Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Onde anda o Zé Neguinho? (Uma historia quase real)


Onde anda o Zé Neguinho?
(Uma historia quase real)

                  Ah o tempo! A gente não percebe e quando percebe ele deu uma volta ou milhões de voltas para nos trazer as lembranças de um tempo que já se foi. Zé Neguinho nunca foi Escoteiro. Deveria ter sido, mas seu destino estava escrito de outra maneira. Queira ou não fomos amigos. Amigos que se respeitavam. Brigamos muito, de tapa, de soco, mas de arma branca nunca. Eu e ele sabíamos que nenhum de nós dois era melhor que o outro. Acho que a primeira vez eu estava com oito anos e ele por aí também. As brigas foram frequentes pelo menos uma a cada dois meses. Nunca envolvi meus amigos Escoteiros em nossas brigas. Mas hoje fico pensando: - Porque brigamos tanto? Não havia ódio, rancores, quantas vezes cansávamos e sentados olhando um para o outro dávamos belas gargalhadas?

                O tempo passou. Acho que uns dez anos. Eu não lembrava mais dele e tenho certeza que ele também não se lembrava de mim. Escoteirando eu viajava em um trem da Leopoldina de Caratinga para Ponte Nova. Ia para Barra longa a convite de um Grupo Escoteiro que estava começando. Era Comissário Regional em Minas Gerais e sempre fazia estas viagens aqui e ali. Eu cochilava quando o trem parou em uma estação. Olhei pela janela e vi lá fora dezenas de soldados armados correndo para todo lado. Ouvi um grito alto: - Zé Neguinho! Quem fala é o Capitão Nonato.  Você me conhece e me deve sua vida.  Sei que está aí neste vagão. Desça com as mãos para cima. O trem está cercado de policia! Olhei de lado. Era ele. Cresceu, ficou forte, muito forte, o cabelo grande sempre amarrado em um rabo de cavalo. Ele me viu. Deu uma gargalhada – Vado Escoteiro? O Valente da porrada? É você? Era chamado por ele assim. Levantei e dei nele um abraço.

                      O Delegado gritou de novo – Vamos evitar passageiros feridos Zé. Desça logo – Ele gritou – Me dá dez minutos delegado e vou descer sem reagir, eu prometo. Sentado ao meu lado um senhor de idade. – Suma! Ele disse e sentou comigo. Ficamos estes dez minutos lembrando o passado. Nunca na vida contei “causos” do passado sob a mira de fuzis. Lembra-se da descida do Bairro do Pastoril? Eu lembrava. Uma turma querendo me dar uma surra. Ele chegou com um pau na mão. Desceu a burduna na turma e gritou - Bateu nele bateu em mim! Só eu posso dar porrada nele! Ele se levantou e me deu um abraço, apertado. Chegou a doer. Vi que seus olhos encheram-se de lágrimas. – Adeus meu amigo. Acho que nunca mais vamos nos ver! Desceu do trem e vi dezenas de policiais apontando armas para ele. Na plataforma me deu um último adeus!


                     Não fiquei sabendo dos seus crimes ou roubos. Não havia jornal na minha cidade para informar. Mas Zé Neguinho me marcou muito. Não foi escoteiro. Deveria ter sido. Nunca o esqueci. De vez em quando procuro aqui na internet se vejo alguma noticia dele. Deve ter morrido. Se fosse hoje poderia ter descido e conversado com o Delegado. Quem sabe poderia ter ajudado. Não o fiz. O destino não se mede pelas ações, mas sim pelo que se fez ou faz. Espero que ele tenha conhecido a felicidade. Seu sorriso sempre foi contagiante e dizem que quem sabe dar um lindo sorriso é feliz.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Assim escreveu Baden-Powell.


Assim escreveu Baden-Powell.

Indo em direção ao Outspan em Nyeri os visitantes se defrontam com uma placa fixada em uma árvore numa curva da estrada. “Paxtu”. São aqueles escoteiros que lá vão especialmente para conhecer a casa de Baden-Powell na Africa. O que ele escreveu a seguir foi em uma noite qualquer antes de sua morte, sentado em sua varanda de sua famosa "Paxtu", já noite alta e ouvindo o cantar dos pássaros passou a filosofar:

- Escrevo estas lembranças no meu jardim no fim de um dia perfeito no final de setembro, com o brilho avermelhado do pôr do sol dando um novo tom para as luzes e sombras através das florestas que se estendem e abaixo, chega uma névoa violeta sobre as alturas distantes onde o tempo vagou. Existe um cheiro de rosas no ar. É um perfume inebriante. Uma torre de arvores sonolenta aparece nos olmos próximos, em resposta ao distante cantar de uma pomba. Uma abelha cantarola sonolenta por um mel que não encontra. Tudo é paz em casa ao anoitecer. Á noite agora se fecha no badalar da meia noite.

