Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A Escola da Vida!


Conversa ao pé do fogo.
A Escola da Vida!

"Deus nos concede, a cada dia, uma página de vida nova no livro do tempo. Aquilo que colocarmos nela, corre por nossa conta."

                       Não sei se existe idade para que nós possamos aprender nesta formidável escola do mundo em que vivemos. Uma grande poetiza já dizia que todos nós estamos matriculados na escola da vida. Desde que nascemos. Nesta escola o mestre é o tempo. A cada dia vamos aprendendo. Não importa a idade, pois o aprendizado não para. Dia e noite. É bom aprender com o silêncio, com os falantes, com os intolerantes e os gentís. Eu posso dizer que sou grato a todos pelo que aprendi e ainda aprendo. Não levo em consideração se são rudes, se são estranhos. A eles sou eternamente grato. De vez em penso nas palavras de Baden Powell quando disse que é uma pena que um homem tenha que viver sessenta anos para adquirir alguma experiência de vida e a leve para o túmulo, cabendo aos que o seguem começar tudo de novo, cometendo os mesmos erros e enfrentando os mesmos problemas.

                     Leonardo da Vinci comentou que a experiência é uma escola onde são caras as lições, mas em nenhuma outra os tolos podem aprender. Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende. São duas coisas distintas – O saber dado pelos mestres nas escolas e a vida como ela é, sendo olhada, guardada em nossa mente e nos fazendo crescer no dia a dia. Outro pensador comentou que, no dia em que guiarmos nossas ações, juízos, estudos e decisões por valores que visam ao sublime em vez da mesquinhez, quando agirmos inspirados mais nos critérios de justiça, da generosidade, da prudência, da temperança do que do interesse do egoísmo, no dia em que agirmos meditando sempre na beleza da doçura, na importância da humildade, no valor da coragem e no lugar da compaixão, nesse dia nosso planeta atingirá aquele estágio supremo que toda evolução técnica teve por meta.

                O escotismo nos deu escolhas. Não importa se entramos nele como jovens ou adultos. Ele o escotismo nos dá escolhas simples, honestas baseadas em uma lei e uma promessa. Aprendemos tanto a cada dia, a cada hora, a cada minuto. Aos poucos vamos fazendo um arquivo em nossa memória impossível de descrever ou escrever. É este arquivo é quem nos ensina como compreender, ser calmo, ponderado, e assim aceitarmos mais alegremente a vida como ela é, sem reclamar e aceitando o que nos foi dado como meta. Fico pensando que muitos jovens ou mesmos outros que ainda não estiveram em todas as salas da escola da vida não querem ainda escolher com aqueles que já passaram por todas elas, carregam experiência e não se perdem no caminho desta escola. Eles os jovens se sentem seguros, Andam com firmeza e acreditam que o que fazem é o certo. Mas isto não é bom? Lá bem distante um dia eles verão que o caminho poderia ter sido outro. Mas e o livre arbítrio?

                Ainda bem que tive a alegria de participar ativamente deste movimento que só me deu alegrias. Os percalços que encontrei foram também aprendizado. Hoje não fico preocupado em não poder estar na ativa e junto ao lado dos jovens. A Escola da Vida e Deus me deram o que preciso para continuar a jornada. Mente clara, pensante, ativa procurando nos seus recônditos uma maneira de ajudar e colaborar. Sim aprendi muito e nunca esqueço as belas palavras de Baden Powell. Ele nos mostrou o valor da natureza em nosso crescimento. Dizia ele que quando um filhote de lobo ouve as palavras “estudo da natureza”, seu primeiro pensamento é sobre coleções da escola de folha secas, mas estudo da natureza real significa muito mais do que isso, o que significa saber sobre tudo o que não é feito pelo homem, mas criado por Deus.  È ela a natureza uma das grandes matérias da Escola da Vida.

                 Todo homem toda a mulher passa pela escola da vida. Eles são os que sustentam a nação e o mundo com o que aprenderam. São livros não escritos, são matérias do dia a dia. São as alegrias, as dificuldades, os sacrifícios que nos dão a certeza de um dia receber o diploma tão esperado. Mas este diploma é apenas uma etapa. A Escola da Vida não para. Há muito que aprender. Ela nos dá a única riqueza que vamos levar conosco na viagem que um dia iremos realizar. E a cada estação, a cada apito do trem descendo ou subindo iremos encontrar mais e mais escolas. São milhares. Nunca irão parar. Seria bom que todos trocassem ideias como os que passaram por esta escola antes da maturidade. Mas acredito que tem de ser assim. E como dizia Saramago, mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo!

O homem que é cego para as belezas da Natureza perdeu metade do prazer da vida!

Lord Baden Powell.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

O meu amado e astuto lenço verde e amarelo


Conversa ao pé do fogo.
O meu amado e astuto lenço verde e amarelo

             Todos do movimento Escoteiro têm um. Sempre o recebem quando da promessa e o usam por toda a vida. Cada grupo cada escoteiro tem orgulho do seu lenço, alguns fazem bordados lindos e outros escolhem cores bombásticas. Quando você encontra vários irmãos em grandes atividades um belo colorido se faz presente onde cada um diz – Sou do grupo tal. E o dizem com orgulho. E ele, sempre ele é o responsável pela identificação. Eu também tenho o meu. Desde criança quando o recebi fazendo a promessa de lobo. Coitado, hoje está "Velho", desbotado e quando olha para mim finge que vai chorar de tristeza. É um pândego este meu lenço. Já o conheço de longa data.

              Claro que ele fala comigo. Risos. Não acreditam? O Escoteiro não tem uma só palavra? Mas é verdade! A mais pura verdade. Conversei muito com um chapéu bem velhinho de três bicos, fui amigo de um bastão da Patrulha Pantera, conversava muito com o meu Lampião Vermelho encantado. Mas o meu lenço verde e amarelo é quem me dava mais trabalho. Sempre choroso. Sempre reclamando. – Calma, me dobre devagar, assim ficarei velho e não posso representar o grupo! – Ei, saia da chuva! Assim eu vou desbotar mais rápido! – Cuidado com espinhos na árvore, eles podem me rasgar! E por aí ele seguia com suas lamúrias.

             Quando passei para Escoteiro é que ele sofreu mais. No meu pescoço chorava lágrimas e lágrimas de crocodilo. Um dia quando estava perdido no Espinhaço da Canastra, ele não parava de dizer – Me tire do pescoço. Não faça de mim um bode expiatório da sua “lerdeza” em não prestar atenção ao caminho! Claro, nos safamos fácil. Um bom SOS com um sinal de fumaça e logo o Chefe chegou. Cheguei em casa e o chamei (o lenço). – Olhe, ou você muda ou vai para o fundo do baú! Já estou cheio de suas choradeiras. Vou comprar outro no grupo e você vai ficar sozinho pelo resto da sua vida. Olhou-me com aqueles olhos suplicantes e pela primeira vez me pediu desculpas.

              Mas no fundo eu gostava dele muito. Afinal foi minha mãe quem fez e olhe com duas bandas para ficar mais cheio, mais gordo e dar um ar especial quando o colocava no uniforme. As marcas de guerra ficaram gravadas nele para sempre. Muitas vezes teve que ser cerzido. Enfrentou comigo borrascas, vendavais leves, chuvas intermitentes, sol de rachar, travessias em rios, florestas e ele sempre soube que não teria boa vida. Ficou no meu pescoço por muitos anos. Até quando tive de mudar de cidade e no grupo que entrei era outro lenço. Então uma briga. O Vermelho e Branco que passei a usar era um gozador irreverente. Sempre pegando no pé do meu Verde e Amarelo que ficou protegido por um plástico colocado em uma parede do meu quarto.

