Uma deliciosa conversa ao pé do fogo!

Amo as estrela, pois mesmo tão distantes nunca perdem seu brilho, espero um dia me juntar a elas, e estar presente a cada anoitecer alegrando o olhar daqueles que amo

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Quando termina a motivação o que fazer?


Conversa ao pé do fogo.
Quando termina a motivação o que fazer?
(Publiquei a tempos este artigo aqui e em meus blogs. Não sei porque mas tenho recebido e-mail, lido aqui em comentários que um desanimo tem sido uma tônica em muitos membros do escotismo. Porque não publicar novamente?)

                    É difícil aconselhar. Quem não passou por isto? Tem hora que você desanima. Dá vontade de largar tudo e sair por ai. Outros ainda insistem, mas sabem que o caminho que estão seguindo não leva ao sucesso. Se procurarmos um serviço de autoajuda teremos vários. As belas frases de efeito pululam por todos os lados. Todas com belas palavras, mas que não nos fazem sentir revigorados como antes. O escotismo é interessante. No início tudo são flores, sorrisos, promessas, alguns até deixam as amizades que tinham em troca de novas que conquistaram. Nos primeiros meses, e até nos primeiros anos aqueles mais chegados que não foram catequisados espantam com tanto carisma, com tanta alegria e demonstração de que ele alcançou um novo patamar, uma nova vida. Seria assim mesmo?

                  Dizem os poetas que o que mais sofremos no mundo não é a dificuldade, é o desânimo em superá-la. Não é a provação, é o desespero diante do sofrimento. Não seria o fracasso e sim a teimosia de não reconhecer os próprios erros.  Mas o maior poeta já tinha dito que tudo isto são palavras e palavras nada mais são que palavras. Eu já passei por isto. Inúmeras vezes. Os problemas são diversos. Familiar, profissional, falta de ética, de amor, de sinceridade dos que se dizem irmãos de todos e que vontade, que vontade meu Deus de encontrar um buraco e se enfiar nele. Claro tem os mais fortes. Eles não transmitem para ninguém seus desânimos. São fortes. Tem sempre uma explicação para tudo. Mas será que dizem a verdade?

                 Se notarmos bem a matemática Escoteira é simples. Trinta e poucas reuniões por ano. Somando as reuniões de sede, acampamentos e excursões que sabe podemos chegar a aproximadamente quinhentas horas anuais. Claro, prevendo quatro atividades (e aí considerei às vinte horas do dia) e considerando também nove meses de atividade, pois muitos têm férias em julho, dezembro e janeiro. Se estiver certo dedicamos cerca de vinte dias por ano ao escotismo. Claro que tem aqueles mais abnegados com o dobro de horas trabalhadas. Para uns uma eternidade para outros muito pouco. Mas porque então o desanimo? Olhem, existem vários motivos, mas para mim o principal deles é a decepção com o ser humano. Querer abancar o mundo e dizer que o líder é aquele que sabe liderar e ser liderar é fácil. Mas nem todos pensam assim. Tem os déspotas, que com o tempo a gente se sente ameaçado por uma força opressora mesmo vindo de alguém que se diz amigo de todos e irmãos dos demais.

                Nestas horas é que todos nós sentimos falta de um aperto de mão carinhoso sincero. De um abraço, de um sorriso de uma palavra de carinho principalmente daqueles que convivemos em ambiente que achamos familiar no grupo Escoteiro. Tem aqueles que nos olham como se fossemos parte do todo, indispensáveis em todos os sentidos, mas não é assim a maioria. Estes nos veem como indesejáveis, subservientes, dispensáveis, e se pudesse diriam: - Vocês estão aqui para servir e mais nada! E então vem aquele desanimo aquela vontade de sumir de mandar todo mundo às favas. Nem sempre fazemos na hora. A promessa que fizemos é um nó que nos atou nos sonhos escoteiros. Insistimos e alguns dão a volta por cima, mas outros, estes não conseguem. Quem sabe está aí um dos motivos da grande perda que temos de adultos que estão nos ajudando como voluntários, mas foram desconhecidos como tal.

                   Não é o programa somente que nos afeta. Não são quem sabe nossa finanças que apertam a todos os escotistas nas suas atividades. Não sei e até posso estar enganado, mas se todos que labutam na lides escoteiras, do mais alto escalão a aquele que está dando tudo de si pensando que faz o certo e cada um deles pudessem quando a gente se encontrar dizer:
- Meu amigo ou minha amiga, que alegria em te ver novamente!
- Meu amigo ou minha amiga, aceite aqui meu aperto de mão sincero!
- Meu amigo ou minha amiga, posso te dar um abraço?
- Meu amigo ou minha amiga, quero que saiba que você é muito importante para nós, não nos deixe nunca, pois sem você iremos perder muito na expansão do nosso Movimento Escoteiro.


                     E aí quem sabe, seu desânimo seria guardado lá bem no fundo do bornal, pois você passou a acreditar que agora estava vivendo entre irmãos escoteiros. E você iria acreditar que não haveria mais os superiores, não haveria mais aquele sorriso de desdém, não haveria mais a conversa de esquina, a conversa de comadre. Ninguém iria desmerecer seu trabalho. Mas olhe, de vez em quando é bom dar um passo a frente. Faça um pouco a sua parte. Como dizia o nosso fundador e repetido por muitos, a felicidade só é completa quando você também conseguir fazer a felicidade dos outros! 

sábado, 24 de maio de 2014

Comparar como?


Os ponteiros aproximam-se das doze badaladas da meia noite. Hora de dormir!
Comparar como?