Sinto que ela sente por mim, no silêncio de camaradagem, que compartilhamos, um pouco da labuta da tarde e a alegria dela. É bom para descansar e honestamente estou meio cansado. Olho para trás e sinto que, apesar de um suspiro, tive um dia daqueles que todos têm, apesar de suas limitações. Não foi um dia ocioso, por isto o desfrutei ao máximo, e assim como eu que tem sorte em ser rico e por ter poucos desejos e menos arrependimentos.
Através de uma janela superior, vem à conversa e risadas de gente jovem indo para a cama. Para amanhã o seu dia vai chegar. Que seja tão feliz quanto o meu foi hoje.  Deus os abençoe! Quanto a mim, vai ser a minha hora de dormir logo. E então é melhor dizer:
Boa noite!


quinta-feira, 23 de junho de 2016

Ligia.


Ligia.

Ouvia sem ser indiscreto atrás do biombo da sede, a Guia dizer para sua Chefe: - Não sou capaz. Tentei e não consegui – Ligia, você é capaz de coisas que nem imagina. Quem diria a muitos anos atrás que algum dia o homem seria capaz de voar? Quem arriscaria a dizer que o ser humano conseguiria pisar na lua? Tudo é impossível até alguém sonhar mais alto. – Um silêncio surgiu no ar. Nem ela e nem a Chefe nada diziam. O que teria acontecido? Prendi a respiração. Eis que a guia falou baixinho quase sussurrando: - Chefe não tenho ninguém, minha mãe não me entende e eu me sinto só, procuro carinho e não tenho, procuro amor e não encontro. 

Dialogo difícil pensei. Chefes são assim, fazem jogos e muitas vezes não sabem explicar as regras do jogo. Afinal nem todos estão preparados para resolver temas individuais além de suas possibilidades normais. – Mas eis que a Chefe respondeu baixinho: - Quando uma pessoa transforma seu sonho em um objetivo de luta com determinação, está dando o passo certo para conseguir. Muitos duvidarão inicialmente se o plano for ousado demais, mas a fé é mais forte que qualquer receio e quem não se deixa amedrontar ganha sempre alguma coisa - Novo silêncio. O que a Guia pensava? Eu mesmo ainda não tinha colocado ordens nos meus pensamentos.

Não ouvi soluços e nem pedidos de perdão. Ligia parecia ter dado um breve sorriso. Sua Chefe sorriu também. Ambas saíram abraçadas para a reunião que ia começar. Eu escondendo minha intimidade de presença olhei ambas e o olhar de felicidade que portavam. Pensei comigo o quanto vale um bom conselho. Quanto vale uma confiança. Eu sabia que por pior que fizermos chegaremos ao objetivo final. Nunca duvidei da capacidade em superar as melhores expectativas. Temos sempre que ser o primeiro a acreditar para conquistar algo de valioso. Só não conseguirá alcançar determinada meta se não se propuser a lutar por ela. Parta e corra pela sua felicidade, sem receios nem hesitações. Aconteça o que acontecer, a maior vitória será saber que deu o seu melhor em todos os momentos da sua batalha.


Fui também para a reunião da minha tropa mais alegre, mais confiante. Ao longe Ligia sorria junto a sua patrulha e eu ali bem distante sorria também.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Gabriel.


Gabriel.

                        Chefe passo a relatar um pensamento meu. Eu sei que a distância de nossos grupos escoteiros pode ser distante, mas mesmo assim, o senhor me ensina muitas coisas e fortalece minha chama escoteira. Como um jovem sênior, não posso ensinar algo para um antigo Chefe?

