Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

sábado, 31 de janeiro de 2015

O último por do sol.


Lendas Escoteiras.
O último por do sol.

                   Eu era Chefe de uma tropa Escoteira lá no Bairro do Berilo. Não era longe e a pé chegava a menos de quinze minutos. Era uma boa tropa. Quase não tinha problemas e os Monitores me ajudavam muito. No grupo havia uma tropa feminina, mas que não caminhava bem. Só duas patrulhas com doze jovens. Genny a Chefe era muito esforçada. Nilo e Bartilho eram meus assistentes. Não eram muito frequentes. Não sei se acontece com todo mundo, mas tem escoteiros tão bem comportados que quase passam despercebidos. Assim era Waldo. Entrando nos quatorze anos tinha todas as qualidades que a gente pensa possuir um elevado “Espírito Escoteiro”.

                    Na Patrulha Quati Waldo era uma espécie de conselheiro dos demais. Não era o Monitor, mas cativava a todos pela sua ponderação, pelo seu exemplo não só na tropa como na escola e em sua vida familiar. Quando eu tinha algum problema na tropa chamava o Waldo. Ele possuía um jeitinho próprio de conversar que conquistava qualquer um que estivesse ao seu lado. Não foi minha surpresa que um sábado de maio ao chegar à sede não vi o Waldo. Era o primeiro a chegar e o último a sair. Perguntei ao Antonio seu Monitor se ele sabia de alguma coisa. Não sabia. Pensei comigo – Deve ter sido o motivo muito forte para ele ter faltado. Fiquei de ligar para ele ou seus pais para saber se uma gripe o impediu de ir à reunião. Quem atendeu foi sua mãe. – Chefe, o melhor é o Senhor vir aqui em casa. Não dá para falar por telefone.

                       Só na quinta deu para ir até lá. Eu estava preocupadíssimo. O que seria? A Mãe dona Aurora e o pai seu Rodolpho me receberam na porta. Estavam tristes e taciturnos. – Chefe, falou dona Aurora, Waldo me pediu para ele mesmo dizer. Acho que o Senhor deve ficar prevenido. A notícia vai chocá-lo e muito. – Vi que lagrimas caiam dos olhos de ambos. O Senhor Rodolpho estava com a voz embargada. Subi ao quarto de Waldo, ele me esperava sentado na cama. Senti nele um sorriso tênue e sua voz que já era baixa de natureza estava rouca. Seus cabelos estavam caindo e aquilo me assustou. – Olá Chefe, Sempre Alerta! Ele tinha ficado em pé. Dei-lhe um aperto de mão e um abraço. – Waldo, todos estão sentindo muito sua falta e as saudades são grandes. Ele sorriu de leve. – É Chefe, vai ser difícil minha volta. Vou direto ao assunto. Melhor ser honesto com o Senhor. Estou com Leucemia no cérebro. O médico disse para minha mãe que eu tenho no máximo quatro meses de vida.

                         Foi como se eu tivesse levado um soco, uma pancada. Fiquei chocado. Sentei em sua cama. – Calma Chefe, isto acontece com um e outro, eu fui o escolhido por Deus desta vez e sorriu. – Meu Deus! Pensei. Que calma deste garoto! Incrível! – Olhe Chefe, eu convenci minha mãe. Ela e meu pai não queriam, mas eu gostaria antes de ir me encontrar com meus ancestrais lá na vivenda de Capella, eu queria ir ao acampamento do próximo mês no Vale dos Sinos. – Mas como Waldo? Você mal fica em pé e nem pode andar direito! – Eu sei Chefe, mas eu preciso. Não posso partir sem ver meu último pôr do sol nas escarpas cintilantes. - Me lembrei do que ele falava. Lá das escarpas o pôr do sol era maravilhoso. O mais lindo que tinha visto. Eu nunca pensei que ele pudesse lembrar e nem eu mesmo lembrava mais. Olhei para Waldo. Não podia negar aquele último favor. Se ele queria eu não iria dizer não.

                         Combinei com seus pais de passar lá no dia marcado pela manhã para pegá-lo. Não disse nada para a tropa e nem para os chefes. Insisti para que ninguém faltasse. Queria dar a ele uma despedida inesquecível. Seria o maior Fogo de Conselho que eu iria dirigir e ele participando. – Passei lá no dia determinado. No local do acampamento ele insistiu em ficar com sua Patrulha. Estava tremendo, fraquejava, mas dizia que iria dormir na barraca da Patrulha. Poderia ter armado uma barraca só para ele, mas ele foi enfático em ficar na patrulha e não queria dormir sozinho. – Chefe, é câncer! E ria. Nada mais que o cancerzinho idiota. Não vai ter perigo para ninguém. Ele não é transmitido assim. Não é contagioso! – Menino! Que Escoteiro era aquele? Waldo de quatorze anos me dando lição?

                           Eu tinha levado uma cadeira de praia para ele ficar sentado. O dia que ele quisesse eu o levaria em minhas costas até as Escarpas Cintilantes. Ele recusou a cadeira. Vou fazer a minha de madeira Chefe. Devagar mas vou fazer. A Patrulha viu que ele estava doente. Disse para ela que ele estava se recuperando de uma forte pneumonia. Ele quase não participava das atividades, mas ajudava na cozinha sempre. Fez uma bela cadeira. Sentava e fechava os olhos. Seus lábios entreabertos pareciam sorrir. No penúltimo dia vi que ele respirava com dificuldade. – Waldo, eu vou levá-lo para sua casa. – Chefe nem pensar. Me leve agora até as Escarpas Cintilantes. Meu tempo está se esvaindo.

                            Fui sozinho com ele. Em principio foi andando depois vi que não aguentava. O coloquei no colo. Uma palha de tão magro. Em menos de meia hora chegamos. Sentei junto com ele na barranca que dava para todo o Vale dos Sinos. Um espetáculo a parte. Deviam ser umas cinco e meia da tarde. Chefe eu posso fazer meu último pedido? Claro meu amigo. Claro. Quando eu estiver sendo preparado para seguir para a terra dos meus ancestrais no campo santo, eu não quero que cantem a canção da despedida. Cantem todas aquelas alegres que sempre cantamos, para que eu tenha boas lembranças. O sol foi aos poucos tentando se esconder atrás das montanhas do Grilo Feliz. Waldo sorria. Não tirava os olhos. Eu engasgado. Danação! Eu não era como ele. Estava difícil aguentar. Queria chorar e não podia. Não podia chorar naquele instante. Não podia. Eu sabia que eram seus últimos momentos. Waldo me olhou. Piscou os olhos e me disse – Chefe foi a maior alegria que já tive. Vou levar para sempre esta lembrança comigo. Obrigado Chefe. Obrigado. Foi aos poucos deitando no meu colo. Esticou suas perninhas secas. Waldo morreu sorrindo no meu colo naquele anoitecer frio de junho. Ficou ali imóvel como se estivesse dormindo.