            Hoje lá estão os cinco que um dia tive a honra de usar. Todos na parece do meu quarto e agora no quartinho dos guardados em meu lar. O Verde e Amarelo ficou amigo do Vermelho e Branco, do Vermelho e Preto, do Azul e grená e do Branco e cinza. Grupos por onde passei e que me deixaram saudades. Quando lá estou só com eles, um gostoso bate papo entre mim e eles se desenrolam como se fosse uma conversa ao pé do fogo, onde relembramos com saudades dos tempos aventureiros em que passamos juntos. Cada um sempre tinha uma história que julgava mais importante que os demais. Mas eu gostava de ouvi-los. Era divertido. O Verde e Amarelo pela sua idade falava grosso, querendo ser o pai de todos. Mas no fundo eram grandes amigos. Devem conversar o dia todo mesmo quando não estou presente.

             Saudades dos Grupos Escoteiros que passei. Bons amigos eu lá deixei. Ainda bem que os lenços hoje estão comigo para me fazer reviver as histórias e as epopeias que lá aconteceram. Valeu. Mas não sei por que, tenho uma preferencia pelo meu Verde e Amarelo. Ele sabe disto. Sorri para mim como a dizer – Eu sou o melhor! – Metido ele não? Mas para dizer a verdade eu amo todos. Fazem parte de mim, fazem parte da minha vida Escoteira.


              E você? Trata bem o seu lenço? Joga-o em qualquer lugar quando chega de atividades escoteiras? Não o deixa já pronto em um cabide para ele se manter no formato? Claro que sim. Escoteiro que é escoteiro cuida sempre do seu lenço, do seu chapéu ou boné, do seu bastão e do seu uniforme. Afinal faz parte da sua educação escoteira e ela nunca será esquecida!      

domingo, 23 de novembro de 2014

Mochila ame-a ou deixe-a.


Conversa ao pé do fogo.
Mochila ame-a ou deixe-a.

       Já tive várias na vida. Tentei guardar a primeira, mas uma enchente me deixou órfão. Quase chorei. Na sede escoteira tinha um báu delas. Presentes do Batalhão Militar da cidade.  Com o tempo fui comprando outras. A pior de todas foi a com armação de metal. Uma jornada de vinte quilômetros acabou comigo. Jurei nunca mais usar. Aprendi desde pequeno que mochila não é armário ou guarda roupa. Aprendi usando. O Akelá disse – Não vou dar lista. Levem o que acharem necessário. - Penei. A mochila não deu. Levei mais um bornal e uma sacola. Fui alvo de gozação. Lobinho pata tenra só aprende assim. Mas aprendi. E como aprendi. Afinal subir montanhas, quilômetros e quilômetros em vales e gargantas, atravessar rios ou andar em lombos de burros foi lição para nunca mais esquecer.

       Você pode dar uma relação de itens para eles levarem. Não vai adiantar. Mamãe, titia ou Vovó sempre tem mais um. Nunca ri de Escoteiros noviços ao chegarem à sede parecendo uma árvore de natal. Mas que dava vontade de rir dava. Ele chegava vermelho. Sonhando com o acampamento. Eu só dizia – Vai precisar mesmo de tudo isto? Ele orgulhoso respondia - Claro Chefe. Afinal não foi o senhor quem disse que quem vai para o mar avie-te em terra? Tá bom. Aprender a fazer fazendo. Um quilômetro e o pobre bufando. Dois quilômetros ele desmaia na sombra de uma árvore. – Aprendeu? Claro que sim. Sem ajuda. Nunca deixei ajudar. Levou tem de carregar. Faz parte do crescimento.  

        Eu aprendi assim. Cortava isto, cortava aquilo e não fazia falta. Não faz mesmo. Nunca levei saco de dormir, ou melhor, em inglês sleep. Um trambolho. É isto mesmo? Não importa. Carregar um nas costas? Nem pensar. Se quero conforto fico em casa. Sempre tive dois sacos de linhagens. Era só encher com folhas secas ou capim e meu colchão estava pronto. Uma cueca, um par de meias, uma camiseta, um short, minha manta e os dois sacos de linhagens. Claro higiene e um bom livro. Mais? Não precisava. Se sujava eu lavava. Tinha técnica até para passar com dois arcos de madeira. Tive uma mochila que adorava. Simples, verde, gostosa. Nas costas não machucava. Nas laterais colocava meu facão, uma chaleira e um caldeirão. Não precisava de mais. Viajei mundo. Subi montanhas serras e picos.

       Mas dei boas risadas com as mochilas dos outros. Eu sempre fui um gozador às escondidas. Nos acampamentos nacionais, regionais e internacionais era que eu dava gargalhadas mil. Meu Deus! Cada tipo de fazer inveja. Eles chegavam posudos. Como se fossem os melhores do mundo. Mochilas enormes. Cheias de barangandãs. – Por que esta rindo? Perguntavam. – Por nada, desculpe. Mas lá no fundo eu sabia que ele era um eterno pata-tenra. Sabe o que é Pata-tenra? Nas alcateias é o recém-nascido. O novato, tanta coisa para aprender! Quando você vê um você conhece. Você sabe. Só de olhar o Chefe ou o Escoteiro você sabe se ele é amador ou não. E a Patrulha então? Só o Monitor formar e lá está. Grande ou pequena Patrulha. Não tem erro. Adorava ver um Chefe tentando me explicar sua mochila machucando na subida da serra. - Aprendeu papudo? Claro que sim. Ele aprendeu. Achou que sabia tudo e não sabia nada. Mas não é assim que se aprende?

        Quando Sênior era bom andar com meus companheiros. Ninguém reclamava. Todos sabiam o que fazer. Mochilas bem postas, somente o necessário. Hora de falar, hora de cantar e hora de prosseguir o caminho das nuvens. Andei por alguns lugares com chefes mateiros. Aprendi muito com eles. Muitas vezes as barracas ficavam. Prá que? Em meia hora sabíamos fazer uma cabana para dois ou três. Chuva? Uma capa plástica simples e mais nada. E ela nunca durava para sempre. Mas voltemos às mochilas. Cada um sabe o que quer. Cada um compra a quem mais lhe chamou a atenção. Mas cuidado. Muito cuidado! Nem tudo que reluz é ouro. Olhe para ela. Pense se vai sentir-se confortável subindo uma montanha por dois dias, sol a pino, nenhuma sombra. Como ela está nas costas? Dói? Então não compre. Veja aquela mais simples, mais leve. Você não vai mudar de residência ou cidade. Vai acampar ou excursionar e voltar para casa.


        Ainda sinto saudades. Muitas. Em ver todos chegando à sede. Dia do grande acampamento. Pais e mães brigando para ver seus lindos filhinhos colocarem a mochila e dar adeusinho. Os mateiros rindo e pensando na bela atividade pela frente. Os pata tenra vermelhos maldizendo as vovós e as mamães que lhe entupiram de material. Mas não adianta. Só se aprende fazendo. Feliz Baden Powell que nos ensinou e muitas vezes esquecemos. Bom acampamento! 

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Tributo a Bandeira do Brasil.


Lendas escoteiras.
Tributo a Bandeira do Brasil.