Na fila do supermercado, o caixa diz a uma senhora idosa:
- A senhora deveria trazer suas próprias sacolas para as compras, uma vez que sacos de plástico não são amigáveis com o ambiente. A senhora pediu desculpas e disse: - Não havia essa onda verde no meu tempo.
O empregado respondeu: - Esse é exatamente o nosso problema hoje, minha senhora. Sua geração não se preocupou o suficiente com o nosso ambiente.

- Você está certo - responde a velha senhora - nossa geração não se preocupou adequadamente com o ambiente. Naquela época, as garrafas de leite, garrafas de refrigerante e cerveja eram devolvidos à loja. A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas antes de cada reuso, e eles, os fabricantes de bebidas, usavam as garrafas, umas tantas outras vezes.

- Realmente não nos preocupamos com o ambiente no nosso tempo. Subíamos as
escadas, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhávamos até o comércio, ao invés de usar o nosso carro de 300 cavalos
de potência a cada vez que precisamos ir a dois quarteirões. - Nós não nos preocupávamos com o ambiente. Até então, as fraldas de bebês eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. Roupas secas: a secagem era feita por nós mesmos, não nestas máquinas bamboleantes de 220 volts. A energia solar e eólica é que realmente secavam nossas roupas. Os meninos pequenos usavam as roupas que tinham sido de seus irmãos mais velhos, e não roupas sempre novas.

- Mas é verdade: não havia preocupação com o ambiente, naqueles dias.
Naquela época tínhamos somente uma TV ou rádio em casa, e não uma TV em cada
quarto. E a TV tinha uma tela do tamanho de um lenço, não um telão do tamanho de um estádio; que depois será descartado como? - Na cozinha, tínhamos que bater tudo com as mãos porque não havia máquinas elétricas, que fazem tudo por nós. Quando embalávamos algo um pouco frágil para o correio, usamos jornal amassado para protegê-lo, não plástico bolha ou pellets de plástico que duram cinco séculos para começar a degradar. - Naqueles tempos não se usava um motor a gasolina apenas para cortar a grama, era utilizado um cortador de grama que exigia músculos. O exercício era extraordinário, e não precisava ir a uma academia e usar esteiras que também funcionam a eletricidade.

- Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o ambiente.
Bebíamos diretamente da fonte, quando estávamos com sede, em vez de usar copos plásticos e garrafas pet que agora lotam os oceanos. Canetas: recarregávamos com tinta tantas vezes ao invés de comprar outra. Amolávamos as navalhas, ao invés de jogar fora todos os aparelhos descartáveis' e poluentes só porque a lâmina ficou sem corte. - Na verdade, tivemos uma onda verde naquela época. Naqueles dias, as pessoas tomavam o bonde ou ônibus e os meninos iam em suas bicicletas ou a pé para a escola, ao invés de usar a mãe como um serviço de táxi 24 horas. Tínhamos só uma tomada em cada quarto, e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos. E nós não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas de distância no espaço, só para encontrar a pizzaria mais próxima.

- Então, não é risível que a atual geração fale tanto em "meio ambiente", mas não quer abrir mão de nada e não pensa em viver um pouco como na minha época? Agora que você já leu o desabafo, envie para os seus amigos que têm mais de 50 anos de idade, e para os merdas que tem tudo nas mãos e só sabem criticar os mais velhos.


Boa noite meus amigos e minhas amigas. Bom domingo para todos e durmam com Deus!

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Cachorro "Velho".


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Cachorro "Velho".

         Há muitos e muitos anos recebi uma Nota de Arquivo de um Diretor da minha empresa que entre diversos outros comentários me dava prazo de 20 dias pra demitir 45 funcionários. Em nosso armazém éramos 180 e sempre achei que trabalhávamos em numero muito reduzido. Ordens são ordens ou eles vão ou eu serei sacrificado pensei. Quem escolher? Os solteiros? Os mais velhos? Os mais antigos ou os mais experientes? Foi então quer me lembrei em uma conversa ao pé do fogo, onde eu e mais uns cinco chefes escoteiros estávamos acampados com o um antigo Escoteiro, muito conhecido pelos seus conhecimentos e em dado momento contou a seguinte história para todos que estavam ali:

         Uma velha senhora foi para um safári na África e levou seu velho vira-lata com ela. Um dia, caçando borboletas, o velho cão, de repente, deu-se conta de que estava perdido. Vagando a esmo, procurando o caminho de volta, o velho cão percebe que um jovem jaguar o viu e caminha em sua direção, com intenção de conseguir um bom almoço. O cachorro velho pensa: - Oh, oh! Estou mesmo enrascado! Olhou à volta e viu ossos espalhados no chão, por perto. Em vez de apavorar-se mais ainda, o velho cão ajeita-se junto ao osso mais próximo e começa a roê-lo, dando as costas ao predador.

Quando o jaguar estava a ponto de dar o bote, o velho cachorro exclama bem alto: - Eita jaguar delicioso, que carne saborosa! Será que há outros por aí? Ouvindo isso, o jaguar com um arrepio de terror, suspende o ataque, e se esgueira na direção das árvores. - Caramba! Pensa o jaguar, essa foi por pouco! Aquele cachorro quase me pega! Um macaco, numa árvore ali perto, viu toda a cena e logo imaginou como fazer bom uso do que vira. Em troca de proteção para si, informaria ao predador que o vira-lata não havia comido jaguar algum...

E assim foi rápido, em direção ao jaguar. Mas o velho cachorro o vê correndo na direção do predador em grande velocidade, e pensa: - Aí tem coisa!
O macaco logo alcança o felino, cochicha-lhe o que interessa e já faz um acordo.

