Conversa
ao pé do fogo.
O
"Velho" e saudoso bastão Escoteiro.
Não ia escrever sobre ele. Já foi abolido há tempos. Dizem que serve para os
saudosistas lembrarem-se quando usavam um. Eu tive o meu. Eu mesmo fiz. Somente
o bastão do monitor ainda se mantem vivo, pois o totem precisava ter um lugar
onde ancorar. Já vi muitos jovens usando um, não às réplicas antigas, redondo,
altura do ombro, duas polegadas de diâmetro. Hoje são forquilhas, madeira em
curva enfim a gosto da escolha do monitor ou da patrulha. Não sei se hoje ainda
podemos usá-lo como no passado. Muitas vezes é incomodo dependendo o transporte
a usar. Lembro que quando Chefe Escoteiro há uns trinta anos quando chegávamos
ao campo todos faziam os seus. Na sede o canto de patrulha era ornamentado com
ele. Hoje alguns o acusam de ser militarizado, imitando um fuzil, se mostra
agressivo para quem observa. Não concordo, mas fazer o que? O meu serviu para
muitas coisas. Uma vez pensei em ter um e dar umas bastonadas na cabeça de
alguns cabeçudos chefes, risos, brincando, sou um Escoteiro de paz. Risos.
Ainda acredito que o bastão
se usado frequentemente torna-se um hábito de comportamento. O meu era de pé de
goiabeira. Eu mesmo o fiz. Calmamente sem pressa. Oleado, engraxado, lixado e
dormindo várias noites a luz do luar. Disseram-me que ficaria perfeito e iria
durar muitos anos. Soube que madeira de lei não era boa e quebrava muito.
Peroba rosa este sim era perfeito. Mesmo passando para os seniores eu ainda o
usava, apesar de que nesta sessão praticamente ninguém nunca o usou. Naquela
época as patrulhas sabiam reconhecer um bom bastão escoteiro. Ninguém esquecia
que ele contava a história de seu dono. Seu tempo de atividade, seu crescimento
técnico, suas etapas, seus acampamentos. Mil coisas. Até 1975 os alunos de
cursos escoteiros ainda usavam o bastão.
Pensando bem o bastão queira ou não têm mil e uma utilidades. Abrir picadas em
matas, se defender de animais peçonhentos, e olhe importantíssimo em trilhas
desfeitas para fazer barulho e espantar cobras no caminho. Elas correm com o
barulho. Ele era imprescindível em jogos, (quem nunca fez o jogo do bastão? O
quebra canela? Melhor ainda cantar o Escravo de Jó usando o bastão?) serviam como
escada para elevar um Escoteiro em uma árvore alta, na montagem de campo e
claro nunca esquecer suas mil e uma utilidades nos casos de emergências: - Uma
torção do pé, alguma dor na coxa e se necessário se transformar em uma maca
rapidamente com duas camisas. Nas tropas mais ricas todos tinham iguais. Quando
um pai marceneiro ajudava era bom demais. O Escoteiro recebia pronto. Não sei
se é válido. O esforço pessoal valoriza muito o que se quer ter, seja o bastão
o uniforme ou outro “treco” que cada um pensa em ter. Nosso Chefe repetia
sempre: O bom bastão deve aguentar seu peso, leve e de fácil manuseio. Nos
acampamentos um bambu Chinês ou o taquarussú pode “quebrar o galho” sem sombra
de dúvida. Claro que ao terminar o acampamento ele seria descartado. Vai secar
rapidamente.
Muitos não gostavam de jogar fora. Escolheram tanto e agora descartá-lo? Não
dava para pegar ônibus urbano, mochila, sacos de intendência e bastão. Mas
sempre dávamos um jeito. Afinal jornadas sem carretinhas o bastão era
indispensável. Os sacos de patrulhas já eram feitos com alça para facilitar o
transporte. As técnicas para ter ele a mão em formações, saudações e outras
necessidades eram bem treinadas pelos escoteiros. Monitores sempre os
responsáveis para o treinamento. Em forma, em posição de alerta (sentido),
descansar ou saudando a chefia, funeral saudação à autoridade e a bandeira, andar
em marcha de estrada, estar preparado e em repouso. Dava orgulho ver um Monitor
ou sub. passando o bastão para o outro. Uma cerimônia linda e que todos
orgulhavam. Não sem se ainda fazem assim. Mudou-se tanto! E quer saber? É
incrivelmente ante-escoteiro arrastar o bastão em marcha de estrada ou na sede.
E fazê-lo de descanso nas formaturas? Monitor escorado, parecendo cansado ufa!
Mas convenhamos que hoje ele seja supérfluo. Ele não aparece mais nos livros
escoteiros. Foi abortado! Afinal os tempos são outros. Dizem que muitas tropas
ainda utilizam. Não sei. Infelizmente muitas tradições vão ficando pelo
caminho. Válido ou não ainda prefiro pensar no passado muito mais gostoso do
que hoje. Mas não sou mais jovem e acredito que eles podem pensar diferentes.
Tenho que concordar. Para que bastão se a mão está ocupada com um celular ou um
laptop? Interessante que muitos países ainda o adotam. Quando vejo a
escoteirada bem perfilada fico orgulhoso. Dei boas gargalhadas quando alguém me
disse que BP colocou o bastão para lembrar o fuzil do exército, pois ele sempre
viu todos como futuros soldadinhos. Risos. Dizem tanto sobre BP. Tem hora que
fico em dúvida se ele existiu. Com os novos Baden Powell que existem por aí a
modernidade vai superar o passado sem sombra de dúvida.
Um dia vou por aí a vaguear seguindo o vento, em uma trilha ou abrindo caminhos
em mata cerrada (existe ainda?) e se achar um belo pé de goiabeira e ver um
galho que se mostra autêntico para ser um bastão Escoteiro eu o trarei comigo.
O meu não tenho mais. Se achar um perfeito depois de prepará-lo mandarei fazer
a biqueira de aço. Ops! Isto não, dizem que o bastão vira uma arma letal!
Nossa! Bem o meu vai ficar em lugar de honra em minha casa. Irei colocar nele
tudo que fiz e que ganhei na minha vida Escoteira. Mas isto não deve interessar
a ninguém. Não mesmo. Existem outras situações mais importantes para
preocuparem. É melhor deixar com os antigos as recordações. São coisas de
“Velhos” escoteiros rabugentos e suas manias. Risos.
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