                  Ele me pediu para ficar em of. Pedido feito pedido aceito. Entendi sua posição. Achou que poderia ser ridicularizado pelos amigos do grupo Escoteiro. Mas em sabia que o que ele me dizia era verdade. Minha experiência de pseudo-escritor sobre escotismo me mostram situações inusitadas e ouvir vozes impossíveis era comum para mim. Sua narrativa era fantástica. Começou a me contar de cabeça baixa terminou com ela erguida, como se tivesse prestado uma homenagem a um pedaço de pano que para alguns não tinham valor, mas para ele sempre foi sagrado. Vamos lá ao seu relato.

                 - Chefe, eu não costumo jurar, tenho palavra e a palavra de Escoteiro para mim vale minha honra. Eu estava na sede Escoteira. Arrumando o armário da chefia, um emaranhado de cordas que na chegada do acampamento foram deixadas lá de qualquer jeito. Qual não foi minha surpresa que vi duas pessoas conversando. Duas pessoas? Pode rir Chefe, mas eram duas Bandeiras do Brasil. Elas estavam em cima da mesa de reuniões. Pelo que eu soube uma seria aposentada, pois estava muito velha e desbotada. Havia mais de 46 anos que estava conosco. Desde os primórdios em que o grupo foi organizado. A outra era nova. Iria substituir à velha. A princípio achei que estava vendo e ouvindo coisas, mas não. Vou tentar contar o que aconteceu. – As duas estavam falando! Isto mesmo, conversando chefe! Duas bandeiras? Poderá me dizer. Mas é verdade. A velha dizia para a nova:

- Bem vinda minha amiga, não sabe como me alegro em conhecer você. Sabe, estou aqui há 46 anos, quinze dias e cinco horas. – Riu baixinho. Mas acho que tenho de aposentar e a Diretoria então comprou você. Eu sei que existe uma cerimonia muito bonita, que quando se aposenta uma Bandeira do Brasil, ela tem honras militares, é colocada em uma pira que junto com outras é queimada. Dizem que lá estão vários batalhões de soldados prestando homenagem. Mas quis os nossos diretores e chefes que eu devia ficar em um belo quadro de vidro na sala de recepção, pois tinham por mim muito amor e muita consideração. A bandeira velha deu um suspiro e continuou – Eu também amo todos eles. Vou lhe contar minha nova amiga, algumas lindas passagens que tive com eles. Acho que sempre me senti amada. A primeira foi uma lobinha, Cecília, ela sempre me olhava com carinho. Quando eu era içada ela fazia a saudação com orgulho. Não tirava os olhos de mim. Um dia no acantonamento, quando após o jantar alguns ficaram sem fazer nada, ela me pegou na mesa da Akelá e me levou até uma árvore. Lá com uma cordinha me amarrou e depois me abraçou-me e disse: Bandeira do Brasil, eu te amo. Quero que saiba que tenho orgulho de você. E então seus olhos se encheram de lágrimas e ela me beijou. Minha amiga, que emoção. Demais para mim.

- Depois foi em um acampamento Sênior. Eles e as guias foram acampar no Pico do Itatiaia. Procuraram a parte mais alta. Quando chegaram viram que não tinha onde hastear a bandeira. Eram só pedras. A vista era linda, mas se eu não farfalhasse no vento naquelas alturas eles não se sentiriam realizados. Dois seniores desceram quatro quilômetros correndo e acharam uma vara enorme de oito metros. Serra acima levaram o mastro.  Entre dois vãos de pedras e outras soltas, firmaram o mastro e me hastearam. Que felicidade amiga. Ver o vento me balançando nas alturas foi demais. E a vista? Maravilhosa! Confesso que chorei de novo de emoção. E então minha amiga, aconteceu um fato que nunca mais esqueci. Aquele sim foi demais para qualquer Bandeira do Brasil. Estava arvorada em um acampamento Escoteiro, e eles jogando um jogo gostoso em volta do campo. Um redemoinho de vento me pegou. Soltou-me da arvore, e fui levado a grandes altitudes. Eles viram e o Chefe gritou: - É nossa bandeira! Salvem-na, não deixem que o vento a leve! – E a escoteirada correu atrás de mim. O ribombar de trovões, raios enormes começaram a cair em redor. Outro vento enorme e a chuva me pegou de jeito. Mas lá embaixo estavam os valorosos escoteiros. Não desistiam. Sempre atrás de mim.

- Vi um escoteiro cair, sua perna sangrando e ele não desistiu. Vi outro molhado, tossindo a chuva caindo aos borbotões e ele não parava. Molhada, cai em cima de uma árvore altíssima. Ninguém desistiu. Um escoteirinho lépido subiu a árvore com dificuldade, pois chovendo e os galhos e os troncos molhados dificultavam. Ele me alcançou. Abraçou-me. Beijou-me. Colocou-me embaixo de sua camisa. Que honra minha amiga, como eles me amavam. Foi uma festa quando cheguei ao acampamento. Todos cantavam com alegria e o Chefe pediu que ficassem em posição de sentido e cantaram com orgulho o meu hino, o hino da Bandeira do Brasil! Nunca esqueci aquele dia. Houve centenas deles minha amiga. Centenas. Agora estou aposentando. Sua vez vai chegar, vais ver como os escoteiros amam sua pátria, sua bandeira. Vais ver quando for hasteada e o vento lhe acariciar e todos vendo você farfalhando no ar, irás sentir orgulho. De saber como é amada por eles!

                      O meu narrador parou. Estava chorando. De orgulho é claro pelo que viu e ouviu. E encerrou dizendo – Sabe Chefe, era eu que iria fechar a sede naquela noite. Fui até as duas bandeiras. Abracei as duas. Apertei em meu coração. Coloquei ambas na mesa desta vez aberta. Fiquei em posição de sentido. Cantei o hino da Bandeira, disse Sempre Alerta as duas com orgulho. Dobrei as duas com as honras que ela mereciam e fui embora. Hoje a velha bandeira mora em um belo quadro de vidro na sede. Todo dia que vou lá, fico em posição de sentido olho para ela, e com amor eu digo. Amo você Bandeira do Brasil. Faço minha saudação Escoteira e bem alto digo – Sempre Alerta!


                     Vi que ele não diria mais nada. Sua voz estava embargada de emoção. Dei nele um abraço e disse – Meu jovem amigo parabéns. Você é como eu, como todos nós escoteiros. Temos amor a nossa pátria. A nossa bandeira. Sei como se sente. Sei como sente todos escoteiros de todo o mundo que amam sua bandeira. Aceite meu abraço com amor e orgulho em te conhecer. Ele saiu e fiquei pensando. Pensei muito. Difícil explicar a emoção que sentimos no hastear e arriar a bandeira do Brasil. Ainda bem que temos isto. Amar a bandeira é amar nossa nação. É nestas horas que digo e repito, me orgulho de ser Escoteiro. Serei Escoteiro para sempre!             

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

A coruja dos olhos verdes.


Lendas Escoteiras.
A coruja dos olhos verdes.
(Histórias para lobinhos)

          Ela não tinha muitas lembranças do seu passado. Sua mãe morreu um mês depois que nasceu vitima de uma pedrada dada por um homem. Sem motivo. Um Pardal Cinzento trazia comida para ela todos os dias. Assim se fortaleceu até que sozinha aprendeu a procurar sua comida. O Pardal Cinzento nunca mais apareceu. Quem sabe morreu por outra pedrada de outro homem. Corria deles. Parece que não gostavam das flores, dos animais, dos pássaros, das arvores e matavam por qualquer coisa por nenhum motivo.  Saia pela manhã para procurar sua alimentação e voltava logo. Costumava voar até a Lagoa da Saudade onde encontrava sempre minhoquinhas pequenas e elas lhe davam força para viver mais um dia. Gostava de ir passear também pelo Lago da Esperança, pois sempre encontrava borboletas, bem-te-vis, abelhas douradas e elas eram grandes amigas.

