muitas vezes teve que ser cerzido. Enfrentou comigo borrascas, vendavais leves, chuvas intermitentes, sol de rachar, travessias em rios, florestas e ele sempre soube que não teria boa vida. Ficou no meu pescoço por muitos anos. Até quando tive de mudar de cidade e no grupo que entrei era outro lenço. Então uma briga. O Vermelho e Branco que passei a usar era um gozador irreverente. Sempre pegando no pé do meu Verde e Amarelo que ficou protegido por um plástico colocado em uma parede do meu quarto.

            Hoje lá estão os cinco que um dia tive a honra de usar. Todos na parece do meu quarto e agora no quartinho dos guardados em meu lar. O Verde e Amarelo ficou amigo do Vermelho e Branco, do Vermelho e Preto, do Azul e grená e do Branco e cinza. Grupos por onde passei e que me deixaram saudades. Quando lá estou só com eles, um gostoso bate papo entre mim e eles se desenrolam como se fosse uma conversa ao pé do fogo, onde relembramos com saudades dos tempos aventureiros em que passamos juntos. Cada um sempre tinha uma história que julgava mais importante que os demais. Mas eu gostava de ouvi-los. Era divertido. O Verde e Amarelo pela sua idade falava grosso, querendo ser o pai de todos. Mas no fundo eram grandes amigos. Devem conversar o dia todo mesmo quando não estou presente.

             Saudades dos Grupos Escoteiros que passei. Bons amigos eu lá deixei. Ainda bem que os lenços hoje estão comigo para me fazer reviver as histórias e as epopeias que lá aconteceram. Valeu. Mas não sei por que, tenho uma preferencia pelo meu Verde e Amarelo. Ele sabe disto. Sorri para mim como a dizer – Eu sou o melhor! – Metido ele não? Mas para dizer a verdade eu amo todos. Fazem parte de mim, fazem parte da minha vida Escoteira.


              E você? Trata bem o seu lenço? Joga-o em qualquer lugar quando chega de atividades escoteiras? Não o deixa já pronto em um cabide para ele se manter no formato? Claro que sim. Escoteiro que é escoteiro cuida sempre do seu lenço, do seu chapéu ou boné, do seu bastão e do seu uniforme. Afinal faz parte da sua educação escoteira e ela nunca será esquecida!      

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