                            Pois é, vi estes dias, quando estava arrumando meu guarda-roupa, minha antiga camiseta de acampamento, ela estava toda gastada, com pequenos rasgos, furos, desbotada e algumas manchas. Adoro essa camisa e fiquei um tanto quanto triste. Afinal como pude ser tão desleixado e deixar isso com minha camisa companheira? - Mas então eu lembrei que aqueles rasgos foram feitos com muitos puxões e lutas saudosas de vários jogos.

                         Aqueles furos foram feitos com muitas quedas, em pedras encontradas nas longas trilhas com meus colegas escoteiros. Aquela cor desbotada foi feita pelo sol em uma tarde na beira de um lago com um momento reflexivo, e aquelas manchas apareceram graças às boas comidas que eu comi em acampamentos.

                        Todos os estragos da camisa e também os motivos deles são muito diferentes, mas o resultado deles são todos os mesmos, todos eles foram feitos em um momento de alegria e diversão com as pessoas que eu gosto, e essa camisa é a prova que eu fui muito feliz com nesses momentos. Agora a tristeza já sumiu, e toda vez que olhar minha camisa, vou lembrar-me desses momentos e ficar muito feliz, e minha chama escoteira irá enriquecer cada vez mais.

                          Bom meu caro chefe, espero que por meio dessa mensagem, possa ter alcançado meu objetivo de que um jovem escoteiro pode mostrar os próprios conhecimentos a um velho chefe de majestosa sabedoria.
 Um grande abraço e um forte aperto de canhota, até o próximo fogo de conselho.


Nota – Um relato feito pelo Gabriel e anotado em meu Imbox do Facebook o qual faço questão de transcrever na íntegra. Ainda existe uma esperança no escotismo do Brasil!

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Não é bom fazer os outros felizes?


Não é bom fazer os outros felizes?

                             Pense um pouquinho, não é gostoso fazer a felicidade de alguém? Por um ato seu, uma palavra sua, um breve sinal no ombro, um piscar de olhos um abraço amigo e um sorriso sincero. Pense, não vale a pena mesmo fazer alguém feliz? Acho que você pensa como eu. Talvez até mais que eu, pois ainda me falta um pouco de humildade para com o ser humano. Muitas vezes quero fazer deles o que sou. Mas será que sou exemplo? Não sou. Cada um de nós tem uma maneira de ver, de pensar e achar qual o melhor caminho que deve seguir. Olhe eu não me sinto bem com chefão, dono de tudo e da ocasião. Não me sinto bem em ser diferente subserviente e aceitar outros que se acham melhores e que lhe devemos respeito. Eu não coaduno com isto. Não mesmo. Gosto de olhar para todos do movimento e pensar que somos todos iguais, somos todos irmãos. Ninguém é melhor que ninguém. Se eu sei fazer A outro sabe fazer B. Se em vez de ficar preso em unidades didáticas, em frases fantásticas, em palestras incríveis e se cada um de nós velhos Escoteiros fossemos mais além acho que iriamos conseguir que nossa felicidade escoteira nos colocasse como iguais e isto traria uma bem enorme a nação escoteira.


                           Mas eu acredito que um dia, muito além dos dias de hoje não haverá mais discordâncias, não haverá alguém que se julga o dono da verdade. Em todos os grupos em todas as regiões e até na nossa Direção Nacional seremos regidos pelo sorriso, pela compreensão pelo espírito Escoteiro espírito este de marca indelével. Então cada um de nós saberá com certeza o que significa a palavra Servir! Servir é devotar-se a algo, a alguém. Servir é entregar-se a uma causa, a um amor, a um ideal. Assim, ser servo é ter sentido na vida, é ter noção clara para onde se quer seguir todos os dias. Servir à família, a pátria, a Deus, servir ao casamento, servir à profissão, servir à comunidade... E servir ao escotismo considerando todos irmãos.

terça-feira, 14 de junho de 2016

Apenas uma mesa de acampamento.


Apenas uma mesa de acampamento.