          Mas a maioria do tempo ela passava ali, no galho da Arvore Da Felicidade. Uma grande amiga. Em seus galhos cresceu e se tornou adulta. Fez ali sua casinha pequena simples, mas era seu pedaço de chão para viver. Ficava sempre a perscrutar o horizonte para ver se algum animal, e se algum pássaro poderia vir para aproveitar a sombra da Arvore da Felicidade. De vez em quando aparecia um quati, um lobo, uma onça ou um tatu e uma vez riu muito quando vários meninos e meninas vestidos de azul cantavam dando gargalhadas uma canção esquisita. Diziam: - Eu matei o Shery Kaan, sou amigo do Balu! Ainda bem que nunca apareceu um homem. Tinha muito medo de pedradas. Mas naquela manhã, quase quando o sol ficou sem sombra chegaram outros meninos e meninas bem maiores de chapéu e bastões de madeira. Desta vez a Coruja dos Olhos Verdes teve medo e se escondeu na copa da Árvore da Felicidade. Eles se arrancharam e uns pegaram lenha outro foi ao Riacho do Amor pegar água nos cantis e pescar. Eram alegres e A Coruja dos Olhos Verdes criou coragem e voltou ao seu posto de observação.

         Eles não gritavam, não brigavam e cantavam muito. Tinham um enorme chapéu de três bicos na cabeça um lenço cor verde e amarelo e suas roupas eram iguais. Fizeram uma espécie de sopa e comeram com vontade. Um deles cujo nome era Toquinho olhou para cima e viu a Coruja dos Olhos Verdes. Parecia que ele entendia sua língua e ele disse – Olha Corujinha, você é linda! Não tenha medo. Sou um Escoteiro e o Escoteiro é amigo dos animais e das plantas! Ela sorriu e ainda tremendo disse – Olá! Os outros a viram, mas não sabiam sua língua. Só o Toquinho. Ficaram por um dia e meio. À noite cantaram canções lindas. Acenderam uma fogueira e a Arvore da Felicidade reclamou da fumaça. Dormiram todos encostados no tronco da Árvore da Felicidade. Nem bem o sol apareceu no horizonte levantaram e se foram. Toquinho olhou para a Coruja dos Olhos Verdes e se despediu. Adeus linda corujinha. Quem sabe um dia nós voltaremos a nos ver?

        Quando viraram na trilha da Colina Verdejante, próximo ao Monte da Alegria o vento balançou os galhos e as folhas da Arvore da Felicidade e eles desapareceram de sua vista. A Coruja dos Olhos Verdes começou a chorar. A Árvore da Felicidade chorou também. – Porque não vai atrás deles e saber onde vão ficar? A Coruja dos Olhos Verdes não se fez de rogada. La foi ela batendo suas asas atrás dos meninos do chapéu de três bicos. Voava alto quando os viu. Viu também ao longe um grande acampamento de escoteiros e escoteiras. Pareciam formigas a correr aqui e ali. Viu que os seis meninos erraram o caminho. Ela foi voando até lá e teve que descer para falar com Toquinho onde era o caminho certo. Ele agradeceu. Voltaram e pegaram a trilha certa.


        Foi uma boa ação que ela fez. Começou a voar de volta. Não era longe a sua morada na Arvore da Felicidade. Sentiu uma forte dor na asa direita. Olhou e viu dois homens maus com pedras na mão. Eles a tinham acertado. Com muito custo voando com muita dificuldade chegou a sua casinha. Deitou. Uma dor enorme ela sentia. Muito sangue escorria. Acordou e viu sua mãe e o Pardal Cinzento que a ajudou quando pequena a sorrirem para ela. Mostraram uma nuvem branca no céu e ela voou até lá. Sentaram na nuvem branca e sumiram no céu azul. A Árvore da Felicidade chorou por muito tempo. Agora estava sozinha. A corujinha se fora.  Os animais que ali apareciam também choravam. Um dia, numa tarde linda, com ventos brandos vindo do norte, em meio a uma brisa fresca, eis que apareceu a Coruja dos Olhos Verdes. Sorriu para a Árvore da Felicidade que também sorriu. E a felicidade voltou a viver junto a todos que moravam no Vale da Esperança. A Árvore da Felicidade e todos os que ali chegavam para descansar na sua sombra sempre sorriam. Mesmo onde existe a maldade, devemos perdoar e sorrir. Isto é como se a felicidade estivesse sempre conosco. A Árvore da Felicidade aprendeu com a Coruja de Olhos verdes que a verdadeira felicidade é fazer os outros felizes!

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Balada do vento amigo. Deixa o vento soprar em meu rosto.


Balada do vento amigo.
Deixa o vento soprar em meu rosto.

Os ventos que às vezes tiram algo que amamos, são os
mesmos que trazem algo que aprendemos a amar...
Por isso não devemos chorar pelo que nos foi tirado e sim,
aprender a amar o que nos foi dado. Pois tudo aquilo que é
realmente nosso, nunca se vai para sempre...

Eu já ouvi o vento soprar, forte e viçoso nas montanhas douradas do Baependi. Ele rasgava o dia e as noites através das folhagens como se estivesse reclamando da invasão dos seus domínios. Eu já ouvi o vento soprar, nas imensas planícies do Vale Feliz. Ele procurava espantar as borboletas coloridas que ali estavam à procura do mel escondido nas flores que caiam no outono. Quando eu olho para o oeste, seguindo o sol que busca se esconder nos vales verdejantes, eu ouço o vento soprar. Ela canta suavemente para me entreter na busca do infinito. Dentro de uma barraca que parece sair voando, o vento sul açoita sem pedir permissão. As vozes das tempestades são enfurecidas por ele. Ele o vento não pede passagem, ele vai onde quer e ninguém ousa interromper.

Eu gosto do vento. Não importa de onde vem e para onde vai. Já estive com os ventos da primavera, que traziam o doce perfume das flores, das matas, das florestas distante. Eu já estive com os ventos do verão, com as bravias chuvas espicaçadas por ele. Ele mandava trovões, raios inimagináveis e depois da chuva ele trazia a bonança com ventos calmos, pacíficos e o cheiro da terra, o perfume das folhas molhadas, nos mais altos galhos a passarada a cantar toadas maravilhosas ao sabor do vento cuja chuva o vento levou. Eu já vi passar os ventos do norte nos picos gelados das Agulhas Negras, ele parecia sorrir com a vasta imensidão a perder de vista. Eu já vi os ventos das ventanias que jogavam tudo ao chão. Eu já vi os ventos das borrascas cinzentas no mar gelado. Era bom olhar o infinito e ver as gaivotas na sua eterna luta com os ventos. Elas sabiam que iam perder por isto aprenderam a voar com os ventos.

