Hora
de dormir, esperar o sol raiar...
Ah!
Se eu pudesse voltar no tempo!
Gente, hoje me deu uma saudade
danada da minha infância. Vocês já tiveram este surto de saudade e querer
voltar no tempo? Dizem que é bom outros dizem que não. Preferem olhar o futuro
e esquecer o passado. Quem sabe foi à saudade que bateu forte e isto sempre
acontece quando mais um ano passa na minha vida. Agora no alto dos meus 75 anos
na corda bamba eu vou fingindo que estou voltando no tempo. Embalado em doces
melodias eu vou contando e vendo o tempo a cada retorno ao passado. Uma
matemática difícil de decifrar. Afinal os anos passam, as alegrias continuam e
as tristezas quando aparecem eu a levo para outro lugar. Eu tenho muitas
escondidas atrás da porta do porão para que o tempo não atrapalhe a jornada que
estou a realizar. Uma vez ou outra eu vou até lá, para sentir, quem sabe chorar
um tiquitito e voltar para que a alegria possa tomar o seu lugar.
Cada ano que atravesso a curva
do destino eu vou contando quantos anos ainda vou conseguir chegar. Interessante
à contagem. Mamãe e papai contavam um dois três quatro e nos cinco era eu quem
passava a contar. Um a um até os o limiar dos quarenta. Ai os quebrados não
mais existem. São quarenta, cinquenta, sessenta e setenta. E os oitenta? Este
nem pensar. É um sonho distante. Nos setenta contei um, dois, três e quatro.
Agora os cinco. Setenta e cinco. Olho para trás, não tenho o que reclamar. Danada
de vida gostosa para lembrar. Mas ainda penso se pudesse voltar no tempo se seria
bom demais e eu ia vibrar. Pivetinho a rodar pião, a brincar de roda. Roda? Mas
não é coisa de menina? Não é não. Quem não brincou? Capelinha de melão, é de
São João é de cravo é de rosa, é de manjericão. Escravo de Jó? Poxa! Até
marmanjão cantei. Fui ao Itororó, a
Canoa Virou. Mas era gostoso mesmo rodar o pião, o finquinho na terra, as
bolinhas de gude. Quanta ingenuidade para cultivar dores e amores. Rir das
quedas e abraços recebidos.
Ah! Sonhos vividos numa bela
fraternidade. Lobada correndo, gritante fazer o melhor. Crescer mais, escoteirar
no universo da mente, onde um quati era um elefante. Nadar no riacho, uma bola
de pano para chutar. Belo demais meus tempos de infância e como é bom recordar.
Não recordo os maus momentos. Se tem o que me orgulho e voltar no tempo e
apagar as tristezas que um dia tentaram fazer de mim um homem triste que nem
sonhar sabia. Deixo que minha memória percorra o caminho da felicidade e assim
vou aceitando todas as dificuldades como se fossem molambos a jogar no lago da
vida que não houve. Mas ainda penso e quem não pensa? Se eu pudesse voltar no
tempo, consertar meus erros. Será que os tive? Ou foram corriqueiros o
suficiente para aceitar meu livre arbítrio de cometê-los? Muitos querem
aproveitar cada minuto da vida, sabem que o tempo não volta e a vontade de
voltar no tempo é mera quimera do impossível. O tempo é uma ilusão? Ou uma
verdade uma lembrança, quem sabe é saudade e uma vontade enorme de voltar e
ficar por lá escondidinho no colo da mamãe.
Corrigir o passado? Fazer
dele outra realidade? Afinal não fui feliz? Dizem que desculpa não cura as
recordações que não foram de felicidade. Ela não apaga e nem faz o tempo
voltar. Melhor mesmo é uma desculpa sincera, olho no olho, com argumentos reais
sem colocar a culpa em ninguém. Francamente eu queria mesmo voltar no tempo,
voltar a ouvir o som da mata, da passarada a chilrear entre nuvens passageiras
ou mesmo um riacho ao lado a cantar. Sentir o cheiro da “boia” na hora do
jantar. O cozinheiro gritando: Gente o arroz queimou, o bife fritou e o mato
invadiu o feijão que não corou. Bom demais voltar e rever as amizades, os
patrulheiros de outrora e quem sabe ter uma varinha de condão para entender o
passado, viver o presente e quem sabe mudar o futuro para melhor.
Setenta e cinco? Quem
diria! Vai ter setenta e seis? Setenta e sete? Chegarei aos oitenta? Centenas
de amigos nas três páginas usaram e abusaram das palavras de incentivos. Muitos
queridos amigos para me animar e dizer que sim, mas eu cético por natureza sei
que isto só Ele resolve. Só Ele determina a hora e a vez para correr pelas
estrelas do universo. Voltar no tempo não é uma necessidade. Quem sabe uma
lembrança àquela sensação se voltasse apagaria minhas alegrias minhas
recordações ao ver que nem tudo foi como criei agora no presente. As palavras
do poeta batem fundo – Construí amigos, enfrentei vitórias e derrotas, venci
obstáculos, bati na porta da vida e disse-lhe: – Não tenho medo amiga de viver!
E sabe o melhor de tudo? É aquele outro que sorrindo disse também: - Não é que
tenha medo de morrer. Nada disto. Só não quero estar lá na hora que isso acontecer!
Obrigado
amigas e amigas que gentilmente me desejaram tantas coisas boas que prometi a
mim mesmo voltar nos setenta e seis no ano que vem! Quem duvidar me aguarde,
pois no fundo da alma eu sou Escoteiro e imortal!
Sempre
Alerta e boa noite!
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