Lembranças
da meia noite.
Coisas da
vida.
Coisas da vida.
Assim dizemos sempre. Quem abraçou um credo enfrenta a seu modo as coisas da
vida. Eu mesmo já escrevi diversas vezes sobre nossa passagem aqui na terra. Pensamos
saber como é como vai ser e até quem sabe imaginamos um futuro em tudo isto.
Mas não é fácil envelhecer. Podemos querer mostrar para os outros uma faceta
que no fundo não é a nossa. Podemos acreditar que tudo isto tem uma razão de
ser, mas no fundo sempre um ponto de interrogação. Quem sabe se com os outros
velhos é diferente? Quando envelhecemos é que mais nossa mente trabalha.
Incessantemente. Lembrar-se de tudo. Saber as horas, onde estão suas coisas, os
remédios, as vozes, os números de telefone e manter uma rotina para que não
percamos o caminho tão dificilmente percorrido, mas que vai chegando ao fim. O
ontem foi ontem. Vemos agora o hoje e o amanhã melhor não pensar.
Não sei como é a
vida dos outros velhos. Os vejo por aí claudicando e contando suas dores suas
vidas alguns dizem ser boa, mas hoje sem esperanças. Estes velhos com seus
olhinhos miúdos são verdadeiros. Dizem o que se passa no fundo do seu coração.
Sabem que aqueles que estão ao seu redor têm outras preocupações, se ressentem
por eles não verem as suas. Agora muito mais do que quando jovens. Eu mesmo não
tenho muita paciência em ouvi-los mesmo sendo Velho como eles. Não tenho
paciência nem comigo mesmo. Sou um noctívago do dia, da noite, da vida que
levo. Não é fácil. Um ar que não ajuda um corpo que não obedece. Sempre
cansado. Todos os dias quando levanto, olho pela janela e me pergunto: – Até
quando meu Deus? Quanto tempo ainda tenho? O corpo já não é o mesmo. Pudera,
sou um "Velho". Reclamar? Nunca. Fui eu quem escolheu este caminho.
Como é triste ver a indiferença dos médicos,
as horas sentadas em postos de saúde, seus olhares em nossa direção como se nós
fossemos os culpados por sermos velhos. Não sei se para os mais bem aquinhoados
da vida seria diferente. Sem depender da boa vontade de outrem. Ah! O dinheiro.
Rege-nos e rege nosso destino. Dói aqui, dói ali, dói acolá. E daí?
"Velho" é assim mesmo dizem. Chega à noite, cansado de uma rotina que
não muda. À noite a gente sabe que as pernas não obedecem. Corre-se para tomar
um remedinho, pois a tremedeira começou. Diabete amiga de todas as horas. Hora
de dormir. Sono de meia hora, uma hora, levantar, deitar, dia e noite, semana
após semana, meses após meses, anos após anos. Uma hora da manhã, uma e
quarenta, duas e vinte e assim vai. Olhando o relógio como se ele fosse
responsável pela bexiga desobediente.
Leio Brian
Weiss, um psiquiatra e escritor. Ele escreveu um dos mais belos poemas que já
li e que sempre releio - “A chuva cai tanto nas ervas daninhas
quanto nas flores, e o sol brilha tanto nas prisões quanto nas igrejas”. A luz
de Deus não discrimina e a nossa luz também não deveria discriminar. Não existe
um só caminho, uma única maneira, uma igreja ou ideologia. Existe apenas uma
luz. “Quando as cercas caírem, todas as flores poderão desabrochar juntas em um
jardim de esplendor incomparável, um paraíso na Terra.”
Poemas, frases
poéticas, lindas histórias sobre a vida. Todos estão aí a escrever a dizer que
são coisas da vida. Outros não acreditando e tentando esconder a verdade do seu
coração. Um dia fui criança, fui adolescente, fui o homem maduro até que envelheci.
Dizem que só colhemos o que plantamos. Se hoje tenho minhas doenças, minhas
fraquezas, minhas dores e a rotina que não me deixa mudar dos remédios da vida,
é claro que fui eu mesmo que plantei. A colheita está aí. Tem que aceitar os
frutos. Afinal não fui que escolhi este caminho antes de vir?
E infelizmente eu
nunca deixo de perguntar. Até quando meu Deus! Mas não deixo de completar, até
quando Deus quiser!
Boa noite meus amigos e minhas amigas. Um sábado excelente junto aos
jovens desta grande fraternidade. Se lembrar, digam a eles que um Velho Escoteiro
está orgulhoso pelo belo escotismo que fazem.
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