O jaguar fica furioso por ter sido feito de bobo, e diz: -'Aí, macaco! Suba nas minhas costas para você ver o que acontece com aquele cachorro abusado! Agora, o velho cachorro vê uma fera furiosa, vindo em sua direção, com um macaco nas costas, e pensa: - E agora, o que é que eu posso fazer? Mas, em vez de correr (sabe que suas pernas doídas não o levariam longe...) o cachorro senta, mais uma vez dando costas aos agressores, e fazendo de conta que ainda não os viu, e quando estavam perto o bastante para ouvi-lo, o velho cão diz:

-'Cadê o peste daquele macaco? Tô morrendo de fome! Ele disse que ia trazer outro jaguar para mim e não chega nunca! Moral da história: não mexa com cachorro velho. Idade e habilidade se sobrepõem à juventude e intriga. Sabedoria só vem com idade e experiência.


          Portanto procurei os mais velhos e eles entraram no cabeçalho da lista de demissão. Não importa a idade eu sabia que eles naquela época não teriam dificuldade em encontrar um novo emprego. Assim dormi tranquilo por muitos e muitos anos, sem ter a consciência pesada por fazer demissões que não eram de nenhuma maneira minha escolha. Certo ou não até hoje sempre me senti como um cachorro Velho nas minhas andanças pelo escotismo. Foram tantos amigos que fiz e também tantos que queriam ver minha cabeça fincada em um bambu na curva da estrada da vida que aprendi a me virar e até hoje me viro bem. Risos.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Redescobrindo o escotismo na Patrulha.


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Redescobrindo o escotismo na Patrulha.

- Logo após ter passado para a tropa de Escoteiros, vindo da Alcatéia, senti uma grande liberdade na patrulha pôr mim escolhida (deixavam que os lobinhos pudessem escolher suas patrulhas quando fossem fazer a Trilha). O Chefe e dois dos assistentes foram grandes amigos e foi um choque ao ver um monitor dirigir sem a presença deles em diversas ocasiões. Era um susto e tanto, pois na Alcatéia não tínhamos essa liberdade tão aberta! - Ali encontrei muita amizade e companheirismo. Tinha alguma preocupação com a liberdade de todos e me preocupava sempre com que fazíamos. Havia sempre o receio se desse errado em alguma atividade.

- Nem bem tinha completado três meses de tropa, e saímos pela manhã de um domingo (somente a patrulha em uma carta prego) indo de ônibus até a periferia da cidade e lá nos dirigimos a um sitio de um velho amigo do Grupo, que pôr sinal era sempre visitado pôr muitos escoteiros. - Na patrulha havia dois cargos em aberto, explico melhor - Todos nós escolhíamos nossas responsabilidades na patrulha e caso houvesse mais de um interessado no mesmo cargo, era feito sorteio. Assim, escolhi ser o escriba da Patrulha e no campo sobrou para mim ser o aguadeiro. Tinha facilidades para escrever e como um “Pata Tenra” achava ser a mais fácil.

- Chegamos ao sitio pôr volta das 08 e meia da manhã. Não era bem um sitio, estava mais para uma fazenda. Somente um sitiante na porta de entrada, pois o local quase não era explorado e se mantinha intacto principalmente a mata e pastos. Alguns bois, alguns cavalos, e mais nada. A casa sede era pobre. Três cômodos sem banheiro. Instalamo-nos e logo procuramos uma arvore para o cerimonial da Bandeira. Deram-me a honra de hasteá-la. Nosso monitor era calmo e ponderado. Era um autentico líder. Comecei a me acalmar à medida que participava das atividades. Os chefes já não faziam falta. Treinamos barraca, machadinha, nós (sem teoria) e corte de lenha, tudo isso pela manhã.

As 12:40 hs fizemos um lanche. Foi nesta hora que resolvi dar um giro pôr conta própria sem  falar com os demais. Atrás da casa havia um arvoredo muito bonito e ouvi um barulho de uma cascata. Dirigi-me até lá. Não era tão perto. Andei um bocado! - No meio das árvores só o barulho me chamava à atenção. Enfim avistei um pequeno riacho com águas límpidas e claras. Tão claras que se avistava o fundo. Fiquei hipnotizado! - Como era belo tudo aquilo! - Lembrei-me dos diversos contos da História da Jângal, contadas pela nossa Akelá, nas belas historias de Mowgly  junto ao Balu e Bagueera!

- Passei um pouco de água no rosto e vi que era hora de voltar junto a Patrulha. Dei meia volta e senti um calafrio! - Não sabia pôr onde tinha vindo! - Comecei a tremer nos meus 11 anos, agora  cheio de dúvidas. Não sabia se chorava ou se confiava que me achariam facilmente. Optei pôr ficar ali. - O tempo passava e eu já estava chorando baixinho. Senti uma mão no meu ombro. Levei um enorme susto. Era o nosso monitor. Graças a Deus!

- Voltamos junto e no caminho pensei que meu “papelão” seria ridicularizado pôr todos.  Estavam cada um fazendo uma atividade diferente. Nosso monitor pediu a um 2a. Classe para me dar um adestramento de posicionamento e marcação de pontos cardeais para ser usado quando se anda em pequenos bosques. Ainda não estava na hora de um bom adestramento de bússola e orientação. Tudo deveria fluir naturalmente e na hora certa!


- Não houve sermão. Só um pequeno lembrete pelo monitor e comigo a sós. Sorri agradecido. Nunca mais se repetiu. 

sexta-feira, 16 de maio de 2014

“A justiça a Deus pertence!”


Histórias que o mundo esqueceu.
“A justiça a Deus pertence!”