                    Fiquei ali chorando por muito tempo abraçado ao corpo de Waldo. Alguém bateu no meu ombro. Olhei e não vi ninguém. Lá onde o sol se pôs vi uma nuvem branca brilhante que logo desapareceu. Desci as escarpas com ele no colo. Uma eternidade até chegar ao acampamento. Uma dor profunda. Toda a tropa chorava. Voltei para a cidade. Não chorava mais. Meu coração sumiu. Minha vontade não era minha. Naquele momento achei que eu também tinha morrido com o Waldo. No dia seguinte estávamos todos na sua exéquias. Cantamos ao som de um violão a Stoldola, Avante Escoteiro, Lá ao longe muito distante e outras. Todos cantavam com vigor escoteiro. Muitos choravam. Eu também. Não dava para segurar. Os anos passaram. Nunca me esqueci de Waldo. Nunca me apareceu em sonhos. Nunca falou comigo em espírito. Deve estar feliz, muito feliz em Capella, a terra dos seus ancestrais.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Mensagem do velho ao moço


Hora de dormir, amanhã é outro dia...
Mensagem do velho ao moço

Você já foi criança um dia... Mas os anos se dobraram e fez de você um jovem, quase um adulto...  Agora você me olha com certo desprezo só porque muitos anos se dobraram para mim e hoje eu sou um velho... Você observa minhas mãos trêmulas e encarquilhadas e se esquece de que foram as primeiras a acariciar as suas, inseguras na infância. Critica os meus passos lentos, vacilantes, esquecendo-se de que foram eles que orientaram seus primeiros passos. Reclama quando lhe peço para ler uma palavra que meus olhos já não conseguem vislumbrar com precisão, esquecido das várias palavras que eu repeti inúmeras vezes para que você aprendesse a falar. Fala da lentidão das minhas decisões, esquecendo-se de que suas primeiras decisões foram por elas balizadas. Diz que eu sou um velho desatualizado, mas eu confesso que pensei muito pouco em mim, para fazer de você um homem de bem.

Reclama da minha saúde debilitada, mas creia muito trabalho foi preciso para garantir a sua. Ri quando não pronuncio corretamente uma palavra, mas eu lhe afirmo que me esqueci de mim mesmo, para que você pudesse cursar uma Universidade. Diz que não possuo argumentos convincentes em nossos raros diálogos, todavia, muitas foram às vezes que advoguei em seu favor nas situações difíceis em que se envolvia. Hoje você cresceu... É um moço robusto e a juventude lhe empolga as horas... Esqueceu sua infância, seus primeiros passos, suas primeiras palavras, seus primeiros sorrisos... Mas acredite tudo isso está bem vivo na memória deste velho cansado, em cujo peito ainda pulsa o mesmo coração amoroso de outrora... É verdade que o tempo passou, mas eu nem me dei conta... Só notei naquele dia... Naquele dia em que você me chamou de velho pela primeira vez, e eu olhei no espelho... Lá estava um velho de cabelos brancos, vincos profundos na face e certo ar de sabedoria que na imagem de ontem não existia.

Por isso eu lhe digo meu jovem, que o tempo é implacável, e um dia você também contemplará o espelho e perceberá que a imagem nele refletida não é mais a que hoje você admira... Mas você sentirá que em seu peito o coração ainda pulsa no mesmo compasso... Que o afeto que você cultivou não se desvaneceu... Que as emoções vividas ainda podem ser sentidas como nos velhos tempos... Que as palavras amargas ainda lhe ferem com a mesma intensidade... E que apesar dos longos invernos suportados, você não ficou frio diante da indiferença dos seres que embalou na infância...

Por isso eu lhe aconselho meu filho:

Não ria nem blasfeme do estado em que eu estou eu já fui o que você é, e você será o que eu sou... Aquele que despreza seus velhos é como galho que deixa o tronco que o sustenta tombar sem apoio. A ingratidão para com os que nos sustentaram na infância é semente de amargura lançada no solo, para colheita futura. Assim, façamos aos nossos velhos o que gostaríamos que nos fizessem quando a nossa idade já estiver bastante avançada.

Não sei de onde copiei, mas quando sinto que a velhice vem chegando e olho dentro de mim, acredito que tenho a verdadeira felicidade do mundo. O amor e apoio dos meus filhos e da minha esposa. Netos maravilhosos, genros e noras que me respeitam e me amam. O que posso querer mais?


Boas noites durmam bem! Um ótimo fim de semana e se já voltaram às atividades de sábado, uma esplêndida reunião com muitos sorrisos e abraços.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O espectro maligno de um Chefe chamado Trovão.


Conversa ao pé do fogo.
O espectro maligno de um Chefe chamado Trovão.

             Contaram-me esta história. Quem contou disse que nunca tinha visto um Chefe como ele. Perfeito em tudo que fazia. Eu recém no grupo acreditei. Nós novatos acreditamos em tudo. Disseram-me que era enérgico, cobrava sempre a postura e não aceitava atrasos. Dizem que por outro lado era um amigo e tanto. Nunca deixava ninguém só e conversava com todo mundo. Não era o chefão do Grupo Escoteiro e assim como chegou um dia desapareceu, mas sempre mandando um alô, um Sempre Alerta ou mesmo uma cartinha. Falaram-me que era um expert em escotismo. Dirigia cursos, viaja pelos estados do Brasil e ia muito ao exterior. – Olhe Chefe, ele me dizia – Tornou-se para nós um grande amigo. Visitava-nos em nossas casas, sempre convidando para uma churrascada ou comer uma pizza onde rolava papos deliciosos acompanhado de bons chopes.

