Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Crônica de um Velho Chefe Escoteiro. O poste.


Crônica de um Velho Chefe Escoteiro.
O poste.

                            Ele sabia há quanto tempo estava ali naquela sessão escoteira. Podia chover fazer sol e lá estava ele firme sem reclamar. Afinal aprendeu a ser um mero cumpridor de ordens. Bem não vamos ser tão críticos, mas o poste recebia um tapinha nas costas em seu aniversário e mais nada. Um parabéns e olhe lá. Afinal era um poste e sua utilidade era uma só. Segurar os fios do telefone e força elétrica desculpe esperar as ordens do seu superior hierárquico no Grupo Escoteiro. Mais nada. Mais nada? Ele sabia que ninguém invejava a vida de um poste. Mas cá prá nós, ele se sentia satisfeito, o sorriso da moçada, da lobada e isto o fazia sorrir também. Acreditava piamente que fazia sua parte na formação da juventude no país. Um dia ele se achou mais importante do que era, mas alguém achou que não. Notou que em todos os Grupos Escoteiros que visitava sempre tinha um ou mais postes. Sabia sim que neles muitos foram trocados por se revoltarem com sua condição de poste. Uns por velhice outros por atraírem beijos da meninada e logo o acusavam de tudo. Ele se comparou ao poste da esquina. Os veículos eram atraídos como mel nas flores e soube que o anterior um raio o partiu ao meio. Bem ele sabia que nenhum deles fez falta. Quem sabe pensou se um dia se revoltasse poderia dizer que eles os postes eram de uma casta muito importante?

                     Ele sabia que os demais chefes riam a beça dos postes. Não tinham o mínimo de respeito por eles. - Aqui é o fim da fila? - Uma Escoteirinha perguntou só de gosação. Ele riu e respondeu: - Não, não, é o começo, só que estou de costa. Pois é, ela brincou, tome cuidado com os cães! Adoravam fazer de vocês postes banheiro publico. E olhe que algum “bebum” pode passar e acha que você é um vaso sanitário. Ele ficou pensativo. -  E daí? Ele pensou. Quem poderia se incomodar com ele? Sabia e não tinha dúvida nenhuma que era um poste. Sabia que lhe mandavam varrer a sede, fazer limpeza nos banheiros e quando dos acampamentos lhe davam serviços de segunda categoria. Se o “bebum” escorava nele, se entortava todo e em dado momento caia esborrachado no chão não era seu problema. Ele pensava e ria. O que diria? - Nossa, caiu? - Não, senti atração pela Terra e decidi abraçá-la. Ele ria afinal chorar para que? Ele era apenas um poste. Ele gostava da escoteirada, da lobada e isto o fazia feliz. Fingia não ver os erros que os chefões faziam, e mesmo ele tentando ajudar sabia que sua ajuda não teria valor.

                     Um dia ouviu de o Diretor Técnico chamar os outros chefes e dizer: - Não é melhor o mandar sumir? Afinal é um poste e como tal é um verdadeiro perigo! Nenhum poste poderia ser pretendente a um Chefe Escoteiro. Porque não? Perguntou a Akela mandona. - Porque se vier alguém em alta velocidade impreterivelmente vai bater nele. Era verdade. Ele não sabia por que as batidas eram sempre em cima dele. Quando ouvia um cantar de um pneu fechava os olhos esperando a batida. Tentou tudo para deixar de ser um poste e não conseguia. Por quê? Será que era o seu destino? Interessante que se ele soubesse se existiam estatísticas do SIGUE todos os dias eram centenas de postes que apareciam para ficar em uma esquina da vida esperando uma batida. Afinal e pensando bem, eles os postes não eram imprescindíveis? Será que os Grupos Escoteiros poderiam viver sem um poste? Ele um vez ficou anos pensando nisto. Como fazer para desviar dos chefes e suas ordenanças estapafúrdias. Reclamar? Ele sabia que não podia, afinal era um poste pombas! Ele sabia que desde os primórdios do escotismo existiam os postes.

                        Mesmo de família importante ele não deixava de ser um poste e pensou até em fazer uma Indaba com todos os postes do Brasil. Vamos nos revoltar? Vamos mudar de esquina e ir ser poste em outro lugar? Ele não gostava das eleições. Todos se julgavam no direito de colar cartazes, santinhos e ele ficava uma sujeira só. E depois diziam que eles eram civilizados e ele um poste.  E as piadas? Detestava. Tá lavando a calçada? – Não, tô regando prá ver se nasce aqui um pé de poste. Era assim nos fogos de conselho. A escoteirada e lobada ria a mais não poder. Alguns sentiam pena, mas eram motivados pelos durões chefes Escoteiros. Sonhou um dia que um policial deu um tapa num marginal e o prendeu no poste. Era ele. Não pode fazer isto aqui, ele queria dizer ao policial. Mas ele nem aí. Deixaram o marginal lá por dois dias e depois soltaram. Ele teve de ficar ouvindo o matraquear do marginal que prometeu matar ele, seu pai, sua mãe e todos que tinham seu sangue.


                        É, dizem que é isto mesmo. Poste é poste e não adianta discutir. Está ali para ser mandado, sabe que sua estirpe, sua árvore genealógica sempre foram postes. Quem sabe um dia iriam reconhecer seu trabalho? Afinal poste é poste e ser humano é ser humano. Não diziam que o espelho das sombras é um poste iluminado? Afinal será que você quer passar o resto da vida vendendo ilusões ou quer ter uma chance de mudar o mundo? Isto dê o primeiro passo, deixe de ser poste, educadamente mostre que você pode fazer tão bem como eles fazem e se não acharem assim, o melhor meu amigo é por seu boné e procurar outra esquina e continuar sendo um poste! Cadê o poste? O poste sumiu! E o au, au que queria fazer xixi? Cadê o poste!  O poste já era. O poste foi ser Chefe Escoteiro que era seu destino. Agora ele sabe a diferença de um poste e aquele que amigo de todos e irmãos dos demais Escoteiros.  

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