               Chefe Billy era assistente de tropa Escoteira. Novo ainda, vinte e três anos. Procurou o grupo a dois anos dizendo estar interessado em participar, mas nunca fora Escoteiro. Passou por uma bateria de perguntas e preencheu todos os formulários que lhe deram. Quase desistiu. Sentiu que ali era ele quem precisava deles e não o contrário. Chefe Billy era caladão. Andava de cabeça baixa. Nunca fixava ninguém com os olhos. Sua família não era da cidade. Conseguiu um emprego na Usina Siderúrgica e trabalhava como Operador de Forno. Uma função não muito gratificante. Alugou um quartinho nos fundos da casa de um casal de velhos e assim era sua vida fora do grupo. Era bem quisto pelos jovens. Os chefes tinham um certo receio. Não o conheciam. Ele não se enturmava. Apesar do seu jeitão esquisito alguns tinham nele uma grande admiração e respeito. Pouco falava de si e nem todos os convites extra grupo ele aceitava. Fez dois cursos de formação. Estava dando duro para conseguir sua Insígnia de Madeira.

                  Naquele sábado lá estavam todas as sessões. Uma algazarra gostosa, alegria juvenil e infantil própria dos escoteiros antes do inicio das atividades. Foi dado o toque de chamada e todos acorreram para a grande ferradura. Iria ser dado o inicio do Cerimonial de Bandeira. Todos formados. Um carro da policia parou na porta da sede. Desceram dois policiais e um investigador. – Quem é o Billy? – Sou eu ele disse. – Você está preso. – Por quê? O Delegado vai dizer. E cale a boca. Aqui não é filme americano onde falamos de seus direitos. Puseram a algema nele e o arrastaram até o camburão. Estava de uniforme. Seu chapéu tão querido caiu ao chão. Foi Lany uma lobinha quem o pegou. O grupo todo estarrecido. Fazer o que? Continuar com a reunião era melhor. Foi um sábado dos piores dias de reunião naquele grupo escoteiro. Nenhum Chefe foi à delegacia saber ou se informar. Ninguém o procurou para saber o que lhe imputavam.

                  Os jornais do dia seguinte e as emissoras de programas sensacionalistas comentaram o que tinha acontecido. Billy tinha estuprado e esganado um menino de oito anos. O jovem foi encontrado morto em um terreno baldio. Duas testemunhas juraram tê-lo visto passando perto no dia. Nada mais que isto. O bairro inteiro ficou a porta da delegacia. Os pais do menino chorosos pediam vingança. Tentaram invadir, mas foram impedidos. Billy não recebeu visitas de nenhum membro do escotismo. Soube que abriram um processo e ele foi exonerado e expulso. “Culpado por suspeita”. Lany, Alfredinho e Tomé não acreditavam em nada daquilo. Lany era lobinha, Alfredinho e Tomé eram escoteiros que passaram para a tropa aquele ano. Tentaram visitá-lo, mas não conseguiram. Impossível menor entrar no presídio. Combinaram de enviar toda semana uma carta dizendo das saudades e que o amavam muito.

                 Billy teve um julgamento rápido. Condenado a vinte e oito anos de prisão sem direito a Sursis. Foi enviado para a Penitenciaria Estadual na própria cidade. Alguns prisioneiros sabendo do acontecido o seviciaram e quase morreu. A vingança não parou por aí. Pegaram de um prisioneiro que tinha o HIV um pouco de sangue em uma seringa velha e enferrujada e aplicaram em Billy. Ele nunca gritou e nem reclamou. Sabia que nada iria reverter às decisões que tomaram contra ele. Acreditava em Deus. Era espiritualista. Tinha um motivo para tudo aquilo. Ele sabia que foi ele mesmo quem escolheu aquele caminho. Só duas coisas o alegravam na prisão. Sua fé em Deus e as cartas de Lany, Alfredinho e Tomé. Quando as recebia chorava. Uma angustia o invadia. Tremia e rezava pedindo a Deus que lhe desse força. Neste interim ninguém do grupo falava mais nele. Era carta fora do baralho. Perderam muitas crianças por causa dele. Os pais tinham medo. Melhor colocar uma pedra no acontecido.

               Dois anos depois, prenderam um vaqueiro de nome Leôncio. Alguém o viu arrastando uma criança para um terreno baldio. Foi preso. Confessou ter feito isto com nove meninos inclusive riu quando disse que foi ele que matou o menino que disseram ser o Billy o culpado. Somente cinco meses depois Billy recebeu o alvará de soltura. Um advogado ofereceu em troca de trinta por cento entrar com um processo na justiça. Ele agradeceu. O dinheiro seria maldito. Não iria pagar sua passagem para ao céu. Já estava debilitado pelo HIV. Recebia os remédios do governo, mas não estavam ajudando muito. Ao sair foi abraçado por muitos amigos que fez ali na prisão. Alguns choravam. Recebeu seu uniforme Escoteiro que ele abraçou com carinho. Não havia mais motivo para ficar na cidade. Foi até a estação ferroviária. – Perguntou ao bilheteiro - Até aonde iria com uma passagem de cinquenta reais? O único dinheiro que devolveram para ele.

               O trem chegou à estação. Quando ia subir três jovens correram para abraçá-lo. Estavam de uniforme. Eram Lany, Alfredinho e Tomé, todos crescidos. Billy chorou. Pensou em não abraçá-los. Estava magro, debilitado, sua pele manchada em vários lugares do corpo. Eles não lhe deram chance. Abraços apertados. Lany o beijou no rosto varias vezes. Entregou para ele o seu chapéu Escoteiro que ela guardou todos estes anos com carinho. O apito do condutor avisando da partida. Os que chegavam e saiam estavam assustados com aquela cena. Um homem feio, magro, cheio de cicatrizes, doente, sendo abraçado e beijado por uma menina Escoteira linda e dois escoteiros e todos chorando. Nunca viram nada igual. Billy pegou o trem e na janela despediu deles. Disse que escreveria. Billy não escreveu. Morreu seis meses depois como indigente em um canto cheio de lixo debaixo de um viaduto em Vitória e interessante. Estava com seu uniforme Escoteiro e no colo o seu chapéu de três bicos. Isto foi o que me contaram.

