Coisas do passado.
Lembranças e lambanças. Pois
nunca fui santo. Risos.
Baseado em fatos reais.
Minha Patrulha Sênior por volta de 1957. Éramos seis. Fomos acampar na
Caverna do Morcego uma barranca do Rio Doce, acima de São Raimundo depois da ponte
da estrada Rio Bahia. Seriam três dias de diversão, pois lá assa-peixe e bambus
tinham a rodo. Seriam três dias sem necessário armar barracas, pois a Caverna
era enorme e cabia gente que não acaba mais. Tudo foi levado em nossas
bicicletas. No sábado pela manhã observamos um pelotão do Tiro de Guerra
(unidade do exército que existia e acho que ainda existe nas pequenas cidades
do Brasil) montando um acampamento. Uns oitenta soldados recrutas e um sargento
nosso Velho conhecido. Estávamos fazendo uma torre de observação, uma das mais
altas que já tínhamos feito. Do alto da torre dava para avistar a ilha do
Macaco e fazendas próximas. O Arlindo sub achou à tarde na beira do rio uma
enorme (grande mesmo) abobora amarela. Precisou da ajuda de outros dois para
levá-la até ao acampamento.
Abobora deste tamanho não é boa
para comer, mas logo alguém que até hoje não lembro deu a ideia supimpa. O
Arlindo e o Ronaldo ficaram horas trabalhando a abobora. Limparam por dentro,
fizeram uma bocarra cheia de dentes. Em cima ele mestre no assunto fez uma
tampa fácil para abrir e fechar. Parecia uma gigantesca feiticeira ou o demônio
sem lá. Os olhos eles fizeram questão de colocar dois ovos presos com barro. A
noitinha estava pronto. Normal quase todos seniores terem uma ou duas velas na
mochila. Bastaram quatro postas, muitas folhas verdes em volta e com muito
cuidado para não afundar eu mesmo fui nadando e a levei até o meio do rio, com
as velas acesas e a fumaça saindo por todos os lados.
Foi à conta, a gente já esperava um susto, mas o que aconteceu foi
demais. Quando a abóbora passou pela área do Tiro de Guerra (por volta das onze
e meia da noite) o sentinela levou o maior susto. Passou a atirar a torto e a
direito e gritava – O capeta! O demônio! O diabo! Socorro! Vieram outros
recrutas que estavam dormindo. Muitos de cueca, short e até uns pelados. Todos
armados (Fuzil Mauzer, modelo 1908) e não faltou bala para ninguém. Começaram a
atirar. Era soldado correndo atirando e gritando. Eu até ouvi um pedindo sua
mãe. Coitadinho, agora tinha que se virar. Tanto correram e atiraram que acabou
a munição. Foi nesta hora que surgiu o Sargento Martinho levantando as calças
(devia estar no WC) foi até sua barraca, pegou seu fuzil mirou e acertou uma
bala bem no centro da abobora que se despedaçou.
Nunca rimos tanto dos pobres recrutas. Contamos para a cidade em peso.
No sábado de reunião nos divertíamos com uma corda montando um tripé e levamos
o maior susto. O Capitão Leopoldo do Tiro de Guerra entrou no pátio da sede
acompanhado do Sargento Martinho e dois recrutas que nos reconheceu. Pediu ao Chefe
João Soldado para falar conosco. Começamos a urinar nas calças. Um medo danado.
Formados em linha, em posição de sentido, os seis bravos escoteiros seniores
tremiam como varas verdes. O capitão andando de um lado ao outro fez uma
pequena inspeção nos uniformes, nos olhou olhos e falou:
- Então são vocês, seis merdinhas escoteiros que
botaram o Exército Brasileiro para correr? E começou a rir desbragadamente. E
não parou de rir até que toda a Patrulha parou de tremer e a rir também. A
cidade nunca esqueceu a historia e por muitos e muitos anos o causo era
lembrado nas padarias, nos bares e claro no Barbeiro, local de fofoca e
conversa fiada. Risos.
E como digo no final das minhas historias, acredite
se quiser! Risos.
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