Lembranças da meia
noite.
Isto não existe mais?
Não existe
mais? Olhar o seu calçado para ver se está limpo? Olhar seu cinto para ver se a
fivela está brilhando? Ver seu meião se está com as estrias retas? Ou então se
ele no alto está dobrado com a medida de três dedos? Não? Não existe mais?
Então ninguém mais se olha no espelho para ver se está condignamente
uniformizado? Se o lenço foi bem dobrado e perfeitamente colocado parte com
parte? Não existe mais? Olhar se as unhas estão cortadas, se o cabelo foi
penteado, se no bolso estava à moeda da boa ação, o lenço e o pente? Isto não
existe mais? Um pequeno lembrete para contar ao Monitor e ao Chefe a sua melhor
boa ação da semana? Considerar ponto de honra à limpeza da área da sede? Não
jogar papel no chão, até o mais humilde palito vai para a lixeira? Fazer de
tudo para ser o primeiro a dar Sempre Alerta? Não existe mais?
Dizer para a
mamãe que lavou sua roupa no acampamento? Mostrar para a mamãe que toda a roupa
que levou está limpa, pois você a lavou no acampamento? Sorrir para o Monitor
quando ele perguntar se ainda se lembra do sétimo artigo da lei e você diz sem
pestanejar? O orgulho de fazer quinze nós Escoteiros e mais quinze de
marinheiro de olhos fechados? Não existe mais? Tirar sua faca da bainha e
mostrar que está limpa e você passou um pouco de talco para não enferrujar?
Entregar dentro das normas escoteiras ao companheiro a faca, a machadinha e o
facão? Sentir orgulho quando Chefe fazia a inspeção e seu material estava posto
corretamente nos moldes de Giwell? Não existe mais?
E quando
você afiava uma ferramenta com perfeição? Nunca esqueceu quando transmitiu 35
letras em um minuto nas semáforas? Ou então quando junto ao seu amigo de
patrulha construíram uma pequena cigarra e se orgulharam de transmitir os
sinais de Morse em quarto diferente? Isto não existe mais? E quando acendeu sua
fogueira com um palito? E quando cozinhou seu arroz e fritou os peixes que
pegou naquela noite chuvosa? E quando sua patrulha construiu um Ninho de Águia
no Jequitibá do acampamento? E aquela ponte pênsil no Riacho do Tatú? E aquela
barraca suspensa que de madrugada caiu? E quando quase conseguiu tocar no Quati
na Mata do Rio Pomba? Isto não existe mais? E quando O Josiel quebrou o braço
naquela jornada e você fez uma tala de madeira protegida por lenço e tudo deu
certo? E quando você manejava a bússola com perfeição e sabia seguir um mapa,
um croqui ou um percurso de Giwell? E na sua jornada de Primeira Classe onde
quase se perderam no vale do Rio Doce? Isto não existe mais?
E quando iam
dormir, você e sua patrulha ajoelhavam no capim molhado e rezavam agradecendo a
Deus pelo dia? E na alvorada de short a fazer a educação física com um frio de
doer? E as noites na porta de sua barraca com um foguinho aceso a patotear com
seus amigos com causos e causos e davam belas risadas? E quando passaram mal
por comer muita batata doce? E fazer mil e uma armadilhas para pegar um pássaro
grande e fazer um belo assado? E os bagres e mandis do Córrego do Boi que não
conseguiam fisgar? Isto não existe mais? E das jornadas noturnas, dos bivaques
sem fim, a tropa alegre a cantar o rataplã? E quando acordaram as quatro da
matina só para ver o nascer do sol no Pico do Papagaio na Serra da Mantiqueira?
Isto não existe mais?
Boas noites meus amigos e amigas. Eu rezo para que isto ainda
exista, pois é a essência do escotismo. Fora do campo o Escoteiro e a Escoteira
são como peixes fora d’água. Durmam bem e boa semana.
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