               Justiça? Só Deus sabe como fazer justiça. Para cada ato, para cada ação a uma reação. O passado não é perdoado facilmente. O perdão existe, mas cada um tem de fazer para merecer. “A justiça a Deus pertence!”.


Boa noite meus amigos e amigas. Que o sábado seja o êxito esperando junto das crianças que sonharam a semana inteira com uma linda reunião escoteira. Durmam com Deus!                

terça-feira, 13 de maio de 2014

Uma noite que se foi...


Hora de dormir, hora de lembrar como foi nosso dia...
 Uma noite que se foi...

Que eu continue com vontade de viver,
mesmo sabendo que a vida é, em muitos momentos,
uma lição difícil de ser aprendida.
Que eu permaneça com vontade de ter grandes amigos,
mesmo sabendo que, com as voltas do mundo,
eles vão indo embora de nossas vidas.
Que eu realimente sempre a vontade de ajudar as pessoas,
mesmo sabendo que muitas delas são incapazes dever,
sentir, entender ou utilizar essa ajuda.
Que eu mantenha meu equilíbrio,
mesmo sabendo que muitas coisas que vejo no mundo
escurecem meus olhos.
Que eu realimente a minha garra,
mesmo sabendo que a derrota e a perda são ingredientes
tão fortes quanto o sucesso e a alegria.
Que eu atenda sempre mais à minha intuição,
que sinaliza o que de mais autêntico eu possuo.
Que eu pratique mais o sentimento de justiça,
mesmo em meio à turbulência dos interesses.
Que eu manifeste amor por minha família,
mesmo sabendo que ela muitas vezes
me exige muito para manter sua harmonia.
E, acima de tudo...
Que eu lembre sempre que todos nós
fazemos parte dessa maravilhosa teia chamada vida,
criada por alguém bem superior a todos nós!
E que as grandes mudanças não ocorrem por grandes feitos
de alguns e, sim, nas pequenas parcelas cotidianas
de todos nós!

Todas as coisas na Terra passam. Os dias de dificuldade passarão... Passarão, também, os dias de amargura e solidão. Boa noite meus amigos e amigas. Durmam com Deus! 

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Quando...


Hora de dormir, amanhã é outro dia...
Quando...

Quando você sentir vontade de chorar, não chore. Pode me chamar que eu choro por você. Quando você sentir vontade de sorrir, me avise que venho para nós dois sorrirmos juntos. Quando você sentir vontade de amar, me chame que eu venho amar você. Quando você sentir que tudo está acabado, me chame Que eu venho lhe ajudar a reconstruir. Quando você achar que o mundo é pequeno demais para suas tristezas, me chame que eu o faço pequeno para sua felicidade. Quando você precisar de uma mão, me chame, que a minha é sempre sua. Quando você precisar de companhia, naqueles dias nublados e tristes, ou nos dias ensolarados, eu venho, venho sim. Quando você estiver precisando ouvir alguém dizer: EU TE AMO! Chame-me que eu digo a você a todo hora. Pois o meu amor é imenso. E quando você não precisar mais de mim, me avise, Que simplesmente irei embora, orando por você.


Boa noite meus amigos e minhas amigas. Durmam e tenham sonhos lindos, sonhos para pedir a Deus que os transformem em realidade!  

Hora de dormir e lembrar que... Escotismo, eu te amo! Dizem maravilhas de ser Escoteiro. Se você encontrar um ele vai falar o dia inteiro para você que é a maior associação de jovens do mundo. Cuidado, ele vai falar de Baden Powell, da bandeira, da saudação e quando você for embora vai insistir em lhe dar a mão esquerda para dizer - Até logo! Eles nunca dizem adeus. Tem poetas que exaltam em versos tudo que ali encontram. Tem outros que gritam a viva voz seu amor inconfundível ao escotismo. E não se esqueçam daqueles que dizem ter o escotismo na alma na mente e no coração. Como eles cantam mesmo? –“De BP trago o espírito sempre na mente, junto de mim e no meu coração estará!”. O escotismo para quem não conhece é inimaginável. Impossível entender um bando de meninos e adultos falando em promessas, em ser honesto, em ter caráter em ser amigo de todos e colocar sua lealdade acima de tudo. Lá estão eles a correrem pelos campos, pelas colinas, em volta de uma fogueira, subindo em montanhas, vendo o nascer e o por do sol, brincando com peixinhos em um regato de aguas claras, com seus uniformes esquisitos. Afinal o que eles buscam? Aventuras? Aprender fazendo e ajudando uns aos outros? Um ar mais puro para sentir o perfume da natureza? O cheiro da terra molhada? Estar mais perto de Deus? Ou será que buscam as alegrias que muitas vezes o mundo lhes nega na cidade? Afinal não dizem que ser Escoteiro é ser feliz? Tem muito no escotismo que é difícil explicar. É como uma borboleta dourada que pousa em nossos braços e nos deixa o néctar que ela trouxe de uma rosa, de um cravo ou de um crisântemo, penetra em nossa pele, percorre todo o nosso corpo e nos marca para sempre. Os amigos que não são não entendem, não sabem da alegria de ser mais um. Escotismo, um amor diferente, um amor secreto que nasce do fundo da alma e cresce como uma flor de cerejeira que cai da árvore na primeira brisa forte, mas não dizemos que ela nunca viveu. Uma flor que só dura um dia não é menos bonita por isso. E o escotismo tem uma beleza que só os amantes do escotismo podem reconhecer. Diferente é claro, pois ele vive em nós para todo o sempre! Portanto meus amigos, não estranhem quando alguém disser bem perto de você: – “ESCOTISMO! EU TE AMO!”. Boa noite a todos. Durmam bem e que a semana seja a melhor de suas vidas.


