Os
ponteiros estão se aproximam das doze badaladas da meia noite! Hora de dormir.
Ser
um Velho Escoteiro é uma arte.
Fazia anos, muitos... Sempre a
olhar no horizonte sem coragem de pisar nas estrelas e partir. Partir para
onde? Para onde suas asas de cera o levassem. Ele tinha medo do sol que
poderiam derretê-las e cair em um buraco negro sem volta. Mas a vontade foi
tanta que aprendeu a desviar e foi a lugares que o fizeram lembrar como é bom
ver um sorriso, sentir um aperto de mão sem contar uma história e depois
voltar. Ele era um Velho Escoteiro feliz. Gostava de lembrar-se do seu passado.
Ele agora se perguntava - Será que ele tem algum? Quando ele chegava lá aonde
ia, alguém amistosamente e carinhosamente o apresenta assim: – Olá turma este é
o Osvaldo, um Escoteiro. – Do Facebook minha gente! Ele escreve histórias! Tem
muitos blogs de escotismo. Vocês já o viram lá? Ele olhava a todos sorrindo e sabia
que alguns já o viram e outros não. E lá está o Velho Escoteiro na frente de
tantos e que parece nunca ter sido. Ele agora só é conhecido nas redes sociais.
Quem dera que pudesse contar, dizer quem era, mas a voz sempre embargada e
febril não deixava. Melhor assim, ele agora só conta histórias, está lá no
Facebook, no Orkut e já não faz mais o escotismo que ele sempre amou. Alguns o
chamam de blogueiro de contador de sonhos, de lendas e histórias.
Seria difícil pensar que ele ficou
muitos anos como lobo, como Escoteiro, como sênior e pioneiro. Seria difícil
dizer que no seu caderno de campo tem quase um milhar de noites de acampamento
centenas de Fogo de Conselho, que viajou a pé, no seu cavalo de aço por rincões
deste grande Brasil e fora dele. Que ele fazia um escotismo alegre e solto, que
atravessou dezenas de florestas, descobriu lindas cascatas, cachoeiras enormes,
acampou em lugares difíceis de imaginar. E quantas estrelas ele contou no céu? Contar
para que? Alguém gostaria de saber? Saber que esteve em montanhas e picos, em
vales sem fim. Alguém vai acreditar que ele dormiu em jangadas em rios
caudalosos? Que dormiu sob as estrelas deitado na relva, nas pedras nas
alturas, arvorou bandeiras em lugares impossíveis, andou em trilhas que não
foram feitas, que atravessou com sua patrulha locais inóspito, gargantas
profundas? Que ele também se emociona quando sente amor e fraternidade por
parte dos seus irmãos de sangue? Não, é melhor ficar calado. Hoje ele é somente
o Osvaldo um Escoteiro do Facebook e do Orkut e um pouco do Google nos seus
blogs e afins. Lá ele habita lá ele vive e lá ele conta lendas, conta histórias
escreve o que pensa sem receio de que não possa ser entendido. Histórias... Se
ele sabe tudo sobre o escotismo não interessa. Cada uma em seu lugar, no
passado no presente e lá está ele pensando que pelo menos assim pode ser útil.
Ele pensa que poderia ajudar,
afinal são mais de 66 anos Escoteiro, mas isto a quem interessa? Ninguém quer
ouvir velhos Escoteiros, aqueles que pensam saber tudo, mas o mundo agora é
outro. Ninguém quer ouvi-los. Ele sente falta, quer sair mais, colocar suas asas
de cera e ir a lugares nunca dantes imaginados. Sentir o calor de um aperto de
mão verdadeiro, sentir o sorriso de um jovem ou uma jovem que ama o escotismo
como ele. Correr com eles, jogar com eles, ir a mil lugares não sonhados e que
se tornarão para sempre sonhos verdadeiros. Chamar os monitores e em uma
conversa ao pé do fogo, em frente a uma barraca, na orla de uma floresta, tendo
as estrelas no céu a vigiar, ouvir suas ilusões, seus sonhos e ficar ali com
eles sem horas para dormir. Mas ele sabe que não vai acontecer, ele já não é o
mesmo, hoje ele é um Velho Escoteiro contador de histórias e ele sabe sim que
sempre será conhecido como o Osvaldo um Escoteiro. Ah! Porque este nome? Porque
não Chefe Osvaldo, porque não Comissário Osvaldo, porque não Senhor Osvaldo?
É... Devia ser outro, mas um dia ele pensou que era um Escoteiro. Na sua alma,
na sua imaginação ele acha que ainda é assim. Se um dia ele foi chefe foi uma
casualidade, se aprendeu todas as lições de BP foi um acaso do destino.
Quem sabe um dia, com suas asas
de cera, vai chegar a um lugar onde conhecerá os lobos, os Escoteiros e as
escoteiras, os seniores e as guias todos eles separadamente, sem formalidade
sem ser o homem do Facebook, do Orkut, o blogueiro sonhador, sem ser contador
de histórias e ser somente um Escoteiro. Quem sabe neste dia os jovens vão
sorrir e perguntar: - Moço do uniforme caqui quem é o senhor? E ele dirá
sorrindo com orgulho: - Eu? Eu sou o Osvaldo, conhecido como Vado, da patrulha
Raposa, da Matilha Marrom, um sênior da patrulha Pico da Neblina, Pioneiro e
aventureiro, marcado na mística do fogo como Tupã o Escoteiro Trovão, um
Primeira Classe, um Correia de Mateiro, e tantas coisas mais, mas se quiser
saber eu sou mesmo é um Escoteiro... Como você!
Boa noite
meus amigos, o Osvaldo um Escoteiro deseja a todos uma noite linda com sonhos
dourados. Durmam com Deus!
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