Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Onde anda o Zé Neguinho? (Uma historia quase real)


Onde anda o Zé Neguinho?
(Uma historia quase real)

                  Ah o tempo! A gente não percebe e quando percebe ele deu uma volta ou milhões de voltas para nos trazer as lembranças de um tempo que já se foi. Zé Neguinho nunca foi Escoteiro. Deveria ter sido, mas seu destino estava escrito de outra maneira. Queira ou não fomos amigos. Amigos que se respeitavam. Brigamos muito, de tapa, de soco, mas de arma branca nunca. Eu e ele sabíamos que nenhum de nós dois era melhor que o outro. Acho que a primeira vez eu estava com oito anos e ele por aí também. As brigas foram frequentes pelo menos uma a cada dois meses. Nunca envolvi meus amigos Escoteiros em nossas brigas. Mas hoje fico pensando: - Porque brigamos tanto? Não havia ódio, rancores, quantas vezes cansávamos e sentados olhando um para o outro dávamos belas gargalhadas?

                O tempo passou. Acho que uns dez anos. Eu não lembrava mais dele e tenho certeza que ele também não se lembrava de mim. Escoteirando eu viajava em um trem da Leopoldina de Caratinga para Ponte Nova. Ia para Barra longa a convite de um Grupo Escoteiro que estava começando. Era Comissário Regional em Minas Gerais e sempre fazia estas viagens aqui e ali. Eu cochilava quando o trem parou em uma estação. Olhei pela janela e vi lá fora dezenas de soldados armados correndo para todo lado. Ouvi um grito alto: - Zé Neguinho! Quem fala é o Capitão Nonato.  Você me conhece e me deve sua vida.  Sei que está aí neste vagão. Desça com as mãos para cima. O trem está cercado de policia! Olhei de lado. Era ele. Cresceu, ficou forte, muito forte, o cabelo grande sempre amarrado em um rabo de cavalo. Ele me viu. Deu uma gargalhada – Vado Escoteiro? O Valente da porrada? É você? Era chamado por ele assim. Levantei e dei nele um abraço.

                      O Delegado gritou de novo – Vamos evitar passageiros feridos Zé. Desça logo – Ele gritou – Me dá dez minutos delegado e vou descer sem reagir, eu prometo. Sentado ao meu lado um senhor de idade. – Suma! Ele disse e sentou comigo. Ficamos estes dez minutos lembrando o passado. Nunca na vida contei “causos” do passado sob a mira de fuzis. Lembra-se da descida do Bairro do Pastoril? Eu lembrava. Uma turma querendo me dar uma surra. Ele chegou com um pau na mão. Desceu a burduna na turma e gritou - Bateu nele bateu em mim! Só eu posso dar porrada nele! Ele se levantou e me deu um abraço, apertado. Chegou a doer. Vi que seus olhos encheram-se de lágrimas. – Adeus meu amigo. Acho que nunca mais vamos nos ver! Desceu do trem e vi dezenas de policiais apontando armas para ele. Na plataforma me deu um último adeus!


                     Não fiquei sabendo dos seus crimes ou roubos. Não havia jornal na minha cidade para informar. Mas Zé Neguinho me marcou muito. Não foi escoteiro. Deveria ter sido. Nunca o esqueci. De vez em quando procuro aqui na internet se vejo alguma noticia dele. Deve ter morrido. Se fosse hoje poderia ter descido e conversado com o Delegado. Quem sabe poderia ter ajudado. Não o fiz. O destino não se mede pelas ações, mas sim pelo que se fez ou faz. Espero que ele tenha conhecido a felicidade. Seu sorriso sempre foi contagiante e dizem que quem sabe dar um lindo sorriso é feliz.

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