             - Acredite Chefe, nunca vi ninguém igual a ele. Chegou a arregimentar trinta pais do grupo, adestrou, deu cursos e dentre eles tivemos muitos Insígnias de Madeira. Nossa maneira de pensar mudou com ele. Ele nos fez sentir mordido pelo mosquito encantado de Baden-Powell. Lembro que nos mês de julho o programa indicava um acampamento da Tropa Escoteira. Os seniores iriam também, mas separados dos demais. Ele fez questão de deixar que cada um de nós aprendesse como preparar o material, a intendência, as caixas de patrulha, ou seja, tudo aquilo que os Escoteiros conhecem tão bem. Chefes que acamparam com ele se encantaram com seu estilo, mas reclamaram muito de suas exigências. Contaram-nos que ele fazia questão que todos participassem do banho das três e meia da manhã. Rimos quando soubemos disto, mas porque não? Sempre no primeiro dia de acampamento. Chovendo ou frio intenso ninguém podia faltar.

                  Chefe acredite, eu ri de tudo isto. Disseram-me que para ele era uma tradição e ninguém podia faltar. – “Que diabos” é isto? Eu pensei. Não entendi a finalidade. Mas se havia um respeito nato com ele pelas “Barbas do Profeta” que eu aceitaria. No dia marcado partimos. Alegria geral. Chegamos cedo ao local. Lindo se quer saber. Um grande lago tendo em volta uma pequena floresta nativa. Havia uma bela clareira e a poucos metros acima corria um córrego com águas limpas e com uma pequena cascata. Mais acima uma bica que chamavam de Bica Molhada por todos que acamparam ali. Os monitores escolheram seu campo e nós ficamos em um campo próprio não muito distantes deles. Esqueci-me de contar do frio. As noites descia a dois ou três graus positivos. Contaram-nos que nas madrugadas facilmente chegaria a um ou dois negativos.

                  Tudo transcorreu nos conformes.  À tardinha, ainda com sol, todos se lavaram junto ao lago, e nós fomos até uma bica bem abaixo, que corria em bambus formando uma ducha sem igual. Um banho gelado delicioso. O Chefe Trovão não tomou banho. À noite após o jogo e da Reunião de monitores nos recolhemos. Nem nos lembrávamos do pedido do Chefe Trovão. Mas o danado apareceu na porta da barraca e disse que as três e vinte e cinco nos esperava próximo à lagoa. Repetiu que era sagrado a participação. Não falou mais nada. Nesta hora foi que nos lembramos do tal banho. Achei um absurdo. Um frio de rachar. Para que isto? Pensei em discordar, mas vi o Chefe Trovão me olhando enviesado como a adivinhar meu pensamento. “Diacho” E agora? Como não podia fugir e os demais não comentaram, não falamos nada. Tínhamos todos enorme respeito pelo Chefe Trovão. Dormi preocupado. Era o cúmulo do absurdo. Se isto era escotismo meu pai era um macaco falante. Pensei até em ir embora no outro dia. Nunca passei por isto. Mas meu filho estava ali. Seria uma falta muito grande e uma tremenda decepção para ele. O jeito era esperar a madrugada, pois achava que aquilo não passava de uma piada.

                Não acordei às três e meia. Ninguém acordou. Não fomos chamados. Mas o Cléu um dos pais acordou dez minutos após e chamou a todos nós. Levantamos assustados, um frio de rachar. Enrolado em um cobertor nos reunimos em volta do que restava do fogo aceso frente às barracas. O chefe Trovão não estava na sua. Já tinha partido sozinho. O que fazer então? Cada um deu sua opinião no final, resolvemos ir até a ducha onde ele estaria e pedir desculpas. Não era longe nem perto. Uns 200 metros abaixo da lagoa. Saímos tiritando de frio. Na trilha todos nós sentíamos calafrios. Não acredito em fantasmas nem em alma do outro mundo. Mas não sei por que, talvez o silêncio, as arvores sombrias, sombras na lagoa. O medo me bambeava as pernas.

               Pé ante pé avistamos a ducha (ficava uns 10 metros abaixo de nós). Assustamos! O chefe Trovão só de short, debaixo da ducha que saia fumaça com o frio e com as mãos levantadas, parecia estar a rezar algum que não entendíamos. Um susto enorme quando uma luz brilhante apareceu. – Chefe, eu tremia mais que vara verde. Nunca em minha vida tinha visto nada igual. A luz foi aumentando e em poucos segundos, diversos vultos como sombras também lá estavam saudando o chefe Trovão. Pensei em rezar. Alí só podia ser a imagem do demônio. Em seguida o Chefe Trovão levantou as mãos para o céu e ficou acima do chão uns dois metros girando sobre si mesmo. Os vultos em uma espécie de dança ficaram rodando em sua volta. Um grande redemoinho foi formado. Não vi mais os vultos e o chefe Trovão. A luz brilhante começou a faiscar, lançando raios para todos os lados. Fugimos dalí esbaforidos, tremendo, alguns garanto que tinham molhado os pijamas, ninguém falou nada, todos queriam ir à frente e ninguém atrás.

              Cada um entrou em sua barraca, ofegando, esperando a calma chegar. Que nada, a tremedeira não passava. Não estávamos acostumados com isto. Os minutos foram passando, estávamos acalmando e eis que bem no inicio da trilha, pela fresta da barraca avistamos o chefe Trovão. Com um short curto, a toalha jogada nos ombros, assoviava alegre o “Acampei lá na montanha”. Parecia estar em uma praia num escaldante verão. Não mostrou curiosidade em saber se estávamos acordados. Fez uma pequena ondulação com o corpo, mexeu com os braços e se dirigiu a sua barraca. Ao entrar se voltou e abanou as mãos em direção à mata. Nada vimos.               No dia seguinte levantamos calados. Poucos conseguiram dormir.

              O acampamento cumpriu seu programa. Os escoteiros alegres, os seniores com seu grito de guerra, enfim uma grande exaltação de um programa que se não fosse o acontecido, poderia dizer sem similar. Retornamos no dia marcado. O Chefe Trovão parecia o mesmo. Professor, tutor, instrutor, mas sempre quando nos encarava, um sorriso maroto brotava para logo mostrar sua carranca de chefão. Na semana seguinte, notei que somente eu e mais dez pais ainda estávamos participando do grupo. Os demais assustados não voltaram mais ao grupo. Um pacto de silêncio ficou entre os chefes que lá estiveram. Eu mesmo nem com minha esposa falei do assunto e do acontecido. Acho que todos tinham medo de serem ridicularizados. Mas acredito e disso não tenho nenhuma dúvida, que o Chefe Trovão tem parte com o coisa-ruim ou então com espíritos malignos, cuja visita recebe sempre no afamado “banho das três e meia e seu sabonete mágico”. Até hoje Chefe não entendi o porquê ele nos convidou. Quem sabe pode ter alguma lógica que nunca descobrimos.