Quando em marcha de estrada e o sol a pino, eu me entregava aos ventos para me dizerem o melhor caminho. Beber a água da fonte, em uma sombra e os ventos soprando é indescritível. Eu já ouvi os ventos. Muitos. Os que se transformavam em arco íris, os que se transformavam em brisas, gostosas, sopradas de uma cascata borbulhante ou na madrugada a nos apanhar sem barracas tendo o céu de estrelas como casas, elas molhavam nossos rostos ao luar. Ventos do norte e sul, ventos do oeste e este, que eles soprem sempre trazendo a todos nós a alegria que merecemos. Um dia alguém me falou do vento – Sabes Escoteiro, se tens vento e depois água, deixe andar que não faz magoa, mas olhe se tens água e depois vento, põe-te em guarda e toma tento! É eu já ouvi o vento passar...

Deixa passar o vento
Sem lhe perguntar nada.
Seu sentido é apenas
Ser o vento que passa…
Consegui que desta hora
O sacrifical fumo
Subisse até ao Olimpo.
E escrevi estes versos
Pra que os deuses voltassem.
Ricardo Reis.




segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Acampar é viver com a natureza.


Conversa ao pé do fogo.
Acampar é viver com a natureza.

                        Se você é Escoteiro já deve ter acampado. Isto mesmo e eu sei que foram muitas vezes. Já escrevi aqui a diferença de Camping com Acampamentos Escoteiros. Eu já fiz camping por boa parte deste Brasil. É divertido. Temos conforto, uma barraca que dá para ficar em pé, levamos rádio, TV, o fogareiro a gás tem duas ou três bocas, as mesinhas são fáceis de armar, os bancos ou cadeiras de praias estão ali para nosso deleite. Enfim, um conforto enorme e sem esquecer que temos luz elétrica e próximo chuveiros quentes. Uma delicia. E em um Trailer? Impossível imaginar a “gostosura”. Bom demais. Tive um Diamante e me esbaldava com ele. Que conforto meu Deus! Mas isto não é escotismo. Nunca foi. Vejo fotos de barracas inteligentes, suspensas, algumas em árvores como se fosse à casa do Tarzan. A turma se delicia com estas fotos e com estes confortos. Mas pergunto novamente isto é acampamento? Isto é escotismo?

               Claro que não. Eu lembro quase tudo dos meus acampamentos Escoteiros, mas pouco me lembro dos meus campings e do meu trailer. Não desmereço os primeiros acampamentos, as barracas novas, cheirando a pano de loja. Isto é norma para pata tenras. Mas se sua turma já é escolada, ela acampa com ou sem barraca e que venha a chuva! Quer saber? Nunca usei um Sleeping ou saco de dormir. Nunca usei um colchonete. Mas sei que hoje os tempos são outros e a meninada precisa primeiro aprender a ser um bom mateiro. Por isto vá cortando de acampamento em acampamento. Quando eles souberem fazer um abrigo e tiver somente uma lona em cima o caminho começa a dar frutos.

              Um Chefe outro dia comentou que ele já dispensa os veículos dos pais ou ônibus fretado, e aprenderam a usar as pernas como transporte. Carregam tudo que precisam na mochila, pegam ônibus, trens e vão aonde muitos nem sequer imaginaram. Mas isto eu sei é para uma tropa mateira. E olhe ele disse que mora em cidade grande. Estupendo! Um artigo meu fazendo gosação comentou sobre o que ensinou um Chefe Escoteiro sobre o material a levar para o campo. Incrível eu pensei. Isto é material para os escoteirinhos pata-tenras, onde a Mamãe a vovó e a titia ficam ali insistindo com ele para levar. Coitado. Vai aprender a carregar peso sem a necessidade e pobre das suas costas. E quando ele entrar em um ônibus? Bate aqui, bate ali e todo mundo olhando para ele espantado ou resmungando. No caminho ele fica para trás. Um bom Chefe divide com os demais a tralha dele com os outros, eu não, eu deixo ele se matar para aprender. Não é fazendo que se aprenda?

                Lá no acampamento é uma beleza. Os bons chefes vão lá ajudar a escoteirada a armar a tenda, a preparar um fogo, a fazer a cozinhar e etc. e tal. Eu não. O que eles foram fazer ali? Um jogo de olhar o Chefe? Eles que se virem. Afinal para que serviu o acampamento de monitores, o acampamento experimental de um fim de semana? Não ajudo mesmo. Que fiquem com fome que durmam no relento. Quando a fome apertar eles farão o fogo, quando o fogo estiver pronto eles aprendem a cozinhar. Se botarem açúcar no arroz paciência. Que comam arroz doce. Se o bife torrou danou-se, mas que mordam o queimado. Se for para pegar na mão do Escoteiro não conte comigo. Olhe que já acampei com tropas e tropas neste mundão de Deus. Quantos mateiros Escoteiros e escoteiras eu vi crescer? Centenas. Gente boa, gente que aprendeu a fazer fazendo e que quando adulto saberão se virar e ter iniciativa. Isto sem a mamãe e o chefinho Professor.

                Quantas vezes dormimos ao relento? Quantas chuvas enfrentamos? Quantos dias frios tiramos de letra com um bom Fogo Espelho? Conheci meninos Escoteiros que uma parada de uma hora em uma jornada era suficiente para uma fazer uma sopa e prosseguir. Turma da pesada! E quantas vezes dormimos sobre pedras, nas subidas das montanhas, molhados com a chuva e nos viramos com uma árvore copada? Pergunte aos que fizeram isto e verão um brilho em seus olhos, uma lembrança gostosa, um sabor diferente no aprender para a vida. Sei que hoje os pais não são como antigamente, mas se fosse eu diria: - Senhor, o escotismo vai ser assim. Se quiser que seu filho seja um homem no sentido da palavra ele vai aprender a fazer fazendo. Se o senhor acha que não dá, melhor que ele não fique conosco! Deixa o jovem chorar e reclamar com o pai. Ou ele o deixa ir conosco e aprender ou então que o leve para casa.

                 Acampar à Escoteira! Bom demais. Sozinho, enfrentando tudo. Medo? Putz! De que por acaso? Fantasmas? Eu dou risadas. Curei meu medo nos acampamentos onde uma árvore á noite era cópia do demônio. Onde uma casa de cupim nos montes nos fazia tremer nas madrugadas. Cobras? Escorpiões? Animais selvagens? Não sei se isto existe mais. Dormi amarrado por horas em um pé de pequi olhando para baixo e vendo uma jaguatirica deitada me esperando. Hoje isto não mais existe, mas ainda dá para fazer atividades aventureiras. Ora se dá. Agora se você é daqueles que levam pais para ajudar na cozinha, se você é daqueles que montam barracas e pioneirias explicando como se faz com a escoteirada em volta, paciência. Você não é o tipo de Chefe que acredito. Muito mais se é você quem estica a corda que é o primeiro a fazer o comando Crown e a escoteirada olhando, que adora fazer um caminho de barro e deixar que eles se lambuzem para uma boa foto, vá lá. Faça assim. Não é o que faria.

                    Muitas vezes não culpo você por isto. Você não teve a felicidade de acampar como os Escoteiros acampam. Hoje você tenta ao seu modo, pois aprendeu assim. Os cursos não lhe deram um começo de pista. Mas quer saber? Errar é humano e persistir no erro é uma tremenda burrice. Saia da sua rotina de sempre se quer fazer bons escoteiros. Acampe, vá onde ninguém foi com eles, mas deixe que eles tomem a frente. Você não é o Borba Gato, um Raposo Tavares ou um Fernão Dias Paes. Se divirta com o que eles fazem. Sinta-se realizado em estar ali ajudando de longe e claro você sabe disto. Eles precisam de você, mas não como o papai e a mamãe, mas como um herói que eles querem ser. Lembre-se não seja enganado como o foi Fernão Dias Paes que sempre acreditou ter encontrado esmeraldas, mas nunca ficou sabendo da riqueza que encontrou. As famosas turmalinas de Minas Gerais.


