Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

domingo, 20 de abril de 2014

Meu Amigo Fantasma, sua corneta, Zé Botina e muitas outras lambanças.


Boas lambanças de um passado distante.
Meu Amigo Fantasma, sua corneta, Zé Botina e muitas outras lambanças.

                Eu já disse e repito lambanças todo mundo tem. Alguns guardam para si, outros comentam em uma rodada de shop e eu gosto de contar aqui. Afinal hoje só posso fazer isto. Foram-se os dias de aventuras por este mundo afora. Agora vivo de lembranças e das lambanças que escrevo. Sei que tem muitos que não gostam e não acreditam. Paciência. Tem hora que eu mesmo tenho dúvidas. Risos. Já contei aqui várias. Algumas engraçadas outras não. Se não querem contar as suas me deixe com as minhas. Mais duas em duas épocas diferentes. Vamos a elas:

Primeira – 1961 – Mello Viana município de Coronel Fabriciano – MG – Eu o Chefe Carlos fundamos um Grupo Escoteiro. O Tapajós. Existente até hoje em Coronel Fabriciano. Carlos era da minha idade, dezenove anos. Conhecemo-nos na Usiminas onde trabalhávamos. Ele de Juiz de Fora, escola de Darcy Malta, um dos melhores escotistas que conheci. Resolvemos alugar uma casinha em Mello Viana. Uma república, (ainda solteiro na época) com mais dois ex-escoteiros. O Arlindo e o Mauro. O padre da paróquia se entusiasmou. O grupo começou com grande participação da comunidade. Conseguimos quatro barracões da prefeitura sem utilização próxima ao cemitério. Um dos lobinhos, um dos escoteiros, um dos sêniores e um da diretoria e almoxarifado geral. Em frente um campo de futebol. Melhor não acharíamos. Uma tarde jogávamos futebol só os chefes. Arlindo levou uma bolada no estomago e levado ao hospital morreu no dia seguinte vitima de hemorragia interna. Tinha tuberculose avançada. Não sabíamos.

Foi uma verdadeira epopeia levar o corpo na cidade de Manhumirim onde sua família residia. História que contarei proximamente. Uma semana depois começaram a nos dizer que uma noite sim e outras não, muitos instrumentos da fanfarra tocavam altas horas da noite na sede. Uma semana duas e na quarta depois de tantas reclamações, resolvi passar uma noite lá. Olhe, não sou corajoso, nada disto. Sou medroso sim. Mas mesmo molhando as calças não deixava um desafio para trás. Carlos se recusou a ir. - Nem morto disse! Se fosse o Arlindo ele queria distância. Acho que foi causa da dentadura dele em cima do guarda roupa. Outra história. Onze da noite lá fui eu. Sozinho. Passei pelo cemitério e comecei a tremer. Abri a porta e entrei tremendo. Senti escorrer um liquido em minhas pernas. As luzes não acendiam. Tudo escuro. Um barulho tremendo de uma corneta no meu ouvido. Saí pela porta em disparada. Nem olhei para trás. Só parei na igreja. Calças totalmente molhada.

O padre ainda acordado me perguntou – O Que houve Chefe Osvaldo? O Arlindo! – Mas ele morreu! – Pode ser que sim, mas o danado está na sede tocando corneta! O padre riu. Impossível! Só se for alma do outro mundo. Fomos para o interior da igreja. Rezamos juntos. Ele desistiu. Na saída ele recebeu na orelha direita o toque da corneta com uma nota só. Ficou branco e nem rezou. Comigo atrás saiu em disparada para a paróquia. No dia seguinte bem cedo foi lá com quatro coroinhas. Fizeram de tudo, mas a noite a corneta sempre tocava. Até que um dia parou. Nunca mais fiquei sozinho na sede do grupo. Sempre de olho se ele não aparecia. Ninguém acreditou na história e acharam que o padre estava mancomunado comigo para fazer uma gosação. Eu parei de contar a história e na sede a noite nunca mais!

Segunda – 1954 – Zé Botina tinha minha idade, treze anos. Não sei quantas brigas ouve entre nós dois. Pelo menos duas por semana. Não era Escoteiro. Tinha sua turma e quando me via sozinho eu virava um saco de pancadas. Eu revidava com duas ou três patrulhas quando o via só. Um dia vinha da sede quando vi uma grande confusão na Rua Peçanha. Encostei-me ao passeio junto a minha bicicleta. A polícia descia o sarrafo em uma turma e não sabia o motivo. Cassetete para todo lado. Zé Botina me viu e gritou! – Ele é da turma! – Maldito. Mesmo com treze anos virei um saco de pancadas dos policiais. Jurei vingança. Contei para os Lobos o que aconteceu. Uma noite Chiquinho chegou correndo. – “Vado” (meu apelido na época) Zé Botina vai para a sua casa sozinho. Seis valentes patrulheiros da Lobo lá foram correndo de bicicleta. Na descida do bairro Santa Terezinha o encurralamos. Tiramos sua roupa. Umas varadas no trazeiro que marcou. Pelado levamos suas roupas e o deixamos lá gritando. Cheguei em casa. Crise de consciência. Uma da manhã. Voltei lá. Tinha de ajudar. Não o vi em lugar nenhum. Voltei. Descendo a Rua Francisco de Assis, totalmente deserta lá estava Zé Botina com mais oito. Outra surra. Deixaram-me pelado na rua. Mas revidaram com as varadas. Escondendo aqui e ali cheguei em casa.


Os tempos passaram. Crescemos. As brigas nunca pararam. Mudei de cidade. Um dia no Porto de Tubarão em Vitória onde trabalhava, o Diretor me chamou. – Disse que precisava de um escriturário? Veja se este serve – A vida dá muitas voltas. Zé Botina em carne e osso. Ficamos amigos, acabaram as brigas. Fui padrinho dele de casamento. O tempo passou. Nunca mais o vi. Soube que se alistou na Legião Estrangeira. Era seu sonho ser um legionário. Risos. Não sei se era verdade. Mas gostaria de vê-lo novamente. Saudades do Zé Botina!  

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