Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

O celular.


Conversa ao pé do fogo.
O celular.

          Trinnn! Trinnn! Trinnn! Quem aguenta? E os de sons diferentes? Cantorias? Tem gente que adora como diz um compadre meu. Dizem alguns que não sabem viver sem ele, outros gastam o que não tem para trocar todo ano e outros acostumaram tanto que ficam olhando para ele dia e noite. Noite? Sim. Conheço um que acorda de madrugada e lá está ele com seu indefectível celular. Hoje eles estão em todas as mãos possíveis. Olhar fixo, procurando seus amigos, fotos, e-mails e tantas maracutaias modernas que me perco só em dizer os nomes. Quer saber? Eu não gosto. Devia gostar. Mas nunca tive um. Meus filhos insistem para que compre um ou então vão me presentear. Não quero. Por favor, não! Outro dia me vi pequeno lá na década de 50 e o celular fazia parte do dia a dia de todos. Que balburdia seria.

         Vi-me ali, no cerimonial de bandeira, éramos a patrulha de serviço do dia, eu com a Nacional, e junto a mim outros com a do Grupo e a do Estado. O Chefe diz – Firme! A bandeira em saudação! Começa a subida das bandeiras e puxa vida, diversos celulares começam a tocar. – Oi linda, estou na ferradura diz um, ligue mais tarde logo estarei na reunião de Patrulha e falo com você. Ou mamãe, quando acabar vou direto para casa diz outro eu prometi chegar cedo não disse? Você tem de me pagar o que deve ouve um assistente da tropa. Ele fica vermelho. Estava no viva voz. Não sabíamos de um caloteiro na tropa. Risos. E a bandeira? Acho que o cerimonial perdeu todo o significado.

        E lá estava eu, junto a Patrulha de monitores, acampados e nos conhecendo, já noite, deitados na relva e observando o vai e vem dos cometas, o piscar das estrelas e apaixonadamente vou narrando a todos a beleza do universo. Explico onde ficam as constelações, os olhinhos de todos fixos no espaço, sonhando e caramba! Toca um celular. Maldito barulho. Um dos escoteiros meio sem jeito levanta e atende. – Não, não posso sair com você hoje. Estou acampado. Eu sei. Mas saiba que adoro você. Calma. Não diga isto. Amo você, mas amo também o escotismo. – Haja paciência.

        E em pleno desfile, passando em frente ao palanque das autoridades e eis que vinte celulares tocam ao mesmo tempo. O barulho foi tanto que até escondeu o som da fanfarra. Todos atendendo ao mesmo tempo. – Não posso agora. Estamos desfilando. Entenda, não dá para atender. Oi bela, amo você. Tudo bem Mariquinha, à noite falo com você. Mãe, estamos desfilando! Você não dá sossego!  Belo espetáculo. O prefeito riu e atendeu o seu celular. O delegado franziu a testa e o celular dele tocou. A diretora da escola fechou a cara e na bolsa o barulhinho indefectível. E os chefes ficaram vermelhos e com medo dos seus tocarem também. Maldito celular! Ou bendito celular?

       A tropa formada. Dia de promessa. Todos perfilados. Um Escoteiro novo se preparou por três meses para agora ter o direito de usar o lenço e o distintivo de promessa. Ao lado o Monitor. O Chefe pergunta: - Estas pronto para a promessa? Sim Chefe ele responde. Conhece a Lei Escoteira? Sim Chefe! Fale do quinto artigo para toda a tropa – E eis que o celular dele toca. Ele vira para ao Chefe. – Só um minutinho. Um amigo quer saber se vamos na balada hoje. Logo, logo comento o artigo. É. Mas não para por aí. O do Chefe toca também. É a esposa – Está no viva voz – Mauro! Você não deixou o dinheiro para pagar a Dona Filomena! Ela disse que se não receber não faz mais faxina em casa!

      O celular. Bela invenção. Coloca-nos junto a todos que o possuem. Não temos mais o direito de ficar sozinhos. Lá está ele nos incomodando se estamos almoçando, trabalhando, cantando no chuveiro ele toca e intrometido como é alguém diz do outro lado – Quem está falando? Ele que ligou e vem com essa? E ainda insiste em saber quem está falando? Se você diz que é o Fagundes ele diz, chama a Maricota. Nem te diz bom dia! Não pede. Ordena. Ainda bem que não tenho um. Não tenho mesmo. Até o meu fixo evito usar. Gosto do silêncio. Adoro. Quando acampava meu esporte favorito era chegar o mais próximo dos animais. Pé ante pé, rastejando, do lado contrário do vento para ele não sentir, Chegar bem pertinho, sentir seu cheiro e Puff! Toca o celular e ele sai correndo! Nunca. Não quero. Já pensou você pescando uma bela traíra, seria sua janta e sabe que não pode haver barulho se não ela foge. Puff! Toca o celular!

      Sei que cada tropa e cada Alcatéia tem sua maneira de agir. Mas eu? Não quero. Não gostaria de voltar ao passado, montando um campo de Patrulha, fazendo uma mesa, um fogão suspenso e a maioria com um celular conversando com outros a centenas de quilômetros de distância. Ainda lembro-me daqueles novatos, que quando a noite chegava choravam pedindo mamãe. E se tivessem o celular? – Mamãe, por favor! Venha me buscar! O Chefe quer me matar! E berrava de choro no celular!


      Fiquem com os seus. Não tenho, e nunca vou ter. Celulares! Eu era feliz sem eles e continuo feliz não os tendo!  

Nenhum comentário: