Conversa ao
pé do fogo.
A Jarreteira de Daniel San.
Todos estavam
perplexos com as fitas verdes e amarelas penduradas no meião de Daniel San. Ele
todo posudo chegou à sede se exibindo. Foi para o canto de patrulha e o Monitor
perguntou a ele o que era aquilo – Uma jarreteira Monitor, nunca ouviu falar? –
Joel nem sabia o que era. Para não demonstrar ignorância não disse mais nada.
Ele sabia que peças que não eram do uniforme não era permitido usar. – Falou
com o Chefe? Ele perguntou. – Ainda não, mas ele vai ficar admirado da minha
jarreteira. – E quem lhe disse que são peças Escoteiras? – Minha Avó disse que
meu Avô foi Escoteiro em Portugal e usava. – Seu Avô? Ele era português? –
Claro, meu Avô foi um Escoteiro e chefão em Funchal na Ilha da Madeira. Fez
todas as provas e chegou a Liz de Prata. Olhe quando cresceu foi Escoteiro
Chefe. Minha Avó sempre me conta como sua casa vivia cheia de Escoteiros! –
Joel ouviu o apito do Chefe. Ele chamava os monitores. Passou o comando para
Francis o Sub Monitor e saiu correndo. A patrulha ficou em silencio olhando a
Jarreteira de Daniel San.
- Estou vendo que o Daniel San
colocou uma Jarreteira, - Perguntou o Chefe Jaguar. – É Chefe, ele chegou assim
e disse que em Portugal todos os Escoteiros usam – Tudo bem, não diga nada a
ele. Vou aproveitar para fazer uma palestra sobre as Jarreteiras. Assim todos
aprendem e claro, irão saber que aqui no Brasil não usamos mais. – Joel ficou
pensativo, ouviu o Chefe quanto à próxima atividade que fariam naquele dia, um
jogo fora da sede e que todos deveriam ficar alertas para não acontecer nenhum
acidente. O jogo foi legal. Deveriam descobrir um homem chamado Maneta que
ninguém conhecia. Ele estava vestido comumente, sem nada especial, mas alguma
coisa chamaria a atenção quando o vissem. Ao descobrir deveriam formar a
patrulha em linha a sua frente e cantar o Rataplã. Se ele sorrisse e dissesse
sempre alerta, era o procurado se não iriam dar com os burros nágua. As
patrulhas se divertiram a beça em volta da sede. Muitas erraram feio, mas o
Chefe instruiu a todos que a cortesia e a apresentação iria mostrar que o erro
faz parte e o apresentado iria compreender bem.
- A Patrulha Castor ganhou o
jogo. Eles viram o homem na esquina da Marechal Deodoro e foi Tonico quem
reparou que seu cadarço tinha duas cores. O Chefe deu um tempo livre de dez
minutos e formou todos em ferradura – Alguém já ouviu ou viu uma Jarreteira? –
Todos nem sabiam o que era isto. – Reparem em Daniel San. Ele hoje veio com
uma. Ela não é mais usada no Brasil e poucos países do mundo a usam. Portugal
mantem a tradição. – Tradição Chefe? – Disse Bartolo Monitor da Castor. – Isto
mesmo, ouve uma época que nós usamos, mas depois foi extinto o uso.
Baden-Powell usou sempre em seu uniforme. Mas olhem, é melhor eu contar para
vocês a história – Querem ouvir? – Todos olharam o meião de Daniel San e
sorrindo disseram sim! Tudo bem, vamos lá, a Jarreteira é uma fita que serve
para prender o meião à perna, desenhada com as cores dos ramos para membros
juvenis e de acordo com as funções exercidas para os chefes do movimento
Escoteiro. Existiu ou ainda existe uma Ordem Militar de Cavalaria, instituída
por Eduardo II, rei da Inglaterra denominada Ordem da Jarreteira. É a mais
nobre das oito ordens que possui o Império Britânico.
- Continuou o Chefe Jaguar –
Ninguém sabe de concreto sobre a data da sua instituição. Vem do século XIV.
Quanto ao ano a opinião dos historiadores heráldicos varia desde 1340 até 1351.
Inicialmente ela só era usada pelo soberano e 25 cavaleiros. Até 1786 não
sofreu nenhuma modificação. Só em 1805 se fez a segunda modificação. Finalmente
em 1831 ordenou-se que o privilegio seria concedido aos descendentes diretos de
Jorge II e Jorge I. Na época não se permitia mulheres na ordem. Existe uma
lenda, segundo a qual por ocasião de um baile, caiu à liga da Condensa de
Salisbury, dama da corte de Eduardo III e o rei abaixou-se rapidamente para
apanhar e entregar à dama. Isto deu motivo de riso e graças por parte dos
presentes e o rei exclamou: “Honny soit qui mal y pense”. (mal haja quem nisto
põe malicia). Ouve outras lendas como aquela de Ricardo I que ao atacar Chipre
invocou São Jorge que lhe deu grande ânimo e veio à ideia de atar as pernas dos
cavaleiros com uma fita de couro que lhes lembrassem o feito. Eduardo II ao
instituir a Ordem da Jarreteira designou a liga como seu emblema. O distintivo
desta ordem é, com efeito, uma liga que, bordada a ouro e pedrarias (jarreteira)
tem a legenda: - Honny soitqui mal y pense. Atada na perna esquerda junto ao
joelho.
A tropa pela primeira vez
prestava a máxima atenção. Daniel San se sentia um cavaleiro britânico com suas
jarreteiras. Continuou o Chefe Jaguar: - Os cavaleiros do rei usam no lado
esquerdo do peito uma placa de prata ou estrela de oito pontas representando a
Cruz de São Jorge. Usam também um colar de ouro, composto de 26 peças em forma
de jarreteiras, esmaltadas de azul com a imagem de São Jorge abatendo o dragão.
Finalmente usam uma cinta de azul escuro, atravessada sobre o ombro direito e
debaixo da qual há uma joia de ouro em forma de jarreteira, rodeando a imagem
de São Jorge com a divisa da Ordem. Assim esta insígnia foi concedida ao
Escotismo, motivo de muitos Escoteiros ainda usarem um pedaço de tecido
pendurado na parte exterior das meias do uniforme e presa pela liga. As
histórias da Ordem da Jarreteira se confunde em muitas lendas que até hoje são
lembradas e usadas por grandes personalidade britânicas. Lembro que em Portugal
todos os Escoteiros usam as jarreteiras.
Chefe Jaguar se calou e olhou
para Daniel San. – Obrigado Daniel San por trazer uma jarreteira onde todos
pudessem conhecer sua história. Infelizmente aqui no Brasil elas não são mais
usadas e assim você deu um belo exemplo em mostrar que existem histórias,
lendas e tradições que marcaram muito o movimento Escoteiro por muitos anos e
vai ser lembrado por toda a vida. Guarde bem sua jarreteira no seu baú do tempo
para quando crescer lembrar dela com saudades! – Daniel San viu no Chefe Jaguar
um cavaleiro Britânico no tempo de Eduardo II e sendo saudado por todos que
pertenciam ainda a Ordem das Jarreteiras. Daniel San nunca mais usou em
reuniões, mas sempre ao chegar em casa com seu uniforme, colocava sua
jarreteira e ficava olhando e lembrando de um passado que hoje não existe mais!
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