Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Tributo a Bandeira do Brasil.


Lendas escoteiras.
Tributo a Bandeira do Brasil.

                  Ele me pediu para ficar em of. Pedido feito pedido aceito. Entendi sua posição. Achou que poderia ser ridicularizado pelos amigos do grupo Escoteiro. Mas em sabia que o que ele me dizia era verdade. Minha experiência de pseudo-escritor sobre escotismo me mostram situações inusitadas e ouvir vozes impossíveis era comum para mim. Sua narrativa era fantástica. Começou a me contar de cabeça baixa terminou com ela erguida, como se tivesse prestado uma homenagem a um pedaço de pano que para alguns não tinham valor, mas para ele sempre foi sagrado. Vamos lá ao seu relato.

                 - Chefe, eu não costumo jurar, tenho palavra e a palavra de Escoteiro para mim vale minha honra. Eu estava na sede Escoteira. Arrumando o armário da chefia, um emaranhado de cordas que na chegada do acampamento foram deixadas lá de qualquer jeito. Qual não foi minha surpresa que vi duas pessoas conversando. Duas pessoas? Pode rir Chefe, mas eram duas Bandeiras do Brasil. Elas estavam em cima da mesa de reuniões. Pelo que eu soube uma seria aposentada, pois estava muito velha e desbotada. Havia mais de 46 anos que estava conosco. Desde os primórdios em que o grupo foi organizado. A outra era nova. Iria substituir à velha. A princípio achei que estava vendo e ouvindo coisas, mas não. Vou tentar contar o que aconteceu. – As duas estavam falando! Isto mesmo, conversando chefe! Duas bandeiras? Poderá me dizer. Mas é verdade. A velha dizia para a nova:

- Bem vinda minha amiga, não sabe como me alegro em conhecer você. Sabe, estou aqui há 46 anos, quinze dias e cinco horas. – Riu baixinho. Mas acho que tenho de aposentar e a Diretoria então comprou você. Eu sei que existe uma cerimonia muito bonita, que quando se aposenta uma Bandeira do Brasil, ela tem honras militares, é colocada em uma pira que junto com outras é queimada. Dizem que lá estão vários batalhões de soldados prestando homenagem. Mas quis os nossos diretores e chefes que eu devia ficar em um belo quadro de vidro na sala de recepção, pois tinham por mim muito amor e muita consideração. A bandeira velha deu um suspiro e continuou – Eu também amo todos eles. Vou lhe contar minha nova amiga, algumas lindas passagens que tive com eles. Acho que sempre me senti amada. A primeira foi uma lobinha, Cecília, ela sempre me olhava com carinho. Quando eu era içada ela fazia a saudação com orgulho. Não tirava os olhos de mim. Um dia no acantonamento, quando após o jantar alguns ficaram sem fazer nada, ela me pegou na mesa da Akelá e me levou até uma árvore. Lá com uma cordinha me amarrou e depois me abraçou-me e disse: Bandeira do Brasil, eu te amo. Quero que saiba que tenho orgulho de você. E então seus olhos se encheram de lágrimas e ela me beijou. Minha amiga, que emoção. Demais para mim.

- Depois foi em um acampamento Sênior. Eles e as guias foram acampar no Pico do Itatiaia. Procuraram a parte mais alta. Quando chegaram viram que não tinha onde hastear a bandeira. Eram só pedras. A vista era linda, mas se eu não farfalhasse no vento naquelas alturas eles não se sentiriam realizados. Dois seniores desceram quatro quilômetros correndo e acharam uma vara enorme de oito metros. Serra acima levaram o mastro.  Entre dois vãos de pedras e outras soltas, firmaram o mastro e me hastearam. Que felicidade amiga. Ver o vento me balançando nas alturas foi demais. E a vista? Maravilhosa! Confesso que chorei de novo de emoção. E então minha amiga, aconteceu um fato que nunca mais esqueci. Aquele sim foi demais para qualquer Bandeira do Brasil. Estava arvorada em um acampamento Escoteiro, e eles jogando um jogo gostoso em volta do campo. Um redemoinho de vento me pegou. Soltou-me da arvore, e fui levado a grandes altitudes. Eles viram e o Chefe gritou: - É nossa bandeira! Salvem-na, não deixem que o vento a leve! – E a escoteirada correu atrás de mim. O ribombar de trovões, raios enormes começaram a cair em redor. Outro vento enorme e a chuva me pegou de jeito. Mas lá embaixo estavam os valorosos escoteiros. Não desistiam. Sempre atrás de mim.

- Vi um escoteiro cair, sua perna sangrando e ele não desistiu. Vi outro molhado, tossindo a chuva caindo aos borbotões e ele não parava. Molhada, cai em cima de uma árvore altíssima. Ninguém desistiu. Um escoteirinho lépido subiu a árvore com dificuldade, pois chovendo e os galhos e os troncos molhados dificultavam. Ele me alcançou. Abraçou-me. Beijou-me. Colocou-me embaixo de sua camisa. Que honra minha amiga, como eles me amavam. Foi uma festa quando cheguei ao acampamento. Todos cantavam com alegria e o Chefe pediu que ficassem em posição de sentido e cantaram com orgulho o meu hino, o hino da Bandeira do Brasil! Nunca esqueci aquele dia. Houve centenas deles minha amiga. Centenas. Agora estou aposentando. Sua vez vai chegar, vais ver como os escoteiros amam sua pátria, sua bandeira. Vais ver quando for hasteada e o vento lhe acariciar e todos vendo você farfalhando no ar, irás sentir orgulho. De saber como é amada por eles!

                      O meu narrador parou. Estava chorando. De orgulho é claro pelo que viu e ouviu. E encerrou dizendo – Sabe Chefe, era eu que iria fechar a sede naquela noite. Fui até as duas bandeiras. Abracei as duas. Apertei em meu coração. Coloquei ambas na mesa desta vez aberta. Fiquei em posição de sentido. Cantei o hino da Bandeira, disse Sempre Alerta as duas com orgulho. Dobrei as duas com as honras que ela mereciam e fui embora. Hoje a velha bandeira mora em um belo quadro de vidro na sede. Todo dia que vou lá, fico em posição de sentido olho para ela, e com amor eu digo. Amo você Bandeira do Brasil. Faço minha saudação Escoteira e bem alto digo – Sempre Alerta!


                     Vi que ele não diria mais nada. Sua voz estava embargada de emoção. Dei nele um abraço e disse – Meu jovem amigo parabéns. Você é como eu, como todos nós escoteiros. Temos amor a nossa pátria. A nossa bandeira. Sei como se sente. Sei como sente todos escoteiros de todo o mundo que amam sua bandeira. Aceite meu abraço com amor e orgulho em te conhecer. Ele saiu e fiquei pensando. Pensei muito. Difícil explicar a emoção que sentimos no hastear e arriar a bandeira do Brasil. Ainda bem que temos isto. Amar a bandeira é amar nossa nação. É nestas horas que digo e repito, me orgulho de ser Escoteiro. Serei Escoteiro para sempre!             

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