                   Barracas suspensas com um simples toque? Luz elétrica no campo? Enormes sacos de dormir acolchoados esticados nas barracas? Unguento para mosquitos? Bah! Não é o escotismo que penso. Faça acampamento meu amigo, acampamento de Gilwell como deve ser e não Camping. E por favor, não me convide para isto, mesmo Velho Escoteiro como sou ainda acho que dormirei bem em um galho de arvore sem necessidade da Jaguatirica a me olhar. Ufa! Acho que foi isto que me fez Escoteiro até hoje! 

sábado, 8 de novembro de 2014

A embriagues da primavera. Era uma vez..


Os tempos de Mowgly na Selva.
A embriagues da primavera. Era uma vez...

                    - Porque não morri nas garras dos dholes, gemeu Mowgly. Minha força esvaiu-se e não foi veneno. Dia e noite ouço um passo duplo no meu caminho. Quando volto à cabeça sinto que alguém se esconde atrás de mim. Procuro por toda parte atrás dos troncos, atrás das pedras, e não encontro ninguém. Chamo e não tenho resposta, mas sinto que alguém me ouve e se guarda de responder.

Se me deito, não consigo descanso. Corri a corrida da primavera e não sosseguei. Banho-me e não me refresco. O caçar enfada-me. A flor vermelha está a ferver em meu sangue. Meus ossos viraram água. Não sei o que...
- Para que falar? Observou Baloo. Akelá disse que Mowgly levaria Mowgly para a alcatéia dos homens outra vez. Também eu o disse, mas que ouve Baloo? Bagheera, onde está Bagheera? Esta noite se foi? Ela também sabe disso, é da lei.
- Quando nos encontramos nas Tocas Frias, homenzinho, eu já o sabia acrescentou Kaa. Homem vai para homens, embora a Jângal não o expulse.
- A Jângal não me expulsa, então? Sussurrou Mowgly.
- Os irmãos Gris e os outros três uivaram furiosamente: - Enquanto vivermos ninguém, ninguém ousará...

                     – Mowgly lembrava quando se mudou da Alcatéia de Seone. É hora de parar de correr. Ele viu uma pequena cabana onde via uma luz. Cães latiram. Ele emitiu um profundo uivo de lobo, que fez os cães calarem e tremerem. Escondido nos arbustos Mowgly também tremeu. Por outro motivo. Conhecia aquela voz. Entendeu o que ela dizia. Lembrava bem. Quem está aí? Quem está aí? Mowgly gritou baixinho: - Messua! Messua! – Quem chama? Respondeu a mulher com voz trêmula. – Nathoo! Respondeu Mowgly. – Vem meu filho. Ela se lembrou. O acolheu, deu-lhe de beber e comer. Cansado Mowgly deitou-se e dormiu sono profundo. 
– Mowgly acordou e ouviu o irmão Gris chamando-o lá fora. Messua olhou para ele. Era um Deus da Jângal, reconheceu. Quando o viu sair abraçou-o. Volte sempre disse. A garganta de Mowgly apertou-se. Disse quase chorando – Voltarei – sim voltarei. Ele gritou com lobo Gris – porque não vieste quando o chamei? – Não foi tanto tempo assim, ainda ontem estávamos junto respondeu. Você sabe, o tempo das Falas Novas chegou não te lembras?

                    - Irmãozinho, que aconteceu? Porque estás comendo e dormindo na Alcatéia dos Homens? – Se tivesse vindo quando o chamei isto não teria acontecido. – disse Mowgly - E agora como será? Perguntou o lobo Gris – Ele ia responder quando viu uma mocinha trajada de branco em direção à alcatéia dos homens. Mowgly a seguiu com os olhos até ela ser perder ao longe. E agora? Perguntou de novo o Lobo Gris. Agora não sei... Respondeu suspirando. Lobo Gris calou-se. Mowgly também. Quando abriu a boca foi para dizer a si próprio: - A Pantera Negra falou a verdade. Disse que o homem sempre volta para o homem.

                       - Raksha, nossa mãe também disse. E Akelá na noite do ataque dos Dholes, e também Kaa, a serpente da rocha. - completou Mowgly. E tu irmão Gris, que disse tu? – Eles te expulsaram uma vez. Disse o Lobo Gris. Eles queriam te lançar na flor vermelha. Mandaram Buldeu te matar. São maus, insensatos. Foste admitido na Jângal por causa deles. - Para! Que estás dizendo? - - Lobo Gris respondeu - Filhote de homem, senhor da Jângal, filho de Raksha, meu irmão de caverna – O teu caminho é o meu caminho. A tua caça é a minha caça e tua luta de morte é a minha luta de morte.

                       Mowgly já tinha resolvido o que fazer. – Vá, disse – Reúne o Conselho na Aroca, irei dizer a todos o que tenho no meu coração.   
Em qualquer outra estação aquela novidade teria reunido na Roca o povo inteiro do Jângal; - Lobo Gris saiu pelas planícies chamando a todos. O Senhor da Jângal volta para os homens. Vamos à Roca do Conselho. Todos respondiam – Só no verão, venha você e ele cantar conosco! – Quando Mowgly chegou a Roca, encontrou apenas lobos irmãos. Baloo que estava quase cego e a pesada Kaa. – Termina aqui o teu caminho, homenzinho? Disse Kaa – Grita o teu grito! Somos do mesmo sangue, eu e tu, homens e serpentes!

                           Lembra-te que Bagheera te ama, disse ela por fim, retirando-se num salto. No sopé da colina entreparou e gritou: Boas caçadas em teu novo caminho, senhor da Jângal! Lembra-te sempre que Bagheera te ama. Tu a ouviste murmurou Baloo. Nada mais há a dizer. Vai agora, mas antes vem a mim. Vem a mim, ó sábia rãzinha!
- É difícil arrancar a pele, murmurou Kaa, enquanto Mowgly rompia em soluços com a cabeça junto ao coração do urso cego, que tentava lamber-lhe os pés.


- As estrelas desmaiam, concluiu o lobo Gris, de olhos erguidos para o céu. Onde me aninharei doravante? Por agora os caminhos são novos...

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Os pais e o Grupo Escoteiro


Conversa ao pé do fogo.
Os pais e o Grupo Escoteiro

                Muitos escotistas comentam comigo sobre as dificuldades encontradas quando procuram os pais para colaborarem em diversas situações no Grupo Escoteiro. Claro, sabemos que vários grupos não têm este problema, portanto nos dirigimos àqueles que nos lêem e gostariam de algumas sugestões a respeito. Alguns dos comentários recebidos:

               Alguns jovens participam com idealismo, mas nunca vi seus pais e quando peço uma reunião com eles, poucos aparecem. - Em época de eleição da diretoria é uma luta para que alguém se ofereça para ajudar, e isto nos poucos que comparecem. - Para qualquer atividade que for necessário uma taxa, isto sem falar na mensalidade, a maioria (os pais) não colaboram e não ajudam em nada. - Quando algum escotista pretende participar de alguma atividade ou cursos para aprimorarem seus conhecimentos, sempre arcam com todas as despesas de transporte e taxas, com isto muitos desistem de prosseguirem na trilha escoteira. - Enfim, sem eles ficamos sem condições de manter o Grupo Escoteiro, e até o registro anual é prejudicado. Ou fica sem fazer ou se registra poucos membros do Grupo.