                 Olhei para o Chefe que me contou esta história. Queria rir, mas ele estava sério. No sábado seguinte chegou um convite para um curso avançado da Insígnia da Madeira. Era o curso que esperava. Assustei quando vi quem iria dirigir o curso. Nada mais nada menos que o Chefe Trovão. Inscrevi-me. Eu precisava do curso e ia passar a limpo o Chefe Trovão e suas estripulias com o demônio. Aguardem meu segundo conto sobre esta figura fantasmagórica!

domingo, 25 de janeiro de 2015

Projetos de Pioneiras


Conversa ao pé do fogo.
Projetos de Pioneiras

  - Você pode ver em ambos os casos que o crescimento nunca vai se igualar, mas a verdade é que a sua maneira, cada uma dessas patrulhas estão alcançando o objetivo. - Disse o Chefe. A diferença estava à vista. Logo ao chegar ao acampamento de fim de semana, uma Patrulha nova, recém-formada, tentava fazer o melhor possível para sua instalação do campo. Às outras três, mais experientes, estavam bem à frente, com quase todos os acessórios necessários prontos. Era um acampamento de dois dias. Chegaram sábado pela manhã, e iriam retornar no domingo à tarde. No entanto, a instalação padrão sempre foi exigida. O motivo era simples: -

- Precisavam aprender que o campo de Patrulha seria uma extensão de suas casas e o mínimo de conforto deveria ser conseguido. Não se pretendia formar técnicos em construções e projétos, mas cada um deveria ter a mínima noção de que sua parte era importante nesta montagem de campo. Era assim o Sistema de Patrulha e assim se trabalha em equipe. Nada ali era improvisado. Às patrulhas em reuniões anteriores, tinham decidido o que fazer e como fazer.  Muitos dos escoteiros já conheciam bem o “Projeto de Pioneiras”, que o chefe sempre falava. “Os projetos” tanto poderiam ser de uma pequena ou uma grande pioneiria. Devia ser levados em consideração a duração do acampamento, o material que estaria disponível no campo e o programa. Tudo era muito simples, dizia o Chefe:

  - Nada de burocracia.  A experiência com o tempo facilitava muito mais a montagem de campo já que os projetos em sua maioria estavam prontos no arquivo da Patrulha. A liberdade para criar e modificar era ampla e irrestrita. Havia o básico para um acampamento de uma noite ou de mais, dependo do planejamento anual. - É possível que você tenha razão, - falou o Velho Escoteiro - Hoje já não é possível encontrar facilidades de locais para acampamentos e principalmente em florestas com alguns tipos de madeira para corte. Mas vamos olhar para o outro lado da questão. Não pretendemos que o jovem se adestre para se preparar de uma eventual possibilidade de no futuro usar tais conhecimentos. (apesar de saber que é um excelente meio para descobrir seu potencial profissional!) A possibilidade de se perderem numa floresta é mínima.

  - A técnica de pioneirias tem a finalidade de preparar seu espírito para a vida de adulto - continuou -. Saber que às dificuldades serão vencidas, e que em qualquer ramo de atividade é necessário estar bem preparado e só assim poderá vencer na luta pela sobrevivência profissional. A inventividade faz parte do homem, mas a maturidade traz o sucesso. - Também não vejo tanta dificuldade em conseguir um local para pelo menos duas vezes ao ano, poder utilizar a técnica de pioneirias. Existem tantas fazendas e grandes sítios, onde algumas árvores são consideradas como “praga” que pôr mais que se corte mais ela se multiplica. Um exemplo é o “Assa peixe“, sem nenhuma utilidade e qualquer proprietário (desde que seja amigo dos escoteiros - emendou) ficaria satisfeito pela poda ou corte e não irá ser prejudicado e nem iríamos agredir o meio ambiente.

Também podemos usar outros tipos de madeira, continuou. Tipo eucaliptos, bambus etc. que são plantados com a finalidade de uso diversos, principalmente na construção civil Fábrica de papéis etc. O que não se pode, é tentar formar e adestrar técnicas de campo, usando um fogareiro a gás, pois isto não traz nenhum beneficio a não ser a técnica de cozinha, e que claro também faz parte do adestramento. Infelizmente, alguns de nossos Escotistas pôr não estarem devidamente preparados já que não vivenciaram tais técnicas, procuram de todas às formas motivos diversos para fazerem Camping e não acampamentos. - Posso afirmar que é possível manter um padrão técnico de pioneirias em qualquer parte do mundo. E afinal é o sonho de qualquer jovem saber que vai participar de um acampamento com padrões escoteiros, dormindo sob barracas, fazendo sua própria comida, construindo sua cama sua cadeira sua mesa e até sua torre de observação.  

  - O importante é o trabalho em equipe. A Patrulha é a base para que esta técnica seja primordial no seu crescimento. Os Escotistas não podem de maneira nenhuma tentar modificar as estruturas e métodos somente porque acham que não é possível ou pode ser substituído. - Vou ser sincero, o que cortamos de madeira em um acampamento, claro, desde que o Projeto foi bem feito é o mínimo e não prejudica de forma alguma o meio ambiente. Quando você corta uma arvore, em alguns casos elas produzem diversas mudas que pela simples razão da natureza se multiplicam. E se você ensina aos jovens como plantar mudas, você está retribuindo em dobro o que cortou. - Devemos também ensinar aos rapazes e moças que a proteção e o respeito à natureza faz parte da formação e do “Espirito Escoteiro”.


Tive que concordar com o Velho Escoteiro. Acampar é fazer escotismo na sua forma primitiva. Mudar isto seria mudar o sistema e a sua maneira de ser. Nós e amarras são técnicas escoteiras com finalidades objetivas. Se for para fazer Camping, um ou dois nós bastam para armar a barraca. Eu gostava de conversar com o Velho Escoteiro. Sempre aprendia mais e mais para minha formação Escoteira. Não fui um deles quando jovem e agora precisava aprender para ficar com as patrulhas quando fosse necessário colaborar. Ainda bem que estou cada dia mais e mais técnico em pioneiras. No meu último curso da Insígnia de Madeira quando fizemos um Ninho de Águia e um elevador para chegar lá me deu tempo para bolar muitas delas. Técnicas de Pioneiria? Não sei, só sei que bolei uma nova mesa de patrulha com apenas quatro pedaços de madeira de dois metros! Risos.  

sábado, 24 de janeiro de 2015

Conversa ao pé do fogo. “Bandeira do Brasil”


Conversa ao pé do fogo.
“Bandeira do Brasil”

Bandeira do Brasil, colorida e festiva,
Alegre como a Paz, vibrante como um hino.
Desfralda nos céus, mais parece um “viva!”
Erguido em saudação à Pátria e ao seu destino!

