Crônicas de
um Velho Escoteiro.
Adoro ser um
saudosista sonhador.
Poderia ter começado esta
minha crônica dizendo: Oh! Que saudades que eu tenho, da aurora da minha vida,
da minha infância querida que os anos não trazem mais... É Cassimiro de Abreu,
seu poema bate fundo na alma de um Velho Escoteiro. Ainda mais quando me dizem
que o passado devia ser morto e enterrado. Não disseram que esquecer é uma
necessidade? Que a vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo
caso, precisa apagar um caso já escrito? Não gritem nos meus ouvidos que
devemos voltar o rosto sempre na direção do sol, pois só assim as sombras
ficarão para trás. Não acredito nisto. Posso viver o presente, mas nunca vou
esquecer o meu passado. Dizem que o nosso presente são das coisas boas ou más
que fizemos no passado. Não sei. Eu gosto quando me chamam de saudosista. Hoje existe
uma nova ou velha moda comportamental que tenta esconder o saudosismo. Dizer
que naqueles tempos, foi melhor que hoje é só para quem conseguiu viver uma
vida cheio de alegrias e felicidade. Dizem que de novo a um rumor saudosista,
crescendo, afirmando como era bom naquele tempo que a amizade valia mais que
uma promessa, que a palavra e a honra era respeitada, onde a lealdade nunca
poderia ser posta em dúvida.
Comentam por aí os defensores do saudosismo que
desde que nascemos já temos saudades. Começa quando nos afastamos do ninho
cálido onde estivemos por nove meses, um lugar seguro e protetor, onde o mundo
ali era somente seu. Mesmo crescendo havia a proteção da mãe, dos amigos, de
aventuras que fazíamos de tantas coisas que a gente nunca mais esqueceu. São saudades
de um tempo que se vivia sorrindo, alegre e solto, sem muitas imposições da
sociedade onde a primavera era lembrada quando as flores começavam a florir
encantamentos nos quintais, nas estradas, nos campos que floriam sem a gente
saber que a primavera chegou. Ruy escreveu um dia que “saudade é a vontade de
outra vez”. De pelo menos mais uma vez. De rever alguém, de reviver algo, de
recuperar talvez um elo perdido. Ou de até mesmo tentar descobrir se aquele
encantamento foi um belo sonho ou se realmente existiu. Sem perceber
construímos ao longo da vida um mar de sonhos que nos faz ter saudades por toda
a vida. “Que saudades eu tenho, de ainda menino, ver minha mãe cantar para mim:
Boi, boi, boi, boi da cara preta, pega o Osvaldinho que tem medo de careta”.
Podem me chamar do que
quiserem. Eu tento viver o presente, aceitar as novas normas que aceito, mas
não gosto, tentar impingir a mim mesmo que isto não é o que acreditava no
passado. Sei que tudo que disser meus pensamentos estarão fixos no passado
vivendo realidade que hoje não são mais aceitas. Eu gostaria de personificar
meu passado e torna-lo real. Eu brigo comigo mesmo para não deixar morrer
aqueles lindos e velhos tempos. Quem sabe minha saudade é a minha própria
história, nas páginas contadas aos quatro ventos, belas, generosas e cândidas.
Muitas vezes feita de uma tristeza suave, que dói e mesmo assim faz reviver.
Dizem que é como chorar sorrindo. Ou derramar lágrimas para bebê-las como se
fossem gotas de mel. Mas saudades são lembranças guardadas no coração e nunca
são esquecidas pela mente. Ela me parece ser algum pétreo, paralisante, como se
eu fosse o Senhor do Tempo e pudesse detê-la ou avançá-la. Sei que não posso
mantê-la junto de mim sempre. Dizem que os saudosistas tem alma fechada, como
se o medo ou a covardia o impedisse de viver a grande aventura de viajará
através do tempo.
Eu gostaria mesmo de tonar
vivo o meu passado. Apertar um botão e ser arremessado aqueles tempos que amei
e nunca mais esqueci. Ah! Se eu pudesse começar tudo de novo, fazer com que o
acontecido se torne vivo no presente. Não me culpo e nem sinto culpa por ser um
saudosista. Minha condição humana fez de mim um saudoso das eras passadas e
esta saudade imensa é que me ajudar a enxergar a beleza do agora e a ter
esperança no amanhã. As vezes choro sorrindo, as vezes me levanto e ando para
saber se não encontrei a porta do passado, quem sabe a beleza de antes ressurge
novamente agora. Foi bom enquanto durou e poderia ser bom novamente se todos
pensassem como eu. Mas sei que isto é impossível. Cecílio de quem tirei muitas
destas palavras foi sábio quando disse: - O saudosista quer viver do passado. O
saudado faz do passado fonte de vida!
Chefe Osvaldo,
apenas... Um Escoteiro!
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