              É, é uma situação constrangedora. Claro tudo isto não existiria se na entrada do jovem, algumas providencias fossem tomadas. Se o Grupo já está com vários destes problemas, (sugiro que leiam outros artigos tais como “onde está o erro” aqui neste blog) só existe uma solução e esta infelizmente tem de ser tomada para que possamos ter os pais de volta. Vou dar um exemplo de vários grupos escoteiros que são exigentes na admissão do jovem. Vejam como tratam o assunto:

               - Os pais devem vir acompanhados dos filhos interessados; (se não vierem não tem admissão) - Não aceitar pais de jovens inscritos no grupo trazendo filhos de vizinhos ou parentes.  - É feito uma ficha de inscrição, onde consta que os pais também vão pertencer ao Grupo e é explicado a eles o que se espera após a aceitação do filho e o que o movimento escoteiro tem a oferecer a ele. - Eles ficam automaticamente inscritos no primeiro Curso Informativo (pode ser feito pela própria chefia no grupo ou então ver no Distrito ou Região se existe algum a respeito) este curso não deve ser maior que 4 horas e menor que 2 horas. - Enquanto estas formalidades não forem cumpridas, o jovem não participa diretamente. Ele pode ficar por um tempo observando a movimento das tropas sem interferir. - Depois de feito os quesitos acima, quando da Cerimônia de Bandeira, o jovem e os pais são apresentados à tropa/alcatéia, aí sim o jovem começa na sua patrulha ou matilha que vai recebê-lo do chefe da seção correspondente, onde então se fará alem do grito da patrulha ou similar na alcatéia, saudando o novo membro.

               - Os pais são convidados à sede para que o chefe do grupo (diretor técnico, acho eu) mostre a eles o calendário anual das atividades e as reuniões dos pais alem do Conselho anual (congresso). Também deverão preencher uma pequena ficha, com nome, telefone e endereço e dizendo como podem colaborar no grupo, semanal ou mensal. Uma lista de funções deve ser apresentada pelo chefe. Do Grupo (diretor técnico acho eu), e a partir deste momento, o Chefe não deve deixar de fazer contato telefônico, pessoal ou mesmo lembrar a eles que precisam de sua presença conforme foi acertado anteriormente.

                 O mais importante é que a falta de duas ou três atividades marcadas nenhum deles comparecerem, e após contato telefônico e pessoal sem resultado, o jovem leva um aviso aos pais que ele só continua se eles vierem ao grupo para conversarem novamente. Claro, vocês podem dizer que isto é muito radical, mas é bom lembrar que somos um movimento voluntário, sem fins lucrativos e nosso intuito é colaborar com os pais, a escola e a igreja. Sem a presença destes nada podemos fazer em benefício do jovem. Muitos escotistas ainda não chegaram à conclusão que é os pais é que precisam de nós e não o contrário. 

                   É importante que o Grupo Escoteiro mantenha algumas atividades para os pais em seu programa, a fim de motivá-los e sempre acontece que muitos deles passam a se interessar mais pelo movimento, oferecendo seu tempo para colaborar como escotistas. Existem exemplos que em pouco tempo, surge um grande número de chefes resolvendo de vez a falta de adultos tão reclamados por muitos.

Algumas atividades sugeridas:

                 Uma vez por ano, com ajuda de alguns pais, escolher um local onde todos possam passar um dia inteiro, em confraternização (se possível um sítio fora da cidade, que tenha instalações necessárias para os participantes). Nesta confraternização executar um programa nos moldes escoteiros, formando patrulhas junto com os filhos, competições entre elas, com grito próprio, cerimonial de bandeira e encerramento com a Cadeia da Fraternidade.

                Nas atividades de Alcatéia, sempre ver com a chefia quantos pais serão necessários e convidar aqueles que se propuseram a isto. Comissões internas para em conjunto com a Comissão Executiva (diretoria) desenvolver tarefas tais como: Arrecadação financeira compras para acampamentos – transporte para atividades de seções – instrutores de especialidades e outras de comum acordo com o Conselho de Chefes e Diretores do Grupo Escoteiro.

                 Finalmente, agindo conforme aqui sugerido, os resultados serão sempre alcançados, e os chefes poderem ter mais tempo com suas famílias, pois agora o trabalho é dividido por todos aqueles que são responsáveis também pelo Grupo Escoteiro. Conheci diversos grupos, que a participação de pais é tão grande (seus efetivos superam 200 membros participantes), que quando realizam as atividades extra- sede com os pais, superam em mais de 400 participantes (vão avós, tios, tias, primos e amigos que eles também convidam).


                  É necessário que o Conselho de Chefes seja regularmente informado de tudo, para evitar atritos e sentirem responsáveis também pelos pais presentes. Espero ter colaborado, mas se quiserem mesmo ter os resultados esperados, mãos a obra. Um poeta já dizia: Quem quer anda, quem não quer manda! E não deixe para amanhã o que pode fazer hoje!

terça-feira, 4 de novembro de 2014

A lenda do Fantasma da Patrulha Morcego.


Lendas Escoteiras.
A lenda do Fantasma da Patrulha Morcego.

           Maneco o Monitor da Morcego estava assustado. E põe assustado nisto. No começo ele achou graça, mas agora... Agora estava ficando diferente. Acontecia em todas as reuniões de tropa, nas excursões e nos acampamentos era o tempo todo. Cada dia mais amedrontado ele ficava. Tudo começou no acampamento realizado na Fazenda Santa Fé. Não ficaram perto da casa sede. O Coronel Tibúrcio proprietário da fazenda disse que na Ravina da Lontra, próximo à queda d’água havia um descampado lindo, gramado, com grama natural é claro, uma mata próxima e muito bambu. Bom isto. O Chefe Mansur não perdeu tempo. Juntamos nossas tralhas e colocamos em cima do carroção do carro de boi que o Coronel ofereceu como transporte. O local era mesmo lindo. Uma queda d’água de mais de trinta metros. O banho ali iria valer o acampamento. Mãos a obra e começaram a montar nosso campo. Ele viu que os Touros, os Javalis e os Leões estavam pau a pau com sua patrulha. Não havia porque duvidar, pois estavam juntos a mais de dois anos e ninguém saiu.

          Tudo começou quando ele apresentou-se ao Chefe para informar que o Jantar estava pronto. Quando corria na trilha até a barraca da chefia ele sentiu um calafrio. Um calafrio diferente. Parecia que alguém estava junto, mas ele não via nada. Fez a saudação de rotina, disse as palavras de rotina e o Chefe agradeceu o convite. Ficaram de almoçar com ele no sábado quando Lovenildo iria “tirar” sua especialidade de cozinheiro. Ele viu um vulto ao seu lado quando fazia a saudação. Um vulto de um menino moreno, magro, roupas simples daquelas sem cinto com uma passadeira segurando sua calça curta. Ele ria, parecia feliz em estar ao lado de Maneco. – Chefe! Tem alguém comigo aqui? O Chefe Mansur riu. – Ninguém Maneco. De onde tirou isto? – Maneco não disse mais nada. Voltou para seu campo e ao seu lado o menino moreno. O que fazer? Rezar é claro. Quem sabe seria uma alma penada do outro mundo. Se fosse era melhor que não ficasse ao seu lado. Não era medroso, mas também não tinha coragem para enfrentar fantasmas do além. Rezou muito antes de dormir.