Era uma mesa simples. Nada diferente de tantas que ele um dia viu fazer. Era sua primeira. Teve a permissão de construí-la só. Era um desafio que ele mesmo fez para si. O Monitor lhe disse onde seria o campo da patrulha. Se ele fosse fazer a mesa deveria ficar perto da cozinha. Viu os demais patrulheiros seus amigos planejando e fazendo atividades mil. Sabia que sempre fora assim. Pensou como seria. Quantas achas de madeira, quantos bambus. Multiplicou, fez da álgebra a parte final para não errar as medidas de sua primeira construção. Mãos a obra. Uma machadinha e um facão eram instrumentos preciosos. Proximo ao bambuzal viu dois eucaliptos. Estavam autorizados no corte. Quando o primeiro caiu ele ia gritar “madeira”! Mas sentiu tristeza, pois ela ele sabia que a árvore morrera nas mãos de um Escoteiro. Alguém lhe disse que cortando vinte centímetros acima da terra as mudas ao redor dariam outras três. Não ajudou, mas deu para esquecer a tristeza momentânea.

Arrastou-a por trezentos metros. Longe. Não foi fácil. Voltou para os bambus e fez o mesmo. Tirou a camisa escoteira tirou o lenço. Sabia que não se colocava o lenço sem estar uniformizado. O sol a pino, mas não dizem que os Escoteiros não se assustam com nada? Uma estaca e lá esta ele cortando e medindo sua madeira e bambus. Tudo pronto agora era fazer os buracos. Seriam quatro. Quarenta centímetros de fundo no mínimo para que a base fique forte. Uma hora, duas três. Estava agora terminando. Quantas amarras deu? Quantos nós fez? Agora fazia simultaneamente duas costuras de arremate no seu tampo da mesa. O suor não perdoava. Correu até o regato e lavou o rosto, deitou na beirada e bebeu a água cristalina pausadamente com a própria boca. Olhou de longe sua construção. Foi mais perto, pôs a mão na cintura fazendo pose. Olhou de um lado, passou para o outro. Estava deslumbrado com o que fez. Ninguém na patrulha observou ou elogiou. Puderas afinal isto era uma rotina de todos. Pegou a lona, jogou pela viga mestra, já tinha fincado a primeira forquilha. Ele ria da lona torta. Aguarde dona lona, ele disse. Mais quatro espeques. Pronto. Podia chover canivete. Sorriu quando o monitor lhe deu uns tapinhas leve nas costas dizendo – Parabéns!


No jantar viu quando todos pegaram seus pratos suas canecas e se dirigiram para a mesa. Ele foi o último. Queria vê-los todos em volta e sentados. Um espetáculo a parte de quem fez. Oraram. “Senhor obrigado por esta refeição, obrigado pela natureza bela que nos deu para viver uns dias, obrigado senhor pela água límpida do córrego, obrigado senhor pela noite, pelos vagalumes e pela Dona Coruja que vai nos olhar com seus olhos espantados”. Amem! Ele baixinho completou: - E pela força que me deu por ter feito a sala de jantar da patrulha. Obrigado Senhor. E ele dormiu tranquilo. Os calos nas mãos iriam fazer efeitos no dia seguinte. Os ossos do corpo doíam e iam piorar, mas ele não se importava. Tinha feito sua parte. Ele não era o único era mais um na patrulha. Dormiu feito um anjo e sabia que este dia seria para ele o inicio de muitos outros que iria mostrar a força de um trabalho em equipe. Amava sua patrulha e por ela daria sua vida. Agora ele sabia como era bom ser Escoteiro e feliz ajudando aos outros e ajudando a sí mesmo!

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Revivendo o início do Escotismo.


Conversa ao pé do fogo.
Revivendo o início do Escotismo.

Em Janeiro de 1908, Baden-Powell lançou nas bancas inglesas seis fascículos quinzenais intitulados “Scouting for Boys”, num total de quase 400 páginas, com o subtítulo de “Manual de instrução de boa cidadania”. Em poucas semanas, estes fascículos entusiasmaram centenas de milhares de jovens ingleses, que se organizaram em Patrulhas e puseram em prática as sugestões de B-P. Aqueles seis fascículos eram, nos seus conteúdos, um pouco diferentes da versão que conhecemos e lemos do “Escotismo para Rapazes”. No entanto, foram suficientemente atrativos para lançar, num ritmo de crescimento impressionante, este Movimento do qual fazemos parte. Como já passamos do Centenário do Escotismo, deixamos a sugestão de te colocares no papel dos jovens ingleses que, em 1908, leram pela primeira vez o “Escotismo para Rapazes” e saíram pelas ruas e florestas para viverem o ideal do “Boy Scout”. Fica aqui uma seleção de propostas, para começares a reviver o lançamento do Escotismo!