Bandeira do Brasil! Simbolizas a terra,
A terra e o mar, o sol e o céu, a história e o povo!
Alegre e juvenil teu colorido encerra
A beleza e a expressão de m continente novo!

Outra não sei que seja assim tão viva e bela,
Atraente ao olhar e ao coração mais nobre;
Teu amarelo é sol, e teu azul se estrela
Tal como o céu azul sereno que nos cobre.

Bandeira do Brasil! Irmã de outras bandeiras.
Tua alma para mim tem somente uma cor:
Mesmo sobrepairando as lutas e as trincheiras
És branca como a Paz e pura como o amor!

Bandeira do Brasil, - alma de todos nós!
Hino de cores no ar saudando a humanidade!
Que depois de enxugar o sangue dos heróis
Possas secar a paz ao sol da liberdade!
J.G. de Araújo Jorge.

           Não, hoje não é o dia da bandeira, apesar que todos os dias para mim são dela. Estou aqui a lembrar de tantas e tantas cerimonias de bandeira que participei. Milhares? Não sei, pode ser. Mas eu adoro uma bandeira sendo desfraldada. Adoro mais os meninos que as hasteiam ou arriam. Sempre espantados, com receio de errar. Os seus olhares, as suas performances são inesquecíveis. Um dia um sênior me disse que bandeira não é bicho, não morde e não grita. Mas lá foi ele tremendo a hastear a Bandeira do Brasil. E os chefes? Preocupadíssimos. Sempre ali mostrando aquele Escoteiro da Pátria como se faz. Mesmo que a tropa ou Alcateia tenha anos e anos de experiência. Acho que os meninos se assustam não com a bandeira mas com seus chefes. São tantas ordens, tantos ensinamentos até que um deles carinhosamente diz: A Bandeira em saudação! E lá vai ela pelos ares, ribombando com o vento, forjando cidadania, criando cidadãos, espalhando amor nos corações Escoteiros.

           Mas não é só os jovens que se assustam quando recebem a incumbência maravilhosa de ser mais um a participar da equipe do hasteamento ou arreamento da Bandeira do Brasil. Quantas vezes vi chefes com cinco, dez, vinte e até trinta anos tremerem? Lá estão eles, posudos, em posição invejável, mostrando para todos seu ímpeto patriótico, e eis que se sente no ar um leve piscar, uma bandeira que deixa seus ombros, um olhar infantil e juvenil a buscar no ar e no céu se a bandeira está perfeita. E para assombro de todos eis que ela sobe aos céus, firme e serena, mas ao contrário das outras, de cabeça para baixo! O Chefe quase cai de susto, mas faz parte. O dirigente comanda firme enquanto ela acerta o caminho, desta vez sublime e sobe de novo esfalfando beleza no ar. Quem ainda não sentiu no peito o sentimento sublime de hastear uma bandeira? Quantos meninos e meninas tem os olhos húmidos de esperança para ser mais um dos escolhidos?

             É, uma bandeira faz muitas coisas nos corações Escoteiros. Sentir o grupo, a Alcateia, as tropas em posição de sentido, fazendo uma saudação, olhando em direção a bandeira é um espetáculo que ninguém pode perder. Eu tive visões extraordinárias, No Pico da Bandeira em vi uma Bandeira saudando as montanhas do meu Brasil, no Itatiaia chorei de emoção em um por do sol inesquecível quando a bandeira desceu dos céus. Em um ribombar de sons inesquecíveis vi uma Bandeira sendo molhada pela bruma na cachoeira dos Sonhos, lugares que me marcaram e que eu nunca esqueci, mas a bandeira... É um espetáculo que não quero esquecer. Bandeira no ar, arvorada em uma montanha, Bandeira no mastro de um Grupo Escoteiro qualquer. Bandeira subindo na Montanha da lua, Bandeira descendo nas campinas de Jafé. Eu amo minha bandeira, eu amo estar ali a vendo farfalhar no ar. Meu amor por ela foi maior quando um menino correu debaixo de um vendaval para trazê-la de volta enfrentando ventos terríveis no Pico das Flores. Bandeira do meu Brasil. Linda demais, cores ofuscantes a brilhar para os Escoteiros que também tremem para levá-la ao topo mais alto onde todos possam ver e se orgulhar.

...

Bendita seja, pela tua beleza! És alegre e triunfal.
Quando te estendes e estalas à viração, espalhas, sobre nós um canto e um perfume: porque a viração, que te agita, passou pelas nossas florestas, roçou as toalhas das nossas cataratas, rolou no fundo dos nossos grotões, beijou os píncaros das nossas montanhas, e de lá trouxe o bulício e a frescura que entrega ao teu seio carinhoso.


Bendita seja, Bandeira do Brasil!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Um poema Escoteiro. A paz que o vento nos traz.


Um poema Escoteiro.
A paz que o vento nos traz.

Não sei se sabes, não basta dizer que ama a natureza.
Não basta seguir o que os outros dizem,
Não. Tens a obrigação como Escoteiro
Falar aos seus irmãos no mundo inteiro,
Bem alto e claro, com amor e com certeza.

Conte a eles sua vida aventureira,
Que sua escolha não tem nada de ilógico,
Você não vive mais seu habitat tecnológico,
Com sua mochila e sua bandeira
Vá correr mundo conhecer lugares
Esqueça esta vida baladeira.

Prenda bem seu lenço no arganéu.
Pendure seu bornal e lá dentro seu farnel.
Vá onde o sol te levar até o infinito,
Descubra lugares que pra muitos é um mito.
Pois além de o Arco íris encontrarás o céu.

Dizem muitos que é céu de brigadeiro.
Mesmo com chuva eu considero céu de escoteiro.
Tente achar o outro lado da montanha,
Quem sabe um pote de ouro você vai encontrar.
Dirás então para ti que seu sonho nunca vai se acabar.

Conte a todos por que não desiste mais:
“não foi ouro, não foi prata, muito menos o dinheiro”.
 “Foi à fibra, foi à raça, que te fez um escoteiro"
Menino de calças curtas brincou no fundo do oceano,
Amarrou seu lenço nas noites mornas do outono.

Sei que você não esqueceu o tempo não apaga,
A velha frase que a diz um bom mateiro
Você sabe, acredita nisto,  nesta graça,
Pois Escoteiro sempre será um Escoteiro.
Você sabe que Escoteiro tem muita raça!