          Maneco dormiu como um anjo. Teve um sonho, um sonho que ficou gravado em sua mente por toda sua vida. Ele nunca mais se esqueceu deste sonho. Nele um menino humilde, filho de um lavrador da fazenda, um menino que nunca foi à escola, não tinha roupas e as que usava sua mãe lavava enquanto ele esperava secar. Este menino disse que se chamava Taozinho dos Olhos Tristes. Um dia (assim comentava o menino no sonho) ele perguntou para sua mãe porque olhos tristes. - Porque meu filho não vejo você sorrir. Não vejo você correr por aí atrás das cotovias, das borboletas, nunca irás à escola, mas um dia quero levar você para conhecer uma cidade. Quem sabe Montes Floridos, é longe, mas um dia levarei você lá. Vai ver uma rua calçada de pedra, casas enormes, lá tem um prédio onde mora o prefeito e muitas outras casas uma em cima da outra. Vais ver a luz elétrica, quem sabe ouvir um radio tocando músicas. E assim sua mãe falou maravilhas de Montes Floridos. Tãozinho dos Olhos Tristes daquele dia em diante só pensava na cidade de Montes Floridos. Quando iriam? O que seria luz elétrica? O que seria a casa do prefeito muito alta e uma rua de pedra onde todos poderiam andar?

            Tãozinho dos Olhos Tristes nunca foi a Montes Floridos. Seu sonho durou pouco. Ele morreu um dia pisoteado por um touro bravo. Morreu por nada. O touro surgiu na curva do Aluvião, perto da Ravina da Lontra. Ele gostava de ficar ali, ver a cascata enorme a cair e nem percebeu o touro chegar. Não deu tempo de fugir. Foi sepultado atrás da cabana de pau a pique que seu pai fizera. Sua mãe chorava sempre que o visitava em seu tumulo simples. Muitas flores, uma cruz de madeira e nela sua mãe pendurou um terço. Terço que todas as tardes ela ia lá para rezar. Ele gostava de sair de perto do seu tumulo. Havia uma árvore frondosa onde ele passava a maior parte do tempo. Ele não entendia porque havia morrido. Parecia estar vivo a rezar com sua mãe. Foi quando viu os Escoteiros chegando. Que lindo! Que coisa mais bela era ver aquela meninada cantando. – Por favor, ele disse no seu sonho – Deixe-me ficar com vocês! Não farei mal a ninguém. Deixe que eu seja um Escoteiro, pois isto é lindo demais!

              Maneco acordou assustado. Levantou e viu sentado em frente sua barraca o menino dos Olhos Tristes. Sorriu para ele e disse – Seja bem vindo a minha Patrulha Tãozinho. Agora somos oito com você. Maneco o viu sorrir, parecia querer agradecer, mas sua voz não saía. Durante os quatro dias Tãozinho se divertiu na Patrulha Morcego. Só Maneco o via. Ele perguntou a Diego o Sub se ele via alguma coisa. Diego riu – Maneco, você está ficando maluco? O jeito era ficar calado. Mas ele se divertia com o sorriso de Tãozinho. Parecia que aquilo era a melhor coisa que aconteceu com ele. Mas tudo que é bom dura pouco. Chegou o dia de ir embora. Quando Tãozinho ficou sabendo ele chorou. Não tinha mais aquele belo sorriso. Maneco ficou numa tristeza só. Mesmo sua patrulha recebendo o troféu de eficiência do campo ele não sorriu. O Chefe Mansur viu sua tristeza e perguntou – O que houve Maneco? – E agora? Contar para o Chefe? Ele sabia que iria sofrer reprimenda. Não aquela de castigo não. Chefe Mansur era seu herói e nunca faria isto. Não contou.

        No ônibus ele viu que Tãozinho dos olhos tristes se aboletou ao lado dele. – Tãozinho, você não pode ir comigo. Você não poderá ir a todos os lugares que eu irei. Eu tenho escola, igreja, meus amigos, meus pais e se você ficar sempre comigo eu não sei o que fazer. Terei uma vida diferente. Meu amigo, eu não poderia viver assim! Ele viu que Tãozinho desapareceu. Chorou sozinho no ônibus. Era para ter sido o melhor acampamento da sua vida. Não foi. Mesmo tendo sido eleito Monitor ele não teve os melhores momentos neste acampamento. Mas ele sabia que não poderia fazer nada. – Eis que a surpresa começou a aparecer uma atrás da outra. Todas as reuniões lá estava Tãozinho dos Olhos Tristes. A tropa toda desconfiou de Maneco. O Chefe também. Eles riam quando Maneco chamava Tãozinho. Isto não era bom pensou o Chefe Mansur. Será que Maneco estava ficando pirado? Chamou seus pais e explicou o que estava acontecendo. Chefe Mansur os aconselhou para leva-lo a um psiquiatra. Ou quem sabe procurasse o Padre Totonho. Ele era bom em exorcismo.

        Seu pai era um homem bom e letrado. Não fez nada disto. Procurou o Professor Afagildo. Ele riu e disse para não se preocupar. No sábado ele mesmo foi visitar a Tropa dos Escoteiros. Logo viu Tãozinho dos Olhos Tristes. O chamou e a alegria de Tãozinho foi grande. Mais alguém o via. Foi conversando com o Professor Afagildo. O primeiro que o ouvia. Ninguém nunca fez isto nem mesmo Maneco, a não ser em sonhos. Naquela noite o Professor Afagildo o apresentou ao Chefe Norberto, um antigo Chefe Escoteiro que havia falecido há muitos anos. Chefe Norberto deu a mão a ele e ambos sumiram em uma luz azul brilhante. Para dizer a verdade Maneco sentiu muitas saudades. Seu pai o levou um dia para conversar com o Professor Afagildo.

       Professor e Tãozinho dos Olhos Tristes foi para onde? – Meu jovem Escoteiro, ele agora está feliz. Entrou em uma Tropa Escoteira lá na Cidade das Estrelas. Tem muitos amigos e me disse que comenta muito sobre você. O único menino vivo que o aceitou como ele era. – E sua mãe? Ele esqueceu? – Não, a gente nunca se esquece de quem se ama. Eles estiveram juntos no passado e ficarão juntos para sempre. Nosso Mestre sabe o que faz. Deixemos Tãozinho em paz. Que ele se divirta na nova patrulha. Eu soube que ele disse que um dia iria fundar uma patrulha do Morcego. Uma homenagem a você, pois foi seu único amigo quando precisou de alguém para consolá-lo. Maneco nunca mais teve noticias de Tãozinho. Nem em sonhos ele apareceu mais.


        Maneco sentiu saudades de Tãozinho por toda sua vida. Esperava um dia encontrá-lo novamente. Ele quando cresceu sabia que só quando fosse para a outra vida poderia encontrar seu amigo. Mas estava tranquilo.  Sabia que onde Tãozinho estava ele era cercado de amor e carinho. A tropa nunca soube. Maneco nunca comentou. Ele sabia que cada um tem sua hora para acreditar. Que ele seja muito feliz lá e que alcance tudo que sonhou um dia. Se eu pude um dia fazê-lo feliz, fico feliz também pensou Maneco. E assim termina nossa história. Uma patrulha que teve em suas fileiras um fantasma! Fantasma? Não. Um menino do além que sonhou ser Escoteiro e o conseguiu.