 Jogo do Kim
Bem conhecido de todos. Quando foi a última vez que jogaste? Durante um minuto, cada escoteiro tenta memorizar entre vinte e trinta objetos diferentes, alguns destes variando apenas na cor, à semelhança do treino que Lurgan proporcionou ao Kim, na Índia. Findo o minuto, cada escoteiro é chamado à parte, para enumerar todos os objetos. Mais do que um jogo, este é um treino de memória e observação que todos os escoteiros deveriam praticar. 

 Rebocar uma pessoa inconsciente 
Na edição de 1908, B-P sugeria, para se rebocar uma pessoa inconsciente no caso de um incêndio, onde há muito fumo, que se fizesse sugeria um Lais de Guia em torno do peito, outro em torno dos tornozelos e outro em torno do pescoço de quem fosse rebocar, o qual caminharia em cima dos quatro membros, mantendo a cabeça baixa, arrastando a pessoa inconsciente. A pessoa seria arrastada com os pés no sentido do deslocamento. Pratica esta operação, por exemplo, sob a forma de uma competição entre pares de elementos da mesma Patrulha ou entre Patrulhas.

 O assobio do Escoteiro (vide na foto anexo)
Para além do Inegoniama, a canção guerreira Zulu, e do grito de animação “Zinga zing! Bom! Bom!”, B-P sugeria um chamamento feito por assobio, para um escuteiro chamar a atenção de outro escuteiro, que também podia ser usado para o chefe chamar a reunir o seu grupo com um cornetim. Se não souberes ler uma pauta, pede a alguém que te ajude e experimenta ensinar este assobio lá no agrupamento.

Jogos de observação
B-P insistia muito na importância da capacidade de observação que o escoteiro devia possuir, sugerindo alguns jogos para treinar essa mesma capacidade. Num deles, “Procurando o dedal” a Patrulha entrava numa sala onde estava um dedal ou outro objeto pequeno, visível, mas que não dava nas vistas, tentando descobri-lo. Noutro jogo, um escoteiro, à vez, entrava numa sala durante meio minuto e, depois de sair, procurava enumerar todas as peças de mobiliário e objetos de que se recordasse, ganhando o que apresentasse uma lista maior. Bastante conhecido, embora infelizmente não muito usado, é o “Enfarruscado”, em que os escoteiros procuram identificar, ao longe, os pontos de uma grelha, ganhando o que o fizer corretamente a maior distância.

Identificar pegadas
A capacidade de identificar e seguir rastos está associada à arte de dos exploradores e batedores, pelo que B-P dava bastante importância a este treino, nos escoteiros. Num dos jogos que propunha, os elementos de uma Patrulha sentavam-se com os pés no ar, para que os elementos de outra Patrulha pudessem observar durante três minutos; depois, sem a outra Patrulha ver, um dos elementos da primeira Patrulha saía para uma zona de terra e deixava várias pegadas; a segunda Patrulha iria observar o terreno e tentar descobrir de quem eram as pegadas. Noutro jogo, uma pessoa iria fazer pegadas num terreno; depois, juntamente com outras pessoas, fariam mais pegadas em frente de uma Patrulha, que tentaria adivinhar a qual das pessoas pertenciam às pegadas que tinham observado inicialmente.

 Jogos de aproximação
Aproximar-se de alguém sem ser visto era uma capacidade muito treinada pelos primeiros escoteiros. O jogo “Aproximação ao alce” ajuda a este treino e é bastante divertido. O Alce é representado por um dos escoteiros, que pode ficar quieto ou movimentar-se um pouco. Os outros, os caçadores, tentam aproximar-se sem serem vistos. Se o alce vir um dos caçadores, aponta-o e este tem de se levantar e sair do jogo. Ao fim de algum tempo (estabelecido), termina o jogo e ganha o escoteiro que estiver mais próximo do alce.

Jogo da Caça ao Leão
O leão é representado por um dos escoteiros, que parte para o mato com seis bolas de ténis, um saco de milho e calçado com solas que deixem marcas profundas na terra. Tem meia hora de avanço sobre o resto da Patrulha, que partirá no seu encalço, seguindo-lhe o rastro. Cada elemento “armado” com apenas uma bola de ténis, para disparar contra o leão, quando o encontrarem. O leão pode esconder-se, ou correr, conforme lhe apeteça, mas, quando o terreno for duro e as botas não deixarem marcas, deverá deixar um rastro com o milho. Se os caçadores não lhe conseguirem descobrir o rastro, ninguém ganha. Mas, quando conseguirem aproximar-se do leão, podem tentar matá-lo com as bolas. Um caçador que seja atingido por uma bola do leão, é imediatamente morto. O leão atingido por uma ou duas bolas fica apenas ferido, precisando de três “tiros” para morrer. Cada bola de ténis pode ser usada uma única vez durante o jogo.

