Lembranças de Baden-Powell
O ponto de vista dos outros.
Nossa atitude no Movimento Escoteiro deve ser de
não querermos estar em conflito com quaisquer políticas, sejam educacionais,
religiosas, ou de outras entidades, mas de ficarmos felizes com seus conselhos
ou sugestões. É nosso objetivo estar em paz com todos e fazermos o melhor em
nossa própria linha. Provavelmente a maioria de nós está em sintonia com ideais
socialistas, embora talvez não vejamos com um mesmo olhar a viabilidade de seus
detalhes ou de seus métodos.
Nós, no escotismo, desejamos não somente corrigir
os males sociais presentes, como também prevenir sua recorrência nas novas
gerações, tentar reduzir o grande desperdício de vidas humanas atualmente
existentes nas favelas das cidades onde tantos milhares de seres humanos vivem
uma existência de miséria pelo desemprego, isto nem sempre por sua própria culpa,
mas simplesmente por nunca lhes terem dado uma chance. O nosso principal
esforço é atrair os jovens e colocá-los em um caminho correto para o sucesso em
sua vida, nos empenharmos para equipá-los – especialmente os mais pobres – com “caráter”
e habilidades manuais para que cada um possa pelo menos ter um trabalho.
Se após isto ele fracassa, então é sua culpa e não
daqueles que estão em posição de ajudar nossos irmãos menos favorecidos, como
acontece atualmente. O fato é que a justiça e a honestidade nem sempre fazem
parte dos currículos escolares. Se nossos jovens são treinados para enxergarem
o ponto de vista de seus companheiros antes do seu próprio no julgamento em um
litígio, que diferença faria na maturidade de seu caráter! Esses rapazes não
seriam levados pelo primeiro orador que cativa seus ouvidos sobre qualquer assunto,
como comumente acontece atualmente, mas desejariam também ouvir o que a outra
parte tem a dizer sobre a questão, refletindo por si mesmos como adultos.
E assim é com quase todos os problemas da vida, o
poder de julgamento individual é essencial, quer seja nas escolhas políticas,
religião, profissão, esportes – metade dos fracassos e três quartos dos
sucessos parciais entre nossos filhos são devidos à carência disto Queremos que
nossos homens sejam homens, e não cordeiros. E na grande proposição da Paz Internacional,
tenho para mim que antes de abolir armamentos, antes de se fazer tratados de paz,
antes de construir palácios para os delegados das nações se reunirem, o
primeiro passo é a formação de todas as novas gerações – em cada nação –
guiadas por um absoluto sentimento de justiça.
Quando os homens tiverem como instinto na condução
das tarefas da vida, olhar as questões com imparcialidade de ambos os lados
antes de se tornarem partidários de um deles, então, ao surgir crise entre duas
nações, estariam naturalmente mais dispostos a reconhecer a justiça de cada
caso e adotarem uma solução de paz, o que é impossível enquanto seus espíritos
estiverem acostumados a entrar em guerra como único argumento.
No movimento escoteiro temos a nosso alcance
grandes oportunidades para introduzir treinamento prático em justiça e
honestidade, como jogos e competições de campo, e através de arbitragens,
cortes de honra, ensaios e debates na sede.
Julho de 1912.
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