Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

domingo, 2 de novembro de 2014

O escoteirinho sabido.


Conversa a pé do fogo.
 O escoteirinho sabido.

                   Os pais me pareceram snobes quando vieram fazer sua inscrição. Quando disse que eles teriam que fazer um pequeno curso de quatro horas para o filho ser aceito foi um Deus nos acuda. A mãe levantou e pegou o filho pela mão dizendo que não ia se submeter aquilo tudo. Ela tinha mais o que fazer. Ele gritou com a mãe e o pai. – Não sou idiota disse. Não queria vir aqui foi vocês que insistiram. - Agora aguentem e aceitem as normas! Nossa! Eu pensei. Ele teria quanto anos? Oito? Nove? O pai ficou parado. Vamos reunir em família. Foram lá fora e voltaram. – Tudo bem Chefe, que assim seja. No dia marcado eles apareceram. Fizeram o curso e foram apresentados ao grupo escoteiro no cerimonial. O filho recebido pela Aquelá. Todos os lobos apertaram sua mão. Ele parecia alegre. Ou pelo menos parecia.

                  Três reuniões depois Martinha a Chefe veio reclamar comigo. – Olhe Chefe, o sabe tudo está acabando com a Alcateia. Quer dirigir mandar decidir. Já reuniu duas vezes os lobos e disse que eles têm direitos. Não são obrigados a obedecerem tudo do Chefe. Que eles devem ler os Estatutos do menor e do adolescente. É difícil dialogar com um jovem como ele. Pela arrogância dos pais sabia que teria dificuldade. Soube que ele era superdotado. Estava liderando a Alcateia com nove anos. Conversei com o Chefe da tropa. Vamos fazer uma experiência? O Chefe ficou assim e assim. Nove anos? Tudo bem, vamos tentar. Vai para a Coruja, o Monitor é mais velho e durão. No programa a tropa ia acampar três semanas depois. O Monitor disse ao Chefe que ele não devia ir. Estava muito verde ainda.

                    Ele me procurou. Precisavam ver sua pose ao falar comigo. Exigia seus direitos. Nove anos o danado e pensei que quando crescer ele será um barril de democracia. – Tudo bem, você vai. Mas se chorar lá não vai voltar. Só no final do acampamento. Ele riu – Chefe sou homem e sou macho. Sem decidir minha vida. Chegou com uma mochila e apetrechos que tomavam todo seu corpo. Ele sumiu atrás da tralha que carregava. Disse a ele que o ônibus nos deixaria quatro quilômetros do local do campo. Ele riu. Chefe precisa me conhecer melhor. Não sou de desistir nunca. Nunca pedi ajuda e nunca irei pedir. Sei o que faço. Dito e feito, dois quilômetros e ele para trás, três e ele sumiu de vista na curva da estrada. O Monitor voltou para ajudar.

                       No primeiro dia ele corria para todo lado. Parecia mesmo ser um jovem esperto com seus nove anos. Tudo aconteceu à noite após o jantar. Não gostou da janta. Procurou-me para levá-lo até um restaurante a beira da estrada. Eu estava com meu automóvel. – Nem pensar meu jovem. O que você comeu todos comeram. Chefe eu não comi nada! Porque não quis. Quem sabe o cozinheiro deixou uma porção para você na panela? Dito e feito, ele começou a gritar, a chorar e deitou no chão pegando a maior manha. Passou a noite toda chorando. Não o levei e nem mandei recado aos seus pais. Boi bravo é assim que aprende pensei. Certo ou errado ele ficou lá os quatro dias. Parou de gritar e chorar. No retorno vi que sua mochila diminuiu. Falei para o Monitor. Ele jogou fora boa parte de tudo em um barranco para diminuir o peso.

                    Na chegada seus pais estavam lá esperando. Ele desceu do ônibus e calado foi com a patrulha para guardar a tralha da patrulha. Estava uma luva agora. Obediente e disciplinado. Na semana seguinte seu pai me procurou - Chefe, meu filho mudou e para melhor. Parece outro menino. O que houve? Não entrei em detalhes. Disse que o escotismo é trabalho em equipe. Aprender a fazer fazendo. Ele aprendeu. – Seu pai agradeceu. Depois fiquei sabendo que era um alto executivo na Ford. Sua mãe advogada em um dos melhores escritórios de advocacia da capital. Os anos passaram e o escoteirinho lá conosco.


                       Três anos depois fui morar em outro bairro. Um grupo próximo a minha casa balançando para não fechar. Precisava de ajuda. Mudei de grupo. O escoteirinho eu o vi nove anos depois em uma atividade regional. Era outro, precisavam ver. O Que o escotismo pode fazer não? A vida é assim mesmo. Acampamento é para os jovens aprenderem a lutar pela vida. Dar cobertura, passar a mão na cabeça, chamar papai e mamãe para leva-lo não é o certo. Bem casos são casos. Cada um tem seu estilo. Este deu certo graças a Deus!

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