Lembranças da meia
noite.
O palavrão.
Não gosto.
Não gosto mesmo. Se tiver quem goste fique a vontade claro longe de mim. Não
critico. Na minha época de menino diziam que estávamos com a boca suja. Na
minha família dificilmente alguém dizia um palavrão. E se por acaso dissessem
podia esperar um pedido de desculpas. Lembro uma das minhas irmãs sobre um
ex-namorado dela falou um palavrão. Uma semana depois quando estávamos jantando
ela pediu desculpas a todos. Era questão de honra na patrulha e na tropa não
falar palavrão. Se fosse seguir a lei escoteira aí que palavrão seria proibido
em qualquer lugar. Lembro que em um acampamento distrital de patrulhas uma
delas não tinha papas na língua. Quando um chamava o outro logo vinha um
palavrão. O cozinheiro coitado era xingado a torto e a direito. Dizem que nós
adultos somos responsáveis pelos jovens falarem palavrão. Concordo. O jovem sem
perceber copia tudo que o adulto faz.
Nestes
acampamentos nacionais, aventuras e Jamborees soube que os palavrões andam
soltos. Não posso afirmar, pois não tenho participado deles. Dizem que entre os
jovens isto é comum. Comum? Bem só se for para eles, pois para mim não. Assim
como dou o respeito exijo ser respeitado. Outro dia um Escotista me disse que
isto hoje é natural. Não é não. É falta de respeito. É descumprir a lei
escoteira. Para dizer a verdade nem piadas com palavrões eu gosto. Quando
alguém começa a contar e vem um palavrão eu fecho a cara. Podem chamar-me de
quadradão, Velho chato o escambal. Como pensar em um jovem ou uma jovem
adquirir o “Espírito Escoteiro” falando palavrão? Afinal dizer por dizer que o
Escoteiro é limpo de corpo e alma é fácil, mas ser limpo realmente é outra
coisa.
Dizem que um
grande escritor já escreveu o dicionário do palavrão brasileiro. Um herói para
muitos. Para mim não. Herói é outra coisa. Herói é o que fala e escreve sobre o
amor, do respeito, da ética, do caráter, do aperto de mão sincero, do sorriso
verdadeiro e saber que ele é um homem honrado e não me venham dizer que o
palavrão não atrapalha nada disto. Já me disseram tantas coisas da modernidade
que eu fico pensando se vale a pena ser moderno. Uma vez, há muitos e muitos
anos visitei amigos que participavam de um grupo Escoteiro. Cheguei lá como
sempre chego. Meu caqui querido, meu chapelão, barbeado, banho tomado, lenço
bem dobrado, meião nos “trinques”. Queria dar o respeito aos jovens que ali
estavam. Jogavam futebol. Meu Deus! Quanto palavrão. O Chefe ria a vontade.
Olhei para ele sério – Você acha graça? Isto é escotismo? Futebol? Palavrões?
Dizer o que? Primeiro futebol qualquer Escoteiro joga a semana toda em sua
escola, na rua em qualquer lugar. Nas reuniões de tropa é falta de programa é
falta de conhecimento de bons jogos, e os palavrões? Caramba! Que mau exemplo.
Esta semana
vi um artigo de uma jovem mãe cujo nome é Claudia Cecilia. Adorei o que ela
escreveu. Fez-me ver que não estou sozinho nesta cruzada. Disse ela: Sinal dos tempos ou falta de educação:
- Outro dia li uma nota em uma coluna e contava que a quadra de tênis de
um condomínio na Barra tinha sido interditada não por problemas de estrutura,
obras nem nada, mas pela falta de educação dos frequentadores. De tão
desbocados, eles – crianças, adolescente, jovens – começaram a incomodar tanto
os vizinhos à quadra que o jeito foi fechá-la.
Já tem um tempo que venho observando isso e me impressionado. Gente é
meu ouvido que está ficando velho e chato ou as crianças andam desbocadas
demais? Vejo crianças de sete, oito, dez anos falando palavrões que eu só fui
falar na vida adulta e ainda assim em arrependo de ter adquirido esse hábito
pouco fino. Tenho amigos que falam palavrões com os filhos normalmente e isso
me faz lembrar-se do quão desbocado era meu pai. Só que meu pai nunca dirigiu
um palavrão a mim ou a minha irmã e jamais admitiu que falássemos. Às vezes me
sinto incomodada em locais públicos, como a praia ou o saguão de um cinema, em
que adultos falam palavrões aos berros, sem a menor cerimônia, como se não
houvesse crianças em volta.
Aí outro dia ouvi uma psicóloga que tem coluna numa rádio de notícias
dizer que isso tem a ver com o código de cada família e que os pais podem
conversar com os filhos e estabelecer as próprias regras, tipo esse palavrão
pode, esse não pode. Sei lá, achei isso meio complicado e, considerando que uma
hora não se tem mais controle sobre o vocabulário dos filhos mesmo, acho mais
prático proibir enquanto crianças e adolescentes e estabelecer o limite do
tolerável quando jovens e adultos. Mas que não quero ver minha filha na
pracinha ou no play xingando os amigos ou berrando palavrões a esmo, ah, não
quero mesmo.
Bem pensado bem falado e bem escrito. Continuo não aceitando palavrões
principalmente no escotismo. Bolas, que escotismo é esse que está cheio de
palavrões? Bah! Quer falta de respeito. Não me convidem para nada onde eu possa
ouvir um palavrão. Quer saber? Participei de centenas de Fogo do Conselho. Se um
esquete ou algum participante falava um palavrão, esperava acabar e o chamava
em particular. – Mas chefe! Não viu como eles riram? Diziam. Pode ser. Mas eu
não ri. E se você considera que é um Escoteiro puro nos seus pensamentos nas
suas palavras e nas suas ações, tenho certeza que nunca mais irá falar um
palavrão!
Boa noite meus amigos e minhas amigas. Durmam bem. Sonhem muito.
Acreditem que a felicidade existe. Está próximo de você. Não a deixe ir embora!
Até amanhã.
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