Hora de dormir e lembrar que...
 Escotismo, eu te amo!

                 Dizem maravilhas de ser Escoteiro. Se você encontrar um ele vai falar o dia inteiro para você que é a maior associação de jovens do mundo. Cuidado, ele vai falar de Baden Powell, da bandeira, da saudação e quando você for embora vai insistir em lhe dar a mão esquerda para dizer - Até logo! Eles nunca dizem adeus. Tem poetas que exaltam em versos tudo que ali encontram. Tem outros que gritam a viva voz seu amor inconfundível ao escotismo. E não se esqueçam daqueles que dizem ter o escotismo na alma na mente e no coração. Como eles cantam mesmo? –“De BP trago o espírito sempre na mente, junto de mim e no meu coração estará!”.

                 O escotismo para quem não conhece é inimaginável. Impossível entender um bando de meninos e adultos falando em promessas, em ser honesto, em ter caráter em ser amigo de todos e colocar sua lealdade acima de tudo. Lá estão eles a correrem pelos campos, pelas colinas, em volta de uma fogueira, subindo em montanhas, vendo o nascer e o por do sol, brincando com peixinhos em um regato de aguas claras, com seus uniformes esquisitos. Afinal o que eles buscam? Aventuras? Aprender fazendo e ajudando uns aos outros? Um ar mais puro para sentir o perfume da natureza? O cheiro da terra molhada? Estar mais perto de Deus? Ou será que buscam as alegrias que muitas vezes o mundo lhes nega na cidade?

                Afinal não dizem que ser Escoteiro é ser feliz? Tem muito no escotismo que é difícil explicar. É como uma borboleta dourada que pousa em nossos braços e nos deixa o néctar que ela trouxe de uma rosa, de um cravo ou de um crisântemo, penetra em nossa pele, percorre todo o nosso corpo e nos marca para sempre. Os amigos que não são não entendem, não sabem da alegria de ser mais um. Escotismo, um amor diferente, um amor secreto que nasce do fundo da alma e cresce como uma flor de cerejeira que cai da árvore na primeira brisa forte, mas não dizemos que ela nunca viveu. Uma flor que só dura um dia não é menos bonita por isso. E o escotismo tem uma beleza que só os amantes do escotismo podem reconhecer. Diferente é claro, pois ele vive em nós para todo o sempre!

Portanto meus amigos, não estranhem quando alguém disser bem perto de você: – “ESCOTISMO! EU TE AMO!”.


Boa noite a todos. Durmam bem e que a semana seja a melhor de suas vidas.

domingo, 4 de maio de 2014

Takala, o vira latas que só sabia amar.


Lendas escoteiras.
Takala, o vira latas que só sabia amar.

“Recolha um cão de rua, dê-lhe de comer e ele não morderá: eis a diferença fundamental entre o cão e o Homem”.

            Ele tentava entender o porquê, mas era um cão, um mísero cão vira lata que achou que tinha um lar para morar. Cão não fala e dizem que não pensam. Ele nem mesmo raciocinava quando ela o jogou pela porta do carro no meio da rua naquela tarde fria e com uma chuvinha intermitente. Pensou que era uma brincadeira apesar de que ela nunca brincou com ele. Batia sim, chutava seu corpo e um dia lhe deu varias varadas porque ele queria fazer xixi e a porta estava fechada. Tentou correr atrás do carro de sua dona, mas já era Velho demais para isto. Logo ela sumiu em uma esquina e ele perdeu o carro de vista. Ficou parado no meio da rua e vários carros desviando e por pouco não foi atropelado. Alguém lhe deu um chute e ganindo correu para o passeio debaixo de uma marquise. Ele ficou ali por pouco tempo todos que passavam lhe davam um ponta pé ou gritavam com ele. Molhado ele gania de frio. Não sabia o que fazer. Nunca passou por isto, nunca.

           Takala não sabia quando era feliz ou quando estava triste. Era um cão um vira lata com mais de doze anos. Sempre vivera perdido em um sitio pobre e quando o menino da cidade começou a brincar com ele sua vida rejuvenesceu. Ele nem entendeu porque sua mãe o deixou levar para sua casa. Durante meses foi feliz enquanto ele estava junto. Brincavam corriam e Takala se sentia outro. Um dia o menino sumiu. Sua mãe chorando pelos cantos. Ele não sabia o que houve, pois era um cão vira lata e cão vira lata não pensa. Quando ela o pegou pelo rabinho e o jogou no carro ele não entendeu nada muito menos quando ela o jogou porta afora. O que fazer? A chuva apertava cada vez mais. Correu pela calçada até encontrar um viaduto. Ali escondeu em um buraco pequeno, mas que ninguém poderia bater nele. A fome chegou. Comia pouco, pois sua dona não lhe dava quase nada só o menino que sumiu. O dia clareou e a chuva passou. Precisava encontrar comida e água. Ainda havia algumas poças que ele saboreou.