Não tens a força de Hércules o filho da guerra,
Mas tem a força que só tem um Escoteiro,
Coloque sua mochila, um sorriso e parta ligeiro,
Levante sua bandeira, cante uma canção.
Rataplã agora, Rataplã sempre, Rataplã no coração.

Avante Escoteiro avante, e diga ao mundo inteiro,
Que você é um valente um herói Escoteiro,
E cantando vá dizendo a todo mundo,
“Que não foi ouro, não foi prata, muito menos o dinheiro”.
 “Foi à fibra, foi à raça, quem te fez um escoteiro."

Chefe Osvaldo


Frase final de um autor desconhecido.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O que você faz para ser feliz?


Conversa ao pé do fogo.
O que você faz para ser feliz?

                    Existe uma propaganda na TV que eu gosto muito. O que você faz para ser feliz! Parece que estou lá junto às personagens sorrindo e sendo feliz. Ai me lembrei de que nós Escoteiros temos muita coisa em comum para sermos felizes. Sei que são em números incalculáveis. Porque não escrever algumas? E os convido a completar estes pensamentos que já viveram ou vão viver um dia:

- Na estrada, em fila indiana, sol de rachar, mochila pesada, o chefe diz: Vamos parar 15 minutos para descanso! Você joga a mochila no chão, faz ela de travesseiro, deita respira, fecha os olhos de mansinho. Ah... Como sou feliz!

- Muito frio, de rachar, você em volta do fogo apagado, difícil acender, você treme de frio, o fogo começa, enorme, calor gostoso, você sorri. Ah... Como sou feliz!

- Jogo difícil, complicado, todos correm, disputa enorme. O jogo termina, o chefe diz Patrulha Lobo venceu! Palma escoteira para ela. É sua patrulha, você sorri. Ah... Como sou feliz!

- No acampamento, fome enorme. Cozinheiro novato. Termina o almoço, quase duas da tarde, arroz queimado, bife cheio de fumaça, sem sal, você se serve, que fome! Comida gostosa. Ah... Como sou feliz!

- Cerimônia de bandeira, todos ali, perfilados, você é chamado. Cordão Verde Amarelo, você conquistou. Entregam a você. Você sorri. Hã... Como sou feliz!

- No acampamento, jogo forte à tarde, mais de duas horas, enfim encerrado. Agora todos ao banho. Voce pula na água, gostosa, fria, mas ótima. Hã... Como sou feliz!

- Falsa baiana sobre riacho, todos passam, corda bamba, você gordinha, com medo, todos olham, estão rindo, você consegue. Chega ao outro lado. Olha para todos, sorri, você venceu. Ah... Como sou feliz!

- Reunião de patrulha, votos, escolha novo monitor. Contam-se os votos, você ganhou, é o novo monitor, você sorri era seu sonho. Ah... Como sou feliz!

- Dia de prova na escola, matéria difícil, você termina, excelente notas, já mostrou aos seus pais e agora vai mostrar ao seu chefe, ele sorri lhe dá parabéns. Ah... Como sou feliz!

- Amiga escoteira sumida você sente falta, ela aparece, sorri para você, voltei para ficar. Você sorri. Ah... Como sou feliz!

- Mãos doendo, alguns cortes, machadinha pesada, facão dificil, mas voce olha e vê a mesa pronta no campo.  Dá alguns passos para trás orgulhoso, olha com carinho e dá um belo sorriso. Ah... Como sou feliz!

- Convidaram voce, aceitou. Um Grupo Escoteiro. Agora noviço um mês, dois meses, etapas concluidas. Disseram – sábado sua promessa. Semana longa, não passa! Chega o dia. Saudação! Prometo pela minha honra... Incrível, seu corpo vibra, nunca sentiu isso na sua vida. Ah... Como sou feliz!

Duas horas, três, quatro, cinco e chegam ao cume da montanha. Respiração ofegante, mochila pesada. Mas valeu! Uma pedra linda, voce senta e olha o horizonte, incrível! Vista maravilhosa! Ah... Como sou feliz!

Jornada a pé. Difícil, cinco quilômetros, sol bravo! Queimando! Uma árvore, linda, frondosa! A patrulha para, deita em volta, uma brisa no seu rosto. Ah... Como sou feliz!

Dia de reunião. Você chega à sede, amigos, abraços, apertos de mão, o chefe aparece, olha voce, mão esquerda, ele diz baixinho – Os valentes entre os valentes se saudam com a mão esquerda! Você sorri – Ah... Como sou feliz! 

Badeira! Ferradura! Todos perfilados. Saudação! Olhos firmes vendo a bandeira voejando, subindo orgulhosa, sua pátria! Você sorri, está orgulhoso! Ah... Como sou feliz!

Alguém se lembra de uma linda canção escoteira, é noite, final de fogo, deitados na relva, céu estrelado, cometas cintilantes passando, todos cantam, olhando o céu. O corpo vibra gostoso, amo o escotismo. Ah... Como sou feliz!

Fim de curso. Vários dias. Muitos amigos. Novos irmãos escoteiros. Um círculo, mãos entrelaçadas, canção linda da despedida, olhos marejados de lágrimas. Abraçam-se, e dizem – Nunca vou te esquecer me escreva me visite! Ah... Como sou feliz!

 Grito da tropa, ou do grupo. Todos abraçados. Você ali é mais um. Um grito que faz sua garganta arranhar de tanta força que você faz... Depois olha ao redor, os olhinhos de cada um, sorrisos e vê a felicidade verdadeira, uma coisa inesplicavel... Ah Como sou feliz!

São coisas assim que marcam que nos transformam que nos faz ser quem somos. Amantes do Escotismo. Como diziam os poetas, “Há pessoas que transformam o sol numa simples mancha amarela, mas há também aquelas que fazem de uma simples mancha amarela o próprio sol.” São tantas coisas lindas que encontramos na nossa vida escoteira, que sempre lembro que as pessoas mais felizes não são aquelas que têm as melhores coisas. Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.


Escotismo! Ah... COMO SOU FELIZ! 

