Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

E agora? O que eu faço?


Conversa ao pé do fogo.
E agora? O que eu faço?

          O telefone tocou duas, três quatro vezes. Eu não sou amante de telefone. Ele incomoda. Nas horas mais incríveis ele toca. Molhado no chuveiro não dá. Daquele jeito no banheiro também não. Dormitando em minha varanda pensando em uma boa história finjo que não escuto. E ele toca, ele toca. Prim., prim., prim.! Atendo com má vontade – Senhor Osvaldo? Voz esnobe, eu não gostei. Vai vender o que? Estou ligando a pedido do Doutor Peter Von Klaus, não sei sabe, mas ele é o Presidente da Mercedes Bens mundial e tem a maioria das ações nas maiores empresas do mundo. Ele pediu se o senhor têm um tempo para conversar com ele. Caramba! Um figurão? Falar comigo? - Você sabe do que se trata? Pergunto. - Ele prefere que seja pessoal. – Meu amigo, para mim é difícil ir onde ele está. Meu carrinho está sem gasolina, ando duro e ainda dirigindo muito mal. – Chefe! (ele disse Chefe?) nossa limusine vai buscar o senhor. Marque a hora e o lugar! Ops! Andar de limusine nunca eu andei. Deve ser da hora, como diz meu neto - Certo, olhe moro em Osasco, Rua do Buraco Quente sem número. Ela é uma travessa da Av. Marginal na Vila dos Sem Nada. Fácil de achar. Cinco e meia da manhã em ponto. As seis nos encontraremos no seu escritório – Chefe! Muito cedo. Se ele quer falar comigo que levante cedo! Tirei uma de gostoso. Afinal um figurão me procurar, enviar limusine e um mordomo para fazer o convite?

            O Doutor era como eu. Pontualidade britânica. Cinco e meia e na porta de casa lá estava eu de calça curta e chapelão. A limusine chegou e partimos. O Doutor já estava no escritório na Paulista. Subimos no seu elevador particular. Uma linda secretaria me acompanhou ao seu imenso escritório. Que mulher sô! Deve ser sueca. Cara simpático. Pensei que era um daqueles CEO gorducho e não era. Novo, uns cinquenta e poucos anos. Saradão. Levantou da poltrona me deu um belo sorriso. - Bem vindo Chefe! O descobri no Facebook! Gostei do seu estilo e quero que trabalhe para mim. – Olhei para o moço com olho torto. Trabalhar? Como? Mal aguento andar. Meu ar não é meu amigo e some sempre, minha tosse é uma velha companheira. Ele Sorriu! – Calma eu sei o que tem. Sei das suas dificuldades, mas olhe eu preciso de um Super Gerente Escoteiro. – Puxa! E agora? Eu gerente? Nunca fui um. Mas não dizem que toda hora é hora? Deixe-me explicar melhor. E assim ele começou a me dizer da sua esplêndida ideia para fazer dinheiro com o escotismo. Meus olhos esbugalhados.

            Chefe, cá entre nós, sabemos eu e o senhor que o escotismo do futuro será só para famílias endinheiradas. Quem é pobre ou fica rico ou vai desaparecer na multidão. Ummmm, eu pensei! Será ele parente do Caco Antibes? Ele é quem dizia - Detesto pobre! – Mas deixei o chefão continuar... – Minha ideia Chefe é criar no Morumbi e também nos Jardins, com ramificações na Granja Julieta e na Avenida Angélica onde os advogados endinheirados moram, Grupos Escoteiros de elite. O melhor dos melhores. Tudo coisa de primeira. Uma sede que ninguém nunca viu de tão linda, vamos gastar, vamos deixar o Edir com seu templo no chinelo. Nossas barracas serão automáticas, contrataremos vários executivos da Microsoft, com programas que o tal de SIGUE vai esconder nas cavernas profundas da Paulista. Nossos Escoteiros terão o melhor uniforme já confeccionado. Mandarei vir estilistas da Europa. Os jovens que irão participar serão a nata das famílias ricas do Brasil. Quem quiser participar teremos uma taxa de vinte mil reais mês. Os acampamentos serão feitos em locais preparados, com todo o conforto. Estou pensando em cinco anos um milhão de Escoteiros.

            Nossos chefes saíram do quadro dos Professores da USP, serão os melhores pedagogos, psicólogos, cientistas e o escambal! – Bem, pensei, o cara é megalomaníaco. Deixemo-lo continuar - Chefe não me subestime. A UEB será comprada facilmente. Se não me venderem boto todos eles na justiça. Tenho na mão os melhores advogados do Brasil. Iremos fazer um escotismo a nossa moda. O senhor vai dizer como será. O senhor decide se este Inglês general ainda será o guru de todos. Teremos um ministério só nosso. O Presidente sabe quem eu sou. Compraremos vários  ônibus último tipo. Para viagens internacionais estarão à disposição dois Airbus 380 e dois Boeing 780. Nossos Escoteiros e Escoteiras irão acampar no Nepal, no Deserto de Mojave, nas cavernas  do Afeganistão,   no vale da Morte, e quando houver viagem à lua, mandaremos para lá todos os Lis de Ouro e Escoteiro da Pátria. Deus meu! Estava impressionado.

             - Mas Doutor, o senhor só vai gastar sua fortuna? Ele riu. Esbugalhou de rir. Sou besta por acaso? Vamos fazer dinheiro, o escotismo é  um manancial. O Senhor está por fora da mixaria que eles recebem com estas inscrições com preço lá em baixo. Nem sabe quanto rende um Jamboree e faremos  um por ano. As regiões irão trabalhar para nós. Chefe! Isto é uma mina de dinheiro! Só para saber que não estou brincando vamos fazer um contrato com o senhor de cinco anos, três milhões de dólares por ano! Acha que lhe pagaria isto se o escotismo não valesse o quanto pesa? É ouro puro Chefe! – O caldo estava engrossando. Era dinheiro prá burro. Eu ia virar um potentado árabe sem perceber. E agora? Ele continuou – Chefe, como o senhor ficou de olho na minha secretária, ela será sua secretária. Fará tudo que o Senhor quiser e riu baixinho. – Pensei comigo – O paspalho não conhece a baixinha. Mas estava gostando da coisa. Um apartamento de cinco quartos mobiliado de frente para o Parque Ibirapuera, mordomo, quatro empregadas, carro com motorista, a coisa tava boa demais.


               Não sei por que senti um comichão no cangote. Olhei para ele e vi que ria com os olhos vermelhos. Na testa crescia dois enormes chifres. Putz! Fui enganado, era o diabo? Ele notou que estava descobrindo sua verdadeira identidade e voltou ao normal. - E então Chefe, topas? Topar o que? Tinha de fugir dali o mais rápido possivel. Não deu. Ele me segurou pelos ombros, me sacudiu e eu quase cuspi o coração para fora – Aceite sua besta, aceite! Vamos acabar logo com esta escoteirada sem tostão. Essa UEB que só sabe falar e escrever. Pobre não tá com nada. E dava gargalhadas e gargalhadas. – Marido! Marido! Acorda! Abri os olhos e vi a Celia. Graças a Deus que era um sonho. Mas ali na minha varanda onde cochilei pensava – Que grana, que vida, e cá prá nós, a secretaria sueca era demais. Kkkkkk. 

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