        Começou a passear pelas arvores e flores que havia em baixo do viaduto. Viu do outro lado da rua um menino assoviando para ele. Sorriu. Será que terei um novo dono? O menino o chamou. Estava vestido de azul com um lenço no pescoço. Para Takala a roupa pouco importava ele queria era um dono amigo, que gostasse dele. Correu atrás do menino e eles ficaram brincando de pega, pega e o menino de azul sorria a mais não poder. Chegaram a um portão. Takala sabia que não o deixariam entrar. Sempre foi assim, cão vira lata ninguém gosta e ele nunca teve pedigree. O menino de azul entrou e o portão fechou. Takala ficou ali, pois pensava que alguém poderia lhe dar alguma coisa para comer. Algum tempo depois o portão se abriu e apareceu o menino de azul sorrindo o chamando para entrar. O rabinho de Takala nunca balançou tanto. Ao entrar viu muitos meninos de azul, de chapéu todos gritando e sorrindo. O menino de azul o levou até uma cobertura. Fez sinal para ele ficar ali.

       Outros meninos e muitas meninas de azul se aproximaram de Takala. Ele sorria nunca pensou em ter tantos amigos. Latiu, um latido fraco quase mudo. Vários meninos correram e trouxeram comida para ele. Era muita comida ele nunca viu tantas assim. Comeu e quando comia levantava a cabeça com medo de um chute de um tapa, pois sua dona sempre fazia isto. Já escurecia e os meninos estavam indo embora. O menino de azul veio com uma moça e Takala viu que conversavam muito. O levaram até um galpão coberto e aberto na laterais. O menino de azul mostrou para ele um pequeno capacho, uma vasilha d’água e muita comida encostada a parede. O pegou no colo e o beijou. Takala viu que seu coração batia. Nunca ninguém o beijara. Ele ficou ali naquele galpão, pois agora era seu novo lar. Sempre a esperar que o menino de azul chegasse.

     Um dia eles chegaram cedo. O sol mal tinha nascido. Takala sorriu, pois ele agora amava aqueles meninos e meninas de azuis. O seu amigo o pegou no colo e entrou com ele em um ônibus. Takala tremeu, de novo não! Pensou em latir, em morder e só o medo de ser jogado pela porta de novo o fez calar. Fechou os olhos embaixo da poltrona. Ele não sabia rezar, mas seu instinto o alertava para tudo. Durante horas ele ficou no ônibus tremendo de medo. Quando chegaram foi uma algazarra, todos correndo e Takala correndo atrás deles. Nunca Takala o vira latas foi tão mimado, tão cercado de amigos e a noite ele uivava para a lua como a dizer – Agora eu sou feliz, pois posso amar... No terceiro dia ele correu atrás do seu amigo de azul que se embrenhou em um bosque. Takala adorava aquela brincadeira. Sentia seu coração batendo, seu corpo tremendo, mas ele sabia que não podia parar. Correram tanto que uma hora ele deitou. Uma dor incrível no seu coração. Coração velho de vira latas que só sabem amar.

      Ao seu lado o menino de azul ria e rolava no capim verde chamando Takala. Ele não aguentava mais. A dor era muito forte. Viu uma serpente enorme se enroscar para dar o bote no menino de azul. Ele sabia o que era uma serpente, pois quando jovem seus donos corriam delas no sitio em que morou. Takala fez um esforço enorme. Levantou gemendo, pulou em cima da serpente latindo fraco, respiração ofegante. A serpente o mordeu na sua jugular. O menino de azul saiu correndo chamando a moça que tomava conta. Vieram vários. Não encontram a serpente e nem Takala. Os meninos e as meninas de azuis choravam. Ao voltar para a fazenda viram ao longe uma serpente e um cão lutando. Correram até lá. Tarde demais. Takala estava morto, mas conseguiu matar a serpente. Aquela noite nunca se viu tantos meninos e meninas de azul a chorarem. Custaram para dormir.

      De manhã uma surpresa. O sol brilhava nunca se viu tantos pássaros no céu. Uma revoada sempre acontecia em cima deles. A moça amiga do menino de azul fez um lindo esquife verde. Ela reconheceu que Takala foi um herói e precisava ser homenageado. Onde seria a cerimonia fúnebre fizeram um grande círculo. Para um simples vira lata Takala teve honras de estilo. Quando o cobriram cantaram uma linda canção. Para os Escoteiros era conhecida - A Canção da Despedida. Takala não sabia o que era esta canção, sentado perto dali estranhava que ninguém o via. Só o menino de azul que sorria para ele. Viu em uma nuvem branca uma grande Vira Latas branca, sorrindo para ele, focinhos com focinhos ela e ele deixavam as lágrimas de alegria cair. Ela deu um latido leve e correu pela nuvem, Takala correu atrás dela e sumiu no horizonte azul. O menino de azul também chorava e ao chamado da moça todos ficam firmes e fizeram uma saudação que Takala já conhecia. Era o Grande Uivo. Feito em homenagem a Takala, um vira latas que só sabia amar e foi para o céu.


- “A compaixão pelos animais está intimamente ligada à bondade de carácter, e pode ser seguramente afirmado que quem é cruel com os animais não pode ser um bom homem. A compaixão por todos os seres vivos é a prova mais firme e segura da conduta moral.”
- “O Homem tem feito na Terra um inferno para os animais”.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Molécula, Um Escoteiro amado e odiado.


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Molécula, Um Escoteiro amado e odiado.