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Jogando conversa fora. Jogos


Conversa ao pé do fogo.
Jogando conversa fora. Jogos

              - Sempre me disseram isto. Eu nunca tive este problema – Mas o que você faz para resolver? – Simples converso com os Monitores, eles discutem na Patrulha e pronto. Conseguimos ter um bom número de jogos para o mês. Eles escolhem o que gostam. Eu sempre tenho uma surpresa. Só um por reunião. – E dá certo? - Para mim sempre deu. Não sei se isto vai dar certo na Alcatéia. – Espere aí! Matheus! (o garçom) e os chopes? – Saindo? Obrigado. Não esqueça uma porção bem grande das calabresas com alho óleo e cebola. – Todos riram. Estavam em quatro. Sempre os mesmos. Terminava reunião e lá iam eles para a pizzaria do Matheus. Garçom e dono. – Tentei na Alcatéia com os lobos. Foi um fracasso. – Mas você testou os jogos? – Claro que não. Uma escolha deles é impossível de colocar em prática. – Devia ter feito pelo menos um. Mesmo confuso. Sem testar não pode dizer que não dá certo. Quem sugeriu ficou decepcionado.

                  O chope chegou. Cada um pegou sua taça e bebeu gostosamente. Ao fazerem plim, plim um Chefe disse – Um brinde a cerveja, a solução e a causa de todos os nossos problemas. O outro remendou – Se a sua vida for azeda, acrescente cachaça e gelo e aproveite uma boa caipirinha! – todos riram a vontade. – E sempre tem uns que acham que nós damos mal exemplo. Não acho. Se somos jovens e podemos bater um bom papo tomando um chopinho vai fazer mal a alguém? – Ninguém disse nada. Depois de algumas “bicadas”, pois a calabresa estava uma delicia continuaram o papo. – Um Assistente deu novo rumo na conversa – Sua sugestão é interessante – Quem vai jogar? Eles, os jovens e não nós. Quem tem de gostar dos jogos? Eles e não nós. – Acredito que vocês estão certos disse outro. – Para dizer a verdade fazer jogos para que toda a Patrulha ou a matilha participe não é fácil. E a competitividade?

                  - Procuro muito dar jogos onde os primeiros lugares são da equipe e não individualmente. Mas não podemos fugir da individualidade sempre. Se prepararmos bem todos vocês sabem que o jogo ajuda e completa no desenvolvimento e na sua formação. Sem esquecer o ideal da Lei Escoteira. Se não pensarmos assim sempre teremos aquele que é bom no jogo e aquele que se sentirá perdedor – Um silêncio – Outro gole. Outro petisco – A akelá concordou – Gosto muito de jogos onde a confiança é tudo. Nos jogos do Kim me divirto e ao mesmo tempo serve para ver os leais ou não. Depois do jogo tendo um tempinho chamo o lobo e digo a ele – Lobo, você sabia que na Jângal não se admitia lobos que não fossem leais? – O que eu fiz akelá? – Você abriu o olho e a ordem foi para não abrir. – Olhe, vem cá. Me dá um abraço e prometa que não fará mais isto. – Interessante falou o Chefe Sênior. - Mas com os maiores não é fácil. – Porque não? – Acho que em qualquer idade o aconselhamento deve ser sempre uma constante. Aconselhar em particular. Nunca junto aos demais. – Ei Matheus! Mais uma rodada e traga uns bolinhos de bacalhau!

                   - Consegui fazer um programa simples de jogos no meu PC. Sem dar trabalho vou criando, aprendendo e anotando no programa. Sempre coloco as datas dos jogos, avaliação dos Monitores. Custo a repetir mesmo se foi sucesso – Boa ideia, disse a Assistente de tropa. Não se esqueça de me dar o programa. – Eu também quero! – Agora estamos fazendo mais, continuou – Deixamos que um Monitor escolhido pelos demais dirijam sempre um jogo nas reuniões. – Os acertos e os erros são discutidos depois. – Uma pausa, o chope chegou. Nunca bebiam demais. Era uma rotina que gostavam. Terminava a reunião de sábado lá estavam eles. Grandes amigos. Muitos deviam a continuidade no grupo aquela amizade – Outro dia fiz esta experiência na Alcatéia. Dois primos dirigindo o jogo – Funcionou! – Para dizer a verdade, disse o chefe da tropa, eu acho que se o programa foi bom, se o que estava sendo aplicado e foi avaliado oportunamente deu certo, os jogos são apenas complementos e não o principal.

                  - Um dia eu li que você pode descobrir mais a respeito de uma pessoa na hora de um jogo do que num ano de conversação – Concordo com você. – Minha mãe dizia que o jogo é jogado e lambari é pescado, portanto faça o jogo, se não conseguir tente de novo, sem esmorecer. – Um silêncio. – Matheus! A saideira! – Já? São onze horas da noite – Preciso deitar cedo. Amanhã tenho um grande jogo com a tropa. Será feito fora da cidade – Conte! Como vai ser? Deixe para eu contar quando testarmos. Quem planejou foi o Monitor da Lobo. Discutiu com a patrulha. Deu-me as coordenadas. Achei complicado, mas o que é complicado se não testar? Não foi Roosevelt que disse que não devemos ter medo de errar? Afinal só aprendemos a não cometer duas vezes o mesmo erro se não errarmos pelo menos uma vez.

                      A despesa foi dividida. Cada um foi para sua casa. Como sempre deixaram seus veículos em casa. Racharam um taxi e só a Akelá foi de ônibus. Morava no outro lado da cidade. Ops! Esqueci-me de dizer – Todos solteiros!


“Ei amigo leitor, se você não bebe socialmente não critique quem gosta. Desde que ele saiba até onde ir. Afinal não leve a vida tão a sério. Você não vai sair vivo dela mesmo”.  Risos. 

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Rick, um lobinho em sua fantástica viagem a Jângal.


Lendas Escoteiras.
Rick, um lobinho em sua fantástica viagem a Jângal.

                Lembro-me de Rick. Nunca o esqueci. Era Chefe assistente e para dizer a verdade quase não tinha contato com lobos. Rick me chamou a atenção pelo seu porte, estilo, maneiras muito diferente de meninos da sua idade. Rich era negro. Olhos enormes e corpo desenvolvido para sua idade. Em pouco tempo de Alcateia sem perceber chamou a atenção de todos. Alguns queriam saber como seria ele na escola e em sua casa. Rick tinha várias facetas e para dizer a verdade nem seus pais sabiam de todas elas. Mesmo presentes no colégio e no Grupo Escoteiro não negavam a assumir qualquer responsabilidade. Pela idade os pais o deixavam vir e ir às reuniões sozinho. Nunca esqueci o dia que entrou no Grupo. O Diretor Técnico foi que fez as honras de praxe. Família simples, mãe mulata extremamente educada. O pai era mestre de obras e trabalhava de sol a sol. Foi Jane a Akelá quem fez o convite. A Alcateia o recebeu muito bem. Uma idade que as fantasias e folguedos superam os adultos nas amizades. Ali não havia ódio, inveja, rancor orgulho vaidade. Dizem que na Alcateia de Seeonee todos são amigos e irmãos.