Peças de Teatro.

Embora o Escotismo envolvesse ação e jogos, B-P considerava bastante importante a representação teatral, ou não fosse o teatro também palco de muita ação. Ao longo dos fascículos, eram dadas sugestões para peças de teatro para as Patrulhas representarem, algumas delas baseadas em histórias conhecidas, tais como a de Pocahontas, as aventuras de Sherlock Holmes ou o Rei Artur e a Távola Redonda. B-P dava, também, muita importância aos adereços a usar pelos atores, chegando a descrever em pormenor as vestimentas de alguns personagens. Quando foi a última vez que participaste numa representação teatral com a tua Patrulha?

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Lembranças de Baden-Powell O ponto de vista dos outros.


Lembranças de Baden-Powell
O ponto de vista dos outros.

Nossa atitude no Movimento Escoteiro deve ser de não querermos estar em conflito com quaisquer políticas, sejam educacionais, religiosas, ou de outras entidades, mas de ficarmos felizes com seus conselhos ou sugestões. É nosso objetivo estar em paz com todos e fazermos o melhor em nossa própria linha. Provavelmente a maioria de nós está em sintonia com ideais socialistas, embora talvez não vejamos com um mesmo olhar a viabilidade de seus detalhes ou de seus métodos.

Nós, no escotismo, desejamos não somente corrigir os males sociais presentes, como também prevenir sua recorrência nas novas gerações, tentar reduzir o grande desperdício de vidas humanas atualmente existentes nas favelas das cidades onde tantos milhares de seres humanos vivem uma existência de miséria pelo desemprego, isto nem sempre por sua própria culpa, mas simplesmente por nunca lhes terem dado uma chance. O nosso principal esforço é atrair os jovens e colocá-los em um caminho correto para o sucesso em sua vida, nos empenharmos para equipá-los – especialmente os mais pobres – com “caráter” e habilidades manuais para que cada um possa pelo menos ter um trabalho.

Se após isto ele fracassa, então é sua culpa e não daqueles que estão em posição de ajudar nossos irmãos menos favorecidos, como acontece atualmente. O fato é que a justiça e a honestidade nem sempre fazem parte dos currículos escolares. Se nossos jovens são treinados para enxergarem o ponto de vista de seus companheiros antes do seu próprio no julgamento em um litígio, que diferença faria na maturidade de seu caráter! Esses rapazes não seriam levados pelo primeiro orador que cativa seus ouvidos sobre qualquer assunto, como comumente acontece atualmente, mas desejariam também ouvir o que a outra parte tem a dizer sobre a questão, refletindo por si mesmos como adultos.

E assim é com quase todos os problemas da vida, o poder de julgamento individual é essencial, quer seja nas escolhas políticas, religião, profissão, esportes – metade dos fracassos e três quartos dos sucessos parciais entre nossos filhos são devidos à carência disto Queremos que nossos homens sejam homens, e não cordeiros. E na grande proposição da Paz Internacional, tenho para mim que antes de abolir armamentos, antes de se fazer tratados de paz, antes de construir palácios para os delegados das nações se reunirem, o primeiro passo é a formação de todas as novas gerações – em cada nação – guiadas por um absoluto sentimento de justiça.

Quando os homens tiverem como instinto na condução das tarefas da vida, olhar as questões com imparcialidade de ambos os lados antes de se tornarem partidários de um deles, então, ao surgir crise entre duas nações, estariam naturalmente mais dispostos a reconhecer a justiça de cada caso e adotarem uma solução de paz, o que é impossível enquanto seus espíritos estiverem acostumados a entrar em guerra como único argumento.

No movimento escoteiro temos a nosso alcance grandes oportunidades para introduzir treinamento prático em justiça e honestidade, como jogos e competições de campo, e através de arbitragens, cortes de honra, ensaios e debates na sede.

Julho de 1912.