            Já dizia Confúcio que para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade. Não era o caso de Molécula, ou melhor, Nando Orinoco da patrulha Águia quando o conheci. Você olhava para ele e não sustentava o olhar. Ele era firme, como a inquirir tudo que você sabia e não contava para ninguém. Parecia saber tudo que você pensava. Sua maneira franca com o passar dos anos lhe trouxe muitos amigos, mas um número enorme de inimigos. Molécula não era de esconder as verdades. Se ele pensava a seu respeito mesmo que não agradasse ele dizia. Todos nós sempre pedimos para nos dizerem a verdade e quando ela é dita dependendo da maneira com quem foi dita não gostamos. Molécula era franco. Franco demais. Ele comentava com alguns que a verdade é tão preciosa que precisa de tantas mentiras para não ser reveladas. Isto ele nunca iria fazer.

           Quando foi lobinho Molécula ouviu mais do que falou e quando falava sai de perto. Os chefes da Alcateia não gostavam dele. Só porque dizia o que pensava. A Akelá por várias vezes tentou dizer a ele que a vida não é assim, não podemos sair por aí a dizer o que pensamos das pessoas. – Mentir então Akelá? Não posso dizer que a senhora é chata? Que o Balu não usa desodorante? Que a Bagheera só fica abraçado ao filho dela? Responder o que? No confessionário quando o Padre dizia que seus pecados estavam perdoados em nome de Deus ele dizia – Padre, o senhor fala com Deus? O padre sem jeito dizia que Deus falava com ele através da oração – Pode me apresentar a ele? Tenho algumas reclamações e sugestões a fazer! Dizem que a amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro. Mas quem disse que Molécula fazia os outros felizes? – Passou para a tropa e a Alcateia pela primeira vez sorriu de verdade. Na passagem foi uma verdadeira salva de palmas. Disseram que ficar livre de Molécula era uma benção.

        Até que na Patrulha Águia todos aceitavam como ele era. Coitado de alguém da patrulha que quisesse “morcegar” no acampamento. Ele dizia tudo que pensava e mais ainda. Chegava a dizer que o melhor era não vir mais ao acampamento. – Aqui patrulheiro é um por todos e todos por um! Se você não procede como tal se manda! Claro que o patrulheiro reclamava com o Monitor que comentava com o Chefe e que discutiam em Corte de Honra. Mas falar o que de Molécula? Afinal não devemos falar sempre a verdade? Todos nós sabemos quão difíceis é falar à verdade o que sentimos. Pode ser a nossa verdade e não a verdade do outro. Sempre achamos que pouco importa o julgamento que fazem da gente. Temos sempre em mente que devemos ser autêntico e verdadeiro. Mas você é assim? - Chefe – quando falar fale mais distante, o senhor fica só cuspindo em mim! - Norival, você não tem namorada, isto é uma deslavada mentira! – Gegê, por favor, não é porque você colocou o lenço na roupa civil que está uniformizado. Não está não. Lenço é para ser usado com uniforme!

       Molécula cresceu e passou para a tropa Sênior. Foi bem na hora que as meninas chegaram. Foi à conta. Molécula quando viu Patávio namorando a Lucília não deixou de barato. – Aqui fazemos escotismo. Namorar é na casa de vocês ou em outro lugar. Afinal ficamos aqui duas horas e meia e vêm vocês com esta? E assim Molécula começou a ter problemas com os Seniores e Guias. Chefe Gilmar o chamou e disse que ele não devia ficar falando tudo que pensasse. - As pessoas não gostam Molécula! Bem Chefe Gilmar ouviu o que não queria. A verdade dói? - Chefe, isto aqui não é uma tropa sênior, virou bagunça! – Chefe Gilmar ficou vermelho. Molécula ainda completou – O senhor viu no acampamento. Qualquer tempo livre eles e elas ficam se abraçando, beijando e o senhor não fala nada? Será que o senhor é um voyeur? – Chefe Gilmar o mandou para casa. Volte em dois meses!

          Molécula não reclamou. Ficou os dois meses em casa. Chamou seu pai e sua mãe e explicou o porquê o suspenderam. Eles quiseram tirar satisfação com o Chefe, afinal quando ele foi inscrito disseram que quem estava entrando eram os pais, o filho fazia parte da família – Agora o suspendem sem ao menos um recado, um telefone? Molécula pediu aos pais que não. Ou ele resolvia ao seu modo ou era melhor nunca mais voltar aos escoteiros. Voltou após os dois meses. Levou uma carta escrita a mão e tirou cinco cópias Xerox. Mandou uma para o distrital, uma para o regional e uma para a nacional. Ele enviou outra copia para a WOSM (World Organization of the Scout Movement) todas com firma reconhecida em cartório. Na carta explicava tudo que acontecia em seu grupo, sua suspensão, o namoro, a falta do sistema de patrulhas, pois nos grandes acampamentos regionais e nacionais cada um ia sem a sua patrulha e muitas vezes com outras finalidades que não o escotismo. Foi um Deus nos acuda.


         Até hoje se comenta o que Molécula fez. A UEB teve de se explicar com a WOSM, a região teve que se explicar com a UEB, o distrito teve que se explicar com a região e o grupo teve de se explicar com o distrito. Fizeram de tudo para expulsar Molécula, mas quem disse que conseguiram? Eu mesmo quando voltei a visitar o Grupo Escoteiro onde Molécula cresceu, eles me olharam desafiadoramente como a dizer – Deixe que o danado fique no seu lugar, ele saiu do grupo com dezoito anos e foi servir o exército. Fiquei pensando e rindo comigo – Coitado dos soldados, do Sargento, do Capitão e do General! Bem pelo menos lá ele não teria folga. Ou era expulso ou pegava uns dias de xadrez. Não sei se Molécula conhecia a celebre frase – “quem fala demais, dá bom dia a cavalo”. Mas vamos lá, será que ele não tem razão? Ops! Esqueci-me de dizer, um dia vi molécula na entrada da prefeitura, portava um uniforme de Capitão e precisavam ver sua pose!