                  No primeiro dia estranhou a Gruta da Alcateia. Disseram que ali morava Mowgly. Entrada baixa ele teve de abaixar para entrar. Gostou da decoram, dos desenhos dos bichos da floresta, do Balu e da Bagueera. Assustou-se com o Bastão Totem. Aprendeu o que era Roca do Conselho e viu com inveja o Grande Uivo, pois soube que quando fizesse a promessa iria participar dele. Não entendeu muito, mas aos poucos foi dominando tudo. Menos de três meses fez a promessa. Acharam interessante por ser caladão taciturno e muitas vezes parecia não se entrosar. Ria com as danças, mas obedecia sem discutir as ordens da Akelá e do Primo de sua matilha. Quando fez seu primeiro acantonamento esboçou um leve sorriso. Não deu adeus para os pais que foram leva-lo até a sede. Aconteceu que após o almoço ele saiu sem falar nada com ninguém. Dois lobos foram encarregados de procura-lo e o encontram encostado em uma árvore com os olhos semicerrados. Viram que ele falava baixinho. Correram e avisaram o Balu e a Bagueera. 

                    Todos que estavam lá assustaram com ele, foi aumentando a voz e entenderam o que falava: - Não me tema, disse Mowgly, eu sou amigo de vocês. Quando estive com Bagheera na encosta do morro frente à Waiganga, fim do inverno vi um vale semi-deserto. Vi um pássaro cantando notas incertas tentando aprender para quando viesse à primavera. Bagheera lembrou que o tempo das Falas Novas estava próximo. Disse que precisava recordar o seu canto e se pôs a ronronar. Mowgly sabia das mudanças das estações. Ficava triste por que os outros corriam e o deixavam sozinho. – Balu correu a chamar a Akelá. Queria que ela visse o que o Rick dizia. Ela veio e trouxe toda a alcatéia. Sentaram em volta de Rick e se encantaram com ele. Ele mexia a cabeça para frente e para trás, com os olhos fechados e sua maneira de contar a história era bondosamente esplêndida. Todos permaneceram calados. – Continuou Rick: - Senhor da Jângal, sabe que tenho que viver sozinho disse Bagheera. Sabe que é na primavera que vou para todos os lugares. Tenho que correr com os outros animais até o anoitecer e voltar ao amanhecer!

                       Era incrível ver e ouvir Rick contando a história da Jângal. A Akelá e o Balu nunca viram nada igual.  – Mowgly continuou Rick ficava sozinho e aborrecido. Correu naquela noite e às vezes gritando, às vezes cantando. Avistou uma estrela abaixa e lembrou-se do Touro que lhe deu a flor vermelha. Mowgly lembrava quando se mudou da Alcateia de Seeonee. É hora de parar de correr. Viu uma cabana. Cães latiram. Ele deu um profundo uivo de lobo e fez os cães que latiam calarem. Escondido nos arbustos Mowgly também tremeu. Reconheceu à cabana – Reconheceu a voz que dizia – Quem está ai? Ele respondeu: - Sou eu Messua! Nathoo seu filho! Ele se aproximou ela o acolheu deu-lhe de beber e comer. Mowgly cansado deitou-se e dormiu. 

                     Rich parou. Sua cabeça ficou firme. Levantou, olhou para todos e saiu rumo à sede onde estavam acantonados. Não disse nada. Todos suspiraram. Esperavam o fim da historia. Era conhecida. A Embriagues da Primavera sempre era contada por Bagheera. Mas não da maneira que Rich contava. Foi um acantonamento marcante. Rich não contou mais historias. Voltou como era e sempre foi. Calado, taciturno. O tempo passou um dia Rich deixou sua matilha e foi sentar no primeiro degrau da escada que levava a biblioteca. Começou a cantar. Eu sabia o que ele cantava. Musicas de um vasto repertório de Cantos Gregorianos. Sua voz retumbava em todo o pátio onde se realizava a reunião. Quando cantou a Ave Maria et Benedictus foi demais. Todos choraram. Todo o Grupo Escoteiro parou suas atividades. Estáticos ficaram a li a ouvir tão delicia voz que Rick tinha. Isto não aconteceu uma só, foram várias. Era um espetáculo ver aquele menino negro, de uniforme de lobo, sorrindo e cantando.

                    Rick passou para a tropa eu estava lá em sua passagem. Conquistou a todos pela sua simpatia. Um dia disse que ia embora. Seu pai foi contratado para fazer vários edifícios em outra cidade. Na despedida no cerimonial de bandeira para surpresa de todos começou a cantar a Canção da despedida. Nunca vi nada igual. Espetacular! O silencio da tropa e da Alcateia era completo. Não fizeram a cadeia da fraternidade, as mãos não foram entrelaçadas, mas havia um momento sublime em seu canto. Era como se todos Escoteiros e lobinhos do mundo também estivessem ali cantando. Foi um acontecimento notável e inesquecível. Eu fiquei tremendo. Rick partiu. Por muitos anos ninguém ouviu falar dele. Ele deixou saudades. Marcou o coração de muitos. Seu nome é contado em versos e em prosas no Fogo de Conselho. A Alcateia o homenageou colocando sua foto em destaque na gruta da Alcateia. A vida tem disto, pelos motivos que o destino não explica um dia ganhei dois ingressos para assistir a ópera “O Elixir do amor” (Uma Furtiva Lágrima” no Teatro Municipal.


                 Fui eu e a Célia. Eis que uma enorme e deliciosa surpresa aconteceu.  O tenor que todos comentavam de Nome Boono Lastimer, de 31 anos interpretou com tanto sentimento que demorei algum tempo para reconhecê-lo. Nada mais nada menos que Rich. Quando terminou a platéia o ovacionou por muito tempo. Tentei me aproximar do seu camarim. Impossível. Acompanhei por longos anos seu sucesso no Teatro La Scala de Milão e em outros famosos por vários países. Eu sorria sempre a lembrar dele. O via cantando no pátio da sede e nunca podia imaginar o seu sucesso de agora. Fatos assim são importantes. Eles nos trazem a vida real, nos marcam e fazem de nos o que somos. Nunca mais me esqueci de Rich. Quando penso nele me lembro das palavras de Kaa, que na sua nobreza de serpente sempre dizia – “Somos do mesmo sangue, tu e eu!