Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

domingo, 29 de março de 2015

O Pernilongo, a Muriçoca, o carrapato e outros bichos.



Conversa ao pé do fogo.
O Pernilongo, a Muriçoca, o carrapato e outros bichos.      .

           Isto é coisa do demônio, dizia a Chefe Mercedes. Chefe “gente boa” a Chefe Mercedes. Entrou com idade avançada e logo conseguiu sua Insígnia de Madeira. No entanto ela detestava estes insetos que ela chamava coisas do Demônio. No primeiro acampamento os pernilongos se deliciaram. Em outro uma “tropa de carrapatos fez dela seu ninho”! Risos. Eu dizia a ela que pernilongos muriçocas e maruins parecem ser da mesma família, mas não são. Risos. São escolados e cada um tem sua maneira própria de morder e chupar o sangue dos pobres dos escoteiros, escoteiras e lobinhos; e chefes é claro. Coitada da Chefe Mercedes. Seu braço ficou todo mordido e suas pernas também, pois achou que podia usar calças curtas. Risos. Danado de insetos chupa sangue. Adoram o “sanguinho” escoteiros e escoteiras quando vão acampar. Dizem que os jovens ficam tão encantados com o campo que se esquecem de tudo e os pernilongos e carrapatos se deliciam.

          Acampei muito em minha vida. Sem falsa modéstia quase 800 noites de acampamento. Nunca gostei muito destes “bichos”. Insetos chupa sangue não é o meu forte. Mas fazer o que? Ainda bem que só fui chupado por um morcego em uma gruta próximo a Maquine. Bebeu pouco sangue, menos de um litro! Eu sei que hoje a modernidade trouxe o repelente, na minha época não tinha. Dava cinco e meia da tarde lá nos íamos ver onde soprava o vento e com ele a favor no campo de Patrulha colhíamos folhas verdes, estrumes de gado leite de vaca, leite tirado das árvores e ovos podres que encontrávamos em ninhos. Um bom fogo cheio de folhas verdes, uma frigideira em um fogão estrela e ficávamos livres deles. Tínhamos que ficara junto à fumaceira e mesmo chorando e respirando o ar puro da fumaça dava para quebrar o galho. Assim os demoniozinhos fugiam a espera quando pudessem voltar.

                 Uma vez descobri que existe diferença do pernilongo da cidade e o do acampamento. O do acampamento ataca, morde e você sente logo. Nós os antigos os chamamos de maruins. Com um raminho na mão a gente os espanta, mas tem de ficar abanando sem parar. Os da cidade não. São covardões. Vivem escondidos em baixo da cama ou de um móvel qualquer.  Primeiro zumbem no seu ouvido e somem. Você acorda com uma coceira danada. Pronto, ele já encheu a pança di seu sangue e vai se refastelar na parece do quarto sala ou cozinha.

           Lembro-me de um acampamento sênior próximo as barrancas do Rio das Velhas, bem perto da Barra do Guaçuí onde se podia avistar o São Francisco. Lugar maravilhoso. Cheio de peixes e lindos pássaros migratórios a fazerem acrobacias fantásticas no rio e nas lagoas próximas.  Era uma fazenda enorme e tinha uma bela floresta nas suas margens. O local era de tirar o queixo. Lindo mesmo. Perfeito para um grande acampamento.  O capataz da fazenda nos preveniu. Olhe Chefe, lá a noite é um inferno. De cinco e meia as sete ninguém aguenta, as muriçocas são sedentas de sangue. Rimos dele. Não sabia que éramos da tropa dos valentes e intrépidos seniores Escoteiros aqueles que cantam dizendo serem os tais etc. Primeiro dia, barraca, algumas pioneirias, uma mesa e deixamos do lado centenas de boas folhas verdes. Que venham estes malditos demônios, dissemos. Vão enfrentar uma tropa que não tem medo de nada! Quem vier morre!

           Seis horas o inferno desceu do céu e ficou entre nós. Não era um, não eram dois e sim mais de cem mil. Milhões quem sabe. Você olhava e via aquela nuvem cinzenta e preta e não havia onde correr. Mas nós corremos. Primeiro pulamos no rio e não dava para cobrir o corpo todo, então corremos até a sede da fazenda, mais de quatro quilômetros. O capataz riu a valer. Voltamos ao campo lá pelas nove da noite. A paz desceu a terra! Mas desistimos de dormir ali. Procuramos uma área próxima à fazenda e lá ficamos. Mas querem saber de uma coisa? Pernilongo e muriçocas avisam quando vão atacar e quando não avisam pelo menos a gente só coça. Risos. Mas e o danado do carrapato? Este sim é o satã em pessoa. Não grita, não canta, não fala e procura o pior lugar no seu corpo para se esconder. Fica lá dias e dias sem dar bandeira. O danado sabe como chupar o sangue. A principio uma coceira gostosa. Você coça e para. Até o dia que descobre o bicho gordo, cheio de sangue como a dizer a você – Seu Escoteiro idiota chupei seu sangue e você nem viu! Agora posso morrer feliz! Risos. E morre mesmo. Você tira o bicho gorducho, mete unha com unha o sangue espirra e o danado morreu. Você é sênior, não perdoa, mata!

             Para dizer a verdade nunca levei repelente. Achava que se os heróis da floresta, os índios os bravos sertanejos ou os mateiros não usavam isto eu também não o faria. Mas dizem e não sei quem disse que isto não é coisa de escoteiros. Quem ainda não enfrentou saudáveis pernilongos, alegres muriçocas, carrapatinhos gentis, e aranhas negras e lindas nas suas teias nas florestas à noite no rosto, dançando ou rindo de você? Se não você ainda não foi batizado Escoteiro da Floresta. Meus amigos, quantas coisas contamos para nossos escoteiros para reafirmar aquilo que ele é. – Escoteiro não anda voa! Escoteiro não ri, dá gargalhadas! Escoteiro não chora, dá pernadas na dificuldade! Escoteiro não tem medo, luta até a morte! Escoteiro não corre dos insetos ou animais peçonhentos, enfrenta-os com seus caratês e golpes mortais. Eu eim?  

              Não sei não. Coitado do Escoteiro quando dizem isto para ele. Ele vai ficar assustado. Sabe que nem seus super heróis são assim. Sabe que ele é humano como os outros. Eu prefiro dizer calmamente que ele não se preocupe com as dificuldades, elas passam e reafirmo a eles – Se você tem amor no coração, sabe ser fraterno, se você sabe sorrir com o zumbido da noite, sabe apreciar o orvalho de madrugada, você é um Escoteiro. E quem venham os malditos carrapatos e pernilongos filhos de Satã!


Até outro dia meus amigos e minhas amigas. Quanto a Chefe Mercedes hoje mora no céu. Nunca desistiu e a gente se divertia a noite com ela de tantos tapas que ela dava na perna, nos braços e no pescoço. Chegava em casa toda marcada. A gente oferecia um raminho e ela dizia que aquilo não era coisa de escoteiro. Então tá! Tantas coisas a dizer o que seria um bom Escoteiro que prefiro um dia fazer outro artigo. E viva os pernilongos! Viva as muriçocas! Bem vindos os carrapatinhos espertos! No fundo no fundo sou Escoteiro e adoro-os!  Bichinhos do Senhor. E quem vive sem